A degradação da vida interna das escolas é um facto que tem sido, conscientemente, silenciado, tanto pelos responsáveis políticos, como pela sociedade e pelos agentes e utentes do sistema educativo. Há muitos anos que a indisciplina, a violência, verbal e física, os comportamentos desviantes, e os "casos" sexuais, são arrumadinhos em documentos internos reservados, e em processos disciplinares confidenciais, protegidos de divulgação generalizada pela natural reserva dos agressores e pelo pudor das vítimas. Esperava-se que o agravamento galopante, e a seriedade das situações, acabassem por romper este véu de coniventes silêncios, e que chegasse ao conhecimento da opinião pública o que é, na realidade, o quotidiano escolar de milhares de alunos, funcionários e docentes, no filme de violência em que se transformou o dia-a-dia de grande número de escolas portuguesas. Quebrou-se o silêncio, mais por força de uma comunicação social ávida de sensacionalismo, do que por pressão das vítimas, ao fim e ao cabo, um número muito significativo de pessoas que utilizam e servem o sistema educativo. Primeiro, foram as notícias de agressões e ameaças a professores, de violência entre e sobre alunos, de indisciplina constante. Agora, salta para a capa de uma revista aquilo que já todos sabiam, mas queriam varrer para debaixo da alcatifa dos bons costumes - pratica-se sexo dentro das escolas. Confesso que, da Sábado, só vi, ainda, a capa, mas, apesar do título "cuidadoso", espero que a notícia "bombástica" não fique pela referência às aventuras sexuais de alunos adolescentes (maiores de 14 anos,ahahah!), nas casas de banho mistas das escolas. No estado a que a coisa chegou, quase poderíamos sorrir e levar as experiências destes alunos à conta de erros de juventude (pelo menos, estes seriam, mesmo, erros de juventude, e bem adequados às pulsões da idade; se desculpamos outros erros, bem mais graves, a gente com alta responsabilidade política, podemos ser indulgentes com as "escapadelas" dos alunos, sobretudo dos maiores de 14 anos, ahahah). A revista Sábado, quando resolveu pegar no assunto, não deverá ter ficado pela ponta do iceberg, pelo que não deixarão, decerto, de serem feitas referências aos abusos sexuais que existem, dentro dos portões das escolas, praticados por alunos, funcionários e professores sobre alunos das mais variadas idades, e de ambos os sexos. E não deverão, também, ter sido esquecidos casos mais raros, mas cuja incidência tende a registar aumento, de abusos e humilhações de natureza sexual, sobre funcionários e professores, no seu local de trabalho. A protecção das vítimas, a grande desculpa para o silêncio, pode, e deve, ser garantida, mas a divulgação dos números, da natureza e tipo das agressões sexuais ocorridas em meio escolar é um dever. Porque é esta uma realidade nossa, sobre a qual temos deveres de cidadania, e para que todos saibam os perigos com que devem contar, mesmo dentro do que deveriam ser os protectores portões das escolas. As medidas de natureza puramente economicista que têm vindo a ser tomadas (pesados cortes no número de auxiliares de acção educativa, de mediadores, de vigilantes, de equipas multidisciplinares, de apoios educativos, em sentido mais amplo) fazem antever o agravamento da incidência destas situações, e não são compensadas com a maior exigência, em número de horas passadas nas escolas, aos professores. A não ser que a notícia da Sábado tenha sido uma ponta de lança posta na comunicação social, para preparar, e justificar, uma futura decisão ministerial de pôr os vinte mil professores excedentários a patrulharem as casas de banho das escolas. Deste governo já podemos esperar tudo.
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