Tuesday, July 26, 2005

Com a seriedade e serenidade a que nos habituou, JPP continua a comentar as candidaturas presidenciais, hoje abordando a questão da idade de Soares, que comenta assim:
«O mais estúpido dos argumentos contra Soares é a idade (será que a apologia publicitária e mediática da juventude nos faz esquecer que vivemos numa sociedade de velhos?). Não é a idade, é a política
Chama muito bem à ribalta os 81 anos de Soares, porque, de facto, tem sido lamentável assistir à generalidade dos comentários nos media e às intervenções políticas, em que quase nenhum escapa ao factor idade, nuns como um óbice à candidatura, noutros para desvalorizarem o facto, como irrelevante, comparativamente à experiência e savoir faire políticos de Mário Soares. Parece-me, da forma como leio JPP, que ele não cai em nenhuma destas armadilhas.
Estive há pouco tempo num evento público de dois dias com Mário Soares, em que ele fez umas pequenas intervenções. Não o via, em pessoa, há bastante tempo e achei que acusa o peso da idade - na postura e aparência físicas, numa certa falta de vivacidade no olhar, também naquela puerilidade que costuma anteceder o princípio da senilidade. Notei-lhe ainda algum cansaço e uma maior dificuldade em seguir o fio do próprio raciocínio, o que é normalíssimo numa pessoa da sua idade, saudável e lúcida, mas octagenária. Pode ter sido um momento, uma circunstância? Admito que sim, mas não me parece que tenha sido, porque o quadro é o razoável, num homem da sua idade, em «bom estado». Ora isto não chega para assustar, não o inibe para as funções, não deve, portanto, ser o factor de peso na crítica à sua candidatura. Aqui, concordo, inteiramente, com JPP, e mais ainda com a sua breve, mas acutilante, chamada de atenção para este fenómeno sociológico do galopante culto da juventude numa sociedade crescentemente envelhecida. Mas se esta factor idade não é, por si só, uma condicionante, não me parece que deva ser, levianamente, posto de lado. Aos oitenta anos as situações evoluem muito rapidamente, mas, mais do que um estado de visível debilidade física e mental, o perigo reside nas alterações subtis de humor, na deficiente percepção da realidade, nas crises de pusilanimidade, no recentrar de objectivos em plataformas de acção que conseguem gorar todas as expectativas. Parece-me que será, neste particular, que preocupa a idade de Soares , ou melhor, o que ele poderá fazer com ela. Mais do que agarrar-se a visões e esquemas do passado, o risco corre-se na forma como ele viverá e entenderá o presente, sabendo que, para si, o futuro é apenas um testamento político.

3 comments:

Anthrax said...

Como diria eu: EXACTLY!

Ao contrário do que possa ter transparecido em alguns dos meus comentários - que podem eventualmente ter tocado a falta de educação - a questão da idade levantada por muitos (mesmo aqueles que o fazem com pouco tacto), prende-se com limitações derivadas da mesma. Por isso é que, no meu blogue, digo que se trata de uma questão de tempo. Tudo tem o seu tempo.

Creio que não é agradável para ninguém ser chamado de "velho", principalmente numa sociedade moderna onde tudo se faz para não se envelhecer. Ser velho, de hoje em dia, é estar já com os pés para a cova e sinónimo de doença. Mas também é verdade que, como diria o Virus, há aqueles que se prestam a esse papel. Ou porque se recusam a envelhecer e depois fazem figuras tristes, ou porque não sabem envelhecer e depois também fazem figuras tristes.

Penso que o truque aqui é saber viver cada fase da vida e gerir, da melhor forma, o tempo que nos é dado.

O JPP até pode achar que a questão da idade é o argumento mais estúpido, compreendo perfeitamente a sua perspectiva clássica dos «Sábios». Mas penso que, de facto, a questão da idade tem mesmo um peso muito grande.

crack said...

«Penso que o truque aqui é saber viver cada fase da vida e gerir, da melhor forma, o tempo que nos é dado»
Meu amigo Anthrax, palavras sábias!

Anthrax said...

Ah ah ah ah! "Sábias" não.

Foi apenas um breve momento de inspiração. Uma musa que por aqui andava a atazanar-me. Livrou-se de levar uma cacetada na cabeça foi o que foi, senão tinha-a prendido aqui ao pé da minha mesa que era para não ir para mais lado nenhum.