Friday, November 04, 2005

O dia do poeta

Retrato do Herói

Herói é quem no muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
E morre devagar de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.

Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.

Manuel Alegre

2 comments:

Pedro said...

Depois de Mário Soares, agora até Manuel Alegre vem falar de Pátria! Não era esta a palavra que tanto assustava a esquerda portuguesa?

crack said...

Caro Miguel, aos poetas perdoam-se os grandes gestos vazios de significado, as palavras ocas e os versos apaixonados. Como este, em que ele terá querido rever-se, e no qual buscará consolo, na hora em que este, para ele belo sonho, terminar.
Pobre poeta, não lhe calhou em sorte morrer de amor, destinaram-lhe, apenas, a cilada da traição.