No momento em que o furacão Rita volta a ameaçar populações e cidades no Texas e no Louisiana, convém recordar, do artigo publicado ontem no Diário de Notícias por Luciano Amaral, um dos Acidentais, o que este escreveu a propósito do Katrina:
«Não foi dito na imprensa portuguesa, mas, se incluirmos as regiões atingidas com menor intensidade, o furacão afectou uma área sensivelmente equivalente à que vai de Lisboa a Viena, ou seja, praticamente o conjunto da Europa ocidental. Se incluirmos apenas aquelas onde a intensidade foi maior, uma área equivalente ao conjunto da Grã-Bretanha ou da Itália ou, mais próximo de nós, duas vezes o tamanho de Portugal. Estamos, portanto, perante uma catástrofe que desafia a capacidade de reacção de qualquer Governo, e seria bonito de ver qual a resposta dos Governos europeus depois de os seus países terem sido inteiramente devastados. Dir-se-á que, precisamente, a Europa está ao abrigo de tempestades tropicais. O que, sendo verdade, deveria sobretudo recomendar sobriedade nos comentários. Afinal, quando há dois anos uma vaga de calor conduziu à morte cerca de 40 mil pessoas na Europa, sobretudo por falhanço dos hospitais públicos, não se viu este sururu criticando o Estado Social europeu, o que até viria mais a propósito.»
Será bom que tenhamos todos a sensatez suficiente para percebermos, quer a dimensão da tragédia de Nova Orleães, quer a da logística a montar para a protecção das zonas e pessoas que serão afectadas pelo furacão Rita, para que não se repitam as manifestações de anti-americanismo bacoco de há três semanas.
2 comments:
Houve algum exagero na questão (eu próprio admito ter exagerado um tanto), mas
a) Se o próprio Bush admite hoje que "desta vez estaremos preparados" a propósito do próximo Rita isso não é um reconhecimento claro de que da outra vez "não estavam".
b) Porque é só cinco dias depois é que seguiram forças federais para a Lousiana?
c) Porque é que os diques não foram reparados?
d) Porque é que não houve um plano de evacuação oferecendo transporte a quem não o tinha?
Nestas 4 graves questões o governo federal e o estadual não esteve à altura, o que foi independente da escala da catástrofe.
Caro Rui Martins
Eu não me referi a legítimas críticas que se podem, e devem, fazer a Bush e à administração federal, estadual e local, tanto pela demora e eficácia na reacção, como, sobretudo, por ter sido menosprezada a real gravidade do furacão.
Pretendi referir-me à insanidade de alguns comentários em que, desde responsabilizar pessoalmente Bush pela ocorrência do furacão Katrina, até ao regozijo indisfarçável pelo fracasso da protecção e ajuda que se efectuou, ficou para sempre na nossa memória a desumanidade dessa inqualificável alegria de muitos, que entenderam dever encontrar na desgraça de uma cidade inteira a melhor arma de arremesso político contra o sistema americano.
Parece-me, caro Rui Martins, que, nas grandes catástrofes humanas, a nossa primeira preocupação deve ser poder retirar dos erros cometidos as lições para que nunca mais se repita o que está na nossa mão poder evitar. Infelizmente, uma natureza madrasta está a pôr de novo à prova os americanos, e julgo que é possível perceber que aprenderam a sua lição. Nem sempre os que mais ferozmente os criticaram podem dizer o mesmo.
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