Tuesday, December 06, 2005

Os pés de barro

O discurso do rigor da senhora ME e do governo continua a levar fortes machadadas, dadas pelos próprios. Hoje anuncia-se a redução do número de exames dos alunos do secundário, o que não levantaria reparos de maior, não fosse o caso de ficarmos a saber que os exames que deixarão de ser feitos serão os de Português e Filosofia. Saber perceber, saber expressar-se e saber pensar são domínios de menor importância, pois claro. Também ficámos a saber que os cursos tecnológicos deixarão de ter exames, outra medida adequada a quem não quer que se notem as estatísticas do insucesso destes cursos. Facilitismo e contemporização, mais culposos, porque encapotados e lançados para o terreno com o único fito de enganar a opinião pública, por um lado, e agradar-lhe, por outro. De notar, ainda, a "coerência" deste governo: exames? mas que sim, sem dúvida, em nome do rigor, da exigência e da qualidade, mas só no ensino básico, está bem de ver. No secundário? Mas que maçada, uma inutilidade!
Haja juízo, já que não há vergonha!
ADENDA 1: David Justino, no Quarta República, escreve um excelente post sobre este assunto, chamando ainda a atenção para a «bondade» da contratação de animadores para os prolongamentos de horário no primeiro ciclo. A não perder.
ADENDA 2: A reacção dos pais não se fez esperar, não sendo preciso ser bruxo para adivinhar a satisfação que teriam com esta medida. Para alguns pais nem haveria avaliação, quanto mais exames. A reacção dos representantes dos professores está, também, a ser a que se esperava: depois de meses debaixo de fogo, escrutinados até ao impensável, com a perspectiva de virem a ter a sua própria avaliação dependente dos resultados dos alunos, um bónus destes só pode ser recebido como uma benção!
Demagogia, populismo, má-fé, são "atributos" da acção desta equipa da 5 de Outubro. Não podemos negar que, contudo, sabem fazer as coisas - na perversidade da acção, provaram ser mestres.

12 comments:

Anonymous said...

Sobre isto, no Some Like it Hot!

;)

Anonymous said...

A minha alma caiu-me aos pés, como se costuma dizer. Não sabia dessa notícia... então vão dispensar os exames de Português!!!!!!! (Para já não falar da Filosofia)Mas o 9º ano continuará a ter exames, e lá virá o escândalo da Matemática, como se o pensamento rigoroso e a linguagem precisa não fossem interactuantes, como se até uma das causas de os alunos não resolverem problemas de Matemática não fosse a de começarem por não saber ler um enunciado completo de um problema, começarem por não interpretarem o que está escrito muitas vezes em português bem corrente!
Mas há que produzir gerações que já não dêem conta de escandalosos pontapés no português que observamos todos os dias na TV - escandalosos porque revelam que os novos doutores jornalistas/reporters nem capacidade lógica têm para dar por eles.

Rui Martins said...

Abolir o exame de português é uma barbárie. É o reconhecimento do poder absoluto do economicismo. A nossa língua é a nossa maior qualidade e rendermos a sua aprendizagem à vaga da ignorância "economesa" é mais um erro grave dos nossos governos...

Miguel Pinto said...

Tenho alguns reparos a fazer:
Concordo com as medidas que visam a abolição dos exames nacionais embora reconheça aos governos [enquanto existir currículo único] a pretensão de assegurar que os conteúdos sejam leccionados de acordo com o que é previsto nos currículos nacionais. Não percebo [e suspeito que o governo também não] a redução indiscriminada às disciplinas de Português e Filosofia e a manutenção dos exames no básico. Também não entendo a associação positiva que é feita entre a qualidade das aprendizagens e a
Mas… um professor precisa entender as opções políticas? Um operário da educação está dispensado destas coisas…

Miguel Pinto said...

Não acabei a frase:
...Também não entendo a associação positiva que é feita entre a qualidade das aprendizagens e realização de exames.

Rui Martins said...

Abolir o exame de português é uma barbárie. É o reconhecimento do poder absoluto do economicismo. A nossa língua é a nossa maior qualidade e rendermos a sua aprendizagem à vaga da ignorância "economesa" é mais um erro grave dos nossos governos...

crack said...

Querida SLHI
O seu post é imperdível, sobretudo pelo humor cáustico da nota a explicar que se trata de uma caricatura.
:))

crack said...

Cara IC
É triste, e tenebroso. Só posso pensar que se pretende formar cidadãos com dificuldade em perceberem o que ouvem e o que lêem, e que não adquiram ferramentas para estruturarem o pensamento. Para mais facilmente os governarem.
Está a ver porque tiveram que começar por arrasarem os professores?

crack said...

Caro Rui Martins
E como se vê, cada vez serão menos os que lêem Os Lusíadas. O número de potenciais candidatos a PR vai reduzindo, minguando, até só ficar... a família!
La piovra...

crack said...

Caro Miguel Pinto
Esta ME tem dois discursos, a meu ver incompatíveis - por um lado vê nos exames do básico a credibilização do sistema, a garantia do rigor no processo de ensino; por outro, reduz os exames do secundário ao ingresso no superior, relegando o português e a filosofia para a categoria dos conhecimentos dispensáveis.
Como sempre, o PS acaba por cair no facilitismo e na demagogia.

Anonymous said...

Esperava ver aqui ou no blog do David Justino comentários à manutenção compulsiva dos professores nas escolas mas nem uma linha. Gostava de saber o que pensam desta medida.

crack said...

Minha amiga Fátima
Prazer em vê-la por aqui. Sobre esse assunto, só sei o que li no jornal, mas conhece-me bem para saber que,por princípio, não estou de acordo com a obrigatoriedade de os professores terem que se manter n anos numa escola. Julgo que essa medida vai prejudicar, ainda mais, as escolas e os alunos, em nome de uma estabilidade de controversa utilidade.
Encaminhei o seu comentário ao Professor David Justino.
Abraço, passe sempre.
:))