1 - Teixeira dos Santos ainda não deveria ter chegado ao seu gabinete vindo da tomada de posse e já fervia a controvérsia da sua não declaração de rendimentos e património ao Tribunal Constitucional, desde 2000. Enquanto alguém estuda se há, ou não, fundamento para estas críticas ao novo patrão das finanças, foram-me ocorrendo uns pequenos nadas: sabendo que, hoje em dia, a devassa da privacidade está garantida a todos os que exercem cargos governativos, não será que quem tem aspirações a tais cargos deve pautar a sua vida por rigorosos parâmetros de cumprimento dos deveres cívicos e legais? ora, se este «ministeriável» não o fez, esquecendo o exemplo da mulher de César, de que outras coisas se irá esquecer? Sócrates, manifestamente, não encontra quem não tenha telhados de vidro, ou será que nem se dá ao trabalho de verificar se os seus escolhidos os têm? ou escolhe-os, exactamente, porque os têm? ao que consta, o actual ministro, contrariamente ao seu antecessor, é um político bastante permeável à influência dos interesses partidários, dialogante e, sobretudo, muito interessado no cargo; desiludam-se, portanto, aqueles que esperem vê-lo soçobrar ao mesmo tipo de «cansaço» que vergou Campos e Cunha, pelo que o PS poderá dormir hoje muito mais descansado; mas poderão os portugueses fazer o mesmo?
2 - A entrevista de Freitas do Amaral é um disparate pegado, prova mais do que evidente da falta de carácter que sempre o caracterizou, agora agravada pela vaidade extrema e uma senilidade preocupante, em quem se encontra em funções com a relevância das que exerce; o governo franziu o sobrolho, mas o PS não gostou da brincadeira; o poeta reagiu com estrondo ao convite à dança presidencial do outro; Sócrates filosofou sorridente sobre a asneira do ministro, numa desvalorização assassina do acto e da personagem; Freitas ficou, mas não devia; a bomba relógio da sua saída já começou a rodar.
3 - No meio de toda esta animação e rodopio, o Sr. Sampaio apaga-se, exonera sem reclamar e dá posse sem um pio (longe vão os tempos...); o Sr. Coelho faz o elogio fúnebre do exonerado, manda recados aos exoneráveis, segura os OTÁrios, promete aos «betonáveis» e faz a quadratura do círculo; Marques Mendes exila-se em Sintra, apaga fogos em vários distritos e grita contra o vento, mas este passa demasiadamente acima da sua cabeça; Carrilho procura o carácter em défice, enquanto dos lados do Caldas sopram vapores de fidalguia perfumada, ao que consta a viajar de smart, dois lugares; entretanto, avançam-se negociatas, instalam-se amigalhaços, empenha-se o futuro, em nome do qual se desgraça o presente. É Portugal, no seu melhor.
* ou melhor dizendo, nas palavras de Miguel Torga:
Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.
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