Thursday, December 22, 2005

Afinal, a "doença" pega-se!

Estou como Mário Soares, a jurar que não ataca Cavaco e a zurzi-lo no momento seguinte, isto é, num dia apelo aos candidatos que nos deixem em paz e se façam esquecer, no dia seguinte aqui estou a chamar o assunto à baila, e reincidindo na falta. Bom, animo-me pensando na sabedoria popular - para bem viver, faz o que vires fazer...
Aqui vai, pois, algum rescaldo sobre o debate, melhor dizendo, o que, com a motivação do debate, sobre Soares e Cavaco escreveram alguns dos comentadores da nossa praça:
Domingos Amaral, no DE - «Soares dessinteressou-se do centro direita que cultivara até 91, e resvalou para a esquerda. Já Cavaco nunca alienou o centro direita, mas soube habilmente seduzir o centro-esquerda. Soares fugiu para a esquerda, enquanto Cavaco apenas se desviou um pouco. Em finais de 2005, o que isto significa é que Cavaco não perdeu a sua base de apoio, mas seduziu alguma esquerda, e Soares perdeu o centro que votara nele em 91 e mesmo alguma da sua base de apoio. Se perder em Janeiro as eleições, só se pode queixar dele próprio...»
Rui Ramos, no DE - «Os actuais adversários de esquerda do prof. Cavaco são os seus principais promotores. Há um ano, exaltaram-no à esquerda. Foi quando um solene dr. Soares anunciou ao país que o prof. Cavaco não era, afinal, um “homem da direita”. Tratava-se então de usar o prof. Cavaco não só contra o dr. Santana, mas sobretudo contra o eng. Guterres, símbolo de uma esquerda de que os actuais candidatos de esquerda nunca gostaram. Entretanto, o dr. Santana desapareceu, e o eng. Guterres não apareceu. É preciso agora dizer mal do prof. Cavaco.»
Francisco Sarsfield Cabral, no DN - «É certo que Soares nunca teve grandes escrúpulos em batalhas eleitorais. Em 1980 referiu a situação familiar de Sá Carneiro. Há vinte anos a sua campanha presidencial pintou Freitas da Amaral, na segunda volta, como um tenebroso fascista. No debate de terça-feira Soares não foi tão longe, mas usou um tom desagradável que lhe pode custar alguns votos, sem ter prejudicado Cavaco
José António Lima, Expresso online - «Cavaco nem precisou de ser brilhante para sair claramente por cima deste debate. Bastou-lhe ignorar a má-língua, não baixar ao nível conflituoso e chocarreiro do seu adversário, falar do pensa poder ser o seu papel em Belém e, em sintomático contraste, deixar cair alguns elogios às qualidades do opositor. Enquanto isso, Mário Soares tratava, acusação atrás de acusação, golpe após golpe, de dar um KO a si próprio e de se pôr fora de combate
Fernando Sobral, no JN - «há no universo central que costuma decidir as eleições em Portugal quem prefira Cavaco. Porque vê nele o motor da recuperação económica que muitos consideram a fonte da renovada juventude nacional. Cavaco fala de economia. E o país espera que ela seja o soro que desperte Portugal do seu sono profundo. Portugal é a Bela Adormecida. Cavaco poderá ser o seu príncipe, mesmo que imperfeito. O benefício da dúvida está aí.»
Sérgio Figueiredo, no Jornal de Negócios - «Os drs. Cavaco Silva e Mário Soares tiveram de confluir, naturalmente, no debate sobre os poderes presidenciais. Soares, que já lá esteve e vê Sampaio, sabe do que fala: os poderes, de facto, não existem. Mas Cavaco tem razão: o país está numa fase da sua História em que não se pode dar ao luxo de eleger uma Rainha de Inglaterra
E para aqueles que se chocaram com a intervenção de Soares no debate, que sentiram vergonha por ele e lastimaram que tenha desbaratado, como o fez, o respeito que devíamos ao seu passado político, o DN, pela boca do próprio Mário Soares, informa-nos que o Primeiro-Ministro deste país viu, gostou do que viu e felicitou a personagem pelo "belo" feito: «Mário Soares revelou ontem nos Açores que José Sócrates lhe telefonou "porque esteve a assistir ao debate (com Cavaco Silva) e gostou e quis felicitar-me".»
Depois disto, está tudo dito.

4 comments:

Anonymous said...

Estes candidatos não merecem o tempo que se gasta com eles.

Rui Martins said...

Em Portugal as eleições ganham-se sempre ao Centro. Foi este que deu a Sócrates a maioria, a outra a Cavaco, a quase maioria a Guterres. Foi este "centro" que criou o PRD e que alimenta parte da candidatura de Alegre e que está em grande medida na candidatura tecnocrática (e logo "centrista") de Cavaco.

Soares sabe isso, Cavaco também.

crack said...

Amigo Luís, depois desta ronda de debates começo a achar que tem razão.

crack said...

Caro Rui Martins
Pois é, um autêntico polvo esse centrão cinzento, acomodado, corporativo e lobista, dominado pelos coelhos da baixaria política e que está a precisar de um valente abanão.