«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Monday, December 31, 2007
Antologia
Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita dos teus braços;
cheiro depois as flores
e converso contigo
sobre a nuvem que pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto.
Depois,
não sei porquê nem porque não,
essa recordação desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge a tua mão,
e a melodia já mudou de rumo.
Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite
na maior solidão,
vem a tua presença verdadeira,
e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e um ramo de flores, que não existe, cheira!
Miguel Torga
Ai que saudades!
Monday, December 10, 2007
Oprah Winfrey vende o seu "sabonete"
Oprah Winfrey usa todo o seu peso mediático e a sua enorme influência no apoio a Barack Obama, apoio traduzido em milhões de dólares angariados e dezenas de milhares de participantes arrastados aos comícios, para verem ao vivo a diva do talk show. Fosse oponente outro que não a loira senhora Clinton e, a constituir-se como mais um sucesso para uma das mulheres mais influentes do mundo, os Estados Unidos da América acordariam com um presidente negro, pela primeira vez na sua história. Assim, e muito devido à utilização que o marido resolveu dar à sala oval, Obama terá de ficar para mais tarde, depois da senhora Clinton.
Violência nas escolas*
Backbiting (6)
Cimeira UE/África - e depois do adeus
Sobre a vergonhosa e acéfala cobertura do evento pelos media, basta ler o Abrupto e o Portugal dos Pequeninos, para nos sentirmos acompanhados no asco pelo show que nos foi servido.
A náusea que constitui ouvir o recorrente auto-elogio de Sócrates, a propósito de tudo e de nada, transforma-se em vómito, quando, transportado nas asas da sua demencial auto-satisfação, o Primeiro-ministro português lança ao tapete, no rescaldo da Cimeira, um “espírito de Lisboa” a que, só por uma réstia de pudor, não se atreveu a dar o próprio nome.
Mais do que os discutíveis resultados da Cimeira, cujo sucesso se decidirá, em grande medida, pelas decisões de Pequim, os portugueses deveriam reter a forte mensagem que o auto-contentamento exacerbado de Sócrates revela: se de génio tem pouco, já de louco…
Saturday, December 08, 2007
Antologia
not heard that way before and not to be
repeated or ever be remembered
one that always had been a household word
used in speaking of the ordinary
everyday recurrences of living
not newly chosen or long considered
or a matter for comment afterward
who would ever have thought it was the one
saying itself from the beginning through
all its uses and circumstances to
utter at last that meaning of its own
for which it had long been the only word
though it seems now that any word would do
W.S. Merwin
E por falar do banquete da Cimeira UE/África...
Protocolo de Estado
Entre iguais!
Backbiting (5)
Thursday, December 06, 2007
O jogging em inglês técnico
Por cá, no dia-a-dia da santa terrinha, o mais que se lhe vê correr é a língua, quando, no hemiciclo do Parlamento, em cima dos delicados sapatinhos Prada, desanca os papalvos da oposição, que o votito popular lá colocou, como figurantes de luxo. No nosso cinzento quotidiano, bem podemos vasculhar a capital à procura de tão ilustre corredor de fundo, que o homem não põe os pés nas lusas vias, a não ser que evento popular o estimule, a bem dos flashes que piscam o olho ao voto popular, que, com tal proeza, visa conquistar.
Pois aqui fica um pedido - pelo menos que não termine a presidência portuguesa sem que o Primeiro engenheiro (?) dê um ar da sua graça, em calções da nova colecção Nike. Pode aproveitar a Cimeira EU/África para uma suada estafeta entre a tenda de Kadaphy e o Parque das Nações, ou a assinatura do Tratado, para uma meia maratona entre São Bento e os Jerónimos. Vá lá, nós merecemos, se não os tugas todos, pelo menos aqueles que votaram em si e que não devem ser apreciadores de outro esforço que não o de pernas, ou não estaríamos entregues a tão desportiva gente!
Cimeira UE/África
Broken Mirrors
J.R.R. Tolkien
Backbiting (4)
Backbiting (3)
Dupond e Dupont
Jorge Pedreira, o soldadinho de chumbo
Como reage o governo? Como é habitual, começa por relativizar o desastre relembrando que estamos muito bem acompanhados por alguns “grandes” na tabela inferir à média: Estados Unidos, Rússia, Itália, Noruega, Espanha, Luxemburgo; visto assim, já fazemos parte de um grupo de elite! Mas, desta vez, a equipa governativa da educação, já useira e vezeira em fazer pouco do povinho bruto e ignaro, vai mais longe e, pela voz do autorizado secretário de estado Pedreira, faz o diagnóstico e aponta a terapêutica: a culpa de tão baixo nível reside no exagerado número de retenções, que as escolas portuguesas continuam a praticar. Malandros e ignorantes, os professores, que assim ameaçam o futuro das brilhantes criancinhas e põem em causa o bom nome da pátria inteligência! Há que acabar com a maldição das retenções!
Para nos animarmos, e recobrarmos a esperança nos próximos Pisas, pensemos um pouco – este governo acabou com os chumbos por faltas; entretanto, prepara-se para acabar com os chumbos, de todo; pelo meio, conseguiu associar a avaliação dos docentes aos resultados dos alunos; acompanha estas medidas de secretaria com um discreto, mas contínuo, abaixamento dos níveis de exigência na qualidade e na quantidade dos conteúdos programáticos; coroa tão belas práticas, com uma acautelada “preparação” dos exames, para que os resultados destes contrariem as estatísticas da desgraça, e injectem esperança na alma lusa. Depois de tão concertadas medidas, alguém duvida que, dentro de uns anitos, poucos, estejamos a subir lugares na tabela como o João Garcia sobe aos tectos do mundo? Eu não duvido, antes tenho a certeza! Só que, contrariamente ao João Garcia, coitado, que perdeu o nariz nas gélidas aventuras montanhistas, o nariz do governo crescerá, tanto, tanto, que deixaria mudo de espanto o próprio Gepetto! Finalmente, ficaremos todos felizes! Cada vez menos sábios, mas felizes, a bem da nação!
Wednesday, December 05, 2007
PS e PSD chegaram a acordo na CML*
* alguém acreditaria que seria diferente?
Antologia
sensation that I love, come back and take hold of me
when the body's memory revives
and an old longing again passes through the blood,
when lips and skin remember
and hands feel as though they touch again.
Come back often, take hold of me in the night
when lips and skin remember...
Constantine P. Cavafy
E por falar no Eurostat...
Só pode ser mentira!
Backbiting (2)
Backbiting (1)
Longe vão os tempos (1991) em que a revista People a elegeu uma das 50 pessoas mais belas do mundo. Aos 49 anos, sem a preciosa ajuda dos milagreiros de imagem, Madonna está um “caco”. De facto, os últimos instantâneos da senhora desfazem, impiedosamente, o mito do glamour, e deixam dúvidas acerca da propalada boa forma física da cantora. Repare-se nos olhos doentios atrás de óculos protectores, no ar abatido e, sobretudo, no enorme envelhecimento que as esqueléticas mãos e os cadavéricos braços denunciam.
Um Rei é um Rei, é um Rei, é um Rei!*
Tuesday, December 04, 2007
Camarate forever*
Thursday, November 29, 2007
Chantagem
Colonialismo (II)
Wednesday, November 28, 2007
Colonialismo (I)
Tuesday, November 06, 2007
Broken Mirrors
Oprah Winfrey
Oprah, o sonho desfeito?
Duelo à sombra
Violência na escola
Monday, November 05, 2007
Broken Mirrors
Friedrich Novalis
Antologia
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
Falta injustificada
Jetlag
A guerra das estrelas
Já sabemos que timidez e modéstia são qualidades que PSL não cultiva, mas até para ele esta associação se torna ridícula, apesar da erosão que o tempo provocou na qualidade da nossa classe política, triste fado ao qual já todos nos conformámos. Parafraseando PSL, está escrito nas estrelas que os portugueses, que até podem não saber para onde vão, sabem, de certeza, que não vão com ele a parte nenhuma.
Tuesday, October 30, 2007
Maria de Lurdes Rodrigues, a malabarista
As razões que dão (?) razão ao governo!
A locomotiva do PSD
Conselho de Estado - as questões menores
Monday, October 29, 2007
Thursday, October 25, 2007
Estatuto do Aluno
Antologia
But Hannibal had more than size, he had brain and ability. He not only looked picturesque and imposing in soldier clothes, he showed that he had in him the making of a real soldier. Peter recognized this, and eventually made him a general. He afterwards ennobled him, and Hannibal, later, married one of the ladies of the Russian court. This same Hannibal was great-grandfather of Pushkin, the national poet of Russia, the man who bears the same relation to Russian literature that Shakespeare bears to English literature.»
Brujería
- Melhorar a qualidade de bens e serviços é a prioridade das empresas com maior capacidade de inovação, em 17 dos 27 países da UE.
- As consequências da inovação para a redução do impacto ambiental e a melhoria das condições de saúde e segurança, pelo contrário, são aspectos negligenciados, na tabela das suas prioridades, pela maioria das empresas líderes de inovação, nos 27 países.
Em Portugal, ao contrário da tendência europeia, as empresas com maior capacidade de inovação atribuem pouquíssima importância à capacidade de produção e à melhoria de bens e serviços, apesar de pretenderem entrar em novos mercados. As suas maiores preocupações centram-se na redução de mão-de-obra e dos custos de produção, mas o seu principal objectivo é reduzir materiais e energia por unidade produzida. Portugal é ainda um dos países que dá maior importância, na sua escala de prioridades, à redução do impacto ambiental.
*Fonte: Eurostat – Community Innovation Statistics, 2004
Monday, October 22, 2007
Mariano Gago pode ser o ministro da tecnologia...
Tratado de Lisboa
Saturday, October 20, 2007
Mais uma voltinha, mais uma viagem!
Le divorce des Sarkozy
O divórcio dos Sarkozy, oportunamente anunciado "em cima" da Conferência de Lisboa, tem vindo a ocupar um lugar de destaque na comunicação social francesa, apesar da relativamente inesperada “facilidade” com que os parceiros europeus chegaram a acordo quanto ao Tratado, apesar da crise laboral e sindical em França, e, sobretudo, apesar da agenda frenética de Nicolas, cada vez mais empenhado em tornar-se o grande líder europeu de que a União precisa, papel que os seus antecessores tinham perdido, sem apelo, para a Inglaterra, com Blair, e para a Alemanha. No Le Monde, esta atenção dos media à separação do casal presidencial é analisada, em entrevista, por Raphaëlle Bacqué, que não hesita em afirmar que « le divorce d'un président n'est pas seulement purement anecdotique. C'est encore une fois un événement inédit qui a sa place dans l'information. Dans quarante-huit heures, cependant, vous verrez que le sujet se sera considérablement dégonflé.»
Por outro lado, se a personalidade, o magnetismo e a capacidade de liderança de Sarkozy são já reconhecidos, internamente e na Europa (sabe quem esteve na Cimeira que foi, inquestionavelmente, a sua intervenção que “resolveu” o acordo do Tratado, embora a nossa subserviente imprensa prefira enaltecer as virtudes da diplomacia portuguesa), se o divórcio não deverá fragilizar psicologicamente o Presidente francês, poderá, contudo, haver consequências políticas indirectas da ruptura matrimonial do inquilino do Eliseu, como Bacqué admite: «Cette séparation peut avoir cependant des conséquences indirectes. Car Cécilia Sarkozy avait écarté ou promu différentes personnes autour du président. Les bannis d'avant peuvent donc revenir, les promus se retrouver moins favorisés.».
Se a queda dos preferidos de Madame Sarkozy poderá significar futuras dificuldades para a política interna francesa é o que ainda não se sabe, mas, atendendo a que a atraente Cecília não era, de todo, o elemento político preponderante na família, a crise, a haver, não será nada que o determinado Presidente francês não consiga resolver, com sucesso.
Monday, October 08, 2007
Santana Lopes ao velho estilo
Sai Mendes, entra Menezes, mas a roda continua
Depressão?
Faz falta, muita falta.
Blogosfera portuguesa, a depressão
Wednesday, September 12, 2007
Abertura do ano lectivo
Postos os factos do dia, apagados os holofotes dos telejornais, e descartado qualquer comentário a propósito da propaganda, de tão habituados que já estamos a ela, vamos ao que interessa. E se o que interessa, mais do que os pontos de partida, são os resultados, estes, apesar do ruído do governo e da maneira habilidosa como este baralha os números, continuam a ser tão maus, que nos restam poucas esperanças de levar a bom porto esta barcaça da educação.
Iniciámos mais um ano lectivo, neste faz-de-conta morno, que se vai tornando habitual, e que é tão verdadeiro como a afirmação da ministra de que com uma escolaridade obrigatória de 12 anos criamos condições para que «todos os jovens permaneçam na escola até aos 18 anos». Esquece ela, oportunamente, que não é por termos uma escolaridade obrigatória de 9 anos que vem diminuindo o abandono escolar, em jovens do 2º e 3º ciclos, mas nem vale a pena lembrar-lho, que a senhora desmente os números, por mais insuspeitos que sejam os organismos internacionais que os produzem. É preferível fazermos todos de conta que acreditamos na propaganda oficial, e, cantando e rindo, como no tempo do outro senhor, batermos palmas quando a caravana ministerial chega.
Tuesday, September 11, 2007
Como morreu Maddie McCann?
Efectivamente, compreende-se que, tendo Maddie morrido no fatídico dia 3 de Maio, os pais, temerosos das consequências que daí lhes poderiam advir, a nível pessoal, profissional e familiar, possam ter agido, rápida e friamente, fazendo sair o corpo da filha do apartamento, e simulando um rapto. Compreende-se que, cultos e informados como são, tenham antecipado que, quanto mais visível e credível fosse a sua convicção num rapto, mais probabilidades haveria de que as investigações se orientassem, preferencialmente, nessa direcção, e para o que acontecera no exterior do apartamento, mas concluir isto é concluir, também, que os pais pretendiam, ou necessitavam, que a passagem do tempo atenuasse os vestígios da morte da filha no apartamento, tornando estes bastante menos conclusivos, e que esta necessidade dos pais terá sido partilhada por quem os ajudou, ou lhes arranjou ajuda. O que continua a não se perceber, apesar da agora conhecida ligação familiar dos McCann a certas “alavancas” no governo britânico, é a capacidade que os pais tiveram: primeiro de, em escassas duas horas, num país estrangeiro, arranjarem a(s) ajuda(s) necessária(s) para transportar, guardar, ou desfazer-se do corpo da criança; depois, de, em pouquíssimos dias, terem tido a possibilidade de falar com governos e reis, de chegarem ao Papa, noVaticano, de porem a foto de Maddie em jornais e televisões de todo o mundo, correndo o risco, calculado, de transformar o rosto da filha no mais mediático, à escala global, depois do da princesa Diana. E o risco de fazerem esta exposição de Maddie era mortal, para ela, se o rapto fosse real, facto que os pais tinham que conhecer, perfeitamente. Também não terá sido a extrema e mórbida avidez dos principais media mundiais por este caso, avidez muito real e não inteiramente compreensível, pelo menos logo no início dos acontecimentos, que, por si só, conseguirá explicar os meios de que os McCann dispuseram, para o seu encontro com as instâncias políticas e policiais mais elevadas, em vários países.
Pode ser que, tal como nos crimes de Agatha Christie, tudo seja muito simples e óbvio, e, de tão simples e óbvio, tenha sido, numa primeira abordagem, negligenciado pela polícia, mas esta tese de negligência policial não parece ter pernas para andar. De facto, não é normal o protocolo da acção policial descartar o que é mais provável, paralelamente a outras linhas de investigação, e as estatísticas policiais apontam, infelizmente, para uma probabilidade elevada de que os crimes contra menores aconteçam no interior das próprias famílias. Não parece, por isso, provável que, mesmo postos perante uma fenomenal acção mediática, como aquela a que se assistiu, e assiste até hoje, os investigadores possam ter negligenciado uma discreta vigilância de eventuais movimentações suspeitas dos pais da criança, logo desde o desaparecimento desta.
Que a polícia portuguesa não teve, de imediato, recursos técnico-científicos para as provas forenses, que providenciou que viessem a ser efectuadas no Reino Unido, é um facto, mas não é imaginável que tenha, desde logo, descartado a possibilidade de os McCann estarem envolvidos no desaparecimento da filha e, a comprová-lo, está o caminho que as investigações foram seguindo, orientadas para a provável morte de Maddie, independentemente de os pais se manterem agarrados, sem desfalecimento, à tese do rapto.
Ora, é por não acreditar que os McCann, nas barbas da polícia e debaixo dos holofotes dos media, tiveram tempo e espaço para poderem mobilizar o corpo da filha, que teria saído do apartamento no dia 3 de Maio, sabe-se lá para onde, para que este pudesse vir a deixar vestígios fisiológicos no tristemente célebre Renault Scénic prateado, alugado por eles 25 dias depois do desaparecimento de Maddie, que o rumo que as investigações estão a tomar me parece vir dificultar, em vez de facilitar, a descoberta da verdade. Se houve tempo e recursos, no dia do desaparecimento, para retirar o corpo da criança para um local que a polícia nunca conseguiu descobrir, para quê guardá-lo para que, quase um mês depois, os pais tivessem que o colocar no Renault, para dele se desfazerem, de forma tão eficaz, que não foi encontrado, até agora, apesar dos cães, dos videntes, dos peritos, e de toda a parafernália de meios luso-britânicos aplicados nas buscas? Se os McCann tiveram que fazer ocultar o corpo da filha, na noite de 3 de Maio, necessitaram, e obtiveram, ajuda para isso, o que não joga com uma desajeitada e arriscadíssima manobra posterior, para se desfazerem eles próprios do cadáver, com recurso à utilização do automóvel que estavam a usar e que, sabiam-no bem, seria objecto de inspecção pericial. A ter-se verificado isto, para além da aparente estupidez dos actos, que não confere com o perfil de frieza e os conhecimentos profissionais de ambos os pais, teria de ter havido uma total desatenção da polícia, dos media, e dos muitos curiosos mórbidos, que não perdiam pitada das movimentações da família.
Thursday, September 06, 2007
Professores titulares, mas pouco
Números...
Três exemplos, engraçados, que nos caíram em cima, a reboque da actualidade, que parece teimar em querer desmentir os números, ou em sequência de relatórios pouco cómodos, para este acto da opereta que protagonizamos.
Uma vaga de assaltos a bancos, ourivesarias, correios, bombas de gasolina, residências e outros locais de interesse, na perspectiva da gatunagem, tem alarmado cá o burgo, que a governação quer sonâmbulo e domesticado. Vai daí, surgem os números (que, tal como o algodão do mordomo, não mentem!): “A criminalidade violenta participada à PSP e à GNR diminuiu 16,2 por cento no primeiro semestre de 2007 relativamente a igual período do ano anterior, segundo dados que o ministro da Administração Interna leva hoje ao Parlamento.”
Não conhecendo os dados do ministro, e acreditando que a notícia relevou o essencial, não deixo de reparar que o aumento da criminalidade registado em 2007 se situa nos crimes contra o património :" os crimes de extorsão (mais 38, 9 por cento), os roubos a tesourarias e estações dos correios (mais 33, 3 por cento), a motoristas de transportes públicos (mais 5,3 por cento), a coacção sobre funcionários (mais 5,2 por cento) e os assaltos a postos de combustível (mais 3,9 por cento)", pelo que a ligeira descida verificada na globalidade da actividade criminosa não me parece de embandeirar em arco. Em vez de um ministro todo contentinho com estes números, seria melhor saber que o governo faz a leitura crua e dura para que esta criminalidade remete, e actua em conformidade, prevenindo. Não é só cumprir o défice, reduzir despesa à custa de acabar com serviços e lançar pessoas para o desemprego, ignorar os custos sociais das medidas pouco sensatas e nada criteriosas de um governo que só sabe poupar à custa do essencial. Os resultados desta política cega começam a aparecer, e isto é só o princípio.
Outro exemplo, os incêndios. No ataque à devastação das chamas, o governo quer mostrar obra, o que não se leva a mal, embora eu preferisse que tivesse obra feita para mostrar, o que é bem diferente. Em plena época de fogos, terminada que parece estar a fase fria deste Verão do nosso descontentamento, com os fogos a surgirem às primeiras temperaturas de 30º, o governo apressa-se a vir informar-nos que: “Este ano registaram-se 7081 incêndios e fogachos, o que representa 38,6 por cento da média de 18.361 no período 2002-2006.” Hum! À primeira leitura respiramos de alívio, mas, depois, lembramo-nos que este Verão foi o menos quente dos últimos 20 anos e, já com a pulga atrás da orelha, passamos a desconfiar do porquê da comparação dos números deste ano com a média do período de 2002/2006. O relatório, visto a correr, não parece responder a isto, mas… Entretanto, e a parecer dar razão às nossas dúvidas, somos surpreendidos com a “eficiência” da prevenção aos incêndios com a informação de que “O sistema de televigilância do Parque Natural da Arrábida (Ciclope), criado em 2003 para prevenir os incêndios e garantir a manutenção da área protegida, está desactivado desde Maio devido a avarias em nove das dez câmaras de vídeo.” Ups! Lá se vai a propaganda por água abaixo!
Finalmente: a insuspeita OCDE veio dizer que o abandono escolar em Portugal não só não diminuiu, como subiu em 2006/07, situando-se muito perto dos 40%. Vai daí, a senhora ministra, que, convém não esquecer, além de irrascível, é uma especialista em malabarismos com números, apressou-se a vir desmentir o organismo internacional, dizendo que “a taxa de abandono escolar precoce diminuiu três por cento em relação ao ano passado, situando-se em 36,3%” e “manifestando-se confiante que essa percentagem chegue aos 30 por cento ou abaixo até 2010.” De onde tirou ela os números? é uma incógnita, mas acredito que seja uma “fezada” da senhora, tal como aquela que a inspira a apontar para uma redução da taxa até 2010, uma vez que não há, que se saiba, uma avaliação externa e independente, que permita retirar conclusões do aumento da oferta de cursos profissionais e de educação/formação, nomeadamente em termos de atracção de alunos e da sua manutenção no sistema. Se a fé é que nos salva, pois tenhamos fé nas “fezadas” desta ministra, já que números é com ela!
Férias na Jamaica
Ora, se bem que a silly season portuguesa, nos últimos anos, tenha sofrido um upgrade para os restantes meses do ano, e engordado, esgotadas que foram as disponibilidades do calendário, a rentrée, mais do que a silly, ela própria, adquiriu já características de uma season, com direito a marca registada e calendário incontornável, Setembro (mas, registe-se: o seu sucesso é tal, que a rentrée começa a ganhar terreno, surgindo já, esplendorosa, por meados de Agosto!). Seja pela recém-descoberta e tão propalada síndrome pós-férias, seja porque o sol nos torrou a moleirinha, seja porque os furacões nos arrasam as férias caribeñas, seja porque São Pedro descarrega os desequilíbrios da andropausa brindando-nos, ora com incêndios infernais, ora com enxurradas monumentais, a verdade é que entramos Setembro com tal fúria para o disparate, que justificaria, terminado o mês, uma cura prolongada, num spa especializado. Admitamos, é assim pela caduca Europa, mas nós, como em tudo o que é pior, nunca deixamos os nossos créditos por mãos alheias, e exibimos, orgulhosamente, um honroso lugar cimeiro na tabela da patetice.
Ele é um ministro das finanças que, alarvemente, se regozija com taxas de crescimento arrasadoras para as expectativas mais sombrias que ainda conseguíamos ter; ela é uma ministra que passa, orgulhosa e ufana, sobre dezenas de milhar de profissionais sob a sua tutela, lançados para o desemprego porque as políticas para o sector têm sido cegas, desastradas e desconexas; eles são dois inenarráveis políticos profissionais, qual deles o mais inócuo e ineficaz opositor a este regime que nos sufoca, a degladiarem-se, como galarotes de combate, para chefiarem um partido em coma auto-induzido, tal é a força da crença que tem na rotatividade do ciclo político; eles são os fazedores de opinião que, interrompido o filão dos cães descobridores de cadáveres, se apressam a abocanhar o puto que vai às fêmeas de virtude duvidosa, e que depois, em crise absoluta de imaginação, não desdenham enlaçar os poucos centímetros dos bikinis da Diana Chaves nos(as) acompanhantes rotativos(as) da menina, que, à conta do olho para o negócio de alguns "profissionais" da informação, factura a galope entre as areias da Caparica e as piscinas in cá do burgo. Pelo meio de tanta silly desfaçatez pública, os assuntos mais sérios, e “privados” também têm a sua season: a Presidência da UE parou para férias, mas, nem assim, os atrasos nos importantes dossiers nacionais se recuperaram, que ministro também é gente e tem direito a molhar a pata, sem ser na poça em que, habitualmente, chafurda; os partidos da oposição, os sindicatos, os parceiros sociais e afins, não recuperaram da crise de incompetência crónica de que dão mostras, e aprestam-se a demonstrar eficácia “refrescando” os “trapinhos” com que abrilhantaram a passada season, enquanto que entre São Bento e Belém continuam a soprar os ventos de concórdia, que alguns teimam em querer ver estremecida por uns vetos da silly season, quando tudo não passou de um ensaio para o second life.
Terminada a descontracção da silly season, devidamente compreensível durante a mesma, eis-nos, por obra e graça da incontornável rentrée, regressados à season habitual, tão silly como a legítima, mas a exigir-nos ar mais sério e pose compenetrada, como se, de facto, acreditássemos que não estamos mais pobres, que a nossa economia não continua a patinar, que a educação não se mantém atolada no lamaçal que conhecemos, que a saúde já não está moribunda, que o governo não está apenas a propagandear a um ritmo alucinante, para disfarçar, que a oposição não se entretém a dançar o bolero de Ravel, para empatar, e que todos nós fazemos outra coisa que não seja esperar que o tempo vá passando, e que um milagre aconteça, livrando-nos deste triste fado. E assim, como valsinha em baile familiar, o ciclo do tempo cumprir-se-á: os dias correrão ao sabor da mediocridade do costume, inventar-se-ão factóides, mentirá o governo, assobiarão as oposições, nós adormeceremos e acordaremos entre novelas e futeboladas, ao som de inconsequentes apitos de várias cores, enquanto que uns, os que podem, encherão as contas bancárias, e o povinho empobrecerá cada vez mais. Mas, no pasa nada, que o tuga é fixe e acredita no Pai Natal. O milagre chegará um dia, sem dúvida, para cada um de nós, na sua hora, quando o fim da nossa aventura terrena nos livrar de todas as dificuldades e angústias. Até lá, há que sobreviver, se possível com algum humor, que a season está para durar, e mais silly do que nunca.
Thursday, August 16, 2007
Wednesday, August 15, 2007
Acompanha bem a chuva de Agosto
Summertime
(Du Bose Heyward / Ira Gershwin)
Summertime and the living is easy
Fish are jumping and the cotton is high
Your dad is rich and your mom’s good looking
So hush little baby baby don’t you cry
One of these mornings you’re gonna rise up singing
Then you’ll spread your wings
And you’ll take to the sky
But till that morning
There ain’t nothing can harm you
With daddy and mommy mommy standing by
One of these mornings you’re gonna rise up singing
Then you’ll spread your wings
And you’ll take to the sky
But till that morning
There ain’t nothing can harm you
With daddy and mommy mommy standing by
So hush little baby baby don’t you cry
Ella Fitzgerald and Louis Armstrong
Tuesday, August 14, 2007
No seu aniversário...
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner
Tuesday, August 07, 2007
Antologia
de mais que tua pele ser pele da minha pele.
David Mourão-Ferreira
Wednesday, August 01, 2007
Moon River
Moon River, wider than a mile,
I'm crossing you in style some day.
Oh, dream maker, you heart breaker,
wherever you're going I'm going your way.
Two drifters off to see the world.
There's such a lot of world to see.
We're after the same rainbow's end--
waiting 'round the bend,
my huckleberry friend,
Moon River and me.
Audrey Hepburn (sings)
music by Henry Mancini, lyrics by Johnny Mercer