Sobre os elos e organização dos blogues, título que deu aos seus posts a propósito deste assunto, Paulo Gorjão, no Bloguítica, discorre a propósito dos interesses que mobilizam os aderentes às micro-causas e o impacto dos blogues na organização de acção cívica em torno de causas, concluindo assim: «A blogosfera portuguesa vai, passo a passo, revelando a sua crescente influência. Inevitavelmente, a sua maior influência contribui para a adesão de um número maior de leitores e de blogonautas o que, por sua vez, aumenta ainda mais a sua influência. Em suma, a bola de neve continua a rolar e a crescer. Veremos onde é que se irá imobilizar e quais serão as consequências positivas e negativas.»
Sendo importantes as questões que trata em dois excelentes textos, há, contudo, um aspecto que me parece apenas subtilmente aflorado nos seus posts, e que tem a ver com as "corporações" de blogues, nascidos e impulsionados por comunidades de interesses, nem sempre estes transparentemente assumidos. A constituição destes "grémios" começa a tornar-se evidente para qualquer ingénuo blogger ao fim de uns quantos "passeios" por alguns blogues "plataforma", líderes de visitas diárias, porque, fazendo a experiência de seguir as sugestões apresentadas por estes, em destaques e links para outros blogues, a que podemos designar de "atrelados", depara-se com produtos blogosféricos demasiado recentes, ou com discutível interesse, para deverem ter merecido tal chamada de atenção. Analisar o número de visitas diárias de alguns desses blogues "atrelados" dá que pensar, se atendermos ao facto de se manter muito elevado, mesmo quando esses blogues ficam parados por dias, até semanas. Estudar ainda este fenómeno na perspectiva da afinidade das temáticas entre o blogue "plataforma" e o blogue "atrelado" é, também, um exercício com resultados surpreendentes. Observar como se portam nas micro-causas, também não deixa de ser interessante.
O estudo da evolução da blogosfera portuguesa começa a ser feito, nomeadamente no âmbito de mestrados, mas parece-me que Paulo Gorjão trouxe para a blogosfera, dita de actualidade, uma discussão que poderia ser bastante elucidativa das intenções menos evidentes do tipo de blogger que, só superficialmente, se poderá considerar comum. Mas, para isso, seria recomendável que, à semelhança do que se faz no Abrupto, o Bloguítica publicasse as reacções aos dois posts que dedicou ao assunto, bem como uma eventual resposta que essas reacções lhe merecessem.
ADENDA: No âmbito do II encontro de "weblogs", promovido pela Universidade da Beira Interior nos passados dias 14 e 15, foram criados grupos de trabalho, que apresentaram conclusões sobre a influência dos blogues na Cultura, Política, Ensino, Jornalismo, Contexto Organizacional e Imagem. Podem ser consultadas aqui.
6 comments:
Caro Crack, a propósito do assunto, sugiro que leia o texto que o Miguel Pinto e eu já destacámos nos nossos cantinhos, porque penso que é um texto que podia gerar algum movimento para divulgação para fora da blogosfera.
http://professorsemquadro.blogspot.com/2005/10/no-somos-fazedores-de-milagres_15.html
Sugiro uma visão crua da realidade da blogosfera. Ela é, regra geral, mesquinha!
Quando me associei à «micro-causa» da Bloguitica fi-lo com a convicção sincera de aderir a uma causa que importava no plano do esclarecimento em materia social e politica, mais até do que jornalistica.
A visão redutora de alguns blogs anti-micro-causa resultou mais numa discussão do tipo «o meu blogue é melhor do que o teu».
Não o maço com explicações da falta de fundamento para todos quantos entenderam que a questão se não deveria colocar (a fragilidade dos argumentos é mesmo confrangedora!).
Ora, uma discussão sobre o problematica dos Blogs que comece neste, e deste, contexto estará, parece-me, sempre ferida de morte.
Mais: essa sim trará novos e associados links, transformados em exércitos de votos em contagem.
~Confesso que apesar de andar por aqui, lá vão dois anos, nem me dei conta da iportância da blogosfera, que vejo como um circulo de pessoas com interesses comuns (não ideias comuns) em torno de temáticas. Não consigo entender a crítica de Paulo Alves, pela simples razão de quem anda por aqui são as pessoas que andao por "aí"...daí que uns mais outros menos mesquinhos. Por mim estou me nas tintas se dão importância ao que escrevo, ou se pura e simplesmentes acham que é mesquinho. Nessa mesquinhes eu não entro.
Cara IC
Agradeço ter-me chamado a atenção para o texto que refere. Estou de acordo que as questões que nele se abordam, e que são situações concretas vividas em muitas escolas deste país, poderia, e deveria, gerar um movimento fora da blogosfera. Poderia e deveria, mas não creio que crie, porque contraria a informação oficial sobre a bondade das medidas do ME e porque não vem ao encontro do que a opinião pública quer pensar sobre este assunto. Como o que se escreve naquele texto vem corroborar algumas chamadas de atenção feitas no crackdown sobre a real situação que se vive nas escolas, não deixarei de dar ao texto o destaque que ele merece. Se isso será de alguma utilidade para a causa é uma outra, e muito diferente, questão.
Caro Paulo Alves
Não me parece ter alcançado toda a extensão das linhas e entrelinhas do seu comentário. Do que julgo ter percebido, poderia concordar que um debate sobre a blogosfera que surgisse como consequência de algum ressabiamento de alguém, ou de vários, a propósito das micro-causas, ou outras causas, seria sempre redutor e, sobretudo, pouco credível. Sabemos, contudo, que não é isso que se passa.
Estudar e discutir a blogosfera é essencial, para melhor a compreender e usar, quer para os que blogam, quer para os que são meros consumidores. Assim o entenderam na Universidade da Beira Interior, que organizou o II encontro de weblogs. Neste post encontra, em adenda, o link. Julgo que lhe interessará.
Caro Miguel Sousa
Aborda dois aspectos que reputo de muito importantes, talvez porque neles encontro as linhas mestras que norteiam a minha própria actividade blogosférica: por um lado, o facto de retirar do blogue o simples prazer de poder descobrir e encetar diálogo com um círculo de pessoas com as quais partilho uma afinidade de interesses; por outro, uma grande despreocupação em relação ao factor "visitantes", que consome muitos bloggers. Esta despreocupação, esta leveza e descomprometimento, que me parece partilharmos,terão muito a ver com os objectivos que motivam cada um para a criação e manutenção de blogues, considerando eu, no entanto, como absolutamente legítimo que muitos procurem nos blogues que criam espaços de intervenção e de influência, que o seu talento e vontade lhes permitem almejar. Advogo, como digo no post, é uma grande transparência nas intenções e ética nas acções.
Por tudo isto, compreendo-o muito bem, embora não me importe de partilhar consigo que, apesar da genuína despreocupação de que lhe falei, foi para mim gratificante e lisonjeador saber que alguns bloggers da "linha da frente" leram algo no crackdown que lhes mereceu qualquer tipo de comentário, ou de reacção. A constatação desta minha vulnerabilidade perante algum reconhecimento, talvez por ser este inesperado e não procurado, tem-me feito pensar no futuro do crackdown, porque não é minha pretensão alterar os pressupostos que estiveram na sua origem, nem teria a capacidade de fazer dele algo diferente daquilo que é hoje - um cantinho simples e confortavelmente desconhecido, onde se conversa sem pretensões.
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