Uma imagem vale por mil palavras, é bem verdade.
Ao olhar a fotografia que o Público publica hoje de José Sócrates a cumprimentar Tony Blair à porta de Downing Street (link indisponível), chocou-me o ar de pobrezinho envergonhado do nosso primeiro-ministro, comparativamente à pose sempre tão altaneira e superior, que usa para consumo interno. No caso que este instantâneo fixou, não é apenas o sorriso ansioso e postiço, como geralmente põem, nervosos e acanhados, os que se encontram perante os que acham seus superiores. É toda uma postura física contrafeita, dobrado o corpo em posição de defesa inconsciente, como que a querer passar despercebido, num fato que até parece grande de mais para o dono. Atente-se na mão esquerda de Sócrates, nervosamente fechada e meia tapada pela manga do casaco, repare-se na inclinação do tronco, quase em meia vénia. Compare-se com o Sócrates “nacional”, de cara fechada, olhar altivo, peito para fora, que fala do alto da sua sobranceria irritada e impaciente, dirigindo-se aos portugueses. Compare-se, e tire-se a conclusão óbvia, porque todos sabemos que é próprio dos néscios serem reverentes e humilharem-se perante quem temem, serem orgulhosos e ditatoriais para aqueles sobre os quais detêm autoridade. Se assim se avalia o carácter de um homem, um político não escapa ao escrutínio do que uma imagem como esta deixa patente.
Tem de fazer parte do savoir faire de um político de hoje ser extremamente cauteloso com a sua imagem, descendo ao pormenor mais ínfimo, porque os meios que existem para registar os seus mínimos movimentos são impiedosos. Se, como pensam os povos mais primitivos, a fotografia nos “rouba” a alma, pelo que de nós mostra, melhor será Sócrates perceber, rapidamente, que não chega parecer, há que ser, e ser GENTE.
* Alfred de Vigny
4 comments:
Como "bom" português, Sócrates apequenou-se frente ao "estranjanóide". No meu trabalho lido muitas vezes com belgas e holandeses e reconheço noutros este mesmo sentimento socrático. Não vejo nestas "gentes loiras do norte" de Agostinho nenhum aspecto superior a nós, bem pelo contrário. E este sentimento de pequenez é ainda uma reminiscência do salazarismo que nos ensinava de que eramos inferiores e devíamos ser protegidos pelo Regime...
Mas qual fotografia?! Estamos todos a delirar?
Caro Rui Martins
Disse-o bem, é um sentimento de pequenez, o que transparece na fotografia.
Ao comentador anónimo
Se bem que o jornal da véspera está hoje a embrulhar o lixo, pode crer que não há delírio nenhum. A fotografia lá estava, para que a vissem todos os que não são cegos.
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