Saturday, June 02, 2007

Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a *

Quantas vezes nós, os adultos, nos desesperamos com a indiferença que sentimos nas nossas crianças e jovens por nós, pelo que somos e representamos, na continuidade dos valores familiares? quantas horas de sono não perdemos com o pensamento de que para eles não contamos, praticamente não existimos, que tudo o que fazemos e dizemos se perde, irremediavelmente? quantas feridas não abrimos nos nossos corações, sentindo que, depois do nosso desaparecimento físico, nada desse percurso de carinho e amor partilhado restará, numa memória, num gesto que se repete, nos valores que se transportam, para as gerações seguintes? Julgo que todos os que de nós já criaram uma criança tiveram, em algum momento, uma réstea amarga desta preocupação, desta tristeza.



E, no entanto, quando menos esperamos, percebemos que nenhuma lição de amor se perde, sem retorno. Pode ser um girassol oferecido no silêncio dos nobres gestos do amor puro, um poema que se colhe com o coração, a evocação das memórias da infância, uma rosa na mão de uma criança, ou, simplesmente, uma frase que se guarda, como estímulo de crescimento, mas aí, nesse átomo de carinho e de lembrança, sabemos que aqueles que distribuiram o seu amor, sem nele porem preço, contam, e que a sua vida valeu a pena, e continua a fazer a diferença.


Por esta lição de vida, às minhas crianças grandes fico a dever a certeza tranquila com que poderei viver esta passagem, no exemplo dos que já partiram, sabendo que amanhã serão as minhas crianças mais pequeninas, que assim continuarão, pelo amor.

* Joahnn Coethe

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