Sabe o meu caríssimo amigo Anthrax, que não poderia resistir a cair na «esparrela» da provocação que ele aqui lança, no que penso que seja uma tentativa (bem) conseguida de recuperar algum do seu perdido prestígio, enquanto mortífero agente de destruição, face aos lamentáveis avanços que outros elementos, muito mais virulentos e devastadores, têm infelizmente conseguido, em espaços sacrificados deste nosso globo azul.
Impõe-se explicar que nutro pelo Anthrax aquela admiração profunda e aquele respeito inabalável, que nos merecem as pessoas de excepção, como ele é. A sua argúcia, lucidez e inteligência brilhante estão magnificamente servidas por doses «paquidérmicas» de irreverência, irrequietude, mordacidade e sentido de humor, que nos deixam completamente KO, quando menos esperamos.
Postos os elogios (totalmente merecidos) à cabeça, vamos à «dolorosa», isto é, ao acerto de continhas!
Como acontece a todas as pessoas, direi até, como acontece aos mais brilhantes, de vez em quando tropeçam nos próprios pés e... zás, catrapaz, lá está o caldo entornado. Aqui, meu menino, a dose de «gás» foi excessiva e o balão subiu, subiu, subiu e...Puf, rebentou!
Ora vamos lá então serrar o bico a este «prego».
É indiscutível que, analisado enquanto grupo, melhor dizendo, «aos molhos», os professores facilmente se tomam por um aglomerado de gente cheia de prosápia deslocada, confrangedoramente snob e elitista, ignorante do real, resfastelando-se numa ignorância academicamente lustrosa e ilustrada, detentor de um discurso hermético, mas vazio de conteúdo e de alma, porque travejado na falácia da modernidade e da humanidade, das quais nem vislumbram as evidências, quanto mais a verdadeira natureza.
Aceito que sejam assim vistos de fora, enquanto grupo, os professores. Só que poderemos escrever o mesmo de qualquer classe profissional, quando o objecto da nossa análise é o grupo, grosseiramente tomado o todo pela parte, em bruto, dissecado a partir dos comportamentos estereotipados, das idiossincrasias mais evidentes, dos exemplares de feira, que abundam em todos os grupos profissionais e lhes conferem o rótulo.
A caricatura, soberba e divertida (enquanto texto), que o meu amigo nos lança, aplica-se, como uma luva, a alguns dos profissionais que aqui, provocatoriamente generalizando, tão desapiedadamente abocanha. Se cada professor deste país recebesse este seu texto, haveria um lote considerável deles a dever corar por dentro (se fossem capazes de o fazer, porque poucos se veriam neste espelho, reconhecendo-se; o que diz muito sobre a representação que esta classe tem de si própria), mas, para cada um destes, encontramos dois, ou três, a quem esta carapuça não serve.
Como julga o meu amigo que o «sistema» tem sobrevido no meio do caos permanente em que a educação pública (não fazer a leitura da dicotomia entre ensino público e privado, que aqui não vem ao caso) tem vivido nos últimos 30 anos? Não, certamente, por obra e graça de um ministério megalómano, mastodôntico, omnipresente e omnisciente, qual gigante de artelho fino, bailando, permanentemente, inacabadas valsas de compositores sem talento. Muito menos por mérito de sábios iluminados, de loucos inteligentes, ou de génios intermitentes, que pelos corredores da administração lançam aos ventos insanas prescrições, reformadas contradições e espúrias imitações, que a poeira dos dias vaza, em rodopio, nas incineradoras da conveniência, da conivência e da incompetência (e, já agora, da insolvência). Também não sobreviveu por participada, esclarecida, responsável e justa intervenção de paizinhos e mãezinhas, que à conta das pesadas responsabilidades sociais, profissionais e outras tais, despejam os seus rebentos no «sistema», do qual esperam que, no fim, além do domínio das letras e dos números, lhes venham devolvidos com sabedoria «lateral», preenchidos de «saber» os espaços reservados ao amor, à amizade, à esperança e à liberdade, espaços de cultura e de humanidade, cuja responsabilidade estas famílias de agora não querem assumir e de que, comodamente, se habituaram a abdicar.
Pois é, meu caro Anthrax, tem sido esse «bando» de gente que tão implacavelmente caracteriza, essa gente que não sabe «ler instruções básicas e simples», que « são todos muito fofos e amigos do próximo», que « são dotados de uma perícia inigualável para a gestão de projectos», é esse «bando», meu amigo, que aguentou, e aguenta, e continuará a aguentar, escolas velhas que rebentam pelas costuras, escolas em que gestão e liderança são palavras de guerrilha, escolas violentas, escolas multirraciais e multiculturais, escolas pobres de tudo, até de alunos. É essa estirpe de gente, que se gaba do trabalhinho incipiente na internet, que faz um Power Point para explicar quantos são dois mais três, que se perde nas auto-estradas da banda larga a pesquisar um poema de Camões (que tem mesmo à mão no livro de leitura do 4º ano), são esses simplórios que erguem de edifícios decadentes, ou reluzentes, uma escola, que só o é porque eles, talvez porque não leram atentamente o seu estatuto profissional, ou porque sofrem de «projectite aguda», continuam a tentar transformar pedras em ouro, que é o mesmo que dizer, tornar crianças ao Deus dará em homens de amanhã, não baixando os braços e, com maior, ou menor sentido de humor, conseguirem discutir a 349ª reforma curricular com o mesmo entusiasmo como se fosse a primeira.
Meu querido amigo, como vê (e pretenderia?) sabendo ao que ía, «caí», com gosto, no seu «Iraque». Tal como lá, a situação, no que à instrução do nosso povo se refere, é grave, perigosa e não tem ainda solução à vista. Mas há que manter a esperança, ou sucumbimos todos. Uma certeza podemos ter: ou contamos com este «exército», ou batemos «em retirada». Treiná-lo, equipá-lo, moralizá-lo, e dar-lhe o comando das operações, é tudo quanto é preciso. Depois, basta acompanhar, cuidadosamente, a progressão «das tropas» no terreno.
Impõe-se explicar que nutro pelo Anthrax aquela admiração profunda e aquele respeito inabalável, que nos merecem as pessoas de excepção, como ele é. A sua argúcia, lucidez e inteligência brilhante estão magnificamente servidas por doses «paquidérmicas» de irreverência, irrequietude, mordacidade e sentido de humor, que nos deixam completamente KO, quando menos esperamos.
Postos os elogios (totalmente merecidos) à cabeça, vamos à «dolorosa», isto é, ao acerto de continhas!
Como acontece a todas as pessoas, direi até, como acontece aos mais brilhantes, de vez em quando tropeçam nos próprios pés e... zás, catrapaz, lá está o caldo entornado. Aqui, meu menino, a dose de «gás» foi excessiva e o balão subiu, subiu, subiu e...Puf, rebentou!
Ora vamos lá então serrar o bico a este «prego».
É indiscutível que, analisado enquanto grupo, melhor dizendo, «aos molhos», os professores facilmente se tomam por um aglomerado de gente cheia de prosápia deslocada, confrangedoramente snob e elitista, ignorante do real, resfastelando-se numa ignorância academicamente lustrosa e ilustrada, detentor de um discurso hermético, mas vazio de conteúdo e de alma, porque travejado na falácia da modernidade e da humanidade, das quais nem vislumbram as evidências, quanto mais a verdadeira natureza.
Aceito que sejam assim vistos de fora, enquanto grupo, os professores. Só que poderemos escrever o mesmo de qualquer classe profissional, quando o objecto da nossa análise é o grupo, grosseiramente tomado o todo pela parte, em bruto, dissecado a partir dos comportamentos estereotipados, das idiossincrasias mais evidentes, dos exemplares de feira, que abundam em todos os grupos profissionais e lhes conferem o rótulo.
A caricatura, soberba e divertida (enquanto texto), que o meu amigo nos lança, aplica-se, como uma luva, a alguns dos profissionais que aqui, provocatoriamente generalizando, tão desapiedadamente abocanha. Se cada professor deste país recebesse este seu texto, haveria um lote considerável deles a dever corar por dentro (se fossem capazes de o fazer, porque poucos se veriam neste espelho, reconhecendo-se; o que diz muito sobre a representação que esta classe tem de si própria), mas, para cada um destes, encontramos dois, ou três, a quem esta carapuça não serve.
Como julga o meu amigo que o «sistema» tem sobrevido no meio do caos permanente em que a educação pública (não fazer a leitura da dicotomia entre ensino público e privado, que aqui não vem ao caso) tem vivido nos últimos 30 anos? Não, certamente, por obra e graça de um ministério megalómano, mastodôntico, omnipresente e omnisciente, qual gigante de artelho fino, bailando, permanentemente, inacabadas valsas de compositores sem talento. Muito menos por mérito de sábios iluminados, de loucos inteligentes, ou de génios intermitentes, que pelos corredores da administração lançam aos ventos insanas prescrições, reformadas contradições e espúrias imitações, que a poeira dos dias vaza, em rodopio, nas incineradoras da conveniência, da conivência e da incompetência (e, já agora, da insolvência). Também não sobreviveu por participada, esclarecida, responsável e justa intervenção de paizinhos e mãezinhas, que à conta das pesadas responsabilidades sociais, profissionais e outras tais, despejam os seus rebentos no «sistema», do qual esperam que, no fim, além do domínio das letras e dos números, lhes venham devolvidos com sabedoria «lateral», preenchidos de «saber» os espaços reservados ao amor, à amizade, à esperança e à liberdade, espaços de cultura e de humanidade, cuja responsabilidade estas famílias de agora não querem assumir e de que, comodamente, se habituaram a abdicar.
Pois é, meu caro Anthrax, tem sido esse «bando» de gente que tão implacavelmente caracteriza, essa gente que não sabe «ler instruções básicas e simples», que « são todos muito fofos e amigos do próximo», que « são dotados de uma perícia inigualável para a gestão de projectos», é esse «bando», meu amigo, que aguentou, e aguenta, e continuará a aguentar, escolas velhas que rebentam pelas costuras, escolas em que gestão e liderança são palavras de guerrilha, escolas violentas, escolas multirraciais e multiculturais, escolas pobres de tudo, até de alunos. É essa estirpe de gente, que se gaba do trabalhinho incipiente na internet, que faz um Power Point para explicar quantos são dois mais três, que se perde nas auto-estradas da banda larga a pesquisar um poema de Camões (que tem mesmo à mão no livro de leitura do 4º ano), são esses simplórios que erguem de edifícios decadentes, ou reluzentes, uma escola, que só o é porque eles, talvez porque não leram atentamente o seu estatuto profissional, ou porque sofrem de «projectite aguda», continuam a tentar transformar pedras em ouro, que é o mesmo que dizer, tornar crianças ao Deus dará em homens de amanhã, não baixando os braços e, com maior, ou menor sentido de humor, conseguirem discutir a 349ª reforma curricular com o mesmo entusiasmo como se fosse a primeira.
Meu querido amigo, como vê (e pretenderia?) sabendo ao que ía, «caí», com gosto, no seu «Iraque». Tal como lá, a situação, no que à instrução do nosso povo se refere, é grave, perigosa e não tem ainda solução à vista. Mas há que manter a esperança, ou sucumbimos todos. Uma certeza podemos ter: ou contamos com este «exército», ou batemos «em retirada». Treiná-lo, equipá-lo, moralizá-lo, e dar-lhe o comando das operações, é tudo quanto é preciso. Depois, basta acompanhar, cuidadosamente, a progressão «das tropas» no terreno.
E, por agora, acho que podemos deixar o prego como está, antes que corramos o risco de um «rush» de adrenalina, ou pior, de alguma tentativa de degolação!
* Título roubado a este blog de referência.
2 comments:
Boa resposta :)
No entanto, a minha crítica não tem só a ver com o facto de ter de trabalhar com eles (porque, convenhamos, não os posso matar não é?), tem também a ver com todo um sistema que passam o tempo a criticar e parece que ainda não se aperceberam que fazem parte dele. E mais, se alguém fizer alguma coisa para o mudar, "eles" vão começar a "chiar" a torto e a direito.
A questão que defendo neste ponto de vista é muito simples. Os professores, tal como qualquer outra pessoa, têm sempre duas opções: Ou ser parte do problema, ou ser parte da solução. Grande parte deles opta por ser parte do problema.
Será o "Fado" do povinho português? Se calhar é. Mas a verdade é que a partir do momento em que, se passa o tempo a ver problemas e a arranjar problemas, em vez de ver soluções e de arranjar soluções, então passa-se a ser parte do problema e não da solução.
Para mim, este tipo de atitude impede que se ande para a frente. Como é que se muda? Não sei.
Falando em andar para a frente, o nosso amigo arranjou emprego.
Be cool.
Boa, pelo nosso amigo.Um abraço, grande, para ele.
Foi para o governo, está visto!:)
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