Julgo que todos aceitaríamos, apesar de com uma boa dose de desconfiança, que o governo socialista teimasse na construção do aeroporto da OTA se a decisão fosse "virgem", se os estudos fossem dúbios, quanto às vantagens e inconvenientes, se a celeuma não estivesse instalada como está, se a situação económica do país aguentasse algum aventureirismo.
Ora, acontece que o país está de rastos, que o governo impõe férreas medidas de contenção económica e financeira, com consequências sociais duríssimas, e que este PS no governo aparece como que amarrado, por inconfessáveis interesses finamente tecidos no seu passado governativo, a este projecto, que, a crer nos ecos da opinião pública, o país não compreende e muito menos aceita.
Bastava esta explosiva situação para que o governo repensasse o projecto, ou, pelo menos, o discutisse amplamente com a sociedade civil e o tratasse com a isenção e a transparência que largos sectores da sociedade exigem. O governo de Sócrates não faz nada disso. Esquiva-se a apresentar estudos, ou é duvidosamente honesto nos que apresenta, não responde às dúvidas dos portugueses, teima na decisão, cego e surdo a argumentos e, pior, em total desrespeito pela justificação que está obrigado a prestar, pelo mandato que recebeu para governar. Quando no limite dos argumentos, que parece não ter, faz como os pais tiranos de antigamente:Porquê? Porque sim, porque eu posso e mando.
Neste fim-de-semana, dois semanários referiram duas situações demolidoras para um governo que não esteja honestamente empenhado numa decisão; um estudo de há cinco anos (PS no governo), que refere as consequências devastadoras para Lisboa da construção da OTA; outro relatório do Conselho de Cooperação Económica, que nega o interesse estratégico da OTA, aponta a importância de potenciar uma «estratégia ibérica» e que foi apresentado como contribuição à Cimeira luso-espanhola que decorreu em Évora.
A esta "matéria de facto", o governo responde com o silêncio e teima na OTA, o que só permite uma conclusão: não sendo pelas boas razões, o projecto só pode justificar-se pelas más. Tendo nós todo o direito de pensar assim, pergunto: não deveriam ser, de imediato, accionados mecanismos que assegurassem aos cidadãos portugueses uma averiguação isenta e eficaz sobre os reais motivos que movem os decisores políticos neste caso? O que anda a fazer aquele locatário de Belém? Ou será que os interesses ocultos do projecto passam, também, por aquele senhor? Se não é assim, pelo menos parece.
2 comments:
Encomendar estudos com uma resultado previamente definido só demonstra a incompetência de alguns governantes do nosso País...
Caro Miguel
Incompetência? Incompetência?
Admiro o seu elevado sentido de humor.:)
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