Tuesday, August 30, 2005

Não vás, poeta, além da tua trova.

Foi tudo triste. O momento escolhido, véspera do anúncio da candidatura de Mário Soares, o tom e a forma do discurso, aquela indecisa disponibilidade ainda lançada para a mesa, como que à espera de uma mão estendida, de um movimento que o reponha na estrada de leite e mel que lhe deram a provar e da qual o expulsaram, sem contemplação. Há quem lhe tenha reconhecido a dignidade dos homens ingénuos e puros. Admito que alguma réstea dela por ali andasse perdida, mas tudo o resto foi de tal forma patético, que não a consegui vislumbrar. Uma pena, mas já passou. Fica-nos sempre o poeta.

2 comments:

manuel cabeça said...

lamento discordar, mas considero que foi um momento que marca não apenas o poeta mas a própria poesia e, mais fundo que isso, o país que a vive e sente.
Não há poesia, nem poeta, sem amargura, descontentamento ou desamor.
Manuel Alegre foi isso mesmo. Um poeta.

crack said...

Caro Manuel Cabeça
A discordância é sempre bem recebida, mas não vejo bem onde a vê. Chamei triste a um acto que se devia esperar político, mas em que esteve apenas o poeta, confuso e titubeante, ainda por cima. Por isso foi triste. E se bem reparou, para além do título, que o insinua, eu também fui dizendo que nos ficará sempre o poeta...
Quanto a marcar o país, recordemos Zenha; marcou, para além de umas referências oportunas? Os países esquecem depressa e sentem pouco.