O que dizem os sindicatos que exige o ME? Não há interrupções de Natal, Carnaval e Páscoa para os professores, devendo as escolas manter-se abertas para guarda dos seus alunos. Isto é novo? Não inteiramente. Os professores já não tinham férias nestes períodos, comparecendo nas escolas para reuniões e trabalhos preparatórios vários. A novidade passa a ser terem que fazer guarda aos alunos. E qual é o problema? Sendo professores, de determinado grupo profissional, com um conteúdo funcional bem determinado, os profissionais em causa, sendo obrigados à guarda, assegurá-la-ão nos termos dos seus direitos e deveres profissionais - dando aulas aos alunos presentes. Isto implica que estes alunos não terão férias? Azar o deles, que têm famílias que não encontram outras tarefas de ocupação das suas crianças. Quanto aos docentes, com este princípio de trabalho contínuo ao longo do ano civil, deverão exigir, contrariamente ao que agora se passa, poder gozar o seu período de férias em qualquer momento do ano, inclusive em período lectivo. Com isto, ficam assegurados os direitos dos docentes e satisfeitos os interesses e conveniências das famílias.
Outro aspecto em que os sindicatos não estão a ver bem a coisa é na exigência do ME de que os professores passem a dar 8 horas lectivas num dia. E por que estranha razão não pode ser? Porque dar aulas é uma tarefa específica, muito pesada? Porque o professor tem que dar sempre o seu máximo, a cada tempo lectivo, com cada turma? Porque o professor não pode fazer como qualquer outro funcionário, isto é, interromper para um café, para ir à casa de banho, para esticar as pernas, dar uns dedos de conversa, ou, simplesmente, tirar umas horitas para ir tratar de um assunto? Trate-se a situação como ela se apresenta - tratado o professor como um outro qualquer funcionário, exija e use dos mesmos direitos de todos os outros. Sanções por isso? Recorra-se para as entidades competentes para a regulação da aplicação de direitos constitucionais e profissionais, e logo se verá o que acontece.
Francamente, os sindicatos têm muito a aprender com esta ministra. Para tutela inflexível, classe docente cumpridora, mas inflexivelmente cumpridora nos estritos limites das suas competências, no pleno uso dos seus direitos. Assim, vamos lá. E o próximo ministro, que virá para "amaciar" os estragos desta, não deixará de apreciar a estratégia!
O resultado para os alunos? Não será, decerto, com medidas destas que se melhora a educação neste país, mas talvez tenha chegado o tempo de demonstrar isso mesmo.
ADENDA: Afinal, o ME não pretende acabar com as pausas do Natal, Carnaval e Páscoa, houve um abuso interpretativo dos sindicatos, a partir da última versão do ECD, que receberam do governo e em que os artigos os artigos 91º, 92º e 93º do ECD apareciam revogados. "Redundância", foi a justificação dada pela tutela para a retirada desses artigos. Cá para mim tenho que foi (mais uma) casca de banana aos sindicatos, e estes cairam como uns patinhos.
5 comments:
Concordo com a teoria da banana. Quanto aos sidicatos, se eu fosse professor certamente que faria os possíveis para que não fossem eles os meus representantes. Acho fantástico que um grupo que nem sequer é eleito possa ele próprio definir o que interessa aos professores e à Educação, constituindo-se como representante dos profs junto do ME.
Sobre as 8h de aulas, é preciso não confundir 35 horas semanais com 35 horas lectivas. Existem actividades extra-lectivas que precisam de tempo.
De resto concordo que os professores podessem ter as suas férias em qualquer altura do ano, como os restantes funcionários públicos, e que tenham que fazer o seu horário de trabalho na escola. Isso inclui a actividade lectiva e a preparação das aulas. Obviamente que precisarão de local de trabalho, coisa que actualmente a escola não consegue assegurar.
Tudo o que dizes está correctissimo (tivessemos nós colegas capazes de exerecer os seus direitos!) ... aliás, quanto a mim terem andado a discutir se o direito à maternidade/paternidade, doença etc era um direito que não podia ser penalizado, foi uma completa perda de tempo ... qualquer tribunal constitucional nos teria dado razão.
Quanto à redundância, não acho nada mal que exista. Se não estiver lá, em qualquer altura podem alterar o calendário escolar e inventar qualquer coisa ( se bem que o que está no estatuto, pareça interessar cada vez menos a quem nos (des)governa ... exemplo disso foi a tábua rasa que fizeram do ainda existente)
PS: 8 aulas por dia são 40 horas de trabalho ... fora a hora obrigatória para almoço ... dar-nos-á 45 horas na escola!!! ... só que eles apenas fazem as contas multiplicando os 45 minutos e isso em vez de dar 8 horas dá 6 horas, o que corresponde a 30 horas (mais 5), para eles. Esquecem-se que os intervalos não passam do ir buscar o livro e mudar de sala... pensam que é descanso! Enfim ... somos governados por quem nunca esteve dentro de uma escola o tempo suficiente para saber como funciona.
No entanto, apesar de tudo o que disse sobre as 8 horas, creio que eles se referem ao limite máximo por dia .. e não à obrigatoriedade de dar 8 aulas, já que, no estatuto, continuam consignados os 22 tempos lectivos ... :)
A não ser que eles pretendam implementar as 35 horas na escola. Não faria nem mais uma vírgula em casa! Ia ser lindo! Ainda esta semana para fazer um trabalho que em casa não me teria demorado mais do 20 minutos, demorei, na escola, 3 horas e meia... É só fazer contas
O que é certo é que no dia em que isso acontecer, faço como eles querem ... em casa descanso!
Entendo o alcance da tua forma de protesto, cumprindo com as asneiradas da tutela, contudo acho que isso pode ser ceder no que acho que deve ser um professor. Continuo que dessa forma vamos nós também colaborar para que a profissão de professor mude a sua forma de ser, de estar e de pensar. Não me desvio do que acredito ser a minha profissão, simplesmente porque acredito que os meus alunos, os meus filhos e a sociedade em que vivo são mais importantes que Sócrates e MIlú, sou inflexível e por mim esta luta só acaba quando os pusermos fora do poleiro. Os que virão serão iguais? Claro que sim! Talvez o que nos faz falta é uma revolução com sangue e não com cravos, uma juventude como a francesa e uma classe de professores como os condutores dos carros de lixo da cidade do Porto que ficou quinze dias com os detritos espalhados pela cidade.
Caro Crack:
O meu comentário é tardio, mas deixo-o na mesma. Concordo com o Miguel Sousa quando diz que essa luta "pela calada" seria ceder no que se entende que é ser professor e os danos para os alunos seriam ainda maiores do que os que a actual política educativa vai causar se os professores não se aguentarem numa coisa que é contrariar o mais que puderem o fazer deles cobaias. Mas, para isso também era preciso que não matassem o que caracteriza tantos e tantos professores: a paixão pela sua profissão, pelas crianças e jovens, pelo ensino e pela educação em sentido mais lato. Esperar por outro ministro? Não sei, não, caro Crack. Há feridas que são mortais se não forem desinfectadas muito rapidamente, e nem é só com o novo ECD que esta ministra está a causar essas feridas, começou antes disso, o novo ECD é só uma síntese final do processo de desmoralização que instalou nas escolas. Se esta ministra for até ao fim do mandato, receio que seja então tarde demais e muitos anos sejam precisos para remediar as consequências.
Good shhare
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