Wednesday, November 02, 2005

Déjà vu

Vemos Soares a ser entrevistado por Constança Cunha e Sá e pasmamos, com plena consciência do paradoxo que rodeia o nosso pasmo. Por um lado, e apesar da voz envelhecida e da expressão mais dura perante a crítica, que hoje já tem mais dificuldade em disfarçar, reencontramos em MS o discurso que nele sempre foi habitual, com aquela leveza algo divertida, aquela falta de consistência cheia de panache, aquele convencimento assente em balões de ar, que, em apreciação mais superficial, contrariam os argumentos do peso da idade do candidato. A nossa primeira reacção é de nos ser confortável reencontrar o déjà vu, e é esse reconhecimento “natural” em que Soares estriba muita da sua convicção na vitória. Por outro lado, é esse discurso amigável, no sentido de conhecido e quase previsível, palavra a palavra, que nos choca. Qual menino Marocas, espertalhufo e traquinas, vinte anos depois da primeira chamada ao quadro aí está ele a repetir a sua lição, papagueando de cor argumentos e ideias, sem se afastar do registo que constitui a sua imagem de marca. Passada a inicial sensação de conforto neste regresso ao passado, o déjà vu começa a pesar-nos, instalando-se, rapidamente, o imenso desconforto que sente o espectador perante o solista em fim de carreira, que teima em repetir repertório, para o qual já não tem amplitude de voz. Soares no seu melhor, hoje, é o Soares de há vinte anos. Irremediavelmente, um homem no seu passado. Só que Portugal precisa de futuro.

3 comments:

Anonymous said...

Soares deu um baile à Constança que depois do jantar não bate muito bem da mona.

crack said...

Caro LS, obrigado.

crack said...

Ao comentador anónimo
A senhora é uma bonita senhora.