Uma leitura apressada do artigo de JPP no Público de ontem (versão papel) deixou-me com uma indefenível sensação de que, insistindo na tónica da estabilidade que Cavaco representaria como presidente, em oposição à instabilidade que traria Mário Soares, Pacheco Pereira poderá estar a passar à margem de algum referencial importante, a ter em conta.
Lido hoje o mesmo artigo no Abrupto, confirmei que todo ele assenta, de facto, nessa linha de raciocínio. E confirmei-o com um certo pasmo, confesso, porque, ou leio mal (que é o mais provável), ou o que ele quer fazer quando escreve: « Num momento de crise económica e social como o que atravessamos, será sempre avesso a introduzir factores de perturbação, mesmo que não concorde com as políticas do governo socialista» é, no seu afã de justificar a estabilidade, remeter Cavaco a um papel de observador da acção governativa, quando muito de «explicador» encoberto, o que, francamente, não me parece que coincida com o perfil do Professor.
Para não ir mais longe, apenas duas, ou três perplexidades perante o artigo de JPP: estranho vê-lo ignorar alguns indicadores como a queda do governo e do primeiro-ministro nas sondagens e intenções de voto, num contexto pré-eleitoral que se antecipa difícil para o PS (e Jorge Coelho, à frente da máquina partidária, tudo fará para inverter a tendência – a substituição do Ministro das Finanças não é já exemplo bastante?); estranho que ignore, também, que os estudos de opinião e sondagens (e uns e outros valem o que valem) vêm demonstrando que um dos mais estáveis indicadores obtidos é a avaliação positiva feita pela sociedade portuguesa ao BE e seus líderes, ao PR e, de certa forma ao PCP (pelo que colar Soares a estes não me parece ser elemento dissuasor, antes aglutinador no momento crucial – a eleição); estranho ainda que passe ao largo do clima de contestação social, que tem tendência a subir de tom, parecendo ignorar que uma estratégia que pretenda «vender» um candidato com o argumento da «passividade» deste perante este governo e as suas medidas penalizadoras seja aquela que mais motivará o eleitorado; finalmente, parece esquecer duas minudências – a «aversão» a Cavaco, mesmo dentro do PSD; a capacidade que Mário Soares tem de meter na gaveta as suas mais profundas convicções, quando a oportunidade política assim o recomenda, capacidade amplamente conhecida no seu próprio partido e que não deixa de funcionar como «amortecedor» para o medo que a sua atitude mais recente possa criar nas hostes socialistas.
Acredito que JPP veja mais longe e melhor do que muitos de nós (do que eu verá, de certeza), mas até os sábios se enganam. E já que trouxe à nossa reflexão a table de sagesse de Victor Segalen, daqui lhe recordo «En l'honneur d'un Sage solitaire», do mesmo autor.
Lido hoje o mesmo artigo no Abrupto, confirmei que todo ele assenta, de facto, nessa linha de raciocínio. E confirmei-o com um certo pasmo, confesso, porque, ou leio mal (que é o mais provável), ou o que ele quer fazer quando escreve: « Num momento de crise económica e social como o que atravessamos, será sempre avesso a introduzir factores de perturbação, mesmo que não concorde com as políticas do governo socialista» é, no seu afã de justificar a estabilidade, remeter Cavaco a um papel de observador da acção governativa, quando muito de «explicador» encoberto, o que, francamente, não me parece que coincida com o perfil do Professor.
Para não ir mais longe, apenas duas, ou três perplexidades perante o artigo de JPP: estranho vê-lo ignorar alguns indicadores como a queda do governo e do primeiro-ministro nas sondagens e intenções de voto, num contexto pré-eleitoral que se antecipa difícil para o PS (e Jorge Coelho, à frente da máquina partidária, tudo fará para inverter a tendência – a substituição do Ministro das Finanças não é já exemplo bastante?); estranho que ignore, também, que os estudos de opinião e sondagens (e uns e outros valem o que valem) vêm demonstrando que um dos mais estáveis indicadores obtidos é a avaliação positiva feita pela sociedade portuguesa ao BE e seus líderes, ao PR e, de certa forma ao PCP (pelo que colar Soares a estes não me parece ser elemento dissuasor, antes aglutinador no momento crucial – a eleição); estranho ainda que passe ao largo do clima de contestação social, que tem tendência a subir de tom, parecendo ignorar que uma estratégia que pretenda «vender» um candidato com o argumento da «passividade» deste perante este governo e as suas medidas penalizadoras seja aquela que mais motivará o eleitorado; finalmente, parece esquecer duas minudências – a «aversão» a Cavaco, mesmo dentro do PSD; a capacidade que Mário Soares tem de meter na gaveta as suas mais profundas convicções, quando a oportunidade política assim o recomenda, capacidade amplamente conhecida no seu próprio partido e que não deixa de funcionar como «amortecedor» para o medo que a sua atitude mais recente possa criar nas hostes socialistas.
Acredito que JPP veja mais longe e melhor do que muitos de nós (do que eu verá, de certeza), mas até os sábios se enganam. E já que trouxe à nossa reflexão a table de sagesse de Victor Segalen, daqui lhe recordo «En l'honneur d'un Sage solitaire», do mesmo autor.
Moi l'Empereur je suis venu. Je salue le Sage qui, soixante-dix années, a retourné et labouré nos Mutations anciennes et levé des savoirs nouveaux.
J'attends du Vieux Père la leçon : et d'abord, s'il a trouvé la Panacée des Immortels ? Comment on prend place au milieu des génies ?
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Le Sage dit : Faire monter au Ciel le Prince que voici serait un malheur pour l'Empire terrestre.
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Moi l'Empereur interroge le Solitaire : a-t-il reçu dans sa caverne la visite des trente-six mille Esprits ou seulement de quelques-uns de ces Très-Hauts ?
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Moi l'Empereur interroge le Solitaire : a-t-il reçu dans sa caverne la visite des trente-six mille Esprits ou seulement de quelques-uns de ces Très-Hauts ?
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Moi le Solitaire n'aime pas les visiteurs importuns.
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Moi l'Empereur implore enfin le Sage le pouvoir d'être utile aux hommes : quelque chose pour le bien des hommes !
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Le Sage dit : Étant sage, je ne me suis jamais occupé des hommes.
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