Finalmente, eis um governo que descobre a melhor ocupação para os professores de horário zero - enfiá-los no museu! Sem qualquer tipo de ironia, a ideia é brilhante, já que um número muito significativo de professores de horário zero só estão mesmo capazes de figurarem em museus, dado o seu valor como 'relíquia'.
6 comments:
Meus amigos
O vosso sentido de humor é magnífico. Esta decisão, aliás, só merece ser levada a brincar, embora a questão de fundo seja muito séria e devesse merecer, por parte da classe e, sobretudo, da tutela, uma abordagem muito honesta e objectiva, no sentido de se encontrarem respostas que, salvaguardando e dignificando os docentes, viessem ao encontro dos superiores interesses dos clientes do sistema.
Digo-vos, esta deve ser uma das ideias mais estúpidas que algum governo teve nestes últimos tempos.
É que não lhes dar nada para fazer, consegue ser pior do que dar-lhes alguma coisa para fazer. Compreendo que possam não estar a perceber bem esta perspectiva, mas já aqui vão alguns anitos a virar frangos e pelo que tenho verificado não há muita coisa pior do que um professor sem nada para fazer. É que depois, como têm muito tempo livre para pensar e pensam que não há nada melhor do que candidatarem-se a projectos e a mobilidades.
Para uma pessoa normal, isto não teria nada demais, mas estamos a falar de professores e não querendo desfazer na classe (que mesmo assim tem gente de muito valor), a verdade é que a maior parte deles pensa que pensa, mas na realidade não pensa. Para além disso, encontrar alguma lógica naqueles racíocinios é como tentar encontrar uma agulha no palheiro.
Poder-vos-ia contar tanta coisa sobre esta classe! A maior parte das coisas numa crítica muito destrutiva, mas algumas (poucas), extremamente positivas e que por isso conseguem superar as negativas.
Ok, agora deixando a brincadeira um pouco de lado e apesar dessa história do horário zero ser de facto uma imbecilidade, na minha opinião penso que devem parar de resmungar e pensar que é somente aos professores que vida corre mal. Neste momento, corre mal a toda a gente (com a excepção de alguns previligiados). Têm horário zero, têm horário zero, há outras coisas para fazer. Há projectos educativos aos quais se podem candidatarm e há mobilidades às quais se podem candidatar também. Em vez de estarem para aí todos a reclamar, arregacem as mangas e tomem a iniciativa de fazer qualquer coisa. Pode ser um sucesso ou pode ser um fracasso, mas se não fizerem nada nunca vão saber.
Andava cabisbaixo a pensar na vida e num clique fiquei empolgado: a possibilidade de leccionar em museus. O quê? Não se trata de trabalhar com os alunos em ambientes… culturalmente abastados? É uma reconversão profissional camuflada ou uma reconfiguração profissional? Será que alguém se lembrou de perguntar aos professores “afectados” o que é que pensam disto tudo?
Caros amigos Anthrax e Miguel
Ao primeiro, começo por dizer seja bem aparecido; depois, recuperar do seu comentário o estímulo a novas formas de intervenção e participação, de auto-formação, esse rasgar horizontes para que aponta.
E é aqui que o seu comentário e o do miguel se tocam, em minha opinião.
O Miguel lembra, com suave ironia, que a «entrada» de professores nos museus pode ser uma nova oportunidade de carreira, ou um período de novas actividades educativas, tornando-se os professores afectos aos museus nos melhores agentes da extensão da escola, neste caso em ambientes culturais de grande riqueza formativa.
Esta questão da «reconversão» de professores de horário zero não é fácil. A medida preconizada apenas pecará por ridícula e ineficaz, se existir para fazer crer que são bem gastos dinheiros públicos e dar, assim, uma satisfação aqueles que acusam o Estado de desperdício.
O aproveitamento de professores de horário zero passa, a meu ver, por uma abordagem essencialmente centrada na própria escola; só depois, equacionadas a situação da organização (escola) e a especificidade das situações das pessoas em causa, se poderão, e deverão, encontrar formas diversas de enquadrar e potenciar o contributo que estes docentes podem dar ao sistema educativo.
Finalmente, permitam-me, todos, uma constatação: os vossos comentários permitiram transformar um post algo inconsequente numa abordagem bem mais interessante.
«O aproveitamento de professores de horário zero passa, a meu ver, por uma abordagem essencialmente centrada na própria escola;»
Eu simplesmente adoro comentar as coisas dos outros! Fico feliz, não sei porquê, enfim...
Mas pegando neste pequeno trecho e a propósito da abordagem ter de ser centrada na própria escola, não discordo. O que me levanta algumas dúvidas são as competências das pessoas que encabeçam os orgãos de gestão das escolas e as suas capacidades de selecção, planificação e execução.
A maior parte das pessoas que lidam diariamente com o ensino, têm muito pouca noção das asneiras que fazem e não digo isto porque gosto de ser má-língua, digo isto com base em verificação empírica.
Eu nunca mais me vou esquecer da sessão de abertura de uma visita ARION, organizada pela DREN neste Janeiro último, na Escola Secundária Alexandre Herculano que, perante um auditório lotado de professores e de Presidentes de Conselhos Executivos, a única pergunta que todos pareciam ter para colocar aos participantes dos outros Estados Membros da U.E era: "Como é que é o regime de faltas no vosso país e qual é a penalização?"
Eu fiquei perplexo. Tal como já tive oportunidade de referir uma vez, não é o querer saber como é o regime de faltas dos outros que me choca. O que me choca é a atitude que se esconde por trás da pergunta e que se manifesta na conduta - por assim dizer - das escolas enquanto Instituições.
Do meu ponto de vista e por tudo o que tenho verificado ao longo deste tempo, são muito raros os estabelecimentos de ensino que não adoptam, à partida, uma posição de boicote ao que quer que seja. E isso é um problema endógeno à Instituição. É completamente cretino pensar que são coisas que se resolvem por decreto do Governo ou por despachos das DRE's, porque por muito boas que algumas medidas possam eventualmente ser, a medíocridade de alguns agentes educativos acaba sempre por vir ao de cima e a postura é sempre a do confronto.
Ou seja, são sempre jogos de soma zero em que um ganha, outro perde. E enquanto se divertem a brincar, estão a gastar inutilmente o meu e o vosso próprio dinheiro, porque como também não podem fugir ao impostos o dinheiro com o qual andam a brincar é nosso. Se se lembrassem disso cada vez que adoptassem uma atitude de confronto, talvez vissem as coisas de maneira diferente.
«só depois, equacionadas a situação da organização (escola) e a especificidade das situações das pessoas em causa, se poderão, e deverão, encontrar formas diversas de enquadrar e potenciar o contributo que estes docentes podem dar ao sistema educativo.»
Não tenho a menor dúvida em relação a isto, a questão aqui é saber quem é que vai equacionar a situação das Escolas? E qual é o 'timing' dentro do qual é possível agir em tempo útil. Porque se vão deixar isso nas mãos ou do ME ou da Inspecção Geral lá para 2020 são capazes de ter um resultado acerca da situação em 2005.
Caro amigo Anthrax
Também que «amostra» foi buscar para a sua análise! O que esperava dos «papa formações» pagas à custa dos dinheiros da UE?
Indo ao seu comentário, toca, e bem, na questão da gestão das escolas. É, efectivamente, a pedra de toque para a mudança necessária no sistema. Profissionalizar a gestão escolar é uma medida que tarda, e que temo fique adiada, por tempo indeterminado. Nunca foi mexida nos governos PS, o que estava preparado no XV governo foi ignorado pelo desastroso consulado Santanista e não vejo a actual equipa disposta a mexer seriamente no assunto.
Deverão ser as próprias escolas, melhor dizendo, agrupamentos de escolas, a equacionar a situação dos seus professores de horário zero e, com estes e outras entidades locais, encontrar as actividades que melhor poderão ser servidas pelas competências e apetências destes profissionais.
Saliento duas razões que, entre outras, prejudicam a adopção de correctos procedimentos neste domínio: a falta de vocação comunitária das nossas escolas e o facto de, muito frequentemente, os horários zero serem «empurrados» para aqueles docentes que já estão «fora do prazo de validade».
O que me choca é que todas as equipas governativas chegam sempre com as mesmas ideias, seja qual for a cor política - horários zero? ponham-se a render os desocupados, como se estivessem todos estes na melhor das formas e tivessem capacidades de superhomens. Nos governos anteriores meteram-se alguns destes professores em serviços do ME, em actividades das mais diversas. O tempo gasto a ensiná-los e a remediar os erros que cometeram saiu caro. Mais do que mantê-los nas escolas em actividades adequadas à sua formação e competências profissionais.
Meu amigo, é complexa, a «coisa», mas não será difícil de resolver. Basta que haja lucidez, bom senso e liderança.
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