Sunday, October 16, 2005

«O único problema da viagem de Falcon é que surge num Estado que continua a gastar muito e mal»*

Faz muito bem Ricardo Costa* vir dizer-nos que a discussão miserabilista em torno do uso que Sócrates fez do Falcon para se deslocar ao jogo Portugal – Liechenstein é muito aquilo que é - miserabilista - mas não podemos esquecer, tal como ele não o faz, que o sururu à volta do assunto se justifica, tanto pelo que o acto em si mesmo diz do sentimento de euforia e de impunidade de membros do governo, como, sobretudo, pela fragilidade que o conhecimento dessas atitudes constitui, num governo com o discurso da austeridade e do rigor.
A notícia que O Independente dedicou ao caso alerta-nos, aliás, para um novo-riquismo muito mais profundo do que o que o uso do Falcon para deslocações do governo a reuniões, ou compromissos oficiais, deixa antever - a logística que o Primeiro-Ministro põe em marcha para uma simples deslocação a uma localidade a escassos trinta quilómetros do seu gabinete: frotas de carros em sobreposição com helicópteros, ao serviço de planos A e B, num esbanjamento de recursos inqualificável na circunstância em causa, fosse qual fosse a situação das nossas finanças públicas, ofensiva no estado das nossas. Se isto é assim, escassos meses após a chegada ao poder, o que não será daqui por uns meses, quando este tiver feito os estragos que sempre acaba por trazer? Para já não se referir o cinismo de um falso discurso moralista com que o próprio Sócrates nos continua a brindar, num exercício de desrespeito público, que roça o provincianismo boçal.
Tem toda a razão Ricardo Costa neste seu artigo, que Sócrates deveria reler todos os dias.

2 comments:

Anonymous said...

Estes governantes (ontem Santana, hoje Sócrates) deviam compreender a eficácia do "governo pelo exemplo", um princípio simples que até o ditador de pacotilha de nome Salazar conhecia e aplicava...

Mas tb, o que se pode esperar de um viciado em fatos Armani?

crack said...

Caro Rui
Choca sempre ver anafados detentores do poder a exigirem sacrifícios aos que já pouco, ou nada têm. O velho botas sabia-o bem, mas mais do que por pose, o homem manteve-se austeramente frugal porque assim lhe estava na natureza. A prova disso temo-la na forma como governou, para nossa infelicidade.
Ninguém exige a Sócrates que deixe os fatos Armani, se ganhar para eles. O pior é saber que só ganha para eles porque chegou aonde chegou à custa do que sabemos.
Os exemplos vêm de cima, coisa que estes senhores não sabem, porque sempre viveram nos subterrâneos da politiquice caseira.