«O primeiro-ministro, modestamente, não reivindicou para si os méritos deste resultado, mas não há dúvida que se deve a uma estratégia longamente meditada e coerentemente aplicada durante décadas por vários governos. Não seria possível atingir valores tão miseráveis de natalidade sem esta intensa e persistente atitude política. Foi este Executivo que fechou maternidades, liberalizou e subsidia o aborto, impôs a educação sexual laxista. Ele é o herdeiro dos que facilitaram o divórcio, promoveram uniões de facto, promiscuidade, homossexualidade. Os portugueses estão em vias de extinção e José Sócrates pode gabar-se disso.O valor agora revelado não é surpresa inesperada, mas vem na sequência natural de uma linha já antiga. Todos sabemos como a cultura progressista, manifestada por intelectuais, leis, telenovelas e programas educativos, se opõe à chamada "família tradicional". No antigo regime obscurantista a fertilidade portuguesa manteve altos valores, à volta de três nascimentos por mulher, até ao início da década de 70. Com a democracia e desenvolvimento começou a tendência moderna de queda da fertilidade.Aqui Portugal não só conseguiu a convergência com a Europa, mas ultrapassou-a largamente. A nossa taxa de fertilidade de 1,36 nascimentos por mulher é bastante inferior à média da União Europeia (1,52), por sua vez muito menor que o nível de reposição das gerações de 2,1. Não se pode dizer que se trata de uma fatalidade sistémica, porque em países próximos os esforços atentos têm conseguido inverter a trajectória. Trata-se mesmo de uma específica estratégia nacional. O Governo português mostra decididamente à Europa o caminho para a decadência populacional.»
O estilo beato do cronista, que, frequentemente, nos faz desistir de ler os seus escritos, não deve impedir-nos de reconhecer a lucidez e a frieza desapaixonada com que analisa esta questão. Tem toda a razão nas causas que aponta, mas o problema, sendo nosso, atira-nos para "os braços" dos países mais desenvolvidos, em que este problema da baixa natalidade cada vez mais se coloca. Há 10 anos, num taxi de Nova Iorque, mantive uma longa e muito interessante conversa com o motorista afro-americano, sobre a diferença que distingue todos os representantes do melting pot dos born americans. Dizia ele que seria pelo menor investimento na natalidade, que a supremacia dos white americans cairia. Não se enganava. Dez anos depois, veja-se como o fenómeno tem evoluído nas terras do Tio Sam. E não precisaram do Sócrates. Neste domínio, os nossos políticos, com o assertivo Primeiro-ministro incluído, têm sido, apenas, peças de escassa importância.
No comments:
Post a Comment