Tuesday, October 11, 2005

O poder nu*

«Tem de existir tanto o poder dos governos como o dos aventureiros anárquicos.
Tem de haver mesmo o poder nu, enquanto houver rebeldes que ajam contra o governo, ou mesmo criminosos comuns. Mas, para que a vida humana possa ser, para a massa da humanidade, algo melhor que uma triste miséria pontilhada de momentos de vivo terror, deve haver o menor poder nu possível. O exercício do poder, para que possa ser algo melhor que a imposição de caprichosas torturas, deve ser limitado pelas salvaguardas da lei e do costume, e só deve ser permitido depois de uma deliberação devida, sendo confiado a homens que sejam estreitamente fiscalizados, no interesse dos que estão a eles sujeitos.
Não pretendo dizer que isto seja fácil. Implica, entre outras coisas, a eliminação da guerra, pois toda guerra é um exercício do poder nu. Implica um mundo livre das opressões intoleráveis que provocam as rebeliões. Implica a elevação do padrão de vida em todo o mundo - particularmente na Índia, China e Japão - pelo menos até o nível que foi atingido nos Estados Unidos antes da depressão. Implica instituições análogas às dos tribunos romanos, não para o povo como um todo, mas para cada parte da população que esteja sujeita á opressão, como as minorias e os criminosos. Implica, sobretudo, uma opinião pública vigilante, que tenha oportunidade de verificar os factos.
É inútil confiar-se na virtude de alguns indivíduos ou de grupos de indivíduos.
O rei filósofo foi há muito posto de lado como um sonho ocioso, mas o partido dos filósofos, embora igualmente falaz, é saudado como sendo uma grande descoberta.
Nenhuma solução real do problema do poder pode ser encontrada no governo irresponsável de uma minoria, nem mediante qualquer outro atalho»
* de Bertrand Russell

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