«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Monday, July 30, 2007
I should care
I should care, I should go around weeping
I should care, I should go without sleeping
Strangely enough, I sleep well
Except for a dream or two
But then I count my sheep well
Funny how sheep can lull you to sleep, so
I should care, I should let it upset me
I should care, but it just doesn't get me
Maybe I won't find someone as lovely as you
But I should care, and I do
Jane Monheit
Férias paradisíacas...
... espera-se que tenham os portugueses, em Agosto, o mês de férias por excelência. E porquê? Para poderem aguentar, com coragem e ânimo, as más notícias que os esperam, no regresso ao serviço. Sim, porque por muito que se justifiquem as reformas na AP, desconfio da "bondade" das mesmas, seja porque as acções do governo não abonam em favor da sua eficiência reformista, seja porque, atirar com a resolução deste dossier para quando andam todos distraídos com as férias, faz logo desconfiar das suas boas intenções e transparência do processo.
Desmantelar a família
«O primeiro-ministro, modestamente, não reivindicou para si os méritos deste resultado, mas não há dúvida que se deve a uma estratégia longamente meditada e coerentemente aplicada durante décadas por vários governos. Não seria possível atingir valores tão miseráveis de natalidade sem esta intensa e persistente atitude política. Foi este Executivo que fechou maternidades, liberalizou e subsidia o aborto, impôs a educação sexual laxista. Ele é o herdeiro dos que facilitaram o divórcio, promoveram uniões de facto, promiscuidade, homossexualidade. Os portugueses estão em vias de extinção e José Sócrates pode gabar-se disso.O valor agora revelado não é surpresa inesperada, mas vem na sequência natural de uma linha já antiga. Todos sabemos como a cultura progressista, manifestada por intelectuais, leis, telenovelas e programas educativos, se opõe à chamada "família tradicional". No antigo regime obscurantista a fertilidade portuguesa manteve altos valores, à volta de três nascimentos por mulher, até ao início da década de 70. Com a democracia e desenvolvimento começou a tendência moderna de queda da fertilidade.Aqui Portugal não só conseguiu a convergência com a Europa, mas ultrapassou-a largamente. A nossa taxa de fertilidade de 1,36 nascimentos por mulher é bastante inferior à média da União Europeia (1,52), por sua vez muito menor que o nível de reposição das gerações de 2,1. Não se pode dizer que se trata de uma fatalidade sistémica, porque em países próximos os esforços atentos têm conseguido inverter a trajectória. Trata-se mesmo de uma específica estratégia nacional. O Governo português mostra decididamente à Europa o caminho para a decadência populacional.»
O estilo beato do cronista, que, frequentemente, nos faz desistir de ler os seus escritos, não deve impedir-nos de reconhecer a lucidez e a frieza desapaixonada com que analisa esta questão. Tem toda a razão nas causas que aponta, mas o problema, sendo nosso, atira-nos para "os braços" dos países mais desenvolvidos, em que este problema da baixa natalidade cada vez mais se coloca. Há 10 anos, num taxi de Nova Iorque, mantive uma longa e muito interessante conversa com o motorista afro-americano, sobre a diferença que distingue todos os representantes do melting pot dos born americans. Dizia ele que seria pelo menor investimento na natalidade, que a supremacia dos white americans cairia. Não se enganava. Dez anos depois, veja-se como o fenómeno tem evoluído nas terras do Tio Sam. E não precisaram do Sócrates. Neste domínio, os nossos políticos, com o assertivo Primeiro-ministro incluído, têm sido, apenas, peças de escassa importância.
The magic lantern
Ingmar Bergman era mentalmente doente, por uma debilidade da sua natureza, ou, segundo alguns, por força da educação fortemente repressiva que recebeu. O seu contributo para o cinema emana, em grande parte, desse caótico e deprimente universo pessoal, que alguma crítica ajudou a guindar a génio, classificando o seu caos interior, que ele estilhaçava em imagens, como expoente de intelectualidade. Enquanto que uma crítica snob e comprometida procurava, no desamparo cinematográfico da sua obra, o contraponto qualitativo, com marca de autor, à cinematografia clássica saída do star system, Bergman reconhecia que não conseguia ver nenhum dos seus filmes, sem ficar num estado de profundo desespero e depressão. É essa lúcida e cerebral abordagem à sua filmografia, que lamento ver perder-se com a sua morte. Com esta, voltarão as análises da intelectualidade reinante, as teses dos cinéfilos que não amam o cinema, e os aprofundamentos psicanalíticos da indústria, para quem a cinematografia bergmaniana apenas representa uma fatia de mercado, que convém alimentar na sua singularidade. Cinematografia bergmaniana que o próprio não identificava, sequer, e que para ele não passava de um espaço em que libertava os gritos de uma mente torturada e doente, que, expondo-se assim, buscava, obsessivamente, a autoregeneração. Que nunca encontrou no cinema, mas apenas no teatro. Bergman morreu, tão doentiamente demente como sempre foi, enfrentando, finalmente, o cavaleiro da morte, que tanto o obsessionou.
Wednesday, July 25, 2007
Manuel Alegre, pela liberdade...
Ítaca
Não vale a pena suportar tanto castigo.
Procuras Ítaca. Mas só há esse procurar.
Onde quer que te encontres está contigo
dentro de ti em casa na distância
onde quer que procures há outro mar
Ítaca é a tua própria errância.
Manuel Alegre
O caso Charrua
A senhora ME fez, tarde, o que se impunha - arquivou o processo, sem sanção para o professor e ex-deputado Fernando Charrua. Margarida Moreira continua colocada como Directora da DREN. Insurgem-se as boas almas com isto, mas porquê?
Vejamos: o objectivo deste kafkiano processo foi plenamente atingido - o governo, com a preciosa ajuda de uma zelosa comissária política, fez o aviso à navegação - ou calam-se, ou levam! Bastou este caso, mais uns safanões na saúde, e umas acusações a manifestantes, tudo suculentamente abocanhado pelos media, e aprendemos todos o caminho de regresso aos processos pidescos de antigamente. O silêncio impera nos corredores da AP, e todos sabemos que a rolha voltou, e com ela os "bons" hábitos da bufaria, que a revolução de Abril tinha vindo quebrar. Margarida Moreira deveria ser demitida? Sem dúvida, não fosse dar-se o caso de ter ela sido o instrumento do cacete do governo, a quem só fica bem pagar-lhe o favor, mantendo-a em funções.
Nota: Obviamente que Charrua não volta à DREN, porque, estando requisitado, este vínculo foi quebrado pela entidade requisitante, no caso, invocando falta de confiança...política. Está na escola, seu lugar de origem.
Sócrates, el trolero
A cena do Primeiro-ministro, acolitado pela "eficiente" ministra da educação, a distribuir computadores, perante crianças contratadas como figurantes para aquela charada, deixou o país estarrecido. Francamente, não sei porquê, se toda a acção governativa não passa disso mesmo, de uma encenação permanente, e só não o vê quem não quer. Será porque está em causa o trabalho infantil? Ora, não sejamos cínicos, nem ingénuos. Desde quanto as crianças contam, neste governo, com esta ministra? Servem os interesses pontuais dos governantes, são usadas e depois dispensadas, cada vez mais espoliadas de verdadeiras estruturas de apoio. A cena que tanto escandaliza toda a gente acaba por ser mais honesta, porque, ao menos, estes jovens sabiam ao que vinham e venderam a sua participação. O que geralmente acontece é que os jovens, em nome de quem a senhora ME tem vindo a desmantelar o que restava do pobre edifício educativo, são apenas comparsas de todo o tipo de embustes, a custo zero.
Chocolate Jesus
Dont go to church on sunday
Dont get on my knees to pray
Dont memorize the books of the bible
I got my own special way
Bit I know jesus loves me
Maybe just a little bit more
I fall on my knees every sunday
At zerelda lees candy store
Well its got to be a chocolate jesus
Make me feel good inside
Got to be a chocolate jesus
Keep me satisfied
Well I dont want no anna zabba
Dont want no almond joy
There aint nothing better
Suitable for this boy
Well its the only thing
That can pick me up
Better than a cup of gold
See only a chocolate jesus
Can satisfy my soul
(solo)
When the weather gets rough
And its whiskey in the shade
Its best to wrap your savior
Up in cellophane
He flows like the big muddy
But thats ok
Pour him over ice cream
For a nice parfait
Well its got to be a chocolate jesus
Good enough for me
Got to be a chocolate jesus
Good enough for me
Well its got to be a chocolate jesus
Make me feel good inside
Got to be a chocolate jesus
Keep me satisfied
Tom Waits
Tuesday, July 24, 2007
A propósito do post anterior...
...digam-me cá: se este nome - João Manuel Marmeleiro Nunes Gonçalves da Rosa - estivesse numa das célebres listinhas do CDS/PP, não diriam que era inventado?
Pois é, só Marmeleira quem pode!
Pois é, só Marmeleira quem pode!
O "rigor" do governo*
Até dói...
... ver como este homem é levado na curva! Então ele não perceberá que lhe montaram o laço, para ser a lebre de Mendes e acabar caçado, morto e enterrado? Ou é muito ingénuo, ou a vontade de ser líder do PSD cega-o. Seja qual for o caso, não são qualidades que o recomendem para o cargo. Mais uma vez, o pior do aparelho laranja conseguiu os seus intentos. Pode o pequeno Mendes dormir descansado, que São Bento e Belém velam pelo seu beatífico descanso.
Monday, July 23, 2007
Concordo, há que começar por algum lado, mas...
A ministra da educação, a morder os calcanhares de Sócrates, anunciou o rumo, decidido, da educação tecnológica. Gostei de saber que cada aula terá o seu computador, a sua impressora e o seu projector, porque estes meios podem promover um salto qualitativo na aprendizagem dos alunos. É inquestionável, e a medida tem o meu apoio, de princípio. Mas gostaria também de ter sabido como vão ser resolvidas as questõezinhas mesquinhas, que são o pesado quotidiano das escolas, e que podem deitar a perder tão boas intenções do governo. Por exemplo: e como vai ser assegurada a manutenção de tanta maquinaria, a sofrer horrores diários nas mãozinhas descuidadas dos vândalozinhos que pululam pelas nossas escolas? E dinheiro para o toner e para o papel? E alguém pensou que este sistema de um computador por sala não se conjuga muito bem com a mobilidade das turmas a cada tempo de aula? E, finalmente, como resolvem o caso dos docentes que nem são capazes de ligar e desligar um computador? Ah, bom, esquecia-me, para estes há a mobilidade especial!
Que estas e outras questões de logística sejam acauteladas, ou vai-se gastar dinheiro para nada!
Os incentivos à natalidade do Alberto João
Por cá, dão-se umas migalhas, sobretudo "simbólicas", como disse o ministro. O Alberto João não vai em abortos. Cada um incentiva à sua maneira, é o que é.
Cinismo
Era um escândalo, uma afronta aos brios nacionais, as portuguesas terem de ir a Espanha abortar. Resolvida que está a questão (com a Espanha a fazer os abortos cá dentro e nós a pagarmos) os portugueses continuam a ter que ir a Espanha operar-se em especialidades como a oftalmologia, a cardiologia, a oncologia....à conta da sua cada vez mais magra bolsa. Escândalo? Nem vê-lo, que, a cavalo da propaganda do governo, isto é o caminho certo em que nos pôs a racionalização de meios da excelsa acção política do insuperável ministro Campos.
E se houvesse vergonha?
Sunday, July 22, 2007
Macumbas, segredos e magias
Dizem que os pastéis de Belém têm um segredo. Não é o único segredo, por aquelas bandas, mas nem todos são tão doces e apetitosos.
Vejamos: há uma semana Marques Mendes morria, enforcado nas teias com que se enredou na CML, enquanto que, lá para as bandas do Douro, se cozinhava sucessor à boa maneira do norte. E o que se passa hoje? Marques Mendes aparece como o único candidato às directas (?), e os seus opositores remetidos a um descredibilizante recuo. Querem maior macumba que esta?
Sex shop
Sócrates não desanima no incentivo à natalidade. Agora, dizem que anda por aí a entregar uns computadores... e presume-se que tenha posto os ministros, de "prontidão", para entrarem em acção, ao simples impulso de um click!
Ganda governo, este!
PS- De tão patriótico dever, têm de ficar de fora as ministras da educação e da cultura. Razão mais do que suficiente para a sua imediata substituição.
Wednesday, July 18, 2007
SIADAP 2007...
... à conta da dança das cadeiras ao serviço das clientelas, o fiasco é ainda pior do que o do SIADAP 2006. Entretanto, o governo muda as regras, na esperança de melhorar a performance, mas teme-se que este campeonato esteja perdido.
Entretanto, no país...
... aborta-se. Abortam as juntas médicas o direito dos doentes terminais poderem morrer no conforto de justificadas baixas por doença. Aborta o ME as legítimas expectativas de centenas de professores, que se vêem afastados dos escalões de topo já atingidos, e são mandados à procura da titularidade perdida. Abortam os serviços de urgência os cuidados imediatos a milhares de utentes largados à sua sorte, pela inépcia e vistas curtas de um ministro trauliteiro. Abortam as medidas de apoio à natalidade, preteridas pelo esforço financeiro que o aborto consome. Aborta o primeiro-ministro qualquer manifestação de desagrado com a acção governativa, reintroduzindo o cacete silenciador de outro famoso inquilino de São Bento. Somos um país abortado, paz à nossa alma, fosse o caso de termos uma. Mas também essa abortou, segundo o discurso oficial.
O pequeno Mendes ...
... será desta que cai? Se não for, arrisca-se a encolher o "miúdo", não à sua dimensão, mas suficientemente "maneirinho", para caber na palma da sua pequena mãozinha.
Entretanto, as hostes "organizam-se", no meio de uma ruidosa algaraviada. Estórias de pigmeus!
Que pena...
... não haver candidatos eleitos pelo partido da abstenção! Ganhavam tudo, com maioria absoluta!
O Costa no castelo
Como se esperava, o homem do PS ganhou. Vitória magrinha, mas vitória. Agora, é só gerir o saco de gatos. E o essencial, fechar a Portela. A prole do cavalheiro, e a prole da prole, da prole, da prole... agradecem. Nós pagamos.
Wednesday, July 11, 2007
Antologia
Mild is the parting year and sweet
The odour of the falling spray;
Life passes on more rudely fleet,
And balmless is its closing day.
I wait its close, I court its gloom,
But mourn that never must there fall;
Or on my breast or on my tomb
The tear that would have soothed it all.
Walter Savage Landor
The odour of the falling spray;
Life passes on more rudely fleet,
And balmless is its closing day.
I wait its close, I court its gloom,
But mourn that never must there fall;
Or on my breast or on my tomb
The tear that would have soothed it all.
Walter Savage Landor
O zé povinho no país das (7) maravilhas
Baralhados com o som e as luzes do show global que serviu para divulgar as novas 7 maravilhas do mundo, foram muitos os que teceram loas à capacidade de que Portugal dá provas, para organização de grandes eventos.
Bem, o espectáculo não foi mau, não envergonhou, foi bonito, até, tudo muito clean e sofisticado, com um tom globalizante qb, mas daí a sentirmo-nos alcandorados ao patamar da excelência organizativa, vai um passo de gigante.
Pois se nem somos capazes de organizar o funcionamento da frota automóvel que presta apoio à presidência da UE... Que o diga Jaime Leitão! Não é verdade, meu caro?
Exames de Matemática - nem para aldrabar servem...
...os responsáveis pelo "sucesso" das medidas governamentais na "recuperação" das médias em Matemática. "Cansados" com o "esforço" da recuperação das médias da disciplina no Secundário, esqueceram-se do 9º ano e... zás, um resultado muito pior do que o do ano passado - 3 em cada 4 alunos têm negativa!
Pois é, para os ingénuos que acreditavam que as medidas do governo tinham operado milagres, aqui fica um contratempo, com que se podem entreter a especular - o que terá falhado? Os malabaristas dos testes do Secundário foram de férias? Os alunos só "espevitam" para a disciplina nos últimos anos do ensino não superior? Ou será que está já o governo a criar condições propícias à mobilidade especial em certos grupos de docência do 2º e 3º ciclos?
Suicídio colectivo
Sendo o nosso país um dos sete mais envelhecidos do mundo, nascerem menos 4100 bebés no ano que passou não é algo a encarar de ânimo leve, sobretudo se pensarmos que, na última década, o número de nados-vivos por mil habitantes desceu 12,2 para 10, e que Portugal está já muito abaixo do nível de substituição de gerações.
Ora, esta realidade, triste, envergonhada, relegada para o rol das notícias incómodas, escondidas nas zonas mais obscuras dos media, convive muito mal com a alegria ruidosa, eufórica, com o "sucesso" da recém-legalizada prática abortadeira, que enche os cofres dos privados, que, para tão "necessária" prática, a bom tempo se estabeleceram em Portugal, com o beneplácito e o incentivo dos oportunistas compromissos governamentais.
Onde estão hoje os que diziam que os números do aborto não iriam disparar? Sob que pedra se acobertam as "nobres" almas que clamaram pelo aborto, como salto civilizacional? Debaixo de que máscara se esconde agora a culpa daqueles para quem o seu país é apenas o interesse, a contingência, a passagem fortuita da sua insignificante vida, um breve pestanejar no ciclo do tempo longo?
Triste país este, que tão facilmente finaliza na marquesa do abortador o que iniciou na alcova do amor.
Friday, July 06, 2007
Presidência da UE
Muita pose e muita barafunda. O tradicional desenrascanço português a fazer das suas, com todas as delegações a braços com a inoperância da logística de apoio, e com os erros do protocolo. Alguém deveria ceder o lugar a quem sabe, mas, se calhar, quem sabe não é do PS...
Desumanidade
Com esta intervenção junto do ME, logo haverá quem pense que o CDS quererá cavalgar a onda da indignação generalizada com a morte dos professores doentes terminais, obrigados a regressar ao serviço. De facto, quando lemos isto e, constrangidos que nos sentimos a uma objectividade militante, a que inevitavelmente nos conduz a permanente desresponsabilização do governo, com facilidade acusamos o partido de Portas, quando não o próprio Portas, de estar a fazer aproveitamento político de uma situação que puxa à lágrima fácil e à indignação popular. Admito que o CDS de Portas possa justificar ceder à tentação de lhe atribuir tais intenções, e também eu não deixo de ler esta notícia com uma certa reserva. Pode ser que Portas esteja apenas a encontrar a sua janela de oportunidade para aparecer, mostrando serviço, que lhe renderá uns votos, no momento oportuno. Não sei se é o caso, nem me interessa, mas a morte dos dois docentes, que, em tão pouco tempo, saltou para a comunicação social, deve levar-nos a pensar no que, efectivamente, e em nome de um défice de humanidade, levou o CDS a pedir explicações ao ME.
Primeira questão: Porquê ao ME, e não ao MF, de quem dependem as juntas médicas da CGA? Até parece que o CDS estará a assestar baterias para o alvo errado, quando nos limitamos ao desprezo com que a ministra descartou responsabilidades no primeiro dos casos, ou a soberana displicência com que o seu assessor de imprensa remete qualquer explicação, sobre o segundo, para outras entidades, que não o ME. Acontece que, mesmo que formalmente, a responsabilidade caiba a outra entidade, impõe-se que o ME informe o que sabe sobre estas e outras situações (que as há, infelizmente, aguardando desfecho trágico), se as tem identificadas, e qual a política que segue para a sua resolução e enquadramento. Porque ao ME compete ter essa política e aplicá-la, com transparência e isenção. Por outras palavras, deve o ME aos profissionais que tutela, e à opinião pública, uma explicação quanto à política que segue para casos como estes, quais as ordens que transmite às escolas para lidar com eles, que posição tomou junto do MF e do Primeiro-ministro, relativamente aos dois casos já conhecidos, e se o desenlace brutal de ambos teve como consequência o realinhamento de políticas seguidas nesta matéria. É, portanto, contra o silêncio e o desprezo do ME, que entendo dever ser compreendido o pedido de explicações que, só aparentemente por “erro”, o CDS lhe dirige.
Segunda questão: A desumanidade contra professores, invocada pelo CDS, não estará a ser ridiculamente empolada, uma vez que mais não estamos do que perante a aplicação, pura e simples, dos mecanismos legais e dos procedimentos médicos usuais para situações semelhantes, independentemente da carreira profissional do trabalhador em causa? Numa primeira abordagem, até parecerá que sim, que o empolamento existe, uma vez mais se apenas nos cingirmos à frieza com que o ME ignorou estes dois casos, ambos atingindo profissionais que tutela, que pertencem a uma carreira com características específicas, características essas que o empregador definiu, e que tem o dever de conhecer muito bem. E é também à luz das características da carreira docente, que podemos encontrar o fundamento da desumanidade que o CDS invoca, e que os dois casos até agora conhecidos representam. Perguntam os bonzos do regime, do alto da sua “razão”: se em vez de professores se tratasse de profissionais de qualquer organismo da AP, a questão da desumanidade não se colocaria? Parece-me que é a estas “tábuas” que o ME, e o governo, querem encostar todos aqueles que vêem nestes dois casos uma enorme falta de humanidade. A resposta, para mim, é simples: obrigar um doente terminal, de qualquer carreira, a morrer a trabalhar, é uma violência, e uma desumanidade. Mas, se às circunstâncias quisermos abrir espaço, não para “medir” a desumanidade, mas para a analisar nos níveis de requinte a que pode chegar, não terei dúvidas em dizer que compreendo melhor que uma junta médica veja como possível a continuidade da prestação profissional de um funcionário com cancro na laringe, sem voz, num gabinete de um qualquer organismo, do que remeter um doente destes para uma escola, onde a sua função é ensinar alunos, e o seu primordial instrumento de trabalho é a voz. Ao fazê-lo, a junta médica tem que saber que a decisão sobre o funcionário tem implicações directas sobre os alunos e sobre a escola, tornando nulos os “ganhos” que poderiam advir desta violência praticada sobre um ser humano, na situação extrema de estar a viver o seu próprio fim. Ora, a que outra entidade, que não ao ME, se deve exigir que informe, com rigor, as juntas médicas da CGA, sobre as especificidades da carreira docente? É, portanto, também contra esta falha de actuação do ME , no âmbito da sua responsabilidade no que diz respeito às especificidades da carreira dos profissionais que tutela, que deve ser entendido este pedido de explicações do CDS ao ministério de Maria de Lurdes Rodrigues.
Terceira questão: pretende o CDS, com o pedido de esclarecimentos que apresentou ao ME, que passe para a opinião pública a ideia de que o ministério terá outras “culpas no cartório”, quanto à resolução dada a estes dois casos? Se pretende, ou não, só o CDS poderá responder, mas a forma como resolveu lidar com o assunto leva-nos a, quiçá abusivamente, concluir que sim. E se o faz com essa intenção tem, quanto a mim, toda a legitimidade para isso. Recordemos: a ministra da educação iniciou o seu mandato produzindo as afirmações mais lesivas da imagem dos professores, que alguma vez se tinham ouvido a um governante, contra a classe profissional que tutela. Com essas afirmações, e com as acções que tem vindo a tomar contra os professores, a ministra da educação deixou, junto da população, a imagem dos professores como profissionais irresponsáveis, desmotivados, faltosos, incompetentes, carregados de privilégios, e regiamente pagos, a quem havia que, em nome da qualidade do sistema educativo, meter na ordem. Consequências? Várias, nenhuma delas proveitosa para a qualidade do “sistema”, todas elas prejudicando as escolas, os alunos, os professores, em suma, a educação portuguesa. Uma das consequências poderá ter sido esta, de que vemos agora os resultados – perante professores doentes, as juntas médicas sentem-se perfeitamente caucionadas para fazerem um agrado ao governo, acabando com a “bandalheira”, que a ministra afirma estar profundamente enraizada na classe docente. Vai daí, acham-se no direito de agir com base no pressuposto que o governo lhes deu, de bandeja: ora então, mais um professor a querer ficar em casa? Só porque tem um cancro? Nem pensar, malandro, vai mas é trabalhar!
É, portanto, contra esta caixa de Pandora que a ministra abriu, que tem razão o CDS em vir pedir justificações ao ME, falando de desumanidade sobre docentes forçados a morrer a trabalhar.
Se Portas e o seu partido não pensaram em nenhuma destas razões, mas apenas no que podem lucrar com esta causa, lamento-o, por eles e pelos seus apoiantes. Mas que a causa é uma causa justa, e há mais do que fundamento para a abraçarem, isso há. Aguardemos, para ver o que vai responder a titular da pasta, e o governo, e o que fará o CDS a seguir.
Primeira questão: Porquê ao ME, e não ao MF, de quem dependem as juntas médicas da CGA? Até parece que o CDS estará a assestar baterias para o alvo errado, quando nos limitamos ao desprezo com que a ministra descartou responsabilidades no primeiro dos casos, ou a soberana displicência com que o seu assessor de imprensa remete qualquer explicação, sobre o segundo, para outras entidades, que não o ME. Acontece que, mesmo que formalmente, a responsabilidade caiba a outra entidade, impõe-se que o ME informe o que sabe sobre estas e outras situações (que as há, infelizmente, aguardando desfecho trágico), se as tem identificadas, e qual a política que segue para a sua resolução e enquadramento. Porque ao ME compete ter essa política e aplicá-la, com transparência e isenção. Por outras palavras, deve o ME aos profissionais que tutela, e à opinião pública, uma explicação quanto à política que segue para casos como estes, quais as ordens que transmite às escolas para lidar com eles, que posição tomou junto do MF e do Primeiro-ministro, relativamente aos dois casos já conhecidos, e se o desenlace brutal de ambos teve como consequência o realinhamento de políticas seguidas nesta matéria. É, portanto, contra o silêncio e o desprezo do ME, que entendo dever ser compreendido o pedido de explicações que, só aparentemente por “erro”, o CDS lhe dirige.
Segunda questão: A desumanidade contra professores, invocada pelo CDS, não estará a ser ridiculamente empolada, uma vez que mais não estamos do que perante a aplicação, pura e simples, dos mecanismos legais e dos procedimentos médicos usuais para situações semelhantes, independentemente da carreira profissional do trabalhador em causa? Numa primeira abordagem, até parecerá que sim, que o empolamento existe, uma vez mais se apenas nos cingirmos à frieza com que o ME ignorou estes dois casos, ambos atingindo profissionais que tutela, que pertencem a uma carreira com características específicas, características essas que o empregador definiu, e que tem o dever de conhecer muito bem. E é também à luz das características da carreira docente, que podemos encontrar o fundamento da desumanidade que o CDS invoca, e que os dois casos até agora conhecidos representam. Perguntam os bonzos do regime, do alto da sua “razão”: se em vez de professores se tratasse de profissionais de qualquer organismo da AP, a questão da desumanidade não se colocaria? Parece-me que é a estas “tábuas” que o ME, e o governo, querem encostar todos aqueles que vêem nestes dois casos uma enorme falta de humanidade. A resposta, para mim, é simples: obrigar um doente terminal, de qualquer carreira, a morrer a trabalhar, é uma violência, e uma desumanidade. Mas, se às circunstâncias quisermos abrir espaço, não para “medir” a desumanidade, mas para a analisar nos níveis de requinte a que pode chegar, não terei dúvidas em dizer que compreendo melhor que uma junta médica veja como possível a continuidade da prestação profissional de um funcionário com cancro na laringe, sem voz, num gabinete de um qualquer organismo, do que remeter um doente destes para uma escola, onde a sua função é ensinar alunos, e o seu primordial instrumento de trabalho é a voz. Ao fazê-lo, a junta médica tem que saber que a decisão sobre o funcionário tem implicações directas sobre os alunos e sobre a escola, tornando nulos os “ganhos” que poderiam advir desta violência praticada sobre um ser humano, na situação extrema de estar a viver o seu próprio fim. Ora, a que outra entidade, que não ao ME, se deve exigir que informe, com rigor, as juntas médicas da CGA, sobre as especificidades da carreira docente? É, portanto, também contra esta falha de actuação do ME , no âmbito da sua responsabilidade no que diz respeito às especificidades da carreira dos profissionais que tutela, que deve ser entendido este pedido de explicações do CDS ao ministério de Maria de Lurdes Rodrigues.
Terceira questão: pretende o CDS, com o pedido de esclarecimentos que apresentou ao ME, que passe para a opinião pública a ideia de que o ministério terá outras “culpas no cartório”, quanto à resolução dada a estes dois casos? Se pretende, ou não, só o CDS poderá responder, mas a forma como resolveu lidar com o assunto leva-nos a, quiçá abusivamente, concluir que sim. E se o faz com essa intenção tem, quanto a mim, toda a legitimidade para isso. Recordemos: a ministra da educação iniciou o seu mandato produzindo as afirmações mais lesivas da imagem dos professores, que alguma vez se tinham ouvido a um governante, contra a classe profissional que tutela. Com essas afirmações, e com as acções que tem vindo a tomar contra os professores, a ministra da educação deixou, junto da população, a imagem dos professores como profissionais irresponsáveis, desmotivados, faltosos, incompetentes, carregados de privilégios, e regiamente pagos, a quem havia que, em nome da qualidade do sistema educativo, meter na ordem. Consequências? Várias, nenhuma delas proveitosa para a qualidade do “sistema”, todas elas prejudicando as escolas, os alunos, os professores, em suma, a educação portuguesa. Uma das consequências poderá ter sido esta, de que vemos agora os resultados – perante professores doentes, as juntas médicas sentem-se perfeitamente caucionadas para fazerem um agrado ao governo, acabando com a “bandalheira”, que a ministra afirma estar profundamente enraizada na classe docente. Vai daí, acham-se no direito de agir com base no pressuposto que o governo lhes deu, de bandeja: ora então, mais um professor a querer ficar em casa? Só porque tem um cancro? Nem pensar, malandro, vai mas é trabalhar!
É, portanto, contra esta caixa de Pandora que a ministra abriu, que tem razão o CDS em vir pedir justificações ao ME, falando de desumanidade sobre docentes forçados a morrer a trabalhar.
Se Portas e o seu partido não pensaram em nenhuma destas razões, mas apenas no que podem lucrar com esta causa, lamento-o, por eles e pelos seus apoiantes. Mas que a causa é uma causa justa, e há mais do que fundamento para a abraçarem, isso há. Aguardemos, para ver o que vai responder a titular da pasta, e o governo, e o que fará o CDS a seguir.
Quando dizem que isto é tudo treta/O que faz falta…*
…é avisar a malta!
E não deixa de avisar, e muito bem, a Rita Marques Guedes, no DE:
«Ele é o caso da DREN e da preocupante omissão do Governo em agir no sentido de colocar sanidade onde dela havia défice. Ele é o caso de uma certa fotocópia que de conteúdo tão intolerável deu azo a despedimento de responsável pelo centro de saúde onde o papel foi afixado. Ele são as exonerações e as nomeações, sem olhar a competências e meramente valorativas de alinhamentos políticos. Ele é o responsável de um dos mais relevantes grupos de comunicação social a insurgir-se contra uma certa fúria legislativa que, segundo o mesmo, atenta contra a liberdade de informar e ser informado. Ele é o pouco que se vai conhecendo e o muito que nunca se chegará a saber... Não. Não são fumos sem fogo. Ele há fogo. Um fogo rasteiro, mas traiçoeiro. Queima e devasta sem se fazer demasiado notado.»
Tem a Rita toda a razão, e tão pouco notado é este fogo, que os servos do regime se sentem suficientemente seguros para desvalorizarem todos aqueles que, vendo o perigo chegar, se atrevem a gritar, alto e bom som: FOGO!
O que faz falta é acordar a malta
* Zeca Afonso
Wednesday, July 04, 2007
Terrorismo- nova fase?
As acções terroristas dos últimos dias, em Londres, praticadas por médicos e elementos ligados aos serviços de saúde, deixaram os britânicos em estado de choque. Não é caso para menos. Imagine-se se estes "operacionais" tivessem preferido actuar dentro do seu ramo profissional, onde teriam podido ser bem mais eficazes, do que armarem-se em bombistas amadores? Por outro lado, o insucesso que registaram não seria propositado? Não consigo imaginar com que finalidade, mas acontece que desconfio sempre, quando vejo um faisão disfarçado de galinha...
Mas certamente que sim
Do último post, imperdível, este excerto:
«O estado lança uma iniciativa de colocar computadores e banda larga móvel nas mãos de milhares de alunos e professores, sem providenciar a formação no novo sistema operativo e Office que conforme divulgado publicamente os acompanha. Contrata sem concurso público o software da empresa dominante no mercado, cravando mais um prego no caixão da competitividade e da concorrência. Fá-lo porventura de uma forma formalmente legal, mas através do subterfúgio de serem as empresas de telecomunicações a pagar a factura, sem o dinheiro entrar no ciclo de controlo ( e de consultas públicas) do estado.As ofertas dos vários fornecedores de portáteis parceiros da iniciativa, e dos operadores móveis que pagam a factura são cartelizadas sendo oferecidas aos utilizadores pelos mesmos preços negociados. Deste modo o estado subsidia os concorrentes mais caros para que estes apareçam com o mesmo preço dos mais baratos.O estado demite-se de promover a concorrência.Demite-se também de promover a interoperabilidade entre produtos de software. E demite-se de promover a formação nesses novos produtos…»
Basta ter andado por perto destes meandros, para apetecer dizer: nem mais! E, já agora, acrescentar: os erros são sempre os mesmos, o Estado também, os grandes beneficiados somam e seguem. Temos um governo reformista? Talvez, mas as "reformas" não passaram por aqui!
Série a ler, mas certamente que sim.
Monday, July 02, 2007
A UE está a fazer bem a Barroso
A desenvoltura política que evidencia já nada tem a ver com o pensar pequenino da generalidade dos nossos políticos.
Música desafinada
Segundo o Correio da Manhã, a organização do concerto de abertura da Presidência foi caótica, deixando sem lugar individualidades de peso, arrebanhadas à pressa para uma sala de resoscurso. Tudo à boa maneira portuguesa, pois então. Se somarmos à tradicional desorganização nacional o desenrascanço, ao melhor estilo lusitano, e a vontade de "passar a perna" à autarquia PSD, podemos imaginar que a música que por lá se tocou não stenha sido de violinos.
Do Portugal Profundo*
O Portugalzinho pacóvio é o dos Sócrates, esses entes que rebrilham, impantes de orgulho com a Presidência. O Portugalzinho pacóvio é o dos que não sabem ser mais do que servos, contentinhos e dobradinhos perante os "chefes", mas que pisam a pés todos os que sentem inferiores. O Portugalzinho pacóvio é o dos senhores do poder, que, confrontados com os apupos, fogem e entram pelas traseiras, como os vis traidores. Vamos ter seis meses de Portugalzinho pacóvio, em crescendo, e, quando esse tempo acabar, estaremos ainda um pouco mais pobres, mais pequeninos, mais envergonhados. Porque, entretanto, os esbirrozinhos proliferaram, os autoritários engordaram, os incompetentes ganharam espaço e nós, os outros, nem percebemos bem o que nos tiraram.
* Os ratos e os outros
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