Como gosto de portos e tinha umas imagens que achei interessantes, fui-as deixando por aqui, mas um comentário no último post sob o título “portos” levou-me muitos anos atrás, quando passava horas “vivendo” um porto, porto de partidas, e de chegadas, nem sempre tristes aquelas, ou alegres estas.
Era um porto à moda antiga, que dos actuais não conheço a “intimidade”, um lugar fascinante, com uma magia muito própria, e viver a sua rotina, com proximidade, marcou-me para a vida, deixou-me nas veias um vento aventureiro que nunca mais consegui perder, tal como o cheiro a maresia não desaparece da pele dos marinheiros.
Primeiro, era o mar, um mar imenso que ali começava, ou acabava, domado, reduzido à sua função útil de nos trazer, e levar, as gentes, os bens, os sonhos e as ilusões. Depois, eram os barcos, magníficos e misteriosos, mesmo quando mais não eram do que um pequeno cargueiro, sujo e enferrujado. Ver entrar um barco num porto é, sempre, um momento único. Começar por vislumbrar-lhe o perfil indeciso ao longe, ir-lhe descobrindo dimensões e cores, decifrar-lhe as bandeiras, estudar-lhe a história da viagem nas gentes penduradas na amurada, acompanhar-lhe as manobras de atracagem, todo esse percurso é um espectáculo que nos absorve, ao ponto de esquecermos tudo o resto. E depois começa a faina, faina que é trabalho, suor e sonho, quando das escadas descem os passageiros, expectantes ou ruidosos, se a descobrirem terra nova, ou se a reencontrarem lar e amigos; quando os porões se abrem com um ruído surdo, como bocas gigantescas, e a eles descem os homens, possantes, vorazes descobridores dos tesouros rendidos às suas investidas.
De barcos, e em barcos, vi sair e entrar tantos retalhos de vida que, recordando, percebo que, por empréstimo, vivi milhares de vidas, visitei milhares de terras, possuí incontáveis tesouros, e tudo perdi ao som rouco das sirenes com que se despediam os navios, cumprida que fora a sua missão, em demanda de novos espaços, de outras gentes. E, contudo, via-os partir sem pena, sabendo que levavam um pouco de nós, e que, quando voltassem, nos trariam um pouco de além.
Gosto de portos, pelo menos de um porto à moda antiga, quando os barcos não se resumiam a paquetes de cruzeiros de luxo, quando não havia contentores e dos porões dos navios saíam animais vivos, barris empurrados um a um até ficarem todos muito alinhados, no fundo do cais, cabazes com frutas e legumes, fardos de tecidos, automóveis e frigoríficos e até, em tempos de crise, as gentes pobres que, nas profundezas de um porão asfixiante, demandavam terras de fortuna, esperavam elas.
Gostaria, um dia, de escrever sobre este porto, e as suas mil histórias, talvez, quem sabe, se conseguir o tempo, e o jeito. Com as imagens que por aqui deixei estava, apenas, a “compor” o blogue, pensava eu. Um simples comentário demonstrou-me que, afinal, estava apenas a enganar a saudade.
Era um porto à moda antiga, que dos actuais não conheço a “intimidade”, um lugar fascinante, com uma magia muito própria, e viver a sua rotina, com proximidade, marcou-me para a vida, deixou-me nas veias um vento aventureiro que nunca mais consegui perder, tal como o cheiro a maresia não desaparece da pele dos marinheiros.
Primeiro, era o mar, um mar imenso que ali começava, ou acabava, domado, reduzido à sua função útil de nos trazer, e levar, as gentes, os bens, os sonhos e as ilusões. Depois, eram os barcos, magníficos e misteriosos, mesmo quando mais não eram do que um pequeno cargueiro, sujo e enferrujado. Ver entrar um barco num porto é, sempre, um momento único. Começar por vislumbrar-lhe o perfil indeciso ao longe, ir-lhe descobrindo dimensões e cores, decifrar-lhe as bandeiras, estudar-lhe a história da viagem nas gentes penduradas na amurada, acompanhar-lhe as manobras de atracagem, todo esse percurso é um espectáculo que nos absorve, ao ponto de esquecermos tudo o resto. E depois começa a faina, faina que é trabalho, suor e sonho, quando das escadas descem os passageiros, expectantes ou ruidosos, se a descobrirem terra nova, ou se a reencontrarem lar e amigos; quando os porões se abrem com um ruído surdo, como bocas gigantescas, e a eles descem os homens, possantes, vorazes descobridores dos tesouros rendidos às suas investidas.
De barcos, e em barcos, vi sair e entrar tantos retalhos de vida que, recordando, percebo que, por empréstimo, vivi milhares de vidas, visitei milhares de terras, possuí incontáveis tesouros, e tudo perdi ao som rouco das sirenes com que se despediam os navios, cumprida que fora a sua missão, em demanda de novos espaços, de outras gentes. E, contudo, via-os partir sem pena, sabendo que levavam um pouco de nós, e que, quando voltassem, nos trariam um pouco de além.
Gosto de portos, pelo menos de um porto à moda antiga, quando os barcos não se resumiam a paquetes de cruzeiros de luxo, quando não havia contentores e dos porões dos navios saíam animais vivos, barris empurrados um a um até ficarem todos muito alinhados, no fundo do cais, cabazes com frutas e legumes, fardos de tecidos, automóveis e frigoríficos e até, em tempos de crise, as gentes pobres que, nas profundezas de um porão asfixiante, demandavam terras de fortuna, esperavam elas.
Gostaria, um dia, de escrever sobre este porto, e as suas mil histórias, talvez, quem sabe, se conseguir o tempo, e o jeito. Com as imagens que por aqui deixei estava, apenas, a “compor” o blogue, pensava eu. Um simples comentário demonstrou-me que, afinal, estava apenas a enganar a saudade.
* Álvaro de Campos
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