Monday, October 31, 2005

Pombas e Falcões*

*Título deste post, que esqueceu na adenda uma "informalidade", bem assumida no mesmo DN, de 31 de Outubro de 2005: «Entre os que agora estão nesta equipa, alguns já foram novidade noutras ocasiões, ou noutros MASP (Movimento de Apoio a Soares à Presidência) e foram ficando, do primeiro para o segundo, agora para o terceiro. Este é o MASP III. Em que os recém-chegados foram trazidos pelos de sempre, por conhecimento ou amizade. O soarismo é informal
Ora, nestas coisas da "informalidade" conviria não esquecer as rotas do oriente, que por aqui se vão traçando, e recordar o que também por lá se vai dizendo: «Quem 'manda', quem decide, quem tem o 'poder', mais até que o 'dinheiro', na sua esmagadora maioria, não aparece em nenhuma das Comissões de 'honra'. Nas comissões aparecem os capatazes, os feitores, os testas de ferro. Não perceber isto, é não perceber nada.»
Pois, só é cego o que não quer ver, mas, em terra de cegos, qualquer um julga que pode enfiar-nos a SUA verdade pelos olhos dentro!

Saturday, October 29, 2005

A patch of blue


Charlize Theron

Friday, October 28, 2005

Promessa abortada

Com o chumbo do TC à proposta de referendo ao aborto antes de 15 de Setembro de 2006, lá vai Sócrates quebrar mais uma das suas promessas eleitorais. São já tantas, que a gente nem estranha. Quer-me mesmo parecer que a estratégia é a do Serial Killer - quebrar as outras todas apenas para poder abortar esta, sem que se percebesse qual era a verdadeira "vítima".
ADENDA: Sócrates vai honrar o compromisso. Dadas as pressões que teve, prevaleceu o interesse estratégico, em véspera de umas eleições que não estão a ser um passeio para o PS. Mas seja qual foi a motivação, saúda-se um gesto a que este governo nos desabituou - ser fiel à palavra dada.

Pior era impossível

Acossada pela ameaça de uma greve que, pela primeira vez, une os sindicatos do sector, a Ministra da Educação abriu a fase do diálogo, começando as negociações com a FENPROF (dividir para reinar, pensa a boa senhora; esquece que o Mário Nogueira não brinca com o vespeiro em que ela se meteu).
O ME, e o governo, reconhecem, assim, o que aqueles que conhecem o que se passa nas escolas andam a denunciar há muito tempo - as tão anunciadas e elogiadas medidas do governo só conseguiram instalar uma total confusão nas escolas, o desperdício do trabalho dos docentes na propalada componente não lectiva é quase total, aumentaram os atestados médicos, agudizaram-se as relações entre professores e gestão das escolas, o inglês no 1º ciclo é miragem em muitos locais, são uma realidade virtual as refeições nas escolas do 1º ciclo que não têm cantinas, os pais já franzem o sobrolho à manifesta incapacidade do ME em actuar sobre o que é preciso. Acrescente-se a anunciada intenção de fechar 512 escolas "com insucesso", mais 3500 com menos de 20 alunos, e temos um bom "caldinho", para começo de conversa.
Entretanto, enquanto o governo lançava a confusão num sector já grandemente fragilizado e a requerer uma intervenção cuidada, os resultados do PISA estão aí para quem os quiser analisar, e chorar, chorar muito. Mas a isto, o governo diz nada. Pudera, para isso era preciso saber o que deveria fazer.

Desacelerações bruscas

No TGV, que pára 4 vezes entre Lisboa e Porto.

Ó pra nós a assobiar pró o lado

O Presidente do Irão abriu a boca e defendeu a erradicação do Estado de Israel do mapa. Ocupadérrimo com n coisas, o chamado mundo "civilizado" agendou a reacção politicamente correcta para momento oportuno. Nada simpatizante desta moderna subtileza e assépsia da alta política internacional, sentiu-se o homem incompreendido e vai daí repete, já um pouco mais alto. Desconhece-se se é sua intenção mandar traduzir em todas as línguas e dialectos, a ver se o entendem, antes de passar à acção. E, entretanto, o mundo "civilizado" (e o outro, já agora) diz que ...???

Em política, nem sempre o que parece, é!

Como nos crimes, estes barómetros, com que os media se ocupam deliciados, levam-nos a pensar: a quem aproveitam os resultados? Vejamos, no caso do barómetro ontem divulgado.
Cavaco? Nem por isso, porque acirram-se ainda mais os oponentes, desmobilizam-se alguns indecisos, convictos que Belém está no papo, vitória tão "certa" até poderia funcionar como incentivo ao aparecimento de uma candidatura à direita. Claro que o candidato desvalorizou.
Alegre? A pressão sobre ele, que ainda não formalizou a candidatura, aumenta a cada nova subida do barómetro. A esperança do PS é que o barómetro suba tanto, tanto, que o coração do poeta não aguente! Pela falta de notícias de última hora, ainda não terá sido desta!
Louçã? Jerónimo? Por enquanto, esses estão interessados é no esvaziar das urnas. Barómetros só são bons para consumo interno.
Portas? Vá-se lá saber por que estranha razão aparece o homem na coisa. Será um último e desesperado estímulo à sua vaidade? Deve ter-lhe inchado o ego, só pelo facto de contar o suficiente para aparecer, mas, como está fora da jogada, de nada mais lhe aproveita.
Resta Soares, o "derrotado". Inflamam-se os discursos para consumo do povinho. Coitadinho, os apoiantes multiplicam-se em actividades e agitam os fantasmas do revanchismo, os dormentes acordam ao som das trombetas do desespero socialista, o poeta é encostado à parede, sussurram-se sugestões para o Caldas, quem sabe, talvez, pode ser que se abram Portas de esperança. No fundo, Soares diverte-se, que o jogo corre-lhe de feição e, melhor do que tudo, não parece.

Thursday, October 27, 2005

Corrigir o sentido de voto...

... é o que se dispõe a fazer o PSD, tudo apontando para que votará contra o OE.
Aos elogios iniciais sucedem-se as críticas, sobretudo devido à teimosia do governo em manter a OTA e o TGV.
Ao que parece, não foi só o crackdown a pensar isto!

A importância de perceber as nuances

«Hoje a retórica está tão estabelecida no discurso político que é cada vez maior o seu efeito de ocultação
José Pacheco Pereira, no Público, Temas Presidenciais entre Soares e Cavaco

«Bem prega Frei Sócrates»

«No momento em que elimina vários direitos adquiridos, em nome da sustentabilidade da contas do país e da equidade de direitos no funcionalismo público, José Sócrates e o PS alargam até 2009 o generoso regime de privilégios de autarcas e deputados. Pior: fazem-no à socapa, com enganosos artifícios por baixo da mesa, e tentando passar a ideia de que estão a fazer o contrário, a moralizar o alargado esquema de regalias da classe política
O título e o texto pertencem ao artigo de José António Lima, que está disponível no Expresso online e cuja leitura se recomenda, vivamente. Nós já sabíamos, mas agora JAL põe a falta de vergonha a nu, em linguagem clara, para que ninguém fique com dúvidas que mudar, mudar, só mudaram as moscas.

Wednesday, October 26, 2005

«Nenhum insecto faz o ninho em fios tão frágeis como os que sustêm o peso da vaidade humana.»*

Já não há pachorra para a pose irritada e irritante com que Sócrates responde às mais variadas questões, nas mais diversas circunstâncias.
Quando é que vão perceber que ele precisa, urgentemente, de um bom personal advisor?
* Edith Wharton

Ruínas


David Roberts

La Satisfaction de soi-même et le Repentir

«Nous pouvons aussi considérer la cause du bien ou du mal, tant présent que passé, et le bien qui a été fait par nous-mêmes nous donne une satisfaction intérieure, qui est la plus douce de toutes les passions, au lieu que le mal excite le repentir, qui est la plus amère
Descartes, Les Passions de l'Âme

O suprapartidarismo tem destas coisas...

O OE, apesar de insistir na redução do défice por via da receita, faz significativos cortes na despesa, nomeadamente na despesa corrente, podendo, portanto, dizer-se que não desilude, totalmente. Tanto assim é, que o PSD, principal partido da oposição, em atitude responsável, cujo mérito há que enaltecer, elogia o que há a elogiar, sem demagogias de pendor eleitoralista. Mas esta reacção do PSD não estará a dificultar a vida a Cavaco? Não podemos esquecer que os grandes argumentos inicialmente avançados pelos indefectíveis defensores da candidatura do professor de finanças são, exactamente, a sua competência técnica e a “ajuda” que poderia constituir para o governo, em domínio tão sensível. Neste clima, em que se prevê uma pacífica coabitação do bloco central, a mensagem que fica é que até Soares chega.

Tuesday, October 25, 2005

Incomodidade (III)

Dos apoiantes blogosféricos de Soares, porque já provaram que quem lhes estimula o intelecto e dá ligeireza à pena é...Cavaco!

Incomodidade (II)

De um certo PS, com a perspectiva de vir a ter Soares em Belém.
De um certo PSD, com a perspectiva de vir a ter Cavaco em Belém.

Incomodidade (I)

Do PS, que não se poupa a esforços para proibir os apoios socialistas ao poeta Alegre, enquanto não cessa de reafirmar, em rondómico, o seu apoio a Soares. Tanto esforço até dá para desconfiar.

Monday, October 24, 2005

A ideia é do Jerico...

... mas não de jerico! O ME deveria aceitar fazer uma experiência como esta, com o devido acompanhamento, e a adequada avaliação. Os resultados seriam, decerto, do maior interesse para todos, mas talvez surpreendessem muitos.

De mal, a pior...

Notícias nada animadoras, hoje, no DN:
«O indicador de actividade económica atingiu, em Agosto, o valor mais baixo em um ano e meio. (...) O INE (...) assinala que os dados sobre as exportações e sobre a procura externa dos principais parceiros comerciais de Portugal apontam para a manutenção de uma tendência de perda de quota de mercado das exportações nacionais.»
«A subida acentuada do desemprego está a fazer vítimas, também, entre os mais de 450 mil imigrantes legalizados em Portugal. Entre Junho de 2000 e o mesmo mês de 2004 o número de imigrantes a receber subsídio de desemprego quadruplicou, passando de 4462 para 20 895, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Segurança Social a que o DN teve acesso. Ou seja, este grupo representava já 5,1% do total de beneficiários de prestações de desemprego. »
«Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que emigraram 27 358 pessoas em 2003, um fluxo próximo do de 2002 (27 008), em que houve um aumento de 32,9% de emigrantes relativamente ao ano anterior. (...) Também o último Estudo Económico e Social Mundial das Nações Unidas refere os fluxos migratórios com origem em Portugal, facto que nos diferencia dos outros países do Sul tradicionalmente exportadores de mão-de-obra (Espanha, Itália e Grécia) e que deixaram de o ser. Entre 1990 e 2001 emigraram 108 mil portugueses.»

47000 crianças trabalham em Portugal

As famílias são as grandes responsáveis, promovendo e aceitando a exploração das suas crianças, depois colaborando no encobrimento das entidades empregadoras.
É este um problema que sucessivos governos se têm revelado incapazes de resolver, a que os autarcas da "rotundite" não prestam qualquer apoio, e que, apesar das causas fracturantes constituirem o repositório argumentativo de alguns partidos com assento parlamentar, ainda não conseguiu um élan equiparado ao do aborto.
Em época de eleição presidencial, seria bom ver que esta questão valeria para os candidatos um pouco mais do que a perspectiva de mais uns votos.

Sunday, October 23, 2005

As respostas sinceras nunca são claras nem rápidas - Marguerite Yourcenar

Não choro...

A dor não me pertence.
Vive fora de mim, na natureza,
livre como a electricidade.
Carrega os céus de sombra,
entra nas plantas,
desfaz as flores...
Corre nas veias do ar,
atrai os abismos,
curva os pinheiros...
E em certos momentos de penumbra
iguala-me à paisagem,
Surge nos meus olhos
presa a um pássaro a morrer
no céu indiferente.
Mas não choro. Não vale a pena!
A dor não é humana.

José Gomes Ferreira

Friday, October 21, 2005

Cavaco candidato

Frio, austero, cirúrgico, seco, distante, Cavaco foi igual a si mesmo.
Precisaríamos de ter crescido muito, enquanto povo, para que aquela eficácia do discurso, aquela serena confiança no valor pessoal, aquele consciente desprendimento dos meandros da politiquice caseira pudessem colher o doce fruto.
Em Janeiro, perceberemos que nem ele, nem os portugueses, aprenderam nada em 10 anos.
É pena!

Thursday, October 20, 2005

O ME e os «buracos negros do insucesso»

O jornal Público dedicou hoje duas páginas à educação, com entrevista da responsável governamental, que veio explicar ao povo leitor algumas das suas medidas, que tanta contestação estão a ter nas escolas, avançando a (sua) justificação para as mesmas.
Para além do facto de ser digna de registo a disponibilidade da senhora para nos explicar os porquês do que anda a fazer, logo ela que nem aos representantes sindicais dá o benefício do diálogo, se nem tudo o que nos explica recolhe aprovação, há caminhos percorridos, ou com intenção de percorrer, que devem merecer aplauso, cauteloso, que de boas intenções já estamos saturados e os governos do PS têm uma magistral habilidade para mascararem as mais perversas decisões.
Indo ao que de bom parece sair daquela cabeça: posta perante um PIDDAC exíguo, decidiu a senhora, em boa hora, inverter as prioridades – passar a privilegiar a reconversão/recuperação da rede escolar, em detrimento do avanço cego na construção de pavilhões desportivos, que tem sido a menina dos olhos das autoridades locais, a quererem apresentar obra às cavalitas do governo central. Com o panorama de profunda degradação de inúmeros edíficios escolares, a medida merecerá que se lhe tire o chapéu, se viermos a poder comprovar que a “regionalização” da anunciada recuperação da rede escolar, tanto quanto a selecção dos poucos pavilhões que continuarão a ser construidos, não depende de prioridades traçadas à regra e esquadro da conveniência partidária, no Largo do Rato. Face ao que já se viu no passado de decisões anunciadas por governos PS ,que nunca se cumpriram, a desconfiança é legítima.
Também ainda na coluna do bom, a extinção de algumas escolas, porque é um facto que há mais de três centenas que não se justificam. Neste capítulo, contudo, toda a reserva é pouca, se analisarmos bem o discurso governamental. Já não são as escolas com poucos alunos – menos de 5, ou de 10, mesmo que fossem 20, a medida continuaria a fazer sentido, em casos pontuais. Não, agora a decisão é fechar escolas de insucesso e a subtil nuance dá que pensar. Porque se o sucesso dos alunos passa a ser causa para encerramento de escolas, só nas áreas da grande Lisboa e do grande Porto temos várias escolas com cerca de mil alunos que teriam de ser encerradas. Percebe-se que poderá ter havido, por parte da senhora, uma má compreensão do que é para fazer e uma deficiente explicação, mas o Secretário de Estado, Valter Lemos, repete o conceito de escolas com insucesso, o que adensa a desconfiança. Calma, pois, com as euforias entusiásticas e atenção à efectiva bondade da medida.
Entramos, a seguir, no domínio do mau, do muito mau, mesmo. E este tem a ver com os estereotipos, a partir dos quais a senhora estruturou toda a sua acção, e que deixa “escapar” ao longo da entrevista. São eles: alguns dos piores “vícios” da carreira docente decorrem do facto de a maioria dos professores serem mulheres e terem de criar os filhos (presume-se que tenha esta brilhante conclusão sido inspirada pela própria experiência); a progressão na carreira docente não se estrutura sobre processos de avaliação credíveis (esquecendo a senhora que foi o PS e os governos de Guterres que desmantelaram as estruturas de avaliação de docentes que tinham sido criadas pelo governo que os antecedeu); as escolas sofrem de infantilismo organizacional (razão pela qual, em manifesta incoerência, decidiu atirar para cima dos conselhos executivos a gestão da componente não lectiva dos professores, que o ME não teve coragem de regulamentar); a afectação compulsiva de docentes às escolas por períodos superiores a um ano lectivo tem sempre resultado directo num maior sucesso educativo dos alunos (desconhecendo que, apenas em circunstâncias específicas, a medida deixará de incrementar o absentismo dos docentes e um pior funcionamento das escolas).
Para além do mau, remata com o inqualificável – questionada sobre situações concretas em que professores dos 2º e 3º ciclos não estão preparados para leccionarem os primeiros anos de escolaridade, a senhora responde sibilinamente que, em abstracto, todos estão preparados para o fazer. Um mimo, este toque de génio. Percebe-se, finalmente, a razão da tamanha confusão que vai pelas escolas; pudera, têm que concretizar o que, para o ME, não passa de abstracção!
Quanto ao anunciado aumento de milhões a gastar na educação, seria uma boa notícia se houvesse uma relação directa entre o investimento efectuado e os resultados obtidos, o que os dados oficiais demonstram não ser, entre nós, uma realidade. Portanto, vendo as áreas a que se destina o reforço de verbas, até dá para perceber quem se vai encher à conta.

Traquinices

Continuam os disparates no Super Mário - agora há um post assinado por um Super Mário, "em pessoa". Claro que se acoberta numa espúria declaração de ser o conteúdo do post um contributo de Rui Tavares. Pois, pois...
Assustados com a luta, que classificam de desigual? Parece!
Já que não têm por nós, importam-se de ter um bocadinho mais de respeito pelos cabelos brancos do Super Marocas? É que se o ancião ganhar as eleições, ao menos que não o tomem pelo Rato Mickey!

Wednesday, October 19, 2005

A ler

No Abrupto: "QUANDO CHEGAR À ALTURA LOGO SE VÊ"
No Bloguítica: "A EXPLICAÇÃO PÚBLICA"
No Blasfémias: "POST RÁPIDO SOBRE A GRIPE DAS AVES"
No Quarta República: "A SUPERIORIDADE MORAL DA ESQUERDA"

«Respect a man, he will do the more.»*


O aparecimento deste hilariante blogue, que dá pelo nome de Super Mário, dá que pensar. Não pelo seu conteúdo, que não traz novidade – os próprios autores confessam ao que vêm: «é a nossa tentativa de, a uma pequena escala, corresponder com empenhamento e determinação ao gesto de Soares». O que se estranha é a forma de homenagem irónica, de muito duvidoso gosto, que os seus mentores encontraram para ajudarem a eleger o pai/avô da pátria. Eles dizem que tal ironia e homenagem a encontramos no título, o que é certo, e terá sido para reforçar o efeito que acharam ter que dar cara à coisa, mas, mon dieu, que figurinha jocosa arranjaram!
Aquele pequeno boneco é, na figura e na pose, tudo menos uma homenagem à personagem que representa e, para ironia, tem o traço demasiado grosseiro. Apesar de uma subliminar mensagem maoista (o traço do desenho, as cores, o boné, a “farda”, as botas, está lá tudo), tão familiar às esquerdas que quer cativar, a imagem imediata e mais forte que o boneco passa é a de uma irrequieta e aparvalhada infantilidade, a roçar a imbecilidade, quando pensamos na idade do candidato. De velho se torna a menino, parece ser a mensagem popularucha que o boneco quer deixar, mas, se não era intencional, foi um “tiro de sorte”, porque é exactamente isto que, imediatamente, se nos fixa no subconsciente. E é aqui que a coisa começa a atingir-nos as meninges. Sendo alguns dos entusiasmados autores de tão acabado produto eleitoral experimentados bloggers, pouco dados a precipitações pouco inteligentes, como se justifica tamanho trambolho? Influência do sucesso de massas dessa outra incontornável figura do showbizz nacional que é o conde/recruta que, na 4, dá troco à histriónica Júlia Pinheiro? Bem, nos seus primeiros rounds presidenciais o nosso Soares foi fixe para classes A e B, mas, entretanto, muita coisa mudou, e vai daí começou a soletrar o abecedário todo? Parece, parece...
Mas cá para mim, isto não foi só falta de jeito, lapso do inconsciente, falta de gosto, sei lá. Com o passado “soarístico” de alguns dos mentores do Super Boneco, eu, se fosse o Marocas, desconfiava e castigava tão desastrados infantes – deixava-lhes o blogue, mas tirava-lhes o boneco! Para aprenderem a ter respeitinho. Que o homem está velho, mas não é estúpido.
*James Howell

Antologia

Pedir amparo a alguém é uma loucura.
Pedir amor,
Também nada resolve – e para quê?
O amor corre – e em seus próprios movimentos
Isola-se, e de tudo parece que descrê;
E quando vem dizer-nos que é verdade,
Vê-se a mentira
Em que ele a rir afirma o que não vê.
António Botto

Tuesday, October 18, 2005


O mundo hoje ficou mais belo, contigo.

Monday, October 17, 2005

De olhos em bico

Posto (quase) a nu fica o ministro Alberto Costa, e alguma da camarilha conhecida. Por fazer, permanece a "história" de quase todos os que passaram por terras do sol nascente e que têm sido o alvo preferencial desse grande movimento rosa/laranja conhecido por "jobs for the boys". Houvesse alguém que se desse ao trabalho de terminar esse puzzle, e talvez se pudesse então começar a endireitar esta ocidental praia lusitana.

Habituem-se!

Acabo de ver na televisão uma Ministra da Educação titubeante, mal disposta, de sobrolho franzido, a responder, com constrangimento e sem qualquer simpatia, a jornalistas, que, tendo sido convidados pelo ME para o evento a que a senhora emprestava a honra da sua presença, foram postos fora da sala pela entourage da governante. Vi, ainda, o Presidente do Conselho Executivo da escola em que decorria a visita da ministra vir cá fora convidar os jornalistas expulsos a reentrarem para ouvirem as declarações da senhora ME, no momento em que esta resolveu conceder-lhes o beneplácito da ministerial atenção.
E esta, hem?

Um bom tema de reflexão para os candidatos presidenciais

«Só os ingénuos podem crer que uma discussão visa resolver um problema ou esclarecer uma questão difícil. Na realidade, a sua única justificação é testar a capacidade de os participantes derrubarem o adversário. O que está em jogo não é a verdade, mas o amor próprio. O bem falante leva a melhor sobre o que tartamudeia, o temerário sobre o tímido e o arrebatado sobre o escrupuloso. Estar de boa fé equivale a potenciar as desvantagens, porquanto os escrúpulos se somam à circunspecção, dificultando a expressão. O que é a boa fé? Uma conduta de fracasso, um autêntico suicídio... Quem participa em debates fala sem escutar, espezinha qualquer raciocínio que não seja conduzido por si próprio, despreza as oposições, ignora as obstrucções e, de certo modo, conquista a vitória à força de palavras.»
Georges Picard, "Pequeno Tratado para Uso Daqueles que Querem Ter Sempre Razão"

Quer saber o que valem as medidas do ME? Então leia isto!

Não somos fazedores de milagres!!!!!
Aqui.

Sunday, October 16, 2005

O limiar da pobreza

Portugal é o país da UE em que as desigualdades sociais são mais acentuadas, de acordo com notícia do Diário Digital - «As 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto e 20% dos mais ricos controlam 45,9% do rendimento nacional. (...) As estatísticas indicam que um em cada cinco portugueses vive no limiar da pobreza
Para o responsável da Oikos, "a realidade da pobreza é pior. Porque pobreza não é meramente falta de dinheiro, é também falta de acesso às necessidades que conferem dignidade na vida portuguesa". Esta é a dura realidade que não vemos ser tomada em conta, nem no discurso, nem na acção dos responsáveis políticos.

«O único problema da viagem de Falcon é que surge num Estado que continua a gastar muito e mal»*

Faz muito bem Ricardo Costa* vir dizer-nos que a discussão miserabilista em torno do uso que Sócrates fez do Falcon para se deslocar ao jogo Portugal – Liechenstein é muito aquilo que é - miserabilista - mas não podemos esquecer, tal como ele não o faz, que o sururu à volta do assunto se justifica, tanto pelo que o acto em si mesmo diz do sentimento de euforia e de impunidade de membros do governo, como, sobretudo, pela fragilidade que o conhecimento dessas atitudes constitui, num governo com o discurso da austeridade e do rigor.
A notícia que O Independente dedicou ao caso alerta-nos, aliás, para um novo-riquismo muito mais profundo do que o que o uso do Falcon para deslocações do governo a reuniões, ou compromissos oficiais, deixa antever - a logística que o Primeiro-Ministro põe em marcha para uma simples deslocação a uma localidade a escassos trinta quilómetros do seu gabinete: frotas de carros em sobreposição com helicópteros, ao serviço de planos A e B, num esbanjamento de recursos inqualificável na circunstância em causa, fosse qual fosse a situação das nossas finanças públicas, ofensiva no estado das nossas. Se isto é assim, escassos meses após a chegada ao poder, o que não será daqui por uns meses, quando este tiver feito os estragos que sempre acaba por trazer? Para já não se referir o cinismo de um falso discurso moralista com que o próprio Sócrates nos continua a brindar, num exercício de desrespeito público, que roça o provincianismo boçal.
Tem toda a razão Ricardo Costa neste seu artigo, que Sócrates deveria reler todos os dias.

Saturday, October 15, 2005

Sobre os elos e organização dos blogues, título que deu aos seus posts a propósito deste assunto, Paulo Gorjão, no Bloguítica, discorre a propósito dos interesses que mobilizam os aderentes às micro-causas e o impacto dos blogues na organização de acção cívica em torno de causas, concluindo assim: «A blogosfera portuguesa vai, passo a passo, revelando a sua crescente influência. Inevitavelmente, a sua maior influência contribui para a adesão de um número maior de leitores e de blogonautas o que, por sua vez, aumenta ainda mais a sua influência. Em suma, a bola de neve continua a rolar e a crescer. Veremos onde é que se irá imobilizar e quais serão as consequências positivas e negativas
Sendo importantes as questões que trata em dois excelentes textos, há, contudo, um aspecto que me parece apenas subtilmente aflorado nos seus posts, e que tem a ver com as "corporações" de blogues, nascidos e impulsionados por comunidades de interesses, nem sempre estes transparentemente assumidos. A constituição destes "grémios" começa a tornar-se evidente para qualquer ingénuo blogger ao fim de uns quantos "passeios" por alguns blogues "plataforma", líderes de visitas diárias, porque, fazendo a experiência de seguir as sugestões apresentadas por estes, em destaques e links para outros blogues, a que podemos designar de "atrelados", depara-se com produtos blogosféricos demasiado recentes, ou com discutível interesse, para deverem ter merecido tal chamada de atenção. Analisar o número de visitas diárias de alguns desses blogues "atrelados" dá que pensar, se atendermos ao facto de se manter muito elevado, mesmo quando esses blogues ficam parados por dias, até semanas. Estudar ainda este fenómeno na perspectiva da afinidade das temáticas entre o blogue "plataforma" e o blogue "atrelado" é, também, um exercício com resultados surpreendentes. Observar como se portam nas micro-causas, também não deixa de ser interessante.
O estudo da evolução da blogosfera portuguesa começa a ser feito, nomeadamente no âmbito de mestrados, mas parece-me que Paulo Gorjão trouxe para a blogosfera, dita de actualidade, uma discussão que poderia ser bastante elucidativa das intenções menos evidentes do tipo de blogger que, só superficialmente, se poderá considerar comum. Mas, para isso, seria recomendável que, à semelhança do que se faz no Abrupto, o Bloguítica publicasse as reacções aos dois posts que dedicou ao assunto, bem como uma eventual resposta que essas reacções lhe merecessem.
ADENDA: No âmbito do II encontro de "weblogs", promovido pela Universidade da Beira Interior nos passados dias 14 e 15, foram criados grupos de trabalho, que apresentaram conclusões sobre a influência dos blogues na Cultura, Política, Ensino, Jornalismo, Contexto Organizacional e Imagem. Podem ser consultadas aqui.

Friday, October 14, 2005

«Ah, todo o cais é uma saudade de pedra! »*

A propósito deste texto, recebi uma inesperada mensagem e um presente de um velho amigo, de que não sabia há muito tempo e que nem desconfiava que passasse por aqui. "... e nas tuas palavras reencontrei o 'nosso porto'.(...) Mando-te uma fotografia que encontrei (...) como te deve trazer boas recordações."
Obrigado, Zé, é quase como estar de volta. Aqui fica ela.
* Álvaro Campos

Podem ficar sem hemodiálise dois mil doentes por ano

No 4R - Quarta República, decorre um animado e interessante debate sobre menos Estado, melhor Estado, nos comentários a este post de Pinho Cardão. A dado passo, o autor responde, também em comentário, o seguinte:
«Mas ter menos Estado, é ter menos despesa improdutiva e ter menos despesa improdutiva é ter mais dinheiro para o essencial.E o essencial é, por exemplo, prodigalizar bons cuidados de saúde, a todos, sem distinção, em hospitais privados ou públicos, é dar condições para que todos os doentes, pobres ou ricos, tenham todos os medicamentos que necessitam, é facultar a todos as mesmas possibilidades de acesso à educação...E isto não é possível num Estado tentacular, que sirva interesses corporativos, desperdiçador dos impostos dos contribuintes
Não poderia estar mais de acordo com Pinho Cardão, mas também vejo que estamos cada vez mais longe do que preconiza. Atente-se nesta "boa" notícia de hoje, no DN, e rezemos para não virmos a necessitar de hemodiálise, porque corremos o risco de ficar sem tratamento. E como o investimento nos equipamentos vai parar, a medida tem repercussões no tempo muito superiores ao que os mais optimistas da alternância política podem esperar.

Em Portugal, os aeroportos vão ter uma porta para os cidadãos dos países da CPLP

Não posso negar que esta notícia, assim como a dos folhetos destinados aos brasileiros com a mensagem de Scolari, todos estes anúncios, no final da VIII Cimeira Luso-Brasileira, me pareceram ridículos, pueris e até ofensivos, quer da nossa inteligência, quer do que verdadeiramente interessa, no domínio das relações bilaterais.
Querem convencer-nos que é preciso uma cimeira ao mais alto nível para parir isto? Não podiam ter combinado tudo com uns telefonemas entre funcionários dos respectivos governos? Ou será que Lula está tão periclitante, que nem vale a pena tratar de assuntos sérios com ele? Cá pelo nosso lado não nos admiramos, porque com este MNE não se espera mais do que trivialidades destas...

Com ajudas destas...

"Na situação em que o país se encontra, o Presidente da República é talvez o mais forte ponto de arranque de um processo de reformas. Aquilo que eu acho que o prof. Cavaco Silva é capaz de concretizar é o projecto e a tarefa mais difíceis desde 1976. Mas isto apenas se ele aparecer já dizendo ao país quais são os pontos de bloqueio, sem receio de afirmar objectivamente quais são os receios e os tabus que o país conhece. E estou a falar, por exemplo, da dimensão do sector público, da dimensão do Estado, do número de funcionários públicos; estou a falar da gratuitidade das prestações sociais, da inflexibilidade da prestação social em matéria de despedimento, etc.. Estas reformas não são uma questão de esquerda ou direita, de partidos ou de governo. São balizas para a actuação de um governo e ele deve dizer já o que pensa destas matérias.
Mas o Presidente entraria na esfera do Governo…
Apresentando-se desta forma ao país, o Presidente deixa de estar às quintas-feiras a receber o primeiro-ministro para comentar a situação do país e passa a estar às quintas-feiras a receber o PM para julgar em que medida o Governo está ou não a cumprir as directrizes. Enquanto estes pontos forem respeitados na livre decisão do Governo, tudo bem. Quando qualquer destes pontos for tocado, o Governo terminou nesse dia. Com ou sem maioria."
Mário Soares e o PS já têm fundamento para agitarem a bandeira da instabilidade! E Cavaco ainda nem entrou na corrida!
ADENDA: Eu bem temia - já está o Vítor Ramalho na SIC Notícias a retirar dividendos desta entrevista, com a bandeira do golpe intitucional em riste!

A irritação do CDS/PP...

... com o desprezo a que o PSD o votou depois da eleições é absolutamente desajustada, pela falta de perspicácia política que denuncia. Não que não fosse justo o PSD reconhecer a mais-valia que os democratas-cristãos representaram para a expressividade da vitória que reivindica nas autárquicas, mas é preciso reconhecer que o actual CDS se pôs a jeito, com este estilo pequenino, pobrezinho, envergonhadinho, bem-comportadinho, que a actual direcção recuperou dos baús do partido do taxi. Para quando a substituição de Ribeiro e Castro e apaniguados? Quando passarem a partido trotinete? Tenham juízo!

Thursday, October 13, 2005

The Iron Lady


«Too often the democratic peaceful nations let slip their guard because they assumed that the danger had gone, assumed that the future would be one of peace and progress. And too often they were wrong. For the course of history is not predictable.»
«For it's not only totalitarian dictatorship whose shackles the peoples of the world are throwing off. It's socialism. It's the central planning and state control, the grinding inefficiency, the shortages, the bureaucracy, the embittered politics of envy, the corruption, the oppression, in a word it is the poverty of socialism, from which our world is breaking free.»

Speech to Young Conservative Conference - 10 Feb 1990



E ninguém pensa em demiti-lo?

O Director-Geral de Saúde está na SIC notícias a pôr loucos os jornalistas que o entrevistam e a demonstrar, à evidência, porque Portugal está a correr riscos acrescidos com a gripe das aves.

De boas intenções...*

Ao compararmos o nosso melhor índice, Lisboa - 14,8%, com a vizinha Espanha (entre os 18% de Castilla-La Mancha e os 34,1% do País Basco), percebemos o muito que há para fazer no domínio da educação, e talvez passemos a compreender melhor a investida espanhola aos interesses económicos portugueses.
Ainda segundo o mesmo jornal (07/10/2005), "Os resultados escolares dos alunos portugueses ainda estão abaixo da média dos países da Unesco face ao investimento feito na Educação". As razões apontadas no relatório para este insucesso, mereceram já, por parte do ME, uma jogada de antecipação, para amortecer o impacto dos resultados na opinião pública. Assim, foram tomadas decisões relativamente a apoio educativo suplementar a alunos em dificuldades (com mais de 3 negativas), tornando obrigatória a apresentação de planos de recuperação desses alunos. A medida parece nova, mas não é, inteiramente. Os resultados destas práticas de recuperação têm sido nulos, ou de pouco efeito, e as medidas agora tomadas são insuficientes, como reconhece a própria 5 de Outubro. Tenhamos esperança que, com elas, não se fique o ME pelo efeito útil de amortecer críticas e encontrar ocupação para os professores que se acotovelam pelas escolas, obrigados a aí permanecer sem que lhes tenham sido definidas actividades adequadas e necessárias. Uma estratégia para o futuro, precisa-se.
* dando o benefício da dúvida...

Prémio Nobel da Literatura 2005

Harold Pinter - escritor, poeta, dramaturgo, director de teatro, argumentista, rebelde com causas, sociais e políticas. O mundo está perigoso, e ele não deixa de nos avisar disso. A atitude, e o talento, justificaram o prémio, de que as circunstâncias não terão estado ausentes. Seja como for, a excelência da escrita permanecerá, para nosso prazer.

Don't look.
The world's about to break.

Don't look.
The world's about to chuck out all its ligh
tand stuff us in the chokepit of its dark,
That black and fat suffocated place
Where we will kill or die or dance or weep
Or scream of whine or squeak like mice
To renegotiate our starting price.

DERNIERE MINUTE - URGENT 12h48 : Grippe aviaire : le virus H5N1 identifié en Turquie

La Commission européenne a annoncé, jeudi 13 octobre, que le virus détecté en Turquie était "le H5N1 hautement pathogène", qui a entraîné en Asie la mort d'une soixantaine de personnes depuis la fin 2003 (AFP).

Micro-causas

A micro-causa iniciada pelo Bloguítica, e a que aderiram umas dezenas de blogues, incluindo o crackdown, constituída por um pedido de explicações a propósito da notícia publicada pelo Público sobre os contactos prévios à vinda da regressada Fátima Felgueiras com altos dirigentes do PS, esgota-se na resposta de José Manuel Fernandes, ontem, no Clube dos Jornalistas.
Ao responder a esta questão, num programa de televisão com as características daquele em que estava, o director do Público deixa, no que me parece ser a primeira vez que tal acontece, uma marca da mudança comunicacional que os blogues estão a introduzir nos media. Este efeito das micro-causas e dos blogues, em geral, está muito bem analisado no Bloguítica, numa sequência de posts sobre o assunto, e no blogue Jornalismo e Comunicação, por Manuel Pinto. Como este último refere, «A movimentação da blogosfera neste caso constitui um indicador e um sintoma de uma realidade que mudou: os media profissionais continuarão a ter o poder de marcação da agenda, mas não têm mais o monopólio da palavra e conviver com esta realidade constitui um desafio para todos os actores sociais: tanto os profissionais dos media como os intervenientes dos novos media

«Ah, todo o cais é uma saudade de pedra! »*

Como gosto de portos e tinha umas imagens que achei interessantes, fui-as deixando por aqui, mas um comentário no último post sob o título “portos” levou-me muitos anos atrás, quando passava horas “vivendo” um porto, porto de partidas, e de chegadas, nem sempre tristes aquelas, ou alegres estas.
Era um porto à moda antiga, que dos actuais não conheço a “intimidade”, um lugar fascinante, com uma magia muito própria, e viver a sua rotina, com proximidade, marcou-me para a vida, deixou-me nas veias um vento aventureiro que nunca mais consegui perder, tal como o cheiro a maresia não desaparece da pele dos marinheiros.
Primeiro, era o mar, um mar imenso que ali começava, ou acabava, domado, reduzido à sua função útil de nos trazer, e levar, as gentes, os bens, os sonhos e as ilusões. Depois, eram os barcos, magníficos e misteriosos, mesmo quando mais não eram do que um pequeno cargueiro, sujo e enferrujado. Ver entrar um barco num porto é, sempre, um momento único. Começar por vislumbrar-lhe o perfil indeciso ao longe, ir-lhe descobrindo dimensões e cores, decifrar-lhe as bandeiras, estudar-lhe a história da viagem nas gentes penduradas na amurada, acompanhar-lhe as manobras de atracagem, todo esse percurso é um espectáculo que nos absorve, ao ponto de esquecermos tudo o resto. E depois começa a faina, faina que é trabalho, suor e sonho, quando das escadas descem os passageiros, expectantes ou ruidosos, se a descobrirem terra nova, ou se a reencontrarem lar e amigos; quando os porões se abrem com um ruído surdo, como bocas gigantescas, e a eles descem os homens, possantes, vorazes descobridores dos tesouros rendidos às suas investidas.
De barcos, e em barcos, vi sair e entrar tantos retalhos de vida que, recordando, percebo que, por empréstimo, vivi milhares de vidas, visitei milhares de terras, possuí incontáveis tesouros, e tudo perdi ao som rouco das sirenes com que se despediam os navios, cumprida que fora a sua missão, em demanda de novos espaços, de outras gentes. E, contudo, via-os partir sem pena, sabendo que levavam um pouco de nós, e que, quando voltassem, nos trariam um pouco de além.
Gosto de portos, pelo menos de um porto à moda antiga, quando os barcos não se resumiam a paquetes de cruzeiros de luxo, quando não havia contentores e dos porões dos navios saíam animais vivos, barris empurrados um a um até ficarem todos muito alinhados, no fundo do cais, cabazes com frutas e legumes, fardos de tecidos, automóveis e frigoríficos e até, em tempos de crise, as gentes pobres que, nas profundezas de um porão asfixiante, demandavam terras de fortuna, esperavam elas.
Gostaria, um dia, de escrever sobre este porto, e as suas mil histórias, talvez, quem sabe, se conseguir o tempo, e o jeito. Com as imagens que por aqui deixei estava, apenas, a “compor” o blogue, pensava eu. Um simples comentário demonstrou-me que, afinal, estava apenas a enganar a saudade.
* Álvaro de Campos

Wednesday, October 12, 2005

Gripe das aves*

Julgo que, como é nosso hábito, a mais do que possível pandemia que se aproxima nos está a merecer um soberbo desdém, e a traduzir-se numa criminosa negligência por parte dos responsáveis. A propósito do assunto, pareceu-me ver, ontem, o Director-Geral de Saúde a dar uma triste imagem de si próprio, numa televisão perto de nós. Arrepia, porque estão em causa vidas humanas, muitas.
Entretanto, dizem os velhinhos numa farmácia que o medicamento apropriado apenas chega para as encomendas dos membros do governo, políticos e afins. As "cunhas" funcionam, até (sobretudo) para isto. Dada a qualidade das nossas élites que "estão podendo", lastima-se que sejam elas que maiores possibilidades de sobrevivência têm.
* um post politicamente incorrecto, porque a gente não é de ferro e gostaríamos de dar uma possibilidade de sobrevivência aos nossos filhos.
ADENDA: sobre medidas de protecção relacionadas com a suspeita de gripe aviária , pode consultar-se informação no sítio da Agência Portuguesa de Segurança Alimentar

Tuesday, October 11, 2005

Portos

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Valentin Ruths

Falcon cá, Falcon lá...

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«Power tends to corrupt, and absolute power corrupts absolutely», Lord Acton

Se Sócrates não queria o governo avaliado nas autárquicas, o que andou a fazer ao lado deste senhor?

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A não perder

Inteligência e humor, em elevadas doses - " O grau 1 da Lusitânia", no espumadamente.

A ler

* de Pinho Cardão - "Regresso à normalidade!... "

O poder nu*

«Tem de existir tanto o poder dos governos como o dos aventureiros anárquicos.
Tem de haver mesmo o poder nu, enquanto houver rebeldes que ajam contra o governo, ou mesmo criminosos comuns. Mas, para que a vida humana possa ser, para a massa da humanidade, algo melhor que uma triste miséria pontilhada de momentos de vivo terror, deve haver o menor poder nu possível. O exercício do poder, para que possa ser algo melhor que a imposição de caprichosas torturas, deve ser limitado pelas salvaguardas da lei e do costume, e só deve ser permitido depois de uma deliberação devida, sendo confiado a homens que sejam estreitamente fiscalizados, no interesse dos que estão a eles sujeitos.
Não pretendo dizer que isto seja fácil. Implica, entre outras coisas, a eliminação da guerra, pois toda guerra é um exercício do poder nu. Implica um mundo livre das opressões intoleráveis que provocam as rebeliões. Implica a elevação do padrão de vida em todo o mundo - particularmente na Índia, China e Japão - pelo menos até o nível que foi atingido nos Estados Unidos antes da depressão. Implica instituições análogas às dos tribunos romanos, não para o povo como um todo, mas para cada parte da população que esteja sujeita á opressão, como as minorias e os criminosos. Implica, sobretudo, uma opinião pública vigilante, que tenha oportunidade de verificar os factos.
É inútil confiar-se na virtude de alguns indivíduos ou de grupos de indivíduos.
O rei filósofo foi há muito posto de lado como um sonho ocioso, mas o partido dos filósofos, embora igualmente falaz, é saudado como sendo uma grande descoberta.
Nenhuma solução real do problema do poder pode ser encontrada no governo irresponsável de uma minoria, nem mediante qualquer outro atalho»
* de Bertrand Russell

Sunday, October 09, 2005

Das duas, uma...

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... ou o estado do ancião exige a sua imediata interdição, ou o seu respeito pelas regras democráticas é inexistente. Seja qual for a conclusão, uma certeza temos - não está em condições de ser presidente da república.

Leitura para as presidenciais?

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Choque tecnológico

Até a tecnologia falhou esta noite!
Ao menos, chove.

Derrotados

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Conhecendo-se o amor que grande parte do PS lhe dedica, a derrota de Carrilho significará o seu fim político? Uma serena análise dos resultados poderá vir a ser esclarecedora.


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Jorge Coelho não conseguiu fazer o PS vencer em Sintra e, como coordenador autárquico, parece que vai ter que digerir um resultado global nada favorável.
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O primeiro-ministro avisou a tempo que recusa leituras das autárquicas, que ponham em causa a estabilidade política. Isso não impede, no entanto, que não seja legítima a exigência de que, saindo o partido do governo derrotado no primeiro acto eleitoral realizado desde que assumiu a governação, reveja a relação autista que estabeleceu com os cidadãos .

E agora?

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Ironicamente, são as vitórias de Isaltino e de Valentim Loureiro, mais a provável derrota de Damasceno, que transformam Marques Mendes num dos grandes derrotados destas eleições. Contudo, as razões pelas quais a sua questionável liderança do PSD deveria terminar já residem mais no seu alinhamento com o submundo dos interesses aparelhísticos, do que por ter recusado aceitar como candidatos os agora vencedores.

O poder nu*

«Há os que acreditam que um grupo qualquer de homens, uma vez que se haja apoderado da maquinaria do Estado, possa, por meio da propaganda, assegurar o assentimento geral. Há, todavia, limitações óbvias quanto a esta doutrina. A propaganda do Estado tem-se mostrado, nos últimos tempos, impotente, ao opor-se ao sentimento nacional, como, por exemplo, na Índia ( antes de 1921) e na Irlanda. Tem tido dificuldade em predominar sobre fortes sentimentos religiosos. Até que ponto e até quando poderá prevalecer contra os interesses da maioria é ainda uma questão duvidosa. Deve-se admitir, no entanto, que a propaganda do Estado se torna cada vez mais eficiente; o problema de assegurar a aquiescência dos governados está-se tornando, por conseguinte, mais fácil para os governos.»
* de Bertrand Russell

Antologia

THE red rose whispers of passion,
And the white rose breathes of love;
O the red rose is a falcon,
And the white rose is a dove.

But I send you a cream-white rosebud
With a flush on its petal tips;

For the love that is purest and sweetest
Has a kiss of desire on the lips.

John Boyle O'Reilly

Saturday, October 08, 2005

Friday, October 07, 2005

A propósito das micro-causas nos blogues

«A comunicação social tradicional já não controla sozinha o debate público, cada vez mais é a simbiose entre os diferentes modos de comunicar (incluindo os blogues, mas não só) que conta.» - escreve Pacheco Pereira, no Abrupto.
Como que a dar-lhe razão, a micro-causa do Bloguítica, a que aderiram já vários blogues, incluindo o crackdown, chega ao Clube dos Jornalistas.
Compreendo JPP, quando este entende que a minoria dos leitores de jornais que lê blogues são os que «estão no centro da opinião que conta e são multiplicadores naturais», porque é uma inegável evidência que alguns blogues estão a exercer uma detectável pressão sobre decisores políticos e sobre alguns meios de comunicação social tradicionais, talvez porque muitos políticos e comentadores profissionais são, eles próprios, bloggers.
Mas esta afirmação, transparente, de JPP, leva-me a interrogar-me se, por esta sua "natureza e condição", não será a blogosfera mais vunerável do que os meios de comunicação social tradicionais a alinhamentos e estratégias de poder, que a tomada de consciência da sua importância e crescente poder de influência não deixarão de potenciar?

A campanha de Lisboa

Sob o título «Prémios», Vicente Jorge Silva escreve hoje no DN um artigo de opinião, que vale a pena ler, e que termina desta forma:
"Enquanto Carrilho dispara freneticamente em todas as direcções, Carmona faz a quadratura do círculo entre a herança de Santana e contra ela. Deviam ser penalizados pelo comum oportunismo político. Em contrapartida, Nogueira Pinto e Ruben de Carvalho merecem o prémio da inteligência e da seriedade. Mesmo que nenhum deles possa ser, infelizmente, o próximo presidente da câmara."
Votando em Lisboa, não poderia estar mais de acordo com o que ele escreve, lamentando a ditadura do que no seu texto o «infelizmente» representa. Até quando?

Portos

Thursday, October 06, 2005

O poder nu*


«À MEDIDA que a crença e os hábitos que mantiveram o poder tradicional decaem, vão cedendo gradualmente lugar ou ao poder baseado em alguma crença nova, ou ao poder "nu", isto é, à espécie de poder que não implica aquiescência alguma por parte do súbdito. Esse é o poder do carniceiro sobre o rebanho, de um exército invasor sobre uma nação vencida e da polícia sobre os conspiradores desmascarados. O poder da Igreja Católica sobre os católicos é tradicional, mas o seu poder sobre os hereges que são perseguidos é um poder nu. O poder do Estado sobre os cidadãos leais é tradicional, mas o seu poder sobre os rebeldes é um poder nu. As organizações que mantêm o poder durante muito tempo passam, em regra, por três fases: primeira, a da crença fanática, mas não tradicional, que conduz à conquista; depois, a do assentimento geral ao novo poder, que se torna rapidamente tradicional e, finalmente, aquela em que o poder, sendo usado agora contra todos os que rejeitam a tradição, se torna de novo nu. O caráter de uma organização sofre grandes transformações ao passar por essas fases.»
* de Bertrand Russell

Absolutamente imprescindível ler

No Abrupto, a reprodução da nota publicada por JPP no Público sobre "A MELHOR MANEIRA DE FAZER PASSAR MEDIDAS INTRUSIVAS DA NOSSA PRIVACIDADE" e a entrada sob o título: "MUITO, MUITO PREOCUPANTE". Nesta, escreve Pacheco Pereira: «(MUITO, MUITO PREOCUPANTE) é a erosão de direitos fundamentais que se está a dar a pretexto da luta contra a corrupção e a evasão fiscal, contida em propostas como a que o Presidente da República fez hoje sobre a inversão do ónus da prova. Empurrado pelo populismo, pela visão jacobina e socializante, procura-se, com a diminuição de direitos fundamentais, esconder a incapacidade de ter um sistema eficaz de combate à criminalidade e à evasão fiscal. Muito, muito preocupante.»
Em rodapé, nesta mesma nota, JPP estranha o facto dos portugueses terem deixado passar, sem grande polémica, as câmaras de vigilância da Brisa; julgo que, até ao fim da legislatura, alguns de nós vão continuar a estranhar que muito mais intrusões na esfera da nossa privacidade e dos nossos direitos passem despercebidas, ou resignadamente aceites. É o hábito, com que nos ameaçou António Vitorino, sabendo o que deveríamos esperar. Por isso, ele se tem mantido confortavelmente afastado da boca de cena, como fazem todas as eminências pardas. Para nosso mal, os portugueses habituam-se depressa, ou não tivessem ainda fresca na memória uma ditadura de quase 50 anos. Graças a isso, o Primeiro-ministro teve ontem a possibilidade de basofiar que a conflitualidade social em Portugal não é significativa. Compreende-se o gozo que lhe esteja a dar este exercício de um poder inquestionado, mas ficava-lhe bem um pouco mais de recato, porque, ao fim e ao cabo, ele não está a fazer mais do que troçar de todos nós.

Pesadelo de uma noite de Outono

Último 5 de Outubro? Depois de Soares, "never say never again" ...

"As pessoas ficam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas."*

Encontrei nesta reflexão do filósofo uma possível justificação para a profunda declaração com que José Sócrates contraria a evidência: «o nível da conflitualidade social é baixo».
* Epictetus

Tuesday, October 04, 2005

No Dia Mundial do Professor


Cruel como os Assírios,
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.

Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem, seja onde for.

Romano na ambição,
Oriental no ardil,
Latino na paixão,
Europeu por subtil:

Homem sou, homem só
(Pascal: "nem anjo nem bruto"):
Cristãmente, do pó
Me levante impoluto.

Vitorino Nemésio

Monday, October 03, 2005

A futura Universidade de Cabo Verde contará com parcerias com instituições de ensino superior portuguesas, estando já assinado um acordo de parceria com o Instituto Politécnico de Portalegre e prevendo-se que a Universidade de Coimbra possa vir a apoiar o projecto. Para além de Portugal, a UCB conta com parcerias com Espanha e com o Brasil. Em relação a este último país, o Presidente Pedro Pires, em visita oficial, reafirmou a intenção de fortalecer laços entre os dois países, nomeadamente no domínio do ensino superior e não superior.

Blogues em debate

Ao que parece, vêm no tempo em que dantes vinham as castanhas, as discussões sobre blogues. Já aqui se falou do II Encontro de Weblogs, que terá lugar na Universidade da Beira Interior nos próximos dias 14 e 15. Agora, foi anunciado o ciclo "Falar de Blogues", no âmbito do qual terá lugar no dia 13, às 19 horas, com organização de José Carlos Abrantes e da Almedina , no Atrium Saldanha, Loja 71, 2.º Piso - Lisboa, a conferência «Falar de blogues no feminino». Nesta sessão, participarão Carla Quevedo, autora do blogue Bomba Inteligente, Isabel Matos Ferreira, autora do blogue Miss Pearls, Isabel Ventura, mestranda em Estudos sobre as Mulheres e Patrícia Antoniete, co-autora do blogue brasileiro Megeras Magérrimas. A 10 de Novembro e 7 de Dezembro haverá outras sessões.

Sunday, October 02, 2005

A ler

No Bloguítica, A Admissão.

La magie noire


René Magritte

Urgências...(II)

O argumento é primário: o ministro dá duas semanas aos serviços públicos para responderem aos pedidos de aborto, sabendo de antemão que é, manifestamente, impossível corresponder ao solicitado; findo este curtíssimo período, as abortantes são encaminhadas para clínicas privadas, seleccionadas estas mediante concurso público(?!); resultado: aborta (confortavelmente) quem quer, enriquecem os abortadores amigos do decisor; melhor, é impossível. "Oscar" garantido para o argumentista, the one and only George Rabbit.
Vou recomendar à minha amiga Elizabete, a empenhar-se pela vida da filha de 30 anos, a morrer com um cancro e há meses à espera de vez nos hospitais públicos, que a candidate a um aborto nas privadas; depois, é só uma pequena derivação no acto médico, facilmente justificável - estará sempre em causa uma vida, só que em vez de acabarem com uma, trata-se de tentar salvar uma outra; pouca coisa, para os clínicos de serviço, mas um mundo de diferença para a doente que luta pela sobrevivência.

Saturday, October 01, 2005

Urgências...

Os títulos aparecem pelos jornais, no que parece uma derradeira, e desesperada, tentativa de influenciar o calendário presidencial:«A maioria dos portugueses concorda com a realização do referendo sobre a despenalização do aborto em Novembro».
Depois, lêem-se as notícias até ao fim, desmonta-se a consulta de opinião, e percebe-se quem está a manifestar preferência por esta "urgência". Compreende-se, quem não advogaria em causa própria?
De um PR espera-se ponderação e sentido de Estado, mas com este PR nunca se sabe com que contar. Não estando em causa a consulta popular, inevitável, muito menos o resultado desta, esperado, a questão merece um tratamento adequado à sua relevância. Espera-se, portanto, elevação e bom senso.
Adenda: o governo decidiu dar ao aborto prioridade equiparada às cirurgias de urgência. Da decisão não cabe recurso, mas perguntar não ofende, mesmo que com demagogia q.b.: e se um familiar próximo de Louçã morresse no hospital por uma cirurgia a, por ex., perfuração abdominal, ter sido adiada horas, por ter sido dada prioridade a um aborto? Nem vale a pena ponderar a resposta, porque sabemos como o deputado e patrão do BE usaria o privilégio do seu estatuto para passar à frente de todos. Nós, os que vamos sofrer na pele as consequências da medida, remetemo-nos à nossa impotência.

Dia Internacional da Música