Todos sabemos como a continuada convivência entre pessoas sem qualquer afinidade de sangue estabelece entre elas semelhanças nas expressões fisionómicas, na maneira de estar, de falar e de sorrir, que, frequentemente, são tomadas por semelhança física, onde esta, de facto, não existe. Quantas vezes não terão estas involuntárias cumplicidades traído íntimas mas secretas relações, quantos tresloucados actos de ciúme não terão tido a sua origem na simples observação da involuntária naturalidade com que se assumem as particularidades de outro, com quem partilhamos afectos e horas?
Lembrei-me disto a propósito de uma pequena entrevista que passou num canal de televisão, em que a pessoa entrevistada, sem que, decerto, o pressentisse, se assemelhou de tal forma, quer na expressão facial, quer nos maneirismos, tom e ritmo da voz, ao Primeiro-ministro, que quase se diria que era este que se encontrava perante nós.
*Walter Kaufmann