Sunday, November 06, 2005

«Be gentle with the young»*

De entre as situações que configuram menor cuidado com crianças, que habitualmente me dão a conhecer para que as encaminhe e divulgue como puder, duas que me chegaram hoje parecem-me, no mínimo, singulares e a merecer atenção.
A primeira refere-se a uma menina de 18 meses que entrou no Hospital Amadora-Sintra para uma operação aos ouvidos, na passada quarta-feira. Após os preparativos habituais, a menina foi conduzida à sala de operações para uma cirurgia que se esperava durasse cerca de 45 minutos. Três horas e meia depois chamaram a mãe à sala de recobro, onde a criança ainda não despertara da anestesia. A mãe, enfermeira, detectou, de imediato, que a mão esquerda da menina se apresentava fechada e sem acção, tal como o braço do mesmo lado. Acordada a criança, foi mandada para casa apesar dos protestos da mãe, porque o quadro foi considerado natural e resultado da anestesia e soro. Nas horas seguintes, face aos gritos lancinantes da criança, a mãe dirigiu-se às urgências do mesmo hospital, alertando para o facto de entender que a filha tinha o braço partido. Descartando esta possibilidade, os médicos de serviço manipularam o braço da menina de forma "descontraída", com o objectivo de demonstrar à mãe que não havia qualquer fractura. A menina recebeu uma injecção e foi mandada para casa. Na sexta-feira, a mãe voltou ao Amadora-Sintra porque a menina estava com febre, mantinha o braço imobilizado e gritava com dores a cada toque no braço esquerdo. Observada neste hospital, foi necessário a mãe ameaçar recorrer aos meios de comunicação social para que lhe radiografassem a filha, processo em si mesmo kafkiano, pois teve que ser a mãe, enfermeira, a indicar o ponto do antebraço a radiografar, apesar deste ser facilmente identificável, pelas queixas da criança. Conclusão: confirmou-se, 48 horas e muito sofrimento depois, já com um processo infeccioso em curso, uma fractura exposta no antebraço esquerdo. A criança encontra-se agora medicada e tratada, ignorando-se se o problema se resolverá sem recurso a cirurgia. Para além da perplexidade que se sente perante o facto de se partir um braço a uma criança de 18 meses numa sala de operações, remanesce a revolta pelo procedimento negligente que , posteriormente, foi seguido em relação às queixas desta menina e de sua família.
A segunda situação tem a ver com o tratamento que está a ser dado, por algumas autoridades educativas, aos casos de violência doméstica, envolvendo crianças em idade escolar. Acontece que, nos casos em que, por segurança das crianças, estas são retiradas a progenitores ou famílias que constituem ameaça, a transferência de escola, habitualmente rodeada de sigilo, está a ser divulgada por alguns serviços da educação, com fundamento numa aplicação restritiva dos normativos legais aplicáveis. Houve já situações muito complicadas, comunicadas aos serviços competentes, sem terem recebido, por parte destes, qualquer acolhimento. Duas notas: o tratamento destas situações não é uniforme nas cinco direcções regionais de educação; teme-se que o assunto não tenha chegado ao conhecimento da ministra.
* Juvenal

2 comments:

Anonymous said...

A IGE já está em cima desses casos. Deve ter sido por ordem da ministra.

crack said...

Caro Luís, julgo que essa informação está ultrapassada por recentes desenvolvimentos. Muito ao seu estilo, a IGE "espreitou" e recuou, porque não quer guerra com o serviço faltoso. Velhos "entendimentos". Noblesse oblige, lá diz o magala/celebridade.