Friday, September 30, 2005

«A paz não é uma garantia; é um desafio constante.» (II)

A propósito de um comentário da IC no post sob este título, aí um pouco mais abaixo, parece-me que as suas preocupações, e de muitos de nós, encontram alimento nas notícias que nos chegam da corrida ao armamento nuclear por parte de países que, no quadro da guerra fria, não tinham possibilidade de marcar posição nesse domínio. É o caso do Japão, apanhado no desequilíbrio decorrente da crescente proliferação de arsenal ofensivo nuclear no este asiático. Como se conclui neste artigo do The Japan Times online, um Japão nuclear parece uma possibilidade cada vez mais próxima.

Sombras chinesas

Ainda segundo os resultados do barómetro, só a Educação se salva no meio da grande queda colectiva do governo. As razões serão a boa governação do sector, ou a adopção de medidas popularmente aceites como moralizadoras do sistema? Quem tiver dúvidas, vá às escolas ver os resultados práticos das medidas desta ministra, avalie-os, objectiva e adequadamente, e depois diga da sua justiça.
Adenda:a liderança do ranking das simpatias pelo ministro Mariano Gago só prova que melhor do que fazer de conta que se faz, é não fazer nada!

"Remember that there is nothing stable in human affairs; therefore avoid undue elation in prosperity, or undue depression in adversity"*

As sondagens valem o que valem, e o seu valor de hoje não obsta a que as decisões de amanhã não as contrariem, rotundamente.
Mesmo assim, os resultados do Barómetro da Marktest para o DN e TSF, relativo ao mês de Setembro, não devem ser, nem descartados com a arrogância que já se sentiu por aí (PS), nem com a jactância de quem ainda não fez por merecer o conforto de voltar a liderar a simpatia dos portugueses (PSD).
O trambolhão do governo compreende-se, pela conjuntura difícil que o país atravessa, mas também pelas trapalhadas que a maioria em S. Bento tem protagonizado nestes 6 meses, caracterizados, sobretudo, pela apropriação voraz das estruturas do Estado. Já o afundamento de Mário Soares parece menos explicável, sobretudo pelas razões que encontra Vicente Jorge Silva, no DN: «Soares menosprezou o capital dos afectos - que sempre foi a sua maior arma política - ao tratar Alegre como um trapo velho. Isso não passou despercebido aos eleitores e Alegre tornou-se o grande calcanhar de Aquiles da campanha de Mário Soares. Mesmo que ainda acabe por desistir do combate contra os seus moinhos de vento, Alegre já relegou Soares para o papel de Sancho Pança.» Se as razões para a queda do ex-Presidente nas intenções de voto fossem apenas estas, não teria o velho senhor razões para preocupação.
Aguardam-se, com expectativa, tanto os triunfalismos bacocos das harpias habituais, como as desvalorizações ofensivas da nossa inteligência, pelas "locomotivas" do poder instalado.
Adenda: a dar razão à afirmação de que as sondagens são como os chapéus do Evaristo, que há muitas, a Visão online dá conta da contradição entre os resultados do barómetro da Marktest para o DN e a TSF e os da Eurosondagem para a Rádio Renascença, Expresso e SIC, também relativos a Setembro, e que continuam a mostrar o PS à frente, mas sem maioria absoluta. Como na loja, há por onde escolher.
*Sócrates, filósofo grego

Thursday, September 29, 2005

Encontro de weblogs

Na Universidade da Beira Interior decorrerá, a 14 e 15 de Outubro, o II Encontro de Weblogs, no qual haverá várias mesas temáticas dedicadas ao fenómeno blogosférico. Consultado o blogue do encontro e o respectivo programa, sabe-se que participarão nomes sonantes do mundo dos blogues em Portugal, de Francisco José Viegas a Pedro Mexia, passando por Manuel Pinto, António Granado, Mónica André, Leonel Vicente e Ricardo Araújo Pereira. Tendo em consideração a expressão deste fenómeno no nosso país, aguardam-se conclusões muito interessantes.
Mal foi posta a correr a possibilidade de Paulo Portas ser candidato às presidenciais, multiplicam-se "notícias" sobre seus ex-colaboradores envolvidos nas campanhas dos autarcas malditos (Felgueiras, Avelino, Isaltino), e até o tipógrafo do Expresso veio a correr lançar achas para a fogueira.
Tamanha preocupação até faz pensar que a candidatura, a concretizar-se, constituirá mais do que um fait divers!

Les Amants

René Magritte

"Quem testemunha pela testemunha?"

Interessante, digo eu, pela forma como se expõe "salteador" do pensamento e estados de espírito de Cavaco Silva, enquanto jovem estudante no estrangeiro: «Não duvido que Cavaco Silva tenha estudado bem na Inglaterra da sua juventude. Mas tenho a impressão de que ele viveu os seus tempos estudantis ingleses como alguém que vinha da Bélgica ou da França, e não de um país totalitário. Faltava-lhe pois o que se chama "consciência política".» Do "mergulho" nas profundezas da mente de Cavaco, ter-lhe-ão ficado as indubitáveis certezas.
Interessante, ainda, pela forma como, em oposição ao percurso de Cavaco, descreve o de Mário Soares, que tendo nascido rico, "Teve sorte", «Só que depois, lutando contra a ditadura, acabou numa prisão em S. Tomé e no exílio já não teve tanta sorte. Mais tarde, nos anos da pós-revolução de Abril, teve os seus problemas para conseguir, juntamente com outros, que Portugal não fosse uma imitação de Cuba, mas sim uma democracia parlamentar
Este olhar cúmplice sobre a legitimidade que o ser de esquerda confere, agravado o tom pela necessidade de culpabilizar, a todo o custo, o que ser de direita representa, remeteram-me para o excelente artigo do Acidental Luciano Amaral, no DN , e bem assim para o clássico Garcia de Resende, no prólogo do seu Cancioneiro Geral:
«E assi muitos emperadores, reis e pessoas de memória, polos rimances e trovas sabemos suas estórias e nas cortes dos grandes Príncepes é mui necessária na gentileza, amores, justas e momos e também para os que maus trajos e envenções fazem, per trovas sam castigados e lhe dam suas emendas, como no livro ao adiante se verá. E se as que sam perdidas dos nossos passados se puderam haver e dos presentes se escreveram, creo que esses grandes Poetas que per tantas partes sam espalhados não teveram tanta fama como tem
Atenta a pergunta de Tabucchi , «quem testemunha pela testemunha?», parece legítimo concluir que, no seu caso, será a isenção, ou melhor, a falta dela.

«A paz não é uma garantia; é um desafio constante.»

Partindo da reflexão sobre uma realidade diária no mundo, em cada país e região, que absorvemos condicionada pelo ruído quotidiano dos media, invoca a urgente necessidade de "encontrar soluções, procurar respostas e harmonizar a sociedade no mundo, no seu global" , alertando-nos para que não vem longe o momento de optar pela "decisão entre uma reorganização política, social e económica, concisa e compreendida de todos, ou de se mergulhar numa forma de conflito que possa actuar como elemento regulador."
A não perder.

Wednesday, September 28, 2005

"Ouvindo os silêncios"

Título do artigo de opinião de Miguel Poiares Maduro, no DN, um belíssimo texto, a não perder, do qual me tocou, particularmente, a seguinte passagem:
«Seja como for, hoje não convivemos bem com o silêncio. Há sempre uma música de fundo onde quer que estejamos. Até nas igrejas, local onde o culto se associava tantas vezes ao silêncio, é hoje frequente entrarmos e ouvirmos em fundo música sacra, como se as pessoas temessem ficar a sós com Deus. Parecemos obcecados em preencher o silêncio como se o silêncio não contivesse vida e, desta forma, um momento de silêncio fosse um momento perdido. Quando nos falam de uma vida intensamente vivida nunca pensamos numa vida vivida em silêncio. »
Recordou-me o meu pai, encerrado num mundo de silêncio nos últimos anos da sua vida, que tão dolorosa e lentamente se finda. Perdido primeiro o ouvido, a forma inteligente e digna como aprendeu a viver os seus, mas sobretudo os nossos, silêncios ficará para todos nós como uma magnífica lição de vida. E agora que já não fala, é no silêncio dos gestos simples que a intensidade do nosso amor mútuo parece melhor expressar-se, talvez apenas porque deles está ausente o ruído das palavras, que tantas vezes deixamos por dizer.

Tuesday, September 27, 2005

Portos


Claude Lorrain

Antologia

She tell her love while half asleep,
In the dark hours,
With half-words whispered low:
As Earth stirs in her winter sleep
And puts out grass and flowers
Despite the snow,
Despite the falling snow.


Robert Ranke Graves

Oportunismos

A apresentação do projecto do TGV foi adiada pelo governo, segundo informação do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. O projecto estava para ser apresentado em Setembro, mas agora foi decidido que só será depois das eleições autárquicas, estando também prevista para Outubro a divulgação do projecto do novo aeroporto internacional da Ota.
Tudo ao sabor dos interesses partidários do PS! Se isto é assim no que todos sabem, imagine-se o que não se está a fazer por baixo do pano!

Quem dá mais?

O Governo deverá anunciar a localização das futuras instalações do aeroporto para as companhias aéreas de baixo custo até Novembro. As propostas são Alverca, Montijo, Figo Maduro e Sintra.

O Jipe da Volkswagen vai ser construído em Wolfsburgo e não em Palmela

E agora, o Ministro demite-se?

Monday, September 26, 2005

«acreditará o primeiro-ministro que alguém o toma a sério?»

Quem o pergunta é Santana Castilho, no seu artigo de hoje, no Público (link indisponível). E neste artigo, o autor aborda um conjunto de questões que o crackdown tem vindo a referir: a disparatada ideia de que a abertura do ano lectivo, no cumprimento do calendário escolar, é proeza a notar e chancela de qualidade para o trabalho da tutela; a confusão que reina nas escolas/agrupamentos com a implementação das medidas lançadas para o terreno pelo governo; a ausência de medidas estruturantes no sector da educação, escamoteada essa omissão pelo foguetório de decisões "populares", postas no terreno sem o devido e adequado estudo e acompanhamento; os escândalos associados a algumas das medidas tomadas (o inglês no 1º- ciclo; o equilíbrio da rede escolar à custa dos privados, a coberto da mais da que conveniente demora das cartas educativas; o português no estrangeiro) e, finalmente, não deixa Santana Castilho de pôr a ridículo os megalómanos projectos do governo para a educação e formação. Escreve ele: «Já tínhamos 150 000 novos empregos, 300 euros de pensão mínima para os reformados, 1000 jovens sábios nas empresas, um choque tecnológico e outro económico, um aeroporto na OTA e um TGV. Faltavam 650 000 jovens no ensino técnico-profissional e um milhão de adultos em formação nos próximos cinco anos. Eles aí estão, anunciados à Assembleia da República com mais uma falácia socialista: o Programa Novas Oportunidades
Tal como Santana Castilho, já não duvido que Sócrates será capaz de nos anunciar, com aquele seu ar de orgulho impacientemente complacente, que chegaremos à Lua antes de os americanos lá voltarem. Pelo menos, aqueles que se vão "governar" à custa destas inquestionáveis decisões socialistas ficarão no sétimo céu.
A medida é já conhecida e recorrentemente aplicada pelos estudantes das diferentes universidades; a expressão do fundamento destas tomadas de posição é que muda, geralmente, com a circunstância política do momento. Neste caso, invocam os estudantes uma obtusa lei do financiamento, a prioridade do investimento do governo em projectos de mais do que duvidoso interesse (OTA, TGV), o autismo e a arrogância do governo no diálogo com as instituições de ensino superior e estudantes, a substituição progressiva do papel da Acção Social pelas instituições bancárias, não deixando de pôr o dedo na ferida da má gestão dos próprios estabelecimentos de ensino superior, para os quais a medida mais fácil de tomar é aumentar as propinas.
O diagnóstico está bem feito, mas duvida-se que governo, universidades e politécnicos sejam capazes de absorver as críticas e inverter a "tendência". O problema tem anos, tem vindo a agudizar-se e nada se tem feito para o resolver. A actuação do MCTES não indicia que se possa ter esperança de uma actuação eficaz neste domínio.
Segundo o Diário Digital, «O deputado socialista Guilherme d`Oliveira Martins só deverá tomar posse como presidente do Tribunal de Contas depois das eleições autárquicas, devido à muita polémica resultante da escolha». Este oportunista compasso de espera manterá o TC sem presidente durante duas semanas. Assim governa o PS este país - ao sabor dos "superiores" interesses do partido .

Sunday, September 25, 2005

Alonso, Campeón del Mundo

Com a Espanha em absoluto delírio, o jovem Fernando Alonso (24 anos) sagrou-se campeão do mundo de fórmula 1 e entra, directamente, para a pole position dos maiores mitos desta modalidade desportiva. Para além da frescura e simplicidade deste jovem (basta tê-lo visto aguentar com impávida e afável tranquilidade a pressão da comunicação social nas últimas semanas, para se perceber que tem estaleca de vencedor) o seu talento em pista faz-nos antever grandes momentos de excelente espectáculo de virtuosismo e velocidade. E é assim que um país, dividido nas suas ferozes autonomias, se une em torno de um dos seus, transformado em mito por mérito próprio.

Tardes de Domingo

Cukor, Montand e Monroe
O prazer do cinema

Mind the gap


A ler, um artigo esclarecedor sobre a preparação mundial para a pandemia da gripe das aves, no Economist.com.

Zen Garden

Akira Kaede

'Diálogo sobre a amizade'

«Porque em primeiro lugar, como pode ser suportável (como diz Enio) a vida que não repousa na mútua benevolência de um amigo? Que coisa tão doce como ter um com quem falar de tudo tão livremente como consigo mesmo? Seria porventura tão grande o fruto das prosperidades, se não tivéssemos quem delas se alegrasse tanto quanto nós mesmos? E se poderiam sofrer as adversidades sem alguém que as sentisse ainda mais que aqueles mesmos que as experimentam?
(...)
A amizade penetra nos menores detalhes de nossa vida, o que torna frequentes as ocasiões de ofensas e melindres: o sábio deve evitá-las, destruí-las ou suportá-las quando necessário for. A única ocasião em que não devemos deixar de ofender um amigo, é quando se trata de lhe dizer a verdade e de lhe provar assim a nossa fidelidade. Porque não devemos deixar de sobreavisar os nossos amigos, ainda quando se trate de reprimendá-los. E nós mesmos devemos levar isto em boa vontade, quando tais reprimendas são ditadas pelo bem querer.»
Cícero

Friday, September 23, 2005

No momento em que o furacão Rita volta a ameaçar populações e cidades no Texas e no Louisiana, convém recordar, do artigo publicado ontem no Diário de Notícias por Luciano Amaral, um dos Acidentais, o que este escreveu a propósito do Katrina:
«Não foi dito na imprensa portuguesa, mas, se incluirmos as regiões atingidas com menor intensidade, o furacão afectou uma área sensivelmente equivalente à que vai de Lisboa a Viena, ou seja, praticamente o conjunto da Europa ocidental. Se incluirmos apenas aquelas onde a intensidade foi maior, uma área equivalente ao conjunto da Grã-Bretanha ou da Itália ou, mais próximo de nós, duas vezes o tamanho de Portugal. Estamos, portanto, perante uma catástrofe que desafia a capacidade de reacção de qualquer Governo, e seria bonito de ver qual a resposta dos Governos europeus depois de os seus países terem sido inteiramente devastados. Dir-se-á que, precisamente, a Europa está ao abrigo de tempestades tropicais. O que, sendo verdade, deveria sobretudo recomendar sobriedade nos comentários. Afinal, quando há dois anos uma vaga de calor conduziu à morte cerca de 40 mil pessoas na Europa, sobretudo por falhanço dos hospitais públicos, não se viu este sururu criticando o Estado Social europeu, o que até viria mais a propósito
Será bom que tenhamos todos a sensatez suficiente para percebermos, quer a dimensão da tragédia de Nova Orleães, quer a da logística a montar para a protecção das zonas e pessoas que serão afectadas pelo furacão Rita, para que não se repitam as manifestações de anti-americanismo bacoco de há três semanas.

Solitude

Edward Raymes
Chegou o Outono.

Antologia

When I go away from you
The world beats dead
Like a slackened drum.
I call out for you against the jutted stars
And shout into the ridges of the wind.
Streets coming fast,
One after the other,
Wedge you away from me,
And the lamps of the city prick my eyes
So that I can no longer see your face.
Why should I leave you,
To wound myself upon the sharp edges
of the night?

Amy Lowell

Pergunto-me:

Fátima Felgueiras teria voltado se o PS não estivesse no governo?
Marques Mendes demite-se se Isaltino e Valentim ganharem as eleições?

Tuesday, September 20, 2005

'Diálogo sobre a amizade'

«Devemos servir ao amigo, primeiramente segundo nossa faculdade e, em seguida, conforme a capacidade daquele a quem se quer servir. Tivesseis todo o poder do mundo, não poderíeis colocar todos os vossos amigos nos lugares mais distinguidos; Cipião, por exemplo, pôde fazer cônsul a P. Rupillius; não fez o mesmo, porém, com seu irmão Lucius. Ainda que pudesseis oferecer tudo ao vosso amigo, seria necessário verificar até onde iam suas forças.
Não se podem julgar perfeitamente as amizades senão quando a idade fortificou e amadureceu os carácteres; e se os moços, a quem anima um gosto semelhante pela caça ou pelos louros, formam entre si certas ligações, não são por isso amigos. A esse respeito, as amas e os pedagogos reclamariam, a título de ancianidade, o primeiro lugar em nossa amizade. Sem dúvida, não devemos esquecê-los; mas a afeição que se lhes dedica é de outra natureza.
Sem a maturidade da razão, não há pois amizade durável.»
Cícero

O "nosso" homem em Belém

O Presidente da República promulgou hoje os diplomas do Governo que estão na origem da contestação das associações militares e que alteram o regime de passagem à reserva e reforma nas Forças Armadas e o sistema de assistência na doença.
Recentemente chegados a Belém (26 de Agosto) e podendo ser despachados até 5 de Outubro, os diplomas foram promulgados exactamente hoje, véspera das manifestações das mulheres de militares.
Quanto vale ter um amigalhaço no sítio certo, no momento oportuno? Sampaio (também) é fixe.

Ainda o referendo

A legitimidade da decisão de Jaime Gama de aceitar a proposta de referendo do PS tem merecido comentários apaixonados, pró e contra. Como nestas análises a paixão não será a melhor conselheira, a serenidade e seriedade dos comentários de Suzana Toscano e David Justino, no 4R - Quarta República , merecem uma especial atenção, também pela controvérsia com Vital Moreira, do Causa Nossa.
Enquanto se aguarda a decisão do Tribunal Constitucional, ficam as palavras de Suzana Toscano: «É que "alinhar" este acto com os actos eleitorais que se avizinham é fazer exactamente o contrário do que tanto se tem proclamado sobre a despolitização da questão do aborto. A decisão deve ser ditada pela consciência de cada um e não por espírito de militância partidária» e a sugestão de Paulo Gorjão, no Bloguítica: «Se o PSD sugerir uma data alternativa -- depois das eleições presidenciais -- Marques Mendes será o grande vencedor desta trapalhada. Mais. O PS fica sem argumentos substantivos para recusar a data proposta pelo PSD»
Já que se trata de espectáculo, rebobine-se o tempo e imaginemos o seguinte cenário: governa a coligação PSD/CDS, é ministro da Defesa Paulo Portas, estreia-se o inenarrável programa da TVI, 1ª Companhia. Conseguem acreditar que o PS relativizaria a questão, que o PC se remeteria ao silêncio e que Louçã tivesse preferido outro canal? Rebobine-se novamente e pasme-se com o que se lê.

Macumba? Não, PS.

«O presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF) acusou esta segunda-feira o Ministério da Saúde de "fazer política" com a redução no preço dos medicamentos e de "omitir" que esta vai ser anulada pelas mudanças nas comparticipações.», Público
«Os genéricos poderão vir a ter um preço "equivalente ou, nalguns casos excepcionais, até mesmo superior" ao dos produtos de marca, segundo adiantou ao DN fonte do Ministério da Saúde.», Diário de Notícias
«Os Centros de Emprego do Continente e Regiões Autónomas contabilizaram 464 888 desempregados candidatos a um emprego por conta de outrem no final de Agosto, segundo estatísticas mensais divulgadas esta segunda-feira pelo IEFP. Em termos anuais, o aumento de 3,4% correspondeu a mais 15 128 desempregados do que no mesmo mês de 2004.», Diário Digital
«O custo laboral português, por hora de trabalho, é o mais baixo da União Europeia a 15, mas está a meio da tabela quando são considerados os novos países do alargamento, de acordo com um estudo alemão, da autoria Instituto de Economia de Colónia, ontem divulgado.», Diário de Notícias
«O indicador de clima continuou a agravar-se em Agosto, atingindo o valor mais baixo desde Setembro de 2003 e o indicador de actividade económica abrandou em Julho, anunciou o Instituto Nacional de Estatística (INE) esta segunda-feira.», Diário Digital

Monday, September 19, 2005

'Diálogo sobre a amizade'

«Mas tirando-se tantos e tão grandes proveitos da amizade, o maior de todos é o que faz conceber belas esperanças, para tudo que possa sobrevir, e não deixa que desfaleçam ou se acovardem os ânimos. Porque o verdadeiro amigo vê o outro como a uma imagem de si mesmo. E assim, se fazem presentes ou ausentes, fartos ou necessitados, poderosos ou fracos, e o que é mais difícil de crer, vivos ou mortos. Tal é a honra, o desejo, a memória que sempre os acompanha dos seus amigos.
(...)
Porém na amizade nada é fingido, nada dissimulado, tudo quanto nela há é verdadeiro e tudo provém da vontade. E assim, mais me parece que a amizade é filha da natureza do que da necessidade. E mais da aplicação da alma com certo sentido de amar que do pensamento das utilidades que poderá trazer.»
Cícero

«É melhor que fale por nós a nossa vida, que as nossas palavras»*

Dulce Rocha, desde hoje ex-presidente da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, abandona as suas funções com críticas duras aos sucessivos governos, por falta de empenhamento sério destes nas questões dos jovens em risco. Tem a senhora toda a razão, e lembro que já aqui se referiu essa continuada demissão dos responsáveis políticos, que apenas reagem, mediaticamente e mal, no rescaldo de sevícias e morte violenta de crianças, infelizmente uma situação que se tem tornado habitual na sociedade portuguesa.
Acontece que, apesar de ter razão, as críticas de Dulce Rocha, no momento em que são proferidas, não deixam de parecer um acerto de contas, numa mal digerida saída do cargo, e uma justificação de “mau perdedor” sobre a obra que fica por fazer, tendo esta ex-responsável criado, com estas declarações, precedente para que se lhe possam pedir responsabilidades. Responsabilidades não pelo que deixa por fazer, mas por não ter publicamente denunciado, com a mesma veemência, transparência e zelo, as carências que agora reconhece terem sido uma constante nos serviços que tutelou durante dois anos. Sei como se espera de qualquer responsável, em situação idêntica, que tente convencer os governos a investirem mais e melhor no respectivo serviço, que procure encontrar melhores soluções com os meios de que dispõe, que faça por gerir o problema identificado na óptica do antes pouco do que nada, mas há áreas em que esta actuação, que alguns designam de institucionalmente solidária, outros de profissionalmente cautelar, mas a que eu prefiro, generosamente, apelidar de “low profile”, tem que ter um limite temporal restrito, sob pena de se porem em risco vidas humanas, como é este o caso.
Dulce Rocha não poderia ter demorado dois anos “a virar a mesa”, não poderia ter ficado pacificamente à espera de ser substituída para vir para os jornais denunciar, alto e bom som, a situação. Exigia-se-lhe que, em nome dos jovens em risco, que hoje tanto a preocupam, tivesse tido a coragem de vir para a comunicação social denunciar carências, exigir recursos, usar, não em favor da sua actuação como presidente da CNPCJ, mas dos reais interesses daqueles que servia, todo o poder de dar visibilidade a uma situação, que um responsável, sobretudo quando lhe assiste razão, consegue ter quando decide publicitar a ruptura com o governo que o tutela. Os conformistas do politicamente correcto estarão a torcer-se com o que escrevo, ao advogar aqui uma atitude institucionalmente pouco correcta; dirão até que, se não tinha a senhora as condições de que precisava, deveria apenas ter-se demitido, silenciosa e formalmente, para que as regras da solidariedade institucional não fossem beliscadas; serão esses os mesmos que hoje lêem esta notícia e passam à frente, tranquilizados porque amanhã é vida nova, há outro responsável, e tudo volta ao normal. Volta, é certo, até à próxima saída e à nova nomeação, se o recém empossado não perceber que, neste cargo, antes de tudo o mais, o que se lhe exige é ser GENTE. Não conhecendo o senhor, na dúvida, permito-me especular sobre quantas mais Joanas, mais Andreias e mais Tiagos serão necessários para que se inverta a situação.
* Mohandas Gandhi

Sunday, September 18, 2005

PIDE*

Agentes do SIS infiltraram-se na marcha anti-gay, alegadamente para «ouvir conversas, trocar impressões breves com os participantes e organizadores da manifestação anti-gay, com o propósito de os identificar e caracterizar».
* Podemos Imaginar Deliciosos Encontros

Antologia

Tell me not here, it needs not saying,
What tune the enchantress plays
In aftermaths of soft September
Or under blanching mays,
For she and I were long acquainted
And I knew all her ways.

On russet floors, by waters idle,
The pine lets fall its cone;
The cuckoo shouts all day at nothing
In leafy dells alone;
And traveller’s joy beguiles in autumn
Hearts that have lost their own.

On acres of the seeded grasses
The changing burnish heaves;
Or marshalled under moons of harvest
Stand still all night the sheaves;
Or beeches strip in storms for winter
And stain the wind with leaves.

Posses, as I possessed a season,
The countries I resign,
Where over elmy plains the highway
Would mount the hills and shine,
And full of shade the pillared forest
Would murmur and be mine.

For nature, heartless, witless nature,
Will neither care nor know
What stranger’s feet may find the meadow
And trespass there and go,
Nor ask amid the dews of morning
If they are mine or no.

A.E. Housman

Saturday, September 17, 2005

Até na arte?

Diogo Infante é o novo director artístico do Maria Matos.

Man or Mice?

De acordo com o Diário Digital, a TAP foi a companhia aérea escolhida pela Airbus para testar o uso de telemóveis a bordo.
Presume-se que os passageiros, transformados em cobaias, beneficiem das adequadas medidas de que a experiência não poderá deixar de rodear-se: informação prévia e caso a caso; redução do preço das viagens; seguros específicos a cargo da transportadora; para não mencionar o essencial: a garantia de que estarão previamente testados, e serão aplicados em cada aeronave, os recursos técnicos conhecidos, a utilizar em caso de falha provocada pela experiência.
Irá a TAP esclarecer-nos sobre as contrapartidas* de tal "distinção"?
* na perspectiva do utilizador/pagador!

Não é SE, é QUANDO!

A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem alertar o mundo para a necessidade de se preparar para perder parte substancial da sua população em consequência da pandemia de gripe das aves, inevitável, quanto aquela organização. Já não é uma questão de saber se o vírus se transmitirá aos humanos, resta apenas saber quando a pandemia se concretizará. Uma vez mais, serão os países mais pobres os mais afectados, e os países ricos do norte os que melhor capacidade têm para enfrentar a pandemia.
Como diria o senhor engenheiro, «é a vida»! E nós por cá a preocuparmo-nos com um aperto de mão e uma casa de banho!

Não digam que eu não avisei!

Quando anteontem escrevi isto, referi que o clima de conflito e desorientação que se vive nas escolas não transparecia para a opinião pública. Foi preciso o Primeiro-Ministro e a senhora ME serem vaiados na região centro para que a comunicação social abordasse a questão. A seriedade das apostas para o futuro propagandeadas por Jorge Coelho está agora à vista de todos.

Ensino do Inglês no básico sem financiamento garantido

Como eu já escrevia aqui, era quase certo que o anunciado financiamento do ensino de inglês no primeiro ciclo não seria suficiente para o sucesso do projecto, entretanto largamente propagandeado pelo Governo. Começam agora a evidenciarem-se as dificuldades de implementação de uma medida, que não foi minimamente ponderada antes de ser passada à prática. Nesta notícia dá-se conta de como o assunto foi tratado em cima do joelho pelo ME e refere-se aquilo que há semanas corre como um rumor: serão alguns institutos de línguas privados quem mais vai ganhar com a iniciativa. Nem merece a pena perder tempo a pensar a quem pertencem...

Friday, September 16, 2005

Que mal pergunte (III)

Será que ele não tem vergonha de nos querer fazer engolir isto?

Que mal pergunte (II)

Pacheco Pereira foi segurado antes do final. Pode dizer a página com a solução, SFF?

Que mal pergunte (I)

Atendendo à intensa produção de Vital Moreira no Causa Nossa, não deveria este chamar-se Causa Minha?

Sente-se o fim do Verão

Abertura do ano lectivo - notas soltas

1 - Começou o ano lectivo, como vem sendo habitual, excepção feita ao desastre do ano passado. Isto é, no período estabelecido no calendário escolar para o início das aulas, as escolas deste país foram recebendo os alunos, devendo encontrar-se em pleno funcionamento a partir da próxima semana. A maioria dos professores está colocada, as situações pontuais de carência de docentes estão a ser resolvidas, vão-se tapando, mal, os buracos da falta de pessoal auxiliar de apoio, os professores de técnicas especiais e as equipas de apoio lá se vão constituindo, tudo como sempre, esteja na 5 de Outubro um ministro PS, ou PSD. É a “máquina” a cumprir o seu ritual e o seu calendário. Que este ano, por via do desastroso arranque do ano lectivo passado, o Governo quer apresentar como um caso de sucesso nunca visto, a acreditar em notícias partidariamente influenciadas, ou no discurso de alguns influentes próximos do governo. Gostaria de ver mais honestidade por parte do Governo, passando à opinião pública a justa medida do “sucesso” desta abertura do ano lectivo.
2 – A “normalidade” no cumprimento do calendário de abertura do ano lectivo não deixa, no entanto, de estar ferida por um clima de insegurança, conflito, desmotivação e angústia, que está a pôr as escolas em pé de guerra e os professores à beira de um ataque de nervos. Como é hábito quando governa o partido socialista, esta difícil situação, que se vive na maioria das escolas, está a ser magnificamente silenciada pelo Governo, circunscrevendo-se o seu conhecimento ao universo interno das escolas. E tudo isto porquê? Porque as medidas do governo, que obrigam os professores a passarem mais tempo da sua componente não lectiva nas escolas, foram decididas, impostas e a sua implementação imediata exigida, sem que o governo tivesse assumido a liderança do processo, quer acautelando a adequada regulamentação, quer criando as condições necessárias a uma justa, equilibrada e uniforme aplicação das orientações gerais emitidas. Resultado: atirada a responsabilidade das decisões, sobre a forma como será gerida esta componente não lectiva, para os conselhos executivos das escolas, a disparidade de situações entre escolas, e mesmo entre grupos disciplinares numa mesma escola, é de tal forma flagrante, que os conselhos pedagógicos ameaçam tornar-se autênticas arenas de gladiadores. Dir-se-á que o tempo atenuará as diferenças e que as situações tenderão a padronizar-se, os conflitos a esbater-se, os professores a vergarem-se ao inevitável. Pois será assim, mas, entretanto, as relações profissionais azedaram, a desmotivação é completa, os benefícios imediatos para os alunos são uma incógnita. Portanto, neste capítulo, sobre “normalidade” estamos conversados. Parece ignorar o governo que dificilmente poderá efectuar, com sucesso, mudanças na educação, de costas voltadas para os professores e explorando a clivagem política e a relação conflitual nas escolas. Note-se que este é um caso paradigmático da actuação dos actuais responsáveis da 5 de Outubro: impõem medidas que seriam inquestionavelmente necessárias, mas que são apenas correctas na aparência, porque não foram adequadamente pensadas, implementadas, muito menos responsavelmente assumidas pela tutela, em trabalho de parceria com os restantes agentes educativos.
3 – As grandes medidas da senhora ME, tão consensualmente aplaudidas, são também, e em medida considerável, uma realidade bastante ficcionada. O inglês nas escolas do 1º ciclo vai funcionar, essencialmente, como era esperado, sem esta tão publicitada decisão do governo. Várias autarquias o propiciavam já aos alunos, o calendário de alargamento para uma cobertura plena da rede de escolas do 1º ciclo era imparável, o reforço financeiro prometido não assegurará que essa cobertura plena se torne, já neste ano lectivo, uma realidade. Quanto ao alargamento do horário das escolas do 1º ciclo, ficará a senhora ME surpreendida com o descontentamento de inúmeros pais em relação a esse novo horário? Pois não devia, porque muitas crianças deixam de poder conciliar o horário da escola com os ATL e as famílias ficam sem o apoio que estes constituiam, encontrando-se a braços com novas formas de organização familiar, para a guarda e apoio nos trabalhos de casa das suas crianças. Mais uma vez, a imposição cega de uma medida aparentemente boa para uns, prejudica comunidades escolares inteiras, e o Governo silencia os problemas, que conhece.
4 – As reacções do ME ao relatório da OCDE foram, no mínimo, de uma confrangedora falta de honestidade intelectual. Silêncio satisfeito sobre o que no relatório se escreve quanto ao facto de os professores portugueses serem dos que menos tempo passam nas escolas, vista esta referência como uma oportuna e externa “justificação” para as medidas do governo, a que já aludi. Pelo contrário, mereceu da Ministra uma indignada contestação da fiabilidade do relatório o que neste se refere ao investimento e apoio financeiro que Portugal dá aos alunos. Entendeu a responsável do ME fundamentar a sua contestação a este ponto do relatório com a diferença entre sistemas educativos, que, em sua opinião, o relatório não teria tido em conta. É caso para perguntar se entende a senhora que esta diferença apenas influenciará este ponto específico do relatório, e não o que nele à organização escolar diz respeito. Uma vez mais, dois pesos e duas medidas do Governo.

Thursday, September 15, 2005

Apostamos?

Que, se Cavaco anunciar que se candidata a Belém, as sondagens que agora lhe dão uma confortável vantagem se alteram de imediato?

A não perder

Mr. Bean, no Diário da República, sobre a nomeação de Oliveira Martins para o TC, onde, entre outras pérolas, se escreve o seguinte:
«Esta nomeação vem relançar a tradição mais sinistra do salazarismo de nomear ex-ministros para a presidência do Tribunal de Contas. Cumpre lembrar, a este propósito, que, em 25 de Abril de 1974, o presidente do Tribunal de Contas era o ex-ministro Gonçalves Rapazote.De resto, Oliveira Martins nem sequer foi um ministro particularmente brilhante, tendo-se prestado até, como ministro das Finanças, a um tristíssimo papel, quando o governo de Guterres já fazia lembrar vagamente a República de Saló

A felicidade é algo duradouro e indestrutível - George Sand


creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. amém.

Natália Correia

Wednesday, September 14, 2005

Inimputável?

Octopussy (IV)

«Mário Soares reafirmou numa entrevista a rádio francesa Alfa que o antigo primeiro-ministro Cavaco Silva não tem perfil para ser Presidente da República. "No meu entender, Cavaco Silva não tem perfil para Presidente da República e não tem a formação humanista que deve ter um presidente de Portugal", afirmou.», Expresso online.

Octopussy (III)

«O chefe da Divisão de Informações Militares (Dimil), general Vasco Canelas, foi exonerado do cargo que exercia há cerca de dois anos e meio, segundo a edição desta quarta-feira do Público. (...) A Dimil é um serviço de informações militares tácticas e estratégicas.», Diário Digital

Octopussy (II)

«Guilherme d’ Oliveira Martins garante que vai desempenhar com «isenção» o cargo de presidente do Tribunal de Contas (TC). O ex-ministro das Finanças de António Guterres tentou esta quarta-feira tranquilizar a oposição, que critica a sua escolha alegando promiscuidade entre cargos políticos e institucionais», Diário Digital

Octopussy (I)

«O Governo contratou António Vitorino para representante do Estado nas negociações com os italianos da ENI, no processo de recomposição accionista da Galp. (...) Formalmente, a entrada em cena de Vitorino passa pela contratação dos serviços jurídicos da Parpública da Gonçalves Pereira, Castelo Branco & Associados, uma sociedade que tem Vitorino como sócio.», Jornal de Negócios
Adenda: «O ministro da Economia, Manuel Pinho, negou hoje que o Governo tenha entregue o “dossier” da Galp Energia ao ex-comissário europeu António Vitorino. (...)Ainda de acordo com o ministro, a Parpública, representante do accionista Estado na Galp Energia, continua a ser assessorada pela mesma firma de advogados há cerca de três anos.Manuel Pinho acrescentou ser a Galp quem, "no âmbito da sua autonomia de gestão, tem uma relação com a firma de advogados Gonçalves Pereira e Associados, com a qual trabalha António Vitorino".» Público, 15/09/05.

Tuesday, September 13, 2005

Julgo ter lido que Soares terá comentado sobre o seu previsível oponente, da área da direita, na candidatura a Belém, que Cavaco é o candidato possível. Numa semana em que as sondagens lhe são adversas, a escolha do termo, se efectivamente Soares o empregou, mostram bem como a astúcia e o killer instinct do velho leão se mantêm inalteráveis.

«A tolerância é com as pessoas, não com os actos.»*

Só hoje li o desafio do Bloguítica, com a oportunidade que o atraso criou - ter acesso imediato à fase seguinte: a reacção de Pacheco Pereira ao mesmo; a reformulação do próprio Bloguítica, comentários de adesão ou rejeição, nomeadamente na Grande Loja, no Abnegado, no Tugir em Português, no bombyx mori, no Causa Nossa e em vários outros blogues.
Cultivando um hábito que me parece saudável, até na blogosfera - não repetir argumentos que outros já expuseram, sobretudo quando o fizeram brilhantemente - julgo que ainda sobra espaço para uma nota pessoal, até porque, afinal, é essa a finalidade mais comum de um blogue: ser um espaço de registos pessoais.
O meu dilema foi, está a ser, este: depois de uma reacção instantânea de rejeição ao desafio de Paulo Gorjão, numa primeira fase entendido por mim como uma caça às bruxas na pior linha de denúncia social, que a minha memória pessoal e o meu "imaginário histórico" me fazem, de imediato, repudiar, pergunto-me agora se cada um de nós tem o direito de, em nome dos próprios demónios, ser tão democraticamente "asséptico" na denúncia, que mais não faz do que criar o meio mais favorável para a emergência e a proliferação das teias de clientelismo e das redes de corrupção que minam a nossa democracia. Ou seja, interrogo-me até que ponto não haverá uma boa dose de cobardia individual numa confortável reacção de repúdio por estas formas de denúncia quando, só depois de tranquilizada a nossa consciência individual pela omissão da mesma, somos capazes de, colectivamente, culparmos o "sistema" pelas perversões que gera?
Adenda: O crackdown é um cliente fidelizado do excelente Diário da República. Incompreensivelmente, escapou-lhe o post que dedicou a este desafio e no qual se faz uma pergunta fundamental: «Não caberia neste desafio, por exemplo, a elencagem de ex-governantes que transitam directamente para empresas de sectores que antes tutelavam? »
* Padre Vasco Pinto de Magalhães

Monday, September 05, 2005

Saturday, September 03, 2005

Uma excelente notícia para os professores deslocados centenas de quilómetros. E para os médicos escrevinhadores de atestados. E para os candidatos à docência que se encontram desempregados.
Senhora Inspectora-Geral, já começou a preparar os seus serviços para as actuações que se impõem?

Friday, September 02, 2005

O que o Katrina revelou *

* Sob este título, em dois posts, o DR resume, muito bem, o mais importante. Para além da sintonia com o que escreve, a alguns de nós resta, ainda, o sentimento, a que também nos devemos permitir dar espaço.
Nunca estive em Nova Orleães. A imagem que tenho da cidade é aquela que os livros, os jornais, a televisão e os filmes me permitiram “construir”. A traço muito grosso, uma cidade de confetti e mardi gras, em que há funerais a pé acompanhados por negros que sopram instrumentos vários ao ritmo sincopado de velhas melodias “tribais”; uma cidade baixa, negra e boémia, muito pobre mas com a alegria falsa do vaudeville, de costas voltadas para a cidade alta, de vivendas colonial american enfeitadas ao estilo boudoir, em que damas brancas de pele encarquilhada beberricam chá gelado ao som irritante de grafonolas perdidas no tempo, enquanto suspiram envoltas em nuvens de fumo que saem de conspícuos cigarros pendurados em boquilhas de meio metro. É Hollywood no seu esplendor, bem sei, mas amigos que por lá se perderam há uns anos reconhecem que basta retirar ao quadro a magia do celulóide, pintar-lhe as cores agrestes deste século da tecnologia e da indiferença humana, e tudo o resto pode resumir-se à dicotomia simplista que o nosso imaginário construiu. Acrescente-se que os negros são a grande maioria, que entre o voodoo, a prostituição e a droga, vivem nos limites de uma mendicidade folclórica, porque expressa em francês o velho sonho americano, com o qual têm tanto a ver como eu com os papuas da Nova Guiné.
Nunca estive em Nova Orleães, mas esperava estar, um dia. Com as águas que inundaram o bairro francês, morreu o meu sonho, tal como morreu o trompetista cego que actuava nos cafés da principal, mais os seus velhos e boémios amigos, as suas prostitutas e os jovens drogados que dormiam nos becos por onde as suas sombras se perdiam, quando rompia a manhã.
No país dos gigantes de vidro e aço, também eles de pés de barro, como um outro Setembro trágico demonstrou, Nova Orleães era uma cidade especial, vulnerável e frágil, qual baralho de cartas que um sopro destruiria. A sua fragilidade era o seu encanto, mas os cataclismos naturais não fazem viagens culturais, nem respeitam as obras de arte. O Katrina foi o intrumento da destruição, a incúria dos homens apenas lhe agudizou os efeitos. Olharmos agora, crítica e filosoficamente, sobre as escolhas racistas da morte e da destruição não será apenas a prova do nosso esquecimento do que foi, até há poucos dias, Nova Orleães, pérola do património deste imaginário colectivo? Alguma vez nos lembrámos de que o que alimentava o nosso deleite poderia ter um preço demasiado caro?
Nunca estive em Nova Orleães, sei agora que nunca lá irei, mesmo que um dia possa calcorrear as ruas que o Katrina inundou. A Nova Orleães que “conhecia” morreu, a que surgir no seu lugar será mais forte e, espero, mais justa na distribuição do risco e da riqueza. Não terá, contudo, o mesmo encanto decadente.
Sinto sempre um pouco o ridículo de chamar a atenção para a qualidade da análise efectuada num post por Pacheco Pereira, no seu ABRUPTO. Considerado o profissionalismo do autor, a admiração de um desajeitado amador quase pode ser entendida como um abusivo pôr-se em bicos dos pés, o que não é, de modo algum, o caso.
Acontece que o seu post - Um Katrina muito nosso - é de imprescindível leitura para quem, na impunidade e facilidade da actividade de blogar, se atreve a tecer comentários, a opinar e mesmo a querer "ver" para além do visível, no que à situação política nacional se refere.
Escreve JPP:
«A nossa incapacidade, herança péssima do salazarismo e do atraso, de pensar e de fazer política fora da imprecação e da acusação moral é reveladora da nossa condição terceiro-mundista. É o equivalente em política ao feio que alastra a partir da Estrada Nacional 1, tem as mesmas origens, a mesma mecânica.Podia ser diferente? Claro que podia. Com esforço podia, mas duvido que o seja. A trituradora já está a funcionar com o seu habitual contingente de assessores, jornalistas, políticos, autores de blogues. O seu primeiro esforço vai ser a igualização moral (cívica, política): são todos iguais, ninguém é diferente, são todos tão maus como nós somos. Depois desta terraplanagem moral, então pode-se ir ao business as usual, como lhes convém.
Posso fazer diferente?»
Que cada um seja capaz de procurar a sua resposta.

Memento

Thursday, September 01, 2005

«O verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, é a indiferença da alma »*


O passeio de Soares começou, como esperado. Aos pés, um PS domado e um governo agradecido. Pululando em redor, inimigos de sorriso amarelo, amigos em radiante euforia, passados e futuros acólitos em reverente e esperançada subserviência. Déjà vu, sem dúvida, mas até isso transforma num trunfo. Goste-se, ou não, em política Soares tem o toque de Midas.
*André Maurois