«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Saturday, December 31, 2005
«Uma pequenina luz bruxuleante e muda como a exactidão como a firmeza como a justiça.»*
No crackdown não se tem por hábito fazer balanços de anos findos, que a vida é um contínuo e apaixonante recomeço. Contudo, num ano que foi, em termos pessoais, particularmente difícil, registo como uma grande lição de vida o ter aprendido quanto de dignidade e grandeza pode existir no ser capaz de partilhar com os outros o sofrimento e a angústia de uma morte lenta e dolorosa. Recordo, pois, como o maior marco deste meu ano de 2005, dois homens magníficos: o Papa João Paulo II e o meu próprio pai. Ao que já partiu, a memória respeitosa; ao que, vagarosa e sofridamente, se despede, o meu amor compassivo.
*Jorge de Sena, Fidelidade
Máquina do Tempo
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.
António Gedeão
Friday, December 30, 2005
Sócrates que se cuide!
E não é com o joelho lesionado a esquiar na neve que deve ter mais cautelas, mas com a sua rica "casinha" do Largo do Rato, que lhe dá o direito a usufruir da penthouse de São Bento.
Segundo o Diário Digital, Paulo Pedroso (sim, esse mesmo, o tal), criticou, ontem, no seu blog, «o silêncio do primeiro-ministro e secretário-geral socialista, José Sócrates, relativamente ao desafio lançado pelo candidato presidencial Cavaco Silva quanto à nomeação de um secretário de Estado para acompanhar a situação das empresas estrangeiras em Portugal».
E o que escreve o renascido para a vida política, o delfim dos delfins? Apenas isto, num post sobre o que ele chama "o segundo erro de Cavaco": «PS. De que está o Primeiro-Ministro à espera para se indignar com as declarações de Cavaco sobre a orgânica do governo?» Digam lá se este post scriptum (PS) não é mais do que sugerente?
Os candidatos a PR e a União Europeia
Sobre este tema, escreve Gabriel, no Blasfémias, que Cavaco e Soares «defenderiam a Constituição Europeia como um grande desígnio e o referendo como uma maçada», o que se constata não ser bem assim.
Na sequência das declarações de Freitas do Amaral à Antena 1, considerando que o Texto do Tratado Constitucional Europeu, tal como foi elaborado, «não tem viabilidade» e que é mais prudente avançar para outro tipo de tratado, Cavaco veio concordar com o actual MNE.
Ao que parece, Soares faz tabu sobre o assunto, mas sejamos benevolentes e pensemos que pode ser apenas menor celeridade na reacção. A idade...
Eurominas, o tabu de António Vitorino*
Vitorino, o influente deputado socialista e opinion maker, esteve ligado à empresa antes de ir para o governo tutelar o processo, que conduziria ao protocolo que reconhecia à Eurominas o direito a indemnização do Estado. Após a saída do governo, lançou uma sociedade de advogados com Lamego e Alberto Costa (tudo bons rapazes), passando a representar a Eurominas, até se efectivar o pagamento da indemnização.
E ainda nos admiramos de eles não suportarem Cavaco - pois se ele sabe demais!
* tabus há muitos!
«Uma nova cultura empresarial»*
Defende o candidato apoiado pelo governo, Mário Soares.
E a que se refere ele, exactamente?
Segundo o Público de hoje, o candidato do PS terá defendido que os jovens « "não podem ter uma atitude egoísta perante a vida" e que os jovens não se devem limitar a querer arranjar um emprego». Em contrapartida, terá sugerido que devem lançar-se (?) no serviço público, nas ong, nos sindicatos, nos partidos.
Seriam caricatas, tais afirmações, se não nos lembrarmos das origens e do passado de Soares - oriundo da alta burguesia, filho de papá, nunca precisou de ganhar a vida com um emprego, fez fortuna à conta de actividades ligadas à vida social e política e os filhos seguiram as suas pisadas, como provavelmente seguirão os netos.
Demagogia fácil, esta, que não se compadece com a situação daqueles que precisam de trabalhar para viver.
* ou a esquerda de Soares.
O tabu de Soares
O octagenário candidato não comenta a proposta de aumento salarial para a função pública apresentada pelo governo. A desculpa? A matéria é da competência do governo. Não se inibiu, contudo, de explicar, logo a seguir, que, se for eleito, irá apresentar propostas em matérias como a imigração, emprego, exclusão social e educação. Sócrates ficou, desde já, a saber quais os ministérios que Soares quer tutelar, se o elegerem para Belém.
Que maçada...
... isto de o PR ser eleito, é o que deve pensar Sócrates, agora que tem "socializados", ou "em vias de socialização" o Tribunal de Contas, a Caixa Geral de Depósitos, a GALP, o Banco de Portugal, a EDP, a PT...
Com Soares em Belém, ao PS só lhe falta comprar o par de botas.
Thursday, December 29, 2005
Cooperação institucional?
O DN não deixa de, muito claramente, referir o desagrado com que Soares e comitiva viram a relativamente discreta reacção do governo ao que eles apelidaram de "espécie de golpe constitucional" de Cavaco:
«Os soaristas tentaram, na terça-feira, dia em que foi publicada a entrevista de Cavaco ao Jornal de Notícias, que algum membro do Governo viesse a terreno e reagisse à sugestão de Cavaco. Mas a decisão do Executivo foi ficar fora da polémica, limitando a reacção ao plano partidário. "O Governo devia ter feito mais", resume um responsável soarista ouvido pelo DN.»
«Os soaristas tentaram, na terça-feira, dia em que foi publicada a entrevista de Cavaco ao Jornal de Notícias, que algum membro do Governo viesse a terreno e reagisse à sugestão de Cavaco. Mas a decisão do Executivo foi ficar fora da polémica, limitando a reacção ao plano partidário. "O Governo devia ter feito mais", resume um responsável soarista ouvido pelo DN.»
Sendo o DN, neste momento, um dos órgãos de comunicação claramente instrumentalizados pelo PS e, será razoável pensá-lo, também pelo candidato Soares, a notícia não deixa de ser curiosa, pelo que revela, mas, sobretudo, pelos recados que transmite.
Depois disto, é legítimo perguntar: a presença de Soares em Belém seria o melhor que poderia acontecer a Sócrates e ao seu PS?
Nota muito de roda-o-pé: ontem, na Quadratura do Círculo, Coelho estava muito contido, menos loquaz e quase distanciado das presidenciais, ou foi só impressão minha? Hum, há qualquer coisa que não me cheira nada bem.
ADENDA: No Pulo do Lobo comenta-se, também, esta notícia, escrevendo-se, a dado passo:
«a candidatura de Soares arroga-se o direito de impor ao Governo e a um ministro concreto, pelas páginas de um jornal, o comportamento face a outros candidatos. Nada mal para quem acusa Cavaco de "intrometência" (a palavra é do cultíssimo Soares). »
Pedro Picoito, o autor do post, conclui sobre o que a notícia revela:
«Ficamos, portanto, a saber que
1) a direcção do PS está tão dividida nas presidenciais que, se Sócrates vai de férias, ninguém defende Soares;
2) a direcção do PS já se resignou à vitória de Cavaco.
Os soaristas são como Deus para Voltaire: se não existissem, tinham de ser inventados. »
1) a direcção do PS está tão dividida nas presidenciais que, se Sócrates vai de férias, ninguém defende Soares;
2) a direcção do PS já se resignou à vitória de Cavaco.
Os soaristas são como Deus para Voltaire: se não existissem, tinham de ser inventados. »
Vale tudo
Desde as sugestões para que desista, até à ameaça de expulsão do PS, vale tudo para remover Alegre do caminho de Soares.
É esta a democracia do putativo pai da nossa.
Primeiro estranha-se...
Ou de como Soares gere a sua caminhada para Belém. Alguém esperava que fosse de outro modo? Ingénuos ...
Wednesday, December 28, 2005
No bom caminho?
Finalmente, alterações à metodologia de contratação para as Comissões de Menores, com vista a acelerar o processo de recrutamento de técnicos e como forma de assegurar que a prestação de serviços destes seja a tempo inteiro.
Ainda pouco conhecidos todos os contornos da inovação proposta, surge a esperança de que se esteja no bom caminho, apesar de a referência a empresas particulares e a ONG's permitir desconfiar de oportunistas negociatas de rectaguarda. Seja como for, há, pelo menos, uma reacção do governo, no sentido de enfrentar um problema muito grave. Resta acompanhar as consequências no terreno.
La cumparsita (II)*
O ME quer acabar com os concursos anuais na colocação de professores, na presunção de que obrigar os docentes a ficarem numa escola durante uns anos é o pó mágico que dará estabilidade às escolas. Só por si, não é, que um professor obrigado a ficar vários anos longe de casa desmotiva mais facilmente e é menos bom professor, mas essa é uma questão que não preocupa a 5 de Outubro. Presumo que, para haver coerência, a IGE terá que passar a exercer as funções que lhe estão atribuídas, e os inspectores deixarem de ser apenas uma espécie de seres alados que andam pelas escolas a fazer não se sabe bem o quê. Bom, mas isso são outros quinhentos.
Dos quatro anos de pena a cumprir, inicialmente propostos, o ME passou agora a três, com presumível aceitação resignada de alguns dos sindicatos do sector. Mais uma vez, a estratégia recorrente do ME fica em evidência - avança com medidas/propostas e depois recua.
Para os que embandeiraram em arco com a capacidade dialogante desta ME, começa a perceber-se que esta estratégia do governo tem pontos fortes - quando recua, o ME ganha sempre alguma coisa do que pretendia, disfarçadamente; os destinatários das medidas iludem-se com a vitória de Pirro de obterem o que, afinal, era um preconcebido recuo; os negociadores sindicais fragilizam-se cada vez mais perante um governo exímio na arte de se fazer "vender" como dialogante e preocupado com os que tutela. Claro que há também o reverso da medalha - de repetida, a estratégia acabará por se tornar menos eficaz, a opinião pública poderá não ser totalmente insensível à esperteza saloia que enforma esta "abertura" do governo. Mas, entre ganhos e perdas, o saldo será, durante um tempo, favorável à 5 de Outubro.
* tangando, ou: passo à frente, passo ao lado, dois atrás, trauteando Olga Paul - «Me atormenta la máscara fatal que hoy llevas mas es solo un disfraz...»
La cumparsita (I)*
1 - Mudam-se os tempos, mudam-se os responsáveis, mas tudo fica igual, ou pior.
A endeusada Ministra da Educação, no conforto da capa de invisibilidade que tem conseguido para os actos falhados da sua gestão governativa, embrulhou de tal forma o delicado assunto dos contratos de associação, que, apesar de toda a protecção dos media, o assunto acabou nos jornais e ameaça subir de tom.
O que aconteceu de novo? Em bom rigor, nada que venha alterar, melhorar, ou acabar com um sistema perverso, a necessitar de intervenção urgente. Simplesmente, os pagamentos aos colégios com contratos de associação, já de si habitualmente morosos, prometem atrasar-se este ano para além do razoável, pondo em causa o funcionamento dos estabelecimentos, com salários em atraso, desde o início do ano lectivo, e dívidas à banca, contraídas para conseguirem manter-se a funcionar. Pura inépcia das Direcções-Regionais, como subtilmente se quer fazer crer? Nem por isso, uma vez que as verbas envolvidas obtém autorização prévia da tutela. Conclusão: quanto aos contratos de associação, a reforma ou a gestão eficaz do sistema é igual a zero, enquanto que a gestão corrente se tornou ainda mais caótica. Neste domínio, a acção do governo vale, portanto, menos de zero.
2 - Quase parecendo contrariar o que atrás se escreve, lê-se, e sabe-se também, que o ME se propõe acabar com o ensino recorrente, em contrato de associação, no Colégio de São João de Brito, com um aparato de indignação deste. Sobre isto, interessa constatar o gap entre o solidário discurso socialista e a sua acção, mas, descartado esse pormenor, até se compreenderia a medida, num quadro de razoabilidade da organização da rede do recorrente na cidade de Lisboa. Qual é, então, a crítica, se o ME parece efectuar o que pode considerar-se uma "mexida" nos contratos de associação? É que esta "mexida" é apenas aparente, porque a contrapartida ao Colégio passará por assegurar a manutenção do encargo do Estado com o estabelecimento, sendo fácil perceber que se concretizará em contratos de associação para o ensino não recorrente, abrindo, assim, caminho à entrada de um conjunto de alunos, muito oportunamente em condições de entrarem no melhor estabelecimento privado do país, a custo zero. Estamos todos a ver quem vão ser esses alunos, não estamos? Se dúvidas houvesse, as futuras listas de alunos serão elucidativas. Ah, e para aqueles que querem ver aqui uma teoria da conspiração, fica uma notinha avulsa: não é adivinhação, premonição, ou bola de cristal - trata-se de olhar para o passado e ver a repetição da estratégia socialista na gestão deste dossier dos contratos de associação. Se não pensarmos no contribuinte e olharmos apenas ao oportunismo político de quem assim gere a coisa pública, o governo teria de ter nota máxima.
* tangando, ou: passo à frente, passo ao lado, dois atrás, trauteando Olga Paul - «Me atormenta la máscara fatal que hoy llevas mas es solo un disfraz...»
Antologia
Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!
O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . .
"Urra o sapo-boi:
— "Meu pai foi rei" — "Foi!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.
"Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio
Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!
O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . .
"Urra o sapo-boi:
— "Meu pai foi rei" — "Foi!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.
"Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio
Manuel Bandeira
Credibilidade
1 - Lida a entrevista de Cavaco Silva, na parte referente à que já se tornou uma polémica proposta de criação de uma secretaria de estado para tutelar as empresas estrangeiras em Portugal, ficamos com duas evidências: uma, a de que Cavaco partiu, efectivamente, de uma referência a exemplos do que se passa em alguns países, conforme expressamente referiu; outra, a de que fez, também explicitamente, uma proposta ao governo para a criação de uma tal estrutura. Indignaram-se as hostes oponentes, com o que consideraram uma prova da "perigosa intenção" dele para futura intromissão na esfera de competência do governo, caso venha a ser eleito. Acontece que Cavaco FEZ já a proposta, enquanto cidadão e enquanto candidato à presidência, no que pode ser considerado um acto de intervenção cívico/política. Quantos cidadãos portugueses não têm feito propostas ao governo, até em directo na televisão? Quantos candidatos à presidência não deixaram já cair junto da opinião pública autênticas propostas de acção governativa? Não pareceria, portanto, haver razão para tamanha histeria, não fora o caso de tal "atrevimento" vir ao encontro da estratégia de ataque dos oponentes de Cavaco. Neste sentido, o Professor foi imprudente na proposta, que poderia ter evitado, e deu munições aos adversários.
2 - A transparência das afirmações de Cavaco na entrevista, o facto de a proposta que efectuou ser mais do que natural num cidadão com o seu percurso cívico e político, mesmo no contexto de uma candidatura à presidência, e porque estavam já assumidamente feitas, não justificavam o desmentido que foi efectuado, pecando o mesmo por atabalhoado e incompreensível. Pior a emenda que o soneto, diria a minha avó.
3 - Apesar de se poder considerar que houve um erro estratégico na apresentação da proposta e outro, maior, no desmentido, os mesmos só assumiram a relevância que lhes está a ser dada por serem erros de Cavaco Silva. Quantas propostas directas ao governo, quantas acções governativas não têm sido apresentadas por outros candidatos? É coligi-las, que dão para encherem um pote. E quantas vezes os outros candidatos não vieram desdizer-se, com a mais pérfida candura política? Pelo menos um, Mário Soares, é exímio em contradizer-se vezes sem conta e considera essa sua gestão da verdade uma prova de capacidade política, em nada se envergonhando dela. E, no entanto, ninguém se exaltou, ninguém pediu conferências de imprensa, ninguém levou a sério, ou deu importância, a esses actos impensados e inconsequentes.
Se o erro de Cavaco Silva serviu para alguma coisa, foi para demonstrar que a sua credibilidade é tanta que a mais pequena falha assume proporções de acontecimento, que o que nos outros é desculpável, é déjà vu, nele é espanto e desilusão. São os seus oponentes, com a extremada reacção ao acontecimento, que lhe reconhecem, implicitamente, a poderosa força dessa credibilidade. Mas, num caso como este, a credibilidade tem um preço, para ele e para os seus oponentes, só que estes pagam-no menor do que ele, porque a falta de credibilidade deles saiu menos evidente do que a dimensão dos estragos na credibilidade de Cavaco.
Tuesday, December 27, 2005
Do reino dos céus*
«Muitos, suponho eu, imaginam o Reino dos Céus como uma combinação de centro comercial e parque temático com vista para a praia e mesmo ao lado de um estádio de futebol onde o nosso clube eternamente disputa e ganha a final da Liga do Campeões.»
Dos pobres de espírito é o reino dos céus, rezam as escrituras que terá dito Alguém. Acreditar, acreditam os crentes, e alguns candidatos presidenciais. Laicos e republicanos.
Friday, December 23, 2005
Desejo a todos um Feliz Natal
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
Thursday, December 22, 2005
Afinal, a "doença" pega-se!
Estou como Mário Soares, a jurar que não ataca Cavaco e a zurzi-lo no momento seguinte, isto é, num dia apelo aos candidatos que nos deixem em paz e se façam esquecer, no dia seguinte aqui estou a chamar o assunto à baila, e reincidindo na falta. Bom, animo-me pensando na sabedoria popular - para bem viver, faz o que vires fazer...
Aqui vai, pois, algum rescaldo sobre o debate, melhor dizendo, o que, com a motivação do debate, sobre Soares e Cavaco escreveram alguns dos comentadores da nossa praça:
Domingos Amaral, no DE - «Soares dessinteressou-se do centro direita que cultivara até 91, e resvalou para a esquerda. Já Cavaco nunca alienou o centro direita, mas soube habilmente seduzir o centro-esquerda. Soares fugiu para a esquerda, enquanto Cavaco apenas se desviou um pouco. Em finais de 2005, o que isto significa é que Cavaco não perdeu a sua base de apoio, mas seduziu alguma esquerda, e Soares perdeu o centro que votara nele em 91 e mesmo alguma da sua base de apoio. Se perder em Janeiro as eleições, só se pode queixar dele próprio...»
Rui Ramos, no DE - «Os actuais adversários de esquerda do prof. Cavaco são os seus principais promotores. Há um ano, exaltaram-no à esquerda. Foi quando um solene dr. Soares anunciou ao país que o prof. Cavaco não era, afinal, um “homem da direita”. Tratava-se então de usar o prof. Cavaco não só contra o dr. Santana, mas sobretudo contra o eng. Guterres, símbolo de uma esquerda de que os actuais candidatos de esquerda nunca gostaram. Entretanto, o dr. Santana desapareceu, e o eng. Guterres não apareceu. É preciso agora dizer mal do prof. Cavaco.»
Francisco Sarsfield Cabral, no DN - «É certo que Soares nunca teve grandes escrúpulos em batalhas eleitorais. Em 1980 referiu a situação familiar de Sá Carneiro. Há vinte anos a sua campanha presidencial pintou Freitas da Amaral, na segunda volta, como um tenebroso fascista. No debate de terça-feira Soares não foi tão longe, mas usou um tom desagradável que lhe pode custar alguns votos, sem ter prejudicado Cavaco.»
José António Lima, Expresso online - «Cavaco nem precisou de ser brilhante para sair claramente por cima deste debate. Bastou-lhe ignorar a má-língua, não baixar ao nível conflituoso e chocarreiro do seu adversário, falar do pensa poder ser o seu papel em Belém e, em sintomático contraste, deixar cair alguns elogios às qualidades do opositor. Enquanto isso, Mário Soares tratava, acusação atrás de acusação, golpe após golpe, de dar um KO a si próprio e de se pôr fora de combate.»
Fernando Sobral, no JN - «há no universo central que costuma decidir as eleições em Portugal quem prefira Cavaco. Porque vê nele o motor da recuperação económica que muitos consideram a fonte da renovada juventude nacional. Cavaco fala de economia. E o país espera que ela seja o soro que desperte Portugal do seu sono profundo. Portugal é a Bela Adormecida. Cavaco poderá ser o seu príncipe, mesmo que imperfeito. O benefício da dúvida está aí.»
Sérgio Figueiredo, no Jornal de Negócios - «Os drs. Cavaco Silva e Mário Soares tiveram de confluir, naturalmente, no debate sobre os poderes presidenciais. Soares, que já lá esteve e vê Sampaio, sabe do que fala: os poderes, de facto, não existem. Mas Cavaco tem razão: o país está numa fase da sua História em que não se pode dar ao luxo de eleger uma Rainha de Inglaterra.»
E para aqueles que se chocaram com a intervenção de Soares no debate, que sentiram vergonha por ele e lastimaram que tenha desbaratado, como o fez, o respeito que devíamos ao seu passado político, o DN, pela boca do próprio Mário Soares, informa-nos que o Primeiro-Ministro deste país viu, gostou do que viu e felicitou a personagem pelo "belo" feito: «Mário Soares revelou ontem nos Açores que José Sócrates lhe telefonou "porque esteve a assistir ao debate (com Cavaco Silva) e gostou e quis felicitar-me".»
Depois disto, está tudo dito.
Wednesday, December 21, 2005
Freud explicaria!
Um tropeção acontece quando menos se espera, ou de como um muito talentoso amigo acaba com a tecla a fugir-lhe para a frustração oculta e para o medo inconsciente e inconfessado.
O António, um caríssimo super marionette (como é possível??), escreve um post intitulado Carnaval, para o anedotário do Super Mário, que termina com esta tirada de génio:«O Presidente da República tem de ser uma pessoa que já tenha dado provas de que não perde a cabeça seja em que circunstâncias for.»
Pois é, meu amigo, não poderia estar mais de acordo. Mas, o que não percebo é como, se pensa assim, e pensa bem (como é, aliás, seu hábito), pode estar a apoiar o vôvô Soares? É que mais cabeça perdida do que ele tem tido, não há igual em toda a história da nossa recente democracia! Caro António, ou muda de ideias, ou muda "de filme", este "binómio" em que se meteu não "joga"! Ou será que a desilusão se instalou já e sobressai assim, de modo subreptício e silencioso?
:)
Sondagem: Soares ganhou o debate
Segundo a Eurosondagem, Soares ganhou o seu combate, perdão, o debate de hoje com Cavaco.
Conclusão preliminar - somos um país de arruaceiros.
A 22 de Janeiro se saberá se, além de arruaceiros, também somos estúpidos.
Tuesday, December 20, 2005
Alegações finais
A incoerência de Soares passa despercebida - insurge-se por o professor falar de economia, no entanto diz que a situação económica é grave.
Cavaco, mais tenso, fala de rigor e qualidade. Palavras vãs, para quem ouve.
No final, empate técnico, entre a arruaça e o rigor.
Jornalistas insultados por Soares...
... não precisávamos nada de vós, diz Soares.
Jornalistas riem-se.
Corrijo: não é de formação que precisam, é de coluna vertebral. Essa, não se ensina.
Tristezas...
Soares:
cidadania global... eu estive em Porto Alegre... as coisas estão a mudar... eu sei bem como...
Eleições limpas... eu não vou insistir, confio no povo português... percorri o país inteiro... as sondagens valem o que valem... isso não tem importância nenhuma...
Jornalistas do debate a deixarem Soares fazer o trabalho deles
Precisam de formação profissional, urgente. Reciclagem, já!
Sugiro Constança Cunha e Sá e Sousa Tavares para monitores de um módulo de formação acelerada.
Cheque em branco!
Soares entende que Cavaco deveria dar um cheque em branco ao governo!
Soares dá!
Ai, isto cheira a qualquer coisa esquisita...
Eleições limpas, dizia Mário... Portugal está perigoso.
Debate Cavaco/Soares
Até agora, Soares rasteja pelas suas recorrentes críticas, pelo que a sua visão octagenária entende ser a superioridade intelectual e cultural. Seria só patético, se não fosse grave.
Cavaco a surpreender pela positiva, só lhe falta ser suficientemente rasteiro para mandar Soares ao sítio do Ó, mas não esqueçamos que é apenas um rapaz sério e trabalhador de Boliqueime, não um filho de papá com dinheiro e tempo suficientes para andar a fazer "formação política".
Os jornalistas - cinzentos e amorfos, ex-aequo.
Sunday, December 18, 2005
Antologia
-Meu corpo, que mais receias?
-Receio quem não escolhi.
-Na treva que as mãos repelemos
corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
O corpo torna-se inteiro,
Todos os outros ausentes.
Os olhos no vago
Das luzes brandas e alheias;
Joelhos, dentes e dedos
Se cravam por sobre os medos...
Meu corpo, que mais receias?
-Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
Me lembram quantos perdi
Por este outro que terei.
Jorge de Sena
-Receio quem não escolhi.
-Na treva que as mãos repelemos
corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
O corpo torna-se inteiro,
Todos os outros ausentes.
Os olhos no vago
Das luzes brandas e alheias;
Joelhos, dentes e dedos
Se cravam por sobre os medos...
Meu corpo, que mais receias?
-Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
Me lembram quantos perdi
Por este outro que terei.
Jorge de Sena
Faltar à palavra (VI)*
Talvez por se encontrar num almoço, em Vila do Conde, Mário Soares, em mais uma das suas recaídas, acusou Cavaco Silva de «vender gato por lebre e refugiar-se no silêncio». Se são típicas da idade avançada a surdez e a monomania, dispensamo-las no PR.
*Soares tinha afirmado (pela 2ª vez) que deixava de atacar Cavaco.
Saturday, December 17, 2005
Soares já "está presidente"
Soares aparece já menos crispado, mais ao seu estilo, reencontrado consigo mesmo e com uma postura descontraída e serena, que nunca deveria ter perdido. Terão sido os debates que o galvanizaram, ou o talismã de Barcelos? Vai-se a ver e são as manobras de bastidores de Coelho e Cª.
ACTUALIZAÇÃO: Foi sol de pouca dura. Voltou a asnear.
Friday, December 16, 2005
Simplesmente vergonhosa
É a posição da Associação de Professores de Português sobre a decisão do ME em manter exames desta disciplina nos cursos gerais do 12º ano.
«Nós concordávamos com o fim do exame obrigatório no 12º ano porque entendemos que não é o exame que resolve os problemas ao nível do desempenho dos alunos", disse Paulo Feytor Pinto, presidente da associação.»
Com argumentos destes, como pode a classe docente opôr-se às arbitrariedades e incompetências do ME?
Uma vergonha.
Governo actua no caso da bébé de Viseu
Segundo leio no DN, o governo arrepiou caminho no caso da bébé Fátima Letícia e decidiu mandar investigar o caso, nomeadamente a actuação da Comissão de Menores de Viseu.
Se bem que seria desejável que esta reacção tivesse surgido de imediato, poupando-nos ao espectáculo degradante de assistir às declarações despropositadas e arrepiantes de Armando Leandro (cuja imagem se começa a branquear atribuindo-lhe a iniciativa de pedir esta investigação ao governo), sente-se que, de alguma forma, se começa a agir no sentido de prevenir casos de incúria e negligência culposa, como este. Não é muito, mas é alguma coisa.
Nota: Nada tenho contra Armando Leandro, mas a sua primeira prova de fogo foi desastrosa. Todos merecem uma oportunidade, mas a que seja dada a este senhor pode custar muito sofrimento e, até, algumas vidas. Nesta matéria, a tolerância só pode ser zero. Já deu para perceber que, com Leandro, estará muito longe disso. Importaria retirar, já, as devidas consequências do que se passou.
Thursday, December 15, 2005
O ME cede, parcialmente, ao bom senso
A recomendação do Conselho Nacional de Educação, para que se mantenha o exame de Português no 12º ano em todos os cursos gerais, obrigou o ME a voltar atrás na sua inqualificável decisão de acabar com a obrigatoriedade deste exame.
Não é vergonha reconhecer um erro e emendá-lo, mas não seria melhor evitá-lo?
Claro que a pergunta é ingénua, porque sabemos que estas questões não passam de foguetório político, para encobrir um conjunto de medidas que acabam por "vingar", e sem grandes críticas, nestas contas de mercearia. No caso, "salvou-se" a fuga aos exames nos cursos tecnológicos. Mas terá sido só?
Fica tudo como se nada se tivesse passado?
Os maus tratos infligidos à bébé Fátima Letícia são demasiado brutais, para que não mereçam a nossa respeitosa reserva de comentários. Para horror, já basta. Contudo, a propósito deste caso, e uma vez mais, estão em causa as comissões de protecção(?) de crianças e jovens, estruturas macabras, tal tem sido o seu nefasto papel, quase sempre encoberto no anonimato dos casos, sempre exposto nas situações mais mediáticas, e dramáticas, de sevícias e assassinato de menores, tal como nos têm sido dados a conhecer nos últimos tempos.
A reboque deste horroroso caso, vêm agora o ministro da tutela e o presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR), o juiz-conselheiro Armando Leandro, fazer o público reconhecimento de insuficiências no funcionamento destas estruturas, avançando com a panaceia habitual - a garantia de que será dada formação aos técnicos que integram estas comissões, como se esta "compassiva" atitude e "responsável" decisão bastassem para passar uma esponja sobre os casos passados.
Avaliar o funcionamento destas comissões? Sem dúvida que sim, aceleradamente. Dar formação especializada aos elementos que as integram? Inquestionavelmente, uma prioridade. Investigar a fundo as acções das comissões nos casos que ocorreram nos últimos anos? É um imperativo de consciência. E agir criminalmente contra aqueles que, no desempenho de funções nas comissões, ou noutras circunstâncias com estas relacionadas, por negligência culposa são responsáveis pelo sofrimento, ou a morte, de menores. Justicialismo? Não, apenas que seja feita justiça.
Faltar à palavra (V)*
Já nem se estranha, que Soares não seja capaz de cumprir a sua palavra, no que a criticar Cavaco Silva diz respeito. Depois de reincidente nos votos de contenção verbal contra o seu oponente, eis que tem uma recaída nas críticas: diz ele que Cavaco "se equivocou na eleição, porque continua a falar na sua posição de antigo primeiro-ministro, nos problemas do país como se viesse a ser primeiro-ministro e ignora que a Constituição não lhe dá os poderes para resolver os problemas do desemprego, da saúde, da justiça ou outro qualquer".
Pois é, como para Mário Soares a experiência no cargo é determinante, presumo que uma das suas primeiras medidas como reeleito PR seja a de abrir estágios para tão nobre função.
*Soares tinha afirmado que deixava de atacar Cavaco.
Wednesday, December 14, 2005
Sabedoria é...
... saber sair a tempo.
Curiosamente, esta verdade aplica-se a qualquer um dos candidatos com possibilidade de ser eleito. Donde se conclui que nenhum deles é sábio. Azar o nosso.
Alegações finais (II)
Soares - todos juntos, todos juntos...
Percebe-se: estava na hora da cantilena e do ó-ó.
Percebe-se: estava na hora da cantilena e do ó-ó.
Alegações finais (I)
Alegre faz olhinhos às mulheres.
Querem ver, está de olho na Joaninha, mas essa é do Soares.
Querem ver, está de olho na Joaninha, mas essa é do Soares.
O monólogo de Soares
O velhote bem esperneia contra as perguntas, contra os "assuntos menores" que estão a tratar, grita que tem outras coisas para dizer.
Tuesday, December 13, 2005
«As virtudes perdem-se no interesse como as águas do rio se perdem no mar »*
O Governo propõe-se fechar três hospitais no centro de Lisboa - São José, Capuchos e Desterro. Apesar de não partilhar do entusiasmo de Martim Avillez de Figueiredo, o estado dos referidos hospitais, mesmo com as obras de vulto que têm sido feitas, não é particularmente motivador de grandes contestações a uma medida que pareceria, a um leigo, assente em alguma razoabilidade, não fosse o caso...
Acontece que, e apesar dos estudos que este governo nos esfrega na cara sempre que se questionam as grandes medidas que anuncia, começa a ser notório um padrão nestas tão voluntaristas decisões envolvendo zonas privilegiadas da cidade de Lisboa - Portela, eixo Almirante Reis/Baixa - a especulação imobiliária que se adivinha.
Alguém muito previdente passou os últimos anos a tecer as malhas destes negócios, que o PS no governo tão prestimosamente viabiliza. E a galope, não vá o diabo tecê-las e ainda não ser desta que abocanham a sua parcela.
* La Rochefoucauld
Antologia da cegueira
É o título que Vital Moreira dá a um post que publica no Causa Nossa, em que se limita a transcrever estas afirmações de Eduardo Oliveira e Silva, no Diário Económico: «Um destes dias José Sócrates vai ter de começar a governar. Até agora, não aconteceu. Formalmente há primeiro-ministro empossado, mas tem-se, estrategicamente, limitado a anunciar um conjunto de intenções. Acções concretas são poucas, com excepção das mais fáceis: cortar nos benefícios da exaurida classe média. O primeiro-ministro tem estado de férias governativas.»
Não fazendo qualquer comentário da sua lavra, o título torna-se, no mínimo, sugestivo, pelas leituras que permite.
Atenção, ó meninos, o bom gosto tem limites!*
Eis como os marionettes vêem o seu candidato: «aberto ao mundo, informal, imaginativo, dialogante, divertido, curioso, espontâneo e colorido.» Colorido? COLORIDO? Ai, ai, então com a idade deu nisso? Ou este irreal retrato também está a piscar o olho à comunidade colorida?
* o Marocas não merece uma maldade destas; ponham os olhos na Joana e aprendam como se toma conta de um candidato.
O PS de joelhos perante o Bloco de Esquerda
Antes do debate Cavaco/Louçã, o Super Mário implorou online que o candidato do Bloco iniciasse a estratégia de subversão do modelo de debates, ao que Louçã acedeu, como se viu na primeira parte. Agora, antes do confronto (?) com Soares, cá vêm de novo os super infantes dar o "guião" para a conversa, nos termos que mais adequados são à (desastrada) estratégia do seu candidato: «Mário Soares não terá, de Louçã, mais complacência do que os outros. Isso é bom porque permitirá testar, de uma forma que os candidatos medíocres nunca testariam, a sua preparação para o exercício do cargo. »
Quando Mário Soares for eleito com estes apoios (não esquecer a menina Joaninha), como vai o PS saldar a dívida com o BE? Ou será, então, altura para se zangarem as comadres? Lá se vai a estabilidade entre Belém e São Bento pelo cano abaixo!
Debate Alegre/Louçã
Como Ulisses te busco e desespero
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.
Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não tendo tudo são castigos.
Só não me canta Homero. Mas como U-
lisses vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar -- Pátria Sereia
Penélope que não te rendes -- tu
que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo o teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta Odisseia.
Manuel Alegre
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.
Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não tendo tudo são castigos.
Só não me canta Homero. Mas como U-
lisses vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar -- Pátria Sereia
Penélope que não te rendes -- tu
que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo o teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta Odisseia.
Manuel Alegre
Sunday, December 11, 2005
A candidatura de Soares "descolou"
Quem o anunciou foi o próprio candidato. Como, na ocasião, reafirmou que não vai fazer mais críticas a Cavaco, e sabemos bem como falhou a primeira tentativa de cumprir promessa idêntica, ficaria eu com uma legítima dúvida em relação ao anunciado ponto de viragem, não fosse o caso de um atarefado colaborador do Super Mário ter voltado a ter tempo, e vontade, de postar no seu Diário da República.
Preparem-se, portanto, os apoiantes de Cavaco, que agora que o Marocas lá levou o safanão em Barcelos, o passeio soarista na avenida já arrancou .
Friday, December 09, 2005
Antologia
For each ecstatic instant
We must an anguish pay.
In keen and quivering ratio
To the ecstasy.
For each beloved hour
Sharp pittances of years,
Bitter contested farthings
And coffers heaped with tears.
Emily Dickinson
We must an anguish pay.
In keen and quivering ratio
To the ecstasy.
For each beloved hour
Sharp pittances of years,
Bitter contested farthings
And coffers heaped with tears.
Emily Dickinson
Faltar à palavra (IV)*
Em Coimbra, Soares manteve a sua estratégia de campanha, afirmando que "quando alguém vem dizer, com um ar de vacuidade absoluta 'Eu não sou político, sou apartidário' está a vender gato por lebre". Referia-se ele a Cavaco e a Alegre, se bem que nenhum dos dois se tenha classificado exactamente assim. Mas uma mentira tantas vezes repetida...
Se tínhamos dúvidas, já ficámos a saber como tenciona Soares exercer o seu terceiro mandato!
*Soares tinha afirmado que deixava de atacar Cavaco.
Cavaco/Louçã, comentários à saída
A segunda parte do debate "amainou", no que se refere à subversão do formato, escorregando na frieza de Cavaco e numa maior agressividade dos entrevistadores, sobretudo de Cunha e Sá. Mas nem Cavaco foi ao tapete, respondendo o bastante às questões de Louçã sem pôr em causa a sua defensiva estratégia, nem Louçã deixou de passar as suas mensagens, por muito que lhe tenha fugido a oportunidade de confronto. Quanto às ideias, nada de relevante para além do que lhes é conhecido.
À saída, a atitude de Cavaco aparentava calma e descontração, o oposto à crispação de Soares, ontem. Louçã talvez menos satisfeito do que aparentou.
Cavaco/Louçã, o bloco ao serviço de Soares
Louçã a marcar os termos do debate e a servir a estratégia de Soares ao dirigir-se directamente a Cavaco, encostando-o às tábuas do seu passado de primeiro-ministro. Moderadores em dificuldade manifesta.
ADENDA: A João McDonald (lembramo-nos sempre do pato homónimo) fugiu-lhe a pena para a verdade no Super Mário: «No entanto, pergunto-me se Francisco Louçã decidirá esta noite pisar o risco no debate da TVI com Cavaco, ele que, não sem alguma razão, tem vindo a criticar o "consenso de acomodamento" da campanha. Mas ninguém ficaria a perder, e todos ficaríamos agradecidos, se Louçã abrisse o precedente.» LANCINANTE, este pedido das hostes soaristas. Cavalheiro, Louçã lá fez o frete, já a pensar na segunda volta.
«O invisível é real. As almas têm o seu mundo»*
Uma imagem vale por mil palavras, é bem verdade.
Ao olhar a fotografia que o Público publica hoje de José Sócrates a cumprimentar Tony Blair à porta de Downing Street (link indisponível), chocou-me o ar de pobrezinho envergonhado do nosso primeiro-ministro, comparativamente à pose sempre tão altaneira e superior, que usa para consumo interno. No caso que este instantâneo fixou, não é apenas o sorriso ansioso e postiço, como geralmente põem, nervosos e acanhados, os que se encontram perante os que acham seus superiores. É toda uma postura física contrafeita, dobrado o corpo em posição de defesa inconsciente, como que a querer passar despercebido, num fato que até parece grande de mais para o dono. Atente-se na mão esquerda de Sócrates, nervosamente fechada e meia tapada pela manga do casaco, repare-se na inclinação do tronco, quase em meia vénia. Compare-se com o Sócrates “nacional”, de cara fechada, olhar altivo, peito para fora, que fala do alto da sua sobranceria irritada e impaciente, dirigindo-se aos portugueses. Compare-se, e tire-se a conclusão óbvia, porque todos sabemos que é próprio dos néscios serem reverentes e humilharem-se perante quem temem, serem orgulhosos e ditatoriais para aqueles sobre os quais detêm autoridade. Se assim se avalia o carácter de um homem, um político não escapa ao escrutínio do que uma imagem como esta deixa patente.
Tem de fazer parte do savoir faire de um político de hoje ser extremamente cauteloso com a sua imagem, descendo ao pormenor mais ínfimo, porque os meios que existem para registar os seus mínimos movimentos são impiedosos. Se, como pensam os povos mais primitivos, a fotografia nos “rouba” a alma, pelo que de nós mostra, melhor será Sócrates perceber, rapidamente, que não chega parecer, há que ser, e ser GENTE.
* Alfred de Vigny
Thursday, December 08, 2005
Soares/Jerónimo, final da segunda parte
Terá sido por acaso que a música do genérico era um pouco fúnebre?
Apesar da maior "rodagem" de Soares, Jerónimo não foi apenas o "idiota útil". Cada vez me convenço mais que o PCP já se resignou a integrar as hostes soaristas para travar a direita.
Soares/Jerónimo ao intervalo
Jerónimo, solto e com boa imagem, mas em salamaleque cauteloso e algo reverente. Partilho da pergunta de LR no Blasfémias - desistência táctica?
Soares "presidente", magnânimo com o oponente(?), a enxovalhar os jornalistas, a querer conduzir a entrevista. Igual a ele próprio, esta entrevista é mero aquecimento para a que lhe interessa
Wednesday, December 07, 2005
Não perder (actualizado)
No Pulo do Lobo: Entretanto, num universo paralelo...
No Blasfémias: O efeito Raynair e Estratégias
No Diário Económico: As forças do Passado, de Rui Ramos
No Jornal de Negócios: A Europa miniatura, de Sérgio Figueiredo
Faltar à palavra (III)*
Ontem, na Universidade Católica do Porto, Soares disse que uma candidatura presidencial "não deve ser feita de banalidades, repetidas todos os dias, com os mesmos gestos segundo as regras do marketing". Poderia estar a referir-se a si próprio, mas não, estava, uma vez mais, a atacar Cavaco Silva.
*Soares tinha afirmado que deixava de atacar Cavaco.
Show me the money (II)
«A ministra da Educação garantiu hoje ao movimento de pais (MOVE) a autonomia das escolas na escolha do modelo de educação sexual integrado numa perspectiva de educação para a saúde», lê-se no Portugal Diário, e o movimento de pais manifestou-se satisfeito por saber que «cada escola, dentro do seu projecto educativo, deverá definir o modelo e a forma como o põe em prática».
Apesar de esta parecer ser uma decisão correcta do ME, tem subjacentes algumas questões que aos pais passaram despercebidas e que irão pôr em causa a igualdade de direitos dos alunos e famílias.
O que acontece, por exemplo, quando uma família não concorda com o modelo de educação sexual adoptado pela escola em que o aluno fica colocado? É esta uma razão bastante para justificar uma mudança de escola? Se é, como se assegura esta prevista mobilidade de alunos, em zonas de saturação da rede escolar, ou em que apenas existe um estabelecimento de ensino com a oferta educativa de que o aluno precisa? Indo a uma situação ainda mais pormenorizada: nas zonas em que a oferta de ensino é compartilhada entre a escola pública e escola privada com contrato de associação, a não concordância das famílias com o modelo adoptado pela escola pública é motivo suficiente para encaminhamento para o privado com contrato de associação?
Não há compatibilização possível entre a não aceitação, por parte do ME, de que a educação sexual seja facultativa e esta garantia aos pais de que os seus jovens irão beneficiar da formação que consideram mais adequada, simplesmente porque a rede educativa existente e os critérios de mobilidade dos alunos não o permitem. A possível intervenção dos privados neste jogo, por outro lado, permite uma dúvida pertinente sobre as reais intenções por detrás da irredutibilidade da ministra em flexibilizar a opção pela disciplina.
Mais um caso de manipulação da opinião pública, mais uma cedência a interesses de grupelhos obscuros, mais uma medida que poderia ser uma boa medida, mas que está inquinada de erros técnicos e de oportunismo político.
Tuesday, December 06, 2005
Os pés de barro
O discurso do rigor da senhora ME e do governo continua a levar fortes machadadas, dadas pelos próprios. Hoje anuncia-se a redução do número de exames dos alunos do secundário, o que não levantaria reparos de maior, não fosse o caso de ficarmos a saber que os exames que deixarão de ser feitos serão os de Português e Filosofia. Saber perceber, saber expressar-se e saber pensar são domínios de menor importância, pois claro. Também ficámos a saber que os cursos tecnológicos deixarão de ter exames, outra medida adequada a quem não quer que se notem as estatísticas do insucesso destes cursos. Facilitismo e contemporização, mais culposos, porque encapotados e lançados para o terreno com o único fito de enganar a opinião pública, por um lado, e agradar-lhe, por outro. De notar, ainda, a "coerência" deste governo: exames? mas que sim, sem dúvida, em nome do rigor, da exigência e da qualidade, mas só no ensino básico, está bem de ver. No secundário? Mas que maçada, uma inutilidade!
Haja juízo, já que não há vergonha!
ADENDA 1: David Justino, no Quarta República, escreve um excelente post sobre este assunto, chamando ainda a atenção para a «bondade» da contratação de animadores para os prolongamentos de horário no primeiro ciclo. A não perder.
ADENDA 2: A reacção dos pais não se fez esperar, não sendo preciso ser bruxo para adivinhar a satisfação que teriam com esta medida. Para alguns pais nem haveria avaliação, quanto mais exames. A reacção dos representantes dos professores está, também, a ser a que se esperava: depois de meses debaixo de fogo, escrutinados até ao impensável, com a perspectiva de virem a ter a sua própria avaliação dependente dos resultados dos alunos, um bónus destes só pode ser recebido como uma benção!
Demagogia, populismo, má-fé, são "atributos" da acção desta equipa da 5 de Outubro. Não podemos negar que, contudo, sabem fazer as coisas - na perversidade da acção, provaram ser mestres.
É bom sabermos o que queremos...
... no que respeita aos políticos e à comunicação social que temos.
Efectivamente, na imprensa e na blogosfera abundam hoje os comentários sobre quão maçador foi o debate de ontem, entre Cavaco e Alegre, apontando-se o dedo ao modelo de debate, frio, controlado, quase "asséptico". De uma maneira mais, ou menos, significativa, todos sentimos isso, sentimos a falta do picante dos argumentos gritados em sobreposição à voz do adversário, dos momentos em que todos falam e ninguém entende nada, dos queixumes dos que não conseguem fazer-se ouvir e não utilizam tanto tempo de antena, de moderadores silenciados pela onda avassaladora dos participantes menos acomodados, de toda uma anarquia colorida e barulhenta, bem à nossa moda latina. Ontem, ficámos mais por um "modelo nórdico" (por muito importado que seja dos states), que não nos diz nada e que pelo nosso entusiasmo faz pouco.
E, contudo, é este um modelo civilizado, adulto, responsável, justo, moderno, que permite a cada um condições iguais de tempo de antena e de participação. Pelas reacções que se lêem, vemos como os discursos a pedir mais seriedade no discurso político e menos chicana e golpes baixos entre os políticos não passam do seu contrário: são, tão só, palavras ocas.
Olhe que não, olhe que não
Desiluda-se, quem pensar que Soares vai submeter-se ao espartilho do modelo polar de "debate" a que assistimos ontem. Não o fará porque não lhe está na natureza, e por uma questão de sobrevivência. Para quem diz que um dos seus grandes objectivos de candidatura foi obrigar a haver debates (a ideia é peregrina, mas, vinda de onde vem, percebe-se), não pode Soares aceitar um modelo de entrevista mano a mano, que de debate tem pouco. Este modelo, frio e controlado, beneficia Cavaco e prejudica Soares, logo, este tem que "virar a mesa". E vai fazê-lo.
ADENDA: Como aqui se dizia, Soares prepara-se para subverter as regras. Será que vai fazê-lo apenas com Cavaco?
Monday, December 05, 2005
Operação limpeza
Soares, com aquela característica que os mais velhos têm de lhes fugir, frequentemente, a boca para os seus mais íntimos pensamentos, confessa no Público que reconhecerá a legitimidade de um Cavaco eleito presidente, se as eleições «forem limpas». Ora, um homem com o passado de Mário Soares não pode dizer isto e muito menos ameaçar que a «limpeza» das eleições se discutirá depois de 23 de Janeiro. Sabendo-se como as pessoas menos «transparentes» julgam os actos dos outros a partir do que seriam capazes de fazer nas mesmas circunstâncias, e se recordarmos um ameaçador Jorge Coelho a avisar para o perigo de fraudes nas últimas legislativas e autárquicas, ouvimos Mário Soares e começamos a ter medo, muito medo. Do que eles são capazes de fazer, se tiverem oportunidade. E têm-na!
Amadorismo
Incompreensível, em Manuel Alegre, que é um político profissional, um parlamentar com anos de tarimba e um combatente pela democracia. Nervoso, intimidado, lê-se-lhe nos olhos a falta de convicção. Está mal preparado e não pensa bem, nem consegue usar a vantagem do panache de poeta, e até a voz o trai.
Num desafio de campeonato, Alegre é o amador face a um campeão da primeira liga.
Há sempre um amanhã, e nem todos cantam
Ao que parece, Pedro Silva Pereira terá afirmado hoje, quando acompanhou Soares em Montalegre, que Manuel Alegre parece querer « fazer destas eleições uma espécie de desforra depois de ter perdido as eleições internas do PS».
O PS perdeu a noção do que lhe convém? Ou fia-se na popular convicção de que todos os diabos têm sorte?
Sunday, December 04, 2005
E o resto são cantigas
Portugal caminha em sentido contrário à UE, no que diz respeito ao desemprego. Segundo o jornal Público, temos 430 mil desempregados, 330 novos desempregados por dia, esperam-se mais 17 mil novos desempregados em 2006 e mais 5 mil em 2007.
Podemos continuar a brincar com coisas sérias, não é verdade?
Faltar à palavra (II)*
Em Amarante, Soares disse que Portugal «não sairá da cepa torta» se escolher um candidato «que só sabe de economia e finanças». Como Cavaco Silva é o único dos candidatos que é uma autoridade nestas matérias, é legítimo concluir a quem Soares se referia. Presume-se que, para o velho senhor, a cepa se endireite com Portugal a tornar-se o principal exportador de versos dos Lusíadas. Conhecendo-se a capacidade de imitação asiática, é bom começar a acautelar a genuína origem do salvador produto.
*Soares tinha afirmado que deixava de atacar Cavaco.
A quem aproveita relembrar o romance de Snu e Sá Carneiro?
Que obtusa ideia, esta de assinalar os 25 anos da morte de Sá Carneiro com reportagens sobre a sua companheira dinamarquesa, Snu. Nas entrelinhas, a reportagem da Única não é nada favorável para a senhora, deixa à evidência a conhecida capacidade de Mário Soares para escolher oportunisticamente o que mais lhe convém em cada momento, cataloga o Sá Carneiro pré-Snu como um provinciano nortenho com pouco mundo e reduz o picante do romance num Portugal salazarento e pacóvio a umas vagas referências a ostracismos institucionais. Cavaco aparece numa fotografia, em passo estugado, à frente do carismático líder, reservando-lhe o texto a menção de ter sido o protagonista de uma duríssima reunião com dois dos acidentados do Cessna , o ministro da defesa e o primeiro-ministro, horas antes do desastre que os vitimou.
Francamente, esta campanha presidencial anda a derreter a moleirinha a muita gente!
Saturday, December 03, 2005
Faltar à palavra (I)*
Soares diz hoje que «Cavaco tem vergonha do seu próprio partido». Com isto, pretende Soares fazer-nos esquecer que, no seu caso, é uma grande parte do partido que fundou que tem vergonha dele.
* Soares tinha afirmado que deixava de atacar Cavaco.
Friday, December 02, 2005
Estamos cada vez mais pobres, de espírito.
Aguardei que a denúncia das condições degradantes em que os doentes dos PALOP vivem os seus últimos dias em Portugal merecesse uma reacção adequada por parte do governo português e dos representantes dos países africanos em causa. Entre o silêncio e o disparate, as reacções ficaram ao nível do problema, e explicam-no. Mais um drama que apenas serviu para vender papel, ou share.
"Am I dying or is this my birthday?"*
Faz sentido executar um condenado à morte dezenas de anos após cometido o crime? Ou a verdadeira condenação é a longa, desumana permanência no corredor da morte? Se é, a morte não é o castigo, mas o fim dele.
* Lady Astor last words
Thursday, December 01, 2005
Refluxo da direita
Talvez sugestionado pela coincidência das siglas, José António Lima confunde a possibilidade de criação de um Partido Social Liberal (PSL) com a recente chegada à frente de Santana e Portas.
Será caso para dizer: liberais, mas não tanto, ó Lima!
Robopro
A Organização Mundial de Saúde (OMS) deixa, a partir de hoje, de contratar fumadores. Pela sua "dimensão ética", esta medida só pode estar acompanhada, cumulativamente, de outras restrições, na busca do profissional padrão: os que têm hábitos alimentares saudáveis, os que praticam sexo seguro, os que não são toxicodependentes, os que praticam desporto, os que dormem oito horas diárias, os que fazem condução preventiva, etc, etc, etc...
Vem aí o homem novo, nada mais será como dantes.
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