Título do artigo de opinião de Miguel Poiares Maduro, no DN, um belíssimo texto, a não perder, do qual me tocou, particularmente, a seguinte passagem:
«Seja como for, hoje não convivemos bem com o silêncio. Há sempre uma música de fundo onde quer que estejamos. Até nas igrejas, local onde o culto se associava tantas vezes ao silêncio, é hoje frequente entrarmos e ouvirmos em fundo música sacra, como se as pessoas temessem ficar a sós com Deus. Parecemos obcecados em preencher o silêncio como se o silêncio não contivesse vida e, desta forma, um momento de silêncio fosse um momento perdido. Quando nos falam de uma vida intensamente vivida nunca pensamos numa vida vivida em silêncio. »
Recordou-me o meu pai, encerrado num mundo de silêncio nos últimos anos da sua vida, que tão dolorosa e lentamente se finda. Perdido primeiro o ouvido, a forma inteligente e digna como aprendeu a viver os seus, mas sobretudo os nossos, silêncios ficará para todos nós como uma magnífica lição de vida. E agora que já não fala, é no silêncio dos gestos simples que a intensidade do nosso amor mútuo parece melhor expressar-se, talvez apenas porque deles está ausente o ruído das palavras, que tantas vezes deixamos por dizer.
4 comments:
Crack!!
Como está o seu pai?
Querido amigo
Remeto-o para o Isaac Asimov, ali ao lado.
:)
Belissimo texto, Crack. Já é raro encontar quem exprime tão sentidamente os seus sentimentos.
Cara Suzana Toscano
Agradeço as suas amáveis palavras.
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