«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Tuesday, November 11, 2008
Vítor Constâncio
Justa, ou injustamente, acaba por ser a imagem do país - descuidado, errático, incompetente, condescendente, impune. Mas cheio de si, e das suas razões. Soma, e segue. Até quando?
SIADAP 2008
Por falar em avaliação, a guerra aberta entre professores e a ministra da tutela está a servir de cortina de fumo ao que se passa na Administração Pública, com a avaliação dos organismos (SIADAP 1), dos dirigentes (SIADAP 2) e dos colaboradores (SIADAP 3). Alguém se interroga, numa rádio, jornal ou televisão, quantos são os ministérios que podem comprovar estar a gerir o processo de avaliação com rigor, a aplicá-lo em todos os seus organismos, cumprindo prazos e respeitando as determinações legais? Talvez haja razão para o sepulcral silêncio, porque o melhor é nem perguntar, a não ser que se pretenda acreditar num qualquer cenário, que o Senhor Primeiro-ministro vá sacar ao Magalhães e nos queira "vender", sem direito a contraditório.
Avaliação de professores
O autismo da ministra da educação só tem paralelo na incapacidade de professores e sindicatos explicarem à nação porque é insustentável manter este sistema de avaliação.
Entre a surdez da ministra para o que é necessário mudar, e o mutismo dos professores quanto à alternativa adequada, degrada-se, ainda mais, o já irrecuperável sistema educativo nacional.
Solução possível? Nenhuma, por mais razoável que seja, pode passar já por esta ministra. A cegueira, a teimosia e o profundo desprezo de Maria de Lurdes Rodrigues pelos professores deu no que deu. E não há Magalhães que lhe valha.
The President-elect Barack Obama
Depois de assistir à determinação dos eleitores americanos, que esperaram várias horas em filas para poderem contribuir para a mudança prometida, nem seria precisa uma Crystal Ball para perceber o desfecho das mais renhidas, e "globais", eleições de que há memória, pelas bandas do país do Uncle Sam.
Vencedores, Barack e Michelle Obama estiveram ontem na Casa Branca, preparando uma das mais complexas transições da história americana recente. Pensar, a propósito, que os escravos negros que erigiram a mansão presidencial terão sentido um tumular orgulho com a entrada triunfal dos Obama poderia dar-nos algum gozo, mas reduziria a vitória do recém-eleito presidente a um folclórico momentum sócio-político-racial, e a vitória de Obama significa bastante mais do que isso. Uma nota a reter - não houve "conclusões" oficiais sobre a visita. O que soprou para fora foi em off. Esperemos que o estilo se mantenha, porque a campanha eleitoral acabou, e é tempo de trabalhar, para mudar.
President Bush and President-elect Barack Obama at the White House
Tuesday, October 07, 2008
Boa noite
«E em ti não há membro nem ponta de carne
ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor.»
Ada Negri
ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor.»
Ada Negri
Abriu mais um ano lectivo...
... e a ministra da educação é uma heroína! De Magalhães em punho, ela e o Primeiro-ministro lá andam cantando e rindo, com números de sucesso fabricado a martelo, que nos vão toldando o discernimento.
Daqui por quanto tempo vai estourar, sem capacidade de ocultação, o crash na educação? Mas nessa altura a senhora já terá sido promovida a divindade, e subido ao Olimpo redentor das professoras do 1º ciclo com upgrade a doutoradas.
No pasa nada!
Eu partilho da opinião, mas não deixo de pensar que também não é justo...
... chamar sopeira à senhora Palin, sem admitir que o nosso patamar de referência talvez esteja demasiado alto!
ONDE ESTÃO OS NEOLIBERAIS?
Entre o silêncio ensurdecedor dos que se opõem e o ruído álacre dos que (se) governam, o velho senhor corre o risco de se tornar um farol de razão.
Estamos mal, muito mal.
A empresa que produz o Magalhães está a contas com a justiça...
Nós já sabíamos que o Estado é pai para uns, poucos, e padrasto para outros, muitos, mas o que ainda não sabemos, nós, o zé povinho ausente dos meandros do poder, é quem é a mãezinha que alimenta aos "petos" tão acarinhada criança.
Ai, Magalhães, Magalhães!
a União Europeia não vai permitir que nenhum "banco com impacto significativo no sistema financeiro falhe"...
... diz o ministro Teixeira dos Santos.
Regista-se o dinamismo da subtileza - das garantias absolutas iniciais, passamos ao pormenor do impacto significativo. E este é, concretamente, o quê? E mede-se como? Pormenores, ínfimos.
Bastou um agitar do esterco, e os porcos mais iguais do que os outros começam a sobressair no chiqueiro!
Sunday, October 05, 2008
Friday, September 05, 2008
Com a devida vénia, dar a mão à palmatória
O lado para que a Dra. Fernanda Câncio dorme melhor serão as críticas que por aqui se têm feito à sua inquebrantável defesa da actuação do governo, nomeadamente em questões como o aumento da criminalidade em Portugal. Apesar de a sua mais recente prosa sobre este tema insistir no papel deformante que a imprensa tem nas percepções de insegurança dos cidadãos (e tem-na, de facto), a Dra. Fernanda Câncio termina a sua crónica no DN com esta conclusão, que me parece notável (porque inesperada, nela):
Continua a não interessar nada à autora, mas eu não poderia estar mais de acordo, pelo que não só subscrevo, como aplaudo (de pé) e, para mim, depois de ver isto escrito e publicado nunca mais poderei pôr em causa a sua isenção nesta matéria. Mesmo sabendo eu que a Dra. Fernanda Câncio sabe que eu sei que ela sabe que eu sei que a informação "oficial" disponibilizada pelos governos, e por este governo em particular, é sempre muito "trabalhada" em função da imagem que se quer passar e dos objectivos que se pretendem atingir. Mas isso são outras guerras, que não empalidecem o mérito deste texto da Dra. Fernanda Câncio.
Monday, September 01, 2008
Boa noite
«Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...»
Pablo Neruda
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...»
Pablo Neruda
We always have September
"The morrow was a bright September morn;
The earth was beautiful as if newborn;
There was nameless splendor everywhere,
That wild exhilaration in the air,
Which makes the passers in the city street
Congratulate each other as they meet."
The earth was beautiful as if newborn;
There was nameless splendor everywhere,
That wild exhilaration in the air,
Which makes the passers in the city street
Congratulate each other as they meet."
Henry Wadsworth Longfellow
Friday, August 29, 2008
Histerismos...
...cada qual tem os que merece, já dizia Freud.
Digam agora se aqui não se antecipava uma reflexão semelhante a esta?
Só não tentarei pôr a render os meus dotes de adivinhação, porque a fidelidade da senhora às suas funções de zeladora do regime é tão previsível quanto inquebrantável.
Thursday, August 21, 2008
Boa noite
«conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura»
Mário de Cesariny de Vasconcelos
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura»
Mário de Cesariny de Vasconcelos
Portugal e o futuro
Este Verão do nosso descontentamento vai pródigo em fitas violentas - quase em sessões contínuas, tivemos o assalto ao BES, com snipers, reféns, mortos e tudo; o assalto à bomba da carrinha de valores, empregando técnicas policiais; o assalto à mão armada a mais uma (a 4ª) bomba de gasolina, destaques terríveis no quotidiano de criminalidade violenta, que, tal como o Toyota, veio para ficar. Não nos admiremos, pois, se este passar a ser o aspecto e o equipamento do futuro vizinho do lado. Se não tomarmos conta de nós, ninguém toma, não é verdade? Até, porque no socrático reino do faz de conta, o aumento da criminalidade violenta é falso e resulta, apenas, do descarado e mal-intencionado aproveitamento que os média ao serviço da oposição fazem das naturais contingências sócio-policiais dos mais desfavorecidos. Não acreditam? Perguntem à Fernanda Câncio.
Finalmente, o orgulho nacional *
Quero ir contigo
Menino de oiro sou teu amigo
(*Já podemos todos dormir descansados, porque, afinal, sempre tem razão o senhor engenheiro sanitário - estamos entre os melhores!)
Propaganda acéfala...*
... e vergonhosa, na reacção de Mário Lino à tragédia de Barajas: «Um acidente como este, que ocorreu em Madrid, apenas chama a atenção para uma coisa que já se sabia e que é a localização de um aeroporto dentro de uma cidade e de uma zona urbana, que tem riscos que não deviam ser corridos».
Imagino o choque do Presidente Cavaco Silva perante este Apenas displicente, que só por não merecer mais do que um profundo desprezo não originará um formal pedido de desculpas do Rei Juan Carlos!
Um asco!
(*Para além da insensibilidade de granito que evidencia, o comentário é tão mais gratuito, quanto a tragédia se circunscreveu ao aparelho da Spanair e seus ocupantes.)
Saturday, August 16, 2008
Boa noite
E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
Chico Buarque
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
Chico Buarque
Pontal
Não percebo o reboliço criado com a recusa de Manuela Ferreira Leite a comparecer na festa do Pontal. Menos percebo as leituras algo psicanalíticas com que alguns gurus tentam explicar a decisão da senhora. Mas será que ainda custa perceber que MFL pertence a uma estirpe que não alinha naqueles populismos fáceis que os média nos têm feito crer serem a essência e o motor das sociedades modernas?
Porque a coisa pública não é, propriamente, um rodopiante carrossel de momentos televisivos grandiosamente encenados, não seria nada mau que o exemplo de MFL servisse para demonstrar que ainda existe gente assim, e que é necessária, para devolver alguma da credibilidade perdida à actividade política. Só que, vistas as reacções (mesmo descontado o oportunismo político), percebemos que esta lição está ainda fora de tempo. Infelizmente, o tempo lhe dará razão, demasiado tarde.
Chinesices
Dos tempos da infância recordo como o meu pai, com um sorriso algo matreiro, classificava as maroteiras que nós, os miúdos, tentávamos "mascarar" com o que nos pareciam as mais escorreitas e convenientes explicações, mas que aos olhos de um adulto não passavam de incoerentes e esfarrapadas invenções - chinesices, dizia ele, do alto da sua bonomia - e ficávamos todos a saber que tínhamos sido apanhados.
Tenho a certeza que se ele estivesse cá para saber das ilusões que os chineses fizeram para a grande ouverture olímpica remataria filosoficamente - chinesices.
Sobre os embustes que sabemos agora terem sido praticados, melhor seria que tivessemos presente que that's television folks! Ficaríamos menos ofendidos (ai esta superioridade moral do velho ocidente!) e mais disponíveis para apreciar o elevado nível técnico e artístico do espectáculo. Afinal, no que se têm vindo a tornar os jogos olímpicos actuais que não seja num grandioso espectáculo? E se a cada edição dos jogos o principal objectivo do organizador é superar o antecessor, todos os meios parecem válidos. That's show business! À moda chinesa, é certo, mas a dimensão da ilusão só poderia estar à escala do universo chinês.
Tuesday, August 05, 2008
Boa noite
Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro
Eugénio de Andrade
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro
Eugénio de Andrade
Citações
A notícia de que o "físico Carlos Fiolhais é o cientista português com o artigo mais citado em todo o mundo" merece destaque no Público, mas, para os que não conhecem a realidade da investigação e publicação científica em Portugal, basta ler os comentários ao artigo para perceber o que está (geralmente) em causa neste domínio, para além da invejosa mesquinhez: ser citado conta mais do que o valor intrínseco daquilo que se publica; tanto assim é, que os autores portugueses se matam por co-autorias com renomados cientistas de língua inglesa, preferencialmente; a publicação científica em português é um caso sério de invisibilidade, nomeadamente na Web of Science, da Thomson Reuters.
Para quem não pretender ficar por aqui neste assunto, o SJR SCImago Journal & Country Rank fornece informação interessante sobre a publicação científica portuguesa entre 1996 e 2007. Aqui.
Friday, August 01, 2008
Boa noite
Sai-me dos dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos... No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?
Alfonsina Storni
Sai-me dos dedos... No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?
Alfonsina Storni
Saldos?
Mariano Gago está a arrumar o gabinete?
Ontem fechou a Universidade Moderna, hoje retirou o estatuto de universidade à Internacional.
Segue-se...
Thursday, July 31, 2008
Wednesday, July 30, 2008
Boa noite
Só nos olhos naufragados
estes poentes de sangue...
Só na carne rija e quente,
este desejo de vida!...
Alda Lara
estes poentes de sangue...
Só na carne rija e quente,
este desejo de vida!...
Alda Lara
A farsa do Teatro Nacional
Primeiro demitiu-se Diogo Infante do Maria Matos. Depois, o próprio deixou "escapar" o convite para dirigir o D. Maria II. Foi um sururu. Entretanto, o Presidente do CA então ainda em funções no Teatro Nacional, apanhado como as mulheres traídas, ficou a aguardar o pontapé no traseiro, que só chegou agora, pela surda, quando a "crise" já tinha amainado nos jornais.
Quando será que Diogo Infante avança para a boca de cena da nobre casa de espectáculos do Rossio?
A antiguidade não é um posto...
... pelo menos nas listas de espera para as cirurgias!
A ministra da saúde, sensatamente, recomenda a quem espera há mais de dois anos que contacte os serviços, porque o sistema propagandístico do governo não permite registos superiores a dois anos, e há que renovar a inscrição... A ministra só não disse se as famílias dos entretanto falecidos se podem candidatar a "apanhar" a vaga do ente querido!
Política da língua
A ministra da educação, e sus muchachos, têm ideias brilhantes, já sabíamos. São mesmo um sucesso tal, que Sócrates lhes vai enchendo os bolsos com milhões de euros. Pena é que tanto milhãozinho não chegue para manter acesa a chama do ensino do português no estrangeiro, mas como a brilhante senhora não consegue alinhavar uma ideia que seja sobre o assunto, vai daí e exige aos professores que asseguravam o ensino da nossa língua lá fora que regressem aos seus lugares nas escolas portuguesas. Devem ser insubstituíveis, digo eu.
E ainda há malandros que não reconhecem a bondade das medidas rodriguinhas da 5 de Outubro!
Thursday, July 24, 2008
Boa noite
São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.
(David Mourão Ferreira)
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.
(David Mourão Ferreira)
Wednesday, July 23, 2008
Friday, July 11, 2008
Boa noite
O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
(Ademir Antônio Bacca)
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
(Ademir Antônio Bacca)
Já há sumo!
I am a slave!
FARC Spa
Há um par de meses, uma parte do mundo emocionou-se com a imagem de uma Ingrid Betancourt que se dizia estar à beira da morte, prisioneira na selva colombiana. Meses depois do encenado drama, vendido ao mundo em belo efeito refém chic, eis que a senhora é bondianamente salva e submete às câmaras um look de fazer inveja a qualquer dondoca com milhares de horas de salão de beleza em cima. Boa pele, olhos brilhantes, sobrancelhas arranjadas, cabelo esticado, bem tratado, penteado originalmente. Se pensarmos que a senhora está nos seus quarenta e muitos anos, só podemos concluir que os anos de privações (?) na selva foram um autêntico tratamento de beleza.
As FARC devem é repensar a sua área de negócio e montar um spa na selva. Vai ser difícil gerir as listas de espera!
Estado da Nação. Que Nação?
É no Parlamento que Sócrates solta o animal feroz que tem em si. Observe-se a pose e a face, a raiva e o desprezo, o enfado da personagem.
Quanto à substância do discurso, tudo se resumiu ao anúncio da abertura da caça ao voto. O resto é conversa fiada. Apagados os holofotes, todos regressaram a casa com o sentido do dever cumprido. Como sempre, no circo da política.
O povo é que paga.
A bem da Nação!
Boa noite
Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.
(José Régio)
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.
(José Régio)
Não têm o que comer?
(E pensar que perdeu a Maria Antonieta a cabeça por causa de uns simples brioches!)
Sucesso a Matemática sobe nas estatísticas
Melhor dizendo, as negativas nos exames de matemática baixaram drasticamente.
Que a senhora ministra da educação é perita em produzir indicadores estatísticos convenientes, já se sabia. Que também fazia milagres, ficámos agora a saber. Os alunos agradecem, o país curva-se a tão distinto mérito. A qualidade dos exames é apenas um pormenor, que não nos deve distrair do bem maior, que é este estrondoso sucesso do governo.
Wednesday, July 09, 2008
Cracked rock
Carta a Anthrax (2)
Vamos, portanto, "cumbersar", se encontrarmos assunto que nos mereça esfolar as meninges. E por falar em haver, ou não haver assunto, não chego a conclusão brilhante. Por um lado, inundam-nos de notícias e mais notícias, mas até o mais amorfo dos cidadãos percebe a facticiedade da maioria delas. Claro que vão entretendo as hostes e iludindo todos: os incautos, porque julgam que as paredes são de vidro e que tudo se sabe; os mais calejados, porque sabem que atrás de cada notícia há um “filme” oculto, mas raramente conseguem perceber exactamente onde este começa e, sobretudo, como acaba. À conta desta produção noticiosa em larga escala alimentam-se os shares e a guerra das audiências faz e desfaz directores de informação escrita e audiovisual, contratados e demitidos à velocidade dos pontapés de Ronaldo, ou da aprendizagem de italiano básico do Mourinho.
Notícias não faltam, as mais desvairadas, tanto que acontece como aos miúdos que se empanturram de chocolate, fartam. Um enjoo. Veja, amigo Anthrax, como a saga do sai-Menezes-entra-Manuela rendeu rios de palavrosas nulidades, apesar do espartano silêncio da senhora, que, por ser silêncio em tempo de palavras ocas, logo foi confundido com vazio de ideias. Será? Não será? Com o tempo de vida que ela já leva, com o que já viu e já fez, ideias não devem faltar-lhe, podem é sobrar-lhe algumas que nem às paredes confessa. Faz ela bem, que os romances de mistério há muito que subiram nas tabelas de vendas, relegando para o mofo das prateleiras os romances de capa e espada, em que o Pedro (esse menino que brinca às guerrinhas de incubadoras) e o Júdice (o tubarão que deu às docas e se finou entre a Praça do Município e São Bento) são sempre personagens principais.
Entretidos que andamos com o som dos apitos futebolísticos, com as contratações milionárias, com a tristeza das bandeirinhas que murcharam na aventura austríaca dos rapazes da camisola, mais com o Ronaldo que não-se-sabe-para-onde-vai-depois-do-pé-tratado, com o Scolari que deu ao pé, com o governo a apitar ao Madaíl, com o Vale e Azevedo a não apitar em Londres, com tanta apitadela, nem demos pela magia de os incêndios terem deixado de apitar grosso na abertura dos noticiários, por os exames também terem apitado baixinho (apitadelas fáceis não têm graça!), por a CML dever ter apitado em mute para resolver os seus problemas financeiros, por aqueles tubarões da alta finança e da alta política que têm andado a apitar onde não deviam, enfim, até já conseguimos nós próprios apitar para o ar afinadinhos com o governo, enquanto andam para aí uns camionistas a fazer umas gincanas mais radicais, coitadinhos dos rapazes.
Apitadela para cá, apitadela para lá, apitou-se valentemente quando se percebeu que vem aí a D. crise, coitada da senhora, andava ela esfalfada de tanto mandar avisos de chegada, mas os rapazes do governo perderam o norte à coisa e foi um Deus-nos-acuda, quando deram por a senhora estar já a apitar entre nós. Com ela, veio esse ser diáfano e matreiro, a ameaça, com tudo e mais um pouco na bagagem, e fortes apitadelas tem a criatura merecido, a ponto de, por exagerada a dose da apitadela, já se começar a desconfiar que se tanto ladra, não morderá.
E se nós por cá não estamos como as apitadelas mostram e estamos como as apitadelas escondem, lá por fora não se apita melhor, nem pior, valham-nos os efeitos uniformizadores da globalização. Os irlandeses apitaram desafinados e mandaram-nos a todos ir brincar para casa do vizinho; os polacos, que acharam graça à desafinação, desafinaram também e decidiram logo que também querem apitar diferente do que já apitaram.
Notícias não faltam, as mais desvairadas, tanto que acontece como aos miúdos que se empanturram de chocolate, fartam. Um enjoo. Veja, amigo Anthrax, como a saga do sai-Menezes-entra-Manuela rendeu rios de palavrosas nulidades, apesar do espartano silêncio da senhora, que, por ser silêncio em tempo de palavras ocas, logo foi confundido com vazio de ideias. Será? Não será? Com o tempo de vida que ela já leva, com o que já viu e já fez, ideias não devem faltar-lhe, podem é sobrar-lhe algumas que nem às paredes confessa. Faz ela bem, que os romances de mistério há muito que subiram nas tabelas de vendas, relegando para o mofo das prateleiras os romances de capa e espada, em que o Pedro (esse menino que brinca às guerrinhas de incubadoras) e o Júdice (o tubarão que deu às docas e se finou entre a Praça do Município e São Bento) são sempre personagens principais.
Entretidos que andamos com o som dos apitos futebolísticos, com as contratações milionárias, com a tristeza das bandeirinhas que murcharam na aventura austríaca dos rapazes da camisola, mais com o Ronaldo que não-se-sabe-para-onde-vai-depois-do-pé-tratado, com o Scolari que deu ao pé, com o governo a apitar ao Madaíl, com o Vale e Azevedo a não apitar em Londres, com tanta apitadela, nem demos pela magia de os incêndios terem deixado de apitar grosso na abertura dos noticiários, por os exames também terem apitado baixinho (apitadelas fáceis não têm graça!), por a CML dever ter apitado em mute para resolver os seus problemas financeiros, por aqueles tubarões da alta finança e da alta política que têm andado a apitar onde não deviam, enfim, até já conseguimos nós próprios apitar para o ar afinadinhos com o governo, enquanto andam para aí uns camionistas a fazer umas gincanas mais radicais, coitadinhos dos rapazes.
Apitadela para cá, apitadela para lá, apitou-se valentemente quando se percebeu que vem aí a D. crise, coitada da senhora, andava ela esfalfada de tanto mandar avisos de chegada, mas os rapazes do governo perderam o norte à coisa e foi um Deus-nos-acuda, quando deram por a senhora estar já a apitar entre nós. Com ela, veio esse ser diáfano e matreiro, a ameaça, com tudo e mais um pouco na bagagem, e fortes apitadelas tem a criatura merecido, a ponto de, por exagerada a dose da apitadela, já se começar a desconfiar que se tanto ladra, não morderá.
E se nós por cá não estamos como as apitadelas mostram e estamos como as apitadelas escondem, lá por fora não se apita melhor, nem pior, valham-nos os efeitos uniformizadores da globalização. Os irlandeses apitaram desafinados e mandaram-nos a todos ir brincar para casa do vizinho; os polacos, que acharam graça à desafinação, desafinaram também e decidiram logo que também querem apitar diferente do que já apitaram.
Durão, o Barroso vai tentando manter o galinheiro em respeito, à força de melodiosas ou vigorosas apitadelas, maestro de um autêntico concerto polifónico, que ganharia aos pontos à mais inspirada das composições. A Bruni, melosa, vai apitando como pode e sabe, desviando as atenções do amor-perfeito que lhe calhou em sorte, e enquanto se apita ao decote exagerado da Merkl e às “noviças” do Berlusconi, os amigos do petróleo vão-nos mandando apitar baixinho, ou obrigam-nos a engolir um apito maior. Pelos states, a Hilária apitou tanto, mas tanto, que estragou o apito, e agora quem apita é o outro, que, tendo percebido que, nisto de apitadelas, não é quem mais apita que apita no fim, iniciou a era da apitadela selectiva, tão selectiva que até a Oprah, essa apitadora-mor, recebeu ordem de só apitar com guião aprovado previamente (a fazer fé no Jaime Silva, o apitador Obama é o coach de Sócrates para as legislativas de 2009, mas pode ser só uma apitadela despeitada do ministro marcelisticamente incompetente). Das profundezas das terras da coca saiu uma radiosa Ingrid Betancourt, a apitar alegremente, depois de seis anos de selva em que tinha tido que silenciar o apito (tinha?), e se o Chávez não apitou aqui o que queria, talvez tenha sido porque Uribe, entusiasmado com a apitadela do Rei de Espanha ao seu venezuelano colega, decidiu que chegou a hora de dar o ar da sua graça e apitou forte e eficazmente.
Como vê, amigo Anthrax, o crackdown hibernou, mas, enfastiado ou não, lá foi seguindo as apitadelas que os nossos diligentes servidores noticiosos nos vão disponibilizando, em doses impróprias para cardíacos, ou para gente que os leve a sério. E, se tal como a asneira, a apitadela é livre, pois por aqui me terá, sempre que uma apitadela mais descarada conseguir vencer esta preguiça imensa e me desafiar a voltar a transpor a barricada para o lado dos apitadores inconsequentes e descarados.
Parabéns a nós, meu querido amigo, que ao fim de quatro anos ainda sentimos este prazer mútuo de nos reencontrarmos “à volta” de uma boa apitadela! Vamos, então, a mais quatro anos?
Como vê, amigo Anthrax, o crackdown hibernou, mas, enfastiado ou não, lá foi seguindo as apitadelas que os nossos diligentes servidores noticiosos nos vão disponibilizando, em doses impróprias para cardíacos, ou para gente que os leve a sério. E, se tal como a asneira, a apitadela é livre, pois por aqui me terá, sempre que uma apitadela mais descarada conseguir vencer esta preguiça imensa e me desafiar a voltar a transpor a barricada para o lado dos apitadores inconsequentes e descarados.
Parabéns a nós, meu querido amigo, que ao fim de quatro anos ainda sentimos este prazer mútuo de nos reencontrarmos “à volta” de uma boa apitadela! Vamos, então, a mais quatro anos?
Carta a Anthrax (1)
Não é a primeira vez, e não será, decerto, a última, que o meu caríssimo amigo Anthrax me vem puxar pelas orelhas para voltar ao blog. É gesto de amigo, mas também está "obrigado" a essa tutela, ou não fosse ele o responsável pela existência do crackdown. Desta vez foi muito discreto e cauteloso (que a idade vai pesando para estes lados, e nunca se sabe…), só veio recordar-me o 4º aniversário deste velho caderninho de notas (muito) soltas, aniversário partilhado com o seu excelente e irreverente O Diário do Anthrax.
Quatro anos é, nos tempos que correm, uma enormidade de tempo para tudo, sobretudo para um não-projecto como este, afinal apenas uma experiência nascida da saudade de um parapeito, esse estreito e conivente companheiro das risadas e da má-língua, das confidências e “maquinações” estratégicas, esse permanente desafio a amesendar, fosse para os mais do que manhosos almoços rápidos, fosse para o mais refinado chá das cinco (das seis, das sete, sei lá!), fosse para o, então, reconfortante e aceite cigarrinho.
Pois é, meu querido amigo Anthrax, quatro anos é muito tempo, e o crackdown foi envelhecendo, engordando e ficando cada vez mais preguiçoso e mais amargo, talvez contrariado, mas mesmo assim acomodado a este amolecimento colectivo, que a socrática propaganda nos faculta, como benesse. A verdade é que, no empastelamento deste Portugal amordaçado pela maioria absoluta do PS, o crackdown acusou o extremo enfado dessa valsa de embala-o-pé, com que nos querem manter a rodopiar sem sair do mesmo sítio, esse faz-que-anda, faz-que-anda, faz-que-anda, mas que não nos leva a lado nenhum. Ou que leva, mas para o fundo, qual Titanic ao som da orquestra, enquanto nos querem convencidos de estar voando, em inovadora e bem-sucedida viagem pelo espaço sideral, onde cintilantes estrelas auguram um sucesso imenso e garantido.
Uma náusea, meu amigo, uma náusea! Se a esta acrescentar o peso das pequenas grandes coisas do dia-a-dia, encontra a razão para o crackdown já não constituir local de paragem obrigatória para este seu amigo vir confidenciar a ninguém, e a alguém, o que lhe vai arrepiando a coluna dorsal. O “bicho” só não morreu de morte matada por receio de ter que responder perante a liga de defesa destes animaizinhos blogosféricos.
Digamos, pois, que o crackdown hibernou, à maneira dos ursos, e dos velhos, que parou nesse estado semi-comatoso a que este nosso país condena aqueles que o SNS não consegue liquidar a tempo de não pesarem à segurança social, aqueles que teimam em ficar por cá, a maçarem os que acreditam que serão eternamente jovens, e os outros, esses seres iluminados que se governam a governar-nos.
Digamos, pois, que o crackdown hibernou, à maneira dos ursos, e dos velhos, que parou nesse estado semi-comatoso a que este nosso país condena aqueles que o SNS não consegue liquidar a tempo de não pesarem à segurança social, aqueles que teimam em ficar por cá, a maçarem os que acreditam que serão eternamente jovens, e os outros, esses seres iluminados que se governam a governar-nos.
Mas, meu amigo Anthrax, como até os ursos acordam, e como os velhos teimam em andar por cá, também o velho crackdown se manteve, e manterá, em estado vegetativo, de que irá despertando de vez em quando, as mais das vezes por obra e graça da sua atenção e desafio, como agora, como sempre.
Vamos, então, pôr a conversa em dia?
Vamos, então, pôr a conversa em dia?
Tuesday, April 29, 2008
Antologia
The setting of houses, cafes, the neighbourhood
that I've seen and walked through years on end:
I created you while I was happy, while I was sad,
with so many incidents, so many details.
And, for me, the whole of you has been transformed into
feeling.
Constantine P. Cavafy
that I've seen and walked through years on end:
I created you while I was happy, while I was sad,
with so many incidents, so many details.
And, for me, the whole of you has been transformed into
feeling.
Constantine P. Cavafy
E por falar em pornografia...
... o site de pornografia para cegos vai inovando e acumulando sucesso. Para que a luta contra a discriminação dos deficientes seja tão eficaz quanto se pretende, espera-se que os responsáveis se lembrem que há cegos surdos, e façam o necessário upgrade ao seu bem sucedido site.
Skammen (2)
Ver aquele inenarrável membro do governo, de olhinhos brilhantes, a perorar sobre utensílios contra o carjacking, isenção de impostos para os ditos aparelhinhos, perseguições bondianas aos ladrões e o happy end da recuperação do veículo são e salvo é, para ser soft, pornográfico.
Skammen (1)
Há quem tenha vergonha de si mesmo quando se olha ao espelho. Deverão ser poucos os portugueses que não sentem vergonha da sua passividade quando acabam de ver os telejornais, tamanha é a falta de vergonha que expõem aqueles que se governam, "governando-nos". A reacção daquele que está ministro da tutela dos polícias aos incidentes na esquadra de Moscavide é, para ser soft, pornográfica.
Wednesday, April 23, 2008
Notinha de reflexão para os peregrinos da Santana à Lapa
«Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?»
Alexandre O'Neill
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