Tuesday, April 17, 2007

A Fé é que nos salva

Sou daqueles que começaram por desvalorizar a questão das habilitações de Sócrates. Porquê? Apenas porque o que o senhor estudou, quando e onde, me parecia bastante irrelevante, quer para justificar a sua performance como governante, quer como arma de arremesso político. Fui, portanto, dos que se enganou, ao julgar, como um fait divers, esta questão. A sucessão de inverdades, de erros, de acusações cruzadas com falsas afirmações, sobre ainda mais falsos acontecimentos, depressa me fizeram perceber a ligeireza da análise que fizera. Como eu, estarão muitos portugueses, esmagados pela sucessão de "erros de secretaria" de uma Universidade, que o governo, lestamente, se apressou a "matar", a prazo anunciado.
Hoje, soube-se que Sócrates fez o célebre Inglês Técnico, num TPC resumido a uma folhinha A4, provavelmente produzido, com assinalável esforço e mérito (Gago dixit), num intervalo da sua pesada agenda ao serviço do governo. Até aqui, era, apenas mais uma trapalhadazita a somar a todas as outras. São já tantas, que mais uma, menos uma, Bahh...! Acontece que, também nesta trapalhadazita, a tal secretaria manteve bem alto o seu padrão de eficiência - voltou a errar. Resultado? Sócrates obteve um certificado de Licenciatura ainda antes de ter concluído o tal Inglês Técnico. Falsificação? Erro de secretaria? Dada a nossa tradição cristã, começo a ver nesta sucessão de certificações prévias apenas uma grande, enorme questão de Fé. Fé na palavra do aluno Sócrates, Fé nas capacidades do aluno Sócrates, Fé na capacidade de manter secretos todos estes factos, Fé na inimputabilidade dos falsificadores, Fé na Fé que o Primeiro-ministro espera de nós, depois do seu número televisivo.
A fazermos Fé nas lições de vida, que GENTE séria tem dado ao mundo, um governante que assim vê exposto um percurso formativo de contornos tão trambiqueiros só tem um caminho - sair de cena, mesmo que não pareça haver alternativa, ou outra solução credível (e há, sempre). Aos que lhe estão mais próximos, cabe o dever de lhe fazer ver que são já demasiadas, pesadas e indiscutíveis acusações, para que as possa varrer para debaixo do tapete. Agora, pelo próprio Sócrates, pela democracia e pelo bom nome de Portugal, pede-se aos decisores coragem com ponderação, mas também celeridade na acção, que os estragos começam a atingir outros, que não apenas os culpados directos.

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