Friday, October 06, 2006

Aborto

No fervor do debate pré-referendário, quiseram alguns estranhar as declarações do cardeal patriarca, que se prestaram a interpretações a gosto, tanto pelos militantes do sim, como pelos do não. Maria José Nogueira Pinto explica, no DN, as razões pelas quais considera "naturais" essas declarações, uma vez que esta é uma «questão de sociedade e de Estado». Ficando por aqui na leitura do artigo, não discordo de MJNP. Ora, assim sendo, se o debate me parece desnecessário, o referendo parece-mo ainda mais. Porquê? Percebam-se os sinais dos tempos - a vida humana tem cada vez menor valor, por muito que o discurso mundial, "oficial", diga o contrário; os costumes, comodamente suportados pela evaporação dos princípios, deslizam, gradualmente, da liberdade para a libertinagem, sem que o nosso padrão de "normalidade" se esteja a aperceber da diferença; a posição do Estado, neste caso o nosso, e nesta questão, em particular, pode resumir-se ao que, sobre o aborto, preocupava, há uns dias, o ministro da saúde, Correia de Campos: «o milhar de abortos feito por ano no Serviço Nacional Saúde "é muito pouco", por culpa "da relutância dos médicos, enfermeiros e administrativos", pelo que há que "naturalmente, incentivar o sector público a fazê-lo"».
Posto isto, acabe-se com o argumentário da hipocrisia, poupem-nos ao referendo e tenha o governo a coragem de impor a liberalização do aborto. O que se segue, ficará na esfera da decisão pessoal de cada um (a).

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