Wednesday, July 09, 2008

Carta a Anthrax (1)

Não é a primeira vez, e não será, decerto, a última, que o meu caríssimo amigo Anthrax me vem puxar pelas orelhas para voltar ao blog. É gesto de amigo, mas também está "obrigado" a essa tutela, ou não fosse ele o responsável pela existência do crackdown. Desta vez foi muito discreto e cauteloso (que a idade vai pesando para estes lados, e nunca se sabe…), só veio recordar-me o 4º aniversário deste velho caderninho de notas (muito) soltas, aniversário partilhado com o seu excelente e irreverente O Diário do Anthrax.
Quatro anos é, nos tempos que correm, uma enormidade de tempo para tudo, sobretudo para um não-projecto como este, afinal apenas uma experiência nascida da saudade de um parapeito, esse estreito e conivente companheiro das risadas e da má-língua, das confidências e “maquinações” estratégicas, esse permanente desafio a amesendar, fosse para os mais do que manhosos almoços rápidos, fosse para o mais refinado chá das cinco (das seis, das sete, sei lá!), fosse para o, então, reconfortante e aceite cigarrinho.
Pois é, meu querido amigo Anthrax, quatro anos é muito tempo, e o crackdown foi envelhecendo, engordando e ficando cada vez mais preguiçoso e mais amargo, talvez contrariado, mas mesmo assim acomodado a este amolecimento colectivo, que a socrática propaganda nos faculta, como benesse. A verdade é que, no empastelamento deste Portugal amordaçado pela maioria absoluta do PS, o crackdown acusou o extremo enfado dessa valsa de embala-o-pé, com que nos querem manter a rodopiar sem sair do mesmo sítio, esse faz-que-anda, faz-que-anda, faz-que-anda, mas que não nos leva a lado nenhum. Ou que leva, mas para o fundo, qual Titanic ao som da orquestra, enquanto nos querem convencidos de estar voando, em inovadora e bem-sucedida viagem pelo espaço sideral, onde cintilantes estrelas auguram um sucesso imenso e garantido.
Uma náusea, meu amigo, uma náusea! Se a esta acrescentar o peso das pequenas grandes coisas do dia-a-dia, encontra a razão para o crackdown já não constituir local de paragem obrigatória para este seu amigo vir confidenciar a ninguém, e a alguém, o que lhe vai arrepiando a coluna dorsal. O “bicho” só não morreu de morte matada por receio de ter que responder perante a liga de defesa destes animaizinhos blogosféricos.
Digamos, pois, que o crackdown hibernou, à maneira dos ursos, e dos velhos, que parou nesse estado semi-comatoso a que este nosso país condena aqueles que o SNS não consegue liquidar a tempo de não pesarem à segurança social, aqueles que teimam em ficar por cá, a maçarem os que acreditam que serão eternamente jovens, e os outros, esses seres iluminados que se governam a governar-nos.
Mas, meu amigo Anthrax, como até os ursos acordam, e como os velhos teimam em andar por cá, também o velho crackdown se manteve, e manterá, em estado vegetativo, de que irá despertando de vez em quando, as mais das vezes por obra e graça da sua atenção e desafio, como agora, como sempre.
Vamos, então, pôr a conversa em dia?

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