Tuesday, October 31, 2006


Cumprem-se hoje 58 anos que os meus pais se casaram. Se foi um privilégio acompanhar o seu amor, que foi sempre maior do que a vida, é uma lição ver como subsiste, para além da morte. Aos meus pais, o meu carinho, no primeiro aniversário de casamento que não passam, fisicamente, juntos.

Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras.
Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo
e ao mais alto que a minha alma pode alcançar
buscando, para além do visível dos limites
do Ser e da Graça ideal.
Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todos
os dias à luz do sol e à luz das velas.
Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutam
pela Justiça;
Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja.
Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoas
e com a fé da minha infância.
Amo-te com um amor que me parecia perdido - quando
perdi os meus santos - amo-te com o fôlego, os
sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!
E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.

Elizabeth Barrett Browning

Esclarecimento do Professor Santana Castilho

A propósito deste meu post: Santana Castilho - verdades duras, recebi, por email, uma mensagem do Professor Santana Castilho, de que reproduzo o corpo relativo ao esclarecimento, que se impõe:
«1. Escrevi uma carta aberta ao Primeiro- Ministro, que foi publicada na edição de 6 de Junho de 2005 do "Público". Junto-a em versão integral.
2. O texto constante do seu blog é uma adulteração do que escrevi, por parte de alguém que, naturalmente, desconheço e se apropriou do meu nome.
3. Não conheço o Senhor Luis Carvalho, a quem não enviei qualquer e-mail, muito menos o texto que me é atribuido.
4. Obviamente que este esclarecimento não pretende ser senão isso, uma vez que é para mim evidente que o Colega actou em perfeita boa-fé.»
Reproduzo, também integralmente, a carta que o Professor Santana Castilho anexou à mensagem:

«Carta aberta ao engenheiro José Sócrates
Santana Castilho*


Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras, motivadas por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta num direito que o Senhor ainda não eliminou: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação.
Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento. Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1. Do “Statistics in Focus” nº 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da zona euro.
2. Outra publicação da Comissão Europeia, “L’Emploi en Europe 2003”, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E que vemos? Que em média, nessa Europa, 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto que em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
3. Um dos slogans mais usados é o do peso das despesas de saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1.458 €. Em Portugal esse gasto é ... 758 €. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2.730 €, a Áustria 2.139, a Irlanda 1.688, a Finlândia 1.539, a Dinamarca 1.799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas, infelizmente para o país, os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das finanças caíram, lançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas. O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas:
1. Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades. Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75% (11% pagos pelo trabalhador, 23,75% pagos pelo patrão). Os funcionários públicos pagam os seus 11%. Mas o seu patrão Estado não entrega mensalmente à Caixa Geral de Aposentações, como lhe competia e exige aos demais empregadores, os seus 23,75%. E é assim que as “transferências” orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos. Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem à sua politica o ministro Campos Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos por acumular aos seus 7.000 euros de salário os 8.000 de uma reforma conseguida com 6 anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
2. Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seu encantos baixou-os em 4 pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2. Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de euros que as empresas privadas devem à segurança social? Por que não pôs em prática um plano para fazer andar a execução das dividas fiscais pendentes nos tribunais tributários e que somam 20.000 milhões de euros? Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais, que em 2004 significaram 1.000 milhões de euros? Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos? Por que não revogou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento e a iníqua lei que permitiu à PT Telecom não pagar impostos pelos prejuízos que teve...no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de euros de receita fiscal perdida?
A verdade e a coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores. Quando subiu os impostos, que perante milhões de portugueses garantiu que não subiria, ficámos todos esclarecidos sobre a sua verdade. Quando elegeu os desempregados, os reformados e os funcionários públicos como principais instrumentos de combate ao défice, percebemos de que teor é a sua coragem.

* Professor do ensino superior»

Resta-me apresentar ao Professor Santana Castilho o meu sincero pedido de desculpas, pela reprodução de um documento, que lhe é falsamente atribuído. Admiro os seus artigos de opinião publicados na imprensa, estando o meu apreço sobejamente documentado neste blogue, onde, com frequência, deles me tenho feito eco. Tal constituiria prova bastante da genuína boa-fé com que o meu post foi elaborado, se desta o Professor Santana Castilho tivesse duvidado, o que não foi o caso. Bem-haja por isso.

Monday, October 30, 2006

Não se enganam todos, sempre.

Estas duas notícias, que, numa leitura mais superficial, apenas parecem ter entre si o facto de se debruçarem sobre problemas no sector da educação, revelam que, apesar de serem muito diferentes as situações, as causas acabam por ser as mesmas - uma gestão errática do sistema educativo, assente em pressupostos impressionistas dos governantes e de alguns dirigentes; autismo e dirigismo da governante, não apoiado este em suportes técnicos; visão economicista; falta de respeito para com os administrados.
Um dia, a ministra decidiu que as aulas de substituição são a solução para o insucesso escolar; sem pensar se reuniam as escolas condições para generalizarem, à pressa, tal procedimento, a ME impôs a medida, vendida esta como algo que só não existia por preguiça dos docentes e laxismo das escolas; comprovada a incapacidade de promover, na maioria das escolas, efectivas aulas de substituição, sem o governo abrir os cordões à bolsa, perdeu-se a senhora ME em deambulações filosófico-argumentativas sobre a vantagem da guarda e ocupação dos alunos, associadas estas a tarefas de enriquecimento, que, segundo ela, qualquer adulto facilmente promoveria; o tempo, e as circunstâncias, vieram provar que a ME não tinha razão, devendo a senhora ter vergonha de ouvir agora, dos próprios alunos, a verdade sobre o que são as famigeradas aulas de substituição; como já nos habituou, a senhora chutou o problema para as escolas, dizendo que vai exigir que as aulas de substituição sejam isso mesmo, com qualidade; ela sabe que, sem mais meios, pouco poderão os conselhos executivos melhorar a situação, mas, para já, calou a boca aos manifestantes e sacudiu de cima dos seus próprios ombros o problema que criou. Um "mimo", de competência!
A falta de pessoal auxiliar nas escolas, uma realidade, desde há muitos anos, tem que ter uma abordagem mais corajosa por parte do governo, uma vez que, também aqui, o problema é uma questão de mais recursos financeiros, traduzida em mais recursos humanos a afectar às escolas. Evidentemente que será necessário racionalizar, equilibrando, os quadros de pessoal auxiliar das escolas; é certo que não poderá deixar de haver uma estreita parceria do ME com as autarquias e associações de pais, mas é um facto que, ao mesmo tempo que o campus escolar se torna mais agressivo, no seu interior e na envolvente externa imediata, temos cada vez mais estabelecimentos de ensino fortemente carenciados de pessoal auxiliar, nomeadamente para assegurarem a segurança dos alunos em localizações estratégicas do espaço escolar: pátios e recreios, instalações desportivas, portarias. A situação desta escola não é nova, não é única, não será a mais grave, mas põe a nú como a falta de meios, a falta de planeamento e a falta de diálogo da administração educativa são uma constante do dia-a-dia das nossas escolas.
Estes dois casos são exemplificativos da verdadeira face das dificuldades das nossas escolas, estes são problemas que têm vindo a ser criados fora das escolas, sem que estas detenham o poder de decisão necessário para os resolver, mas exigindo-lhes que os resolvam, ou que, não os resolvendo, pelo menos não tragam as suas consequências para a praça pública. De ambas as notícias importa ainda reter que são os destinatários da propaganda desta ministra aqueles que já acabaram a contestá-la. E ainda a procissão vai no adro!
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam

Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

Alberto Caeiro

"A mais elevada forma de esperança é o desespero superado "*

Considerando a percentagem esperada de mortalidade (acima dos 40%), a reduzida cobertura de vacinas e a inoperância do nosso cada vez mais debilitado sistema nacional de saúde, a perspectiva é aterradora.
* Georges Bernanos

LeActiveMath

Com o sucesso na aprendizagem da matemática a decrescer um pouco por toda a Europa, a nova plataforma interactiva de aprendizagem da matemática, a LeActiveMath, desenvolvida e testada por cientistas europeus, tem como objectivo combater a aprendizagem superficial, envolvendo os estudantes mais activamente no processo de conhecimento. A maior inovação do LeActiveMath é que se adapta às especificidades de cada utilizador, reconhecendo os seus níveis de competência e motivação, assim como, as experiências e conhecimentos adquiridos.

O OE e a confiança dos portugueses - caiu o manto diáfano da fantasia

(Os portugueses) «Quando questionados sobre a sua opinião relativamente às reformas na saúde, educação e administração pública, 47,1% disseram ser negativas, contra 35,9%, que defendem ser positivas. A estratégia orçamental do Governo também recebe nota negativa - 40% dos inquiridos disseram que não concordam com o rumo que tem sido seguido. Mais especificamente, em relação à introdução de uma taxa de internamento nos hospitais, 73,9% dos inquiridos disseram não concordar com a medida, contra 22,3%, que se mostraram a favor. Esta medida tem sido criticada por alguns elementos destacados do PS e a verdade é que os inquiridos que apresentam uma intenção de voto nesse partido também estão, na sua maioria (57,6%), em desacordo com ela. »
Isto, apesar da massiva propaganda do governo. O que seria, se a comunicação social não estivesse a ser encharcada, e a reproduzir, acefalamente, essas doses de propaganda?
ADENDA: No 4R - Quarta República, uma leitura de Tavares Moreira sobre a quebra das expectativas dos portugueses, excelentemente sintetizada nesta sua frase:«É pois muito natural também que, defrontados subitamente com um cenário real que é totalmente oposto àquele que durante meses a fio lhes foi prometido, a generalidade dos nossos concidadãos tenha aquela sensação de “murro no estômago” que é própria de quem se acha enganado em coisa séria.» Aconselha ele o governo a «rever – agora urgentemente – a estratégia de marketing que tem seguido, sob pena de vermos uma vez mais repetida a história do “feitiço que se volta contra o feiticeiro”», mas, para isso, seria necessário termos um governo verdadeiramente ao serviço dos seus concidadãos, o que não é o caso. Temo bem que, com o aproximar das eleições, a propaganda do governo se torne ainda mais agressiva.

«Há quanto tempo se recordam de uma genuína pergunta e de uma genuína resposta do engenheiro Sócrates, fora do mundo da propaganda?»

Sunday, October 29, 2006

Lá, como cá?

Reino Unido - Faith Schools

The fool on the hill - 7

Quase que se consegue vislumbrar uma maçónica impaciência, quando, no rescaldo da azarada semana do governo, António Vitorino aparece a criticar medidas do executivo socialista. Sócrates que leia os sinais, e abrevie a remodelação ministerial.

Saturday, October 28, 2006

Professores passarão a ser contratados pelas escolas

Decidido passo do ME em direcção à escola do tipo empresarial, este. Por enquanto, as escolas só contratarão professores para substituições e para áreas profissionais e vocacionais, mas daqui à generalização do procedimento para todos os docentes será um passo. A Escola no caminho certo? Pelo menos, no caminho da responsabilização.

The fool on the hill - 6

As escolas vão ter cada vez menos recursos humanos, que orçamento oblige. Será uma medida sábia, esta, empenhado que está o governo em introduzir qualidade no sistema educativo, se a máxima de que menos é mais, for de uma universalidade garantida (é?). Esperemos pela avaliação, dentro de uns anos, e depois, ou fazemos uma estátua a Maria de Lurdes Rodrigues, ou... o quê? Ainda nenhum governante foi responsabilizado por ter deixado este país de pernas para o ar, pois não? Este governo, tão reformista, não deverá deixar de mexer também nessa escandalosa impunidade!!!

Sindicatos de professores - falem menos, pensem mais. Pela calada!

O que dizem os sindicatos que exige o ME? Não há interrupções de Natal, Carnaval e Páscoa para os professores, devendo as escolas manter-se abertas para guarda dos seus alunos. Isto é novo? Não inteiramente. Os professores já não tinham férias nestes períodos, comparecendo nas escolas para reuniões e trabalhos preparatórios vários. A novidade passa a ser terem que fazer guarda aos alunos. E qual é o problema? Sendo professores, de determinado grupo profissional, com um conteúdo funcional bem determinado, os profissionais em causa, sendo obrigados à guarda, assegurá-la-ão nos termos dos seus direitos e deveres profissionais - dando aulas aos alunos presentes. Isto implica que estes alunos não terão férias? Azar o deles, que têm famílias que não encontram outras tarefas de ocupação das suas crianças. Quanto aos docentes, com este princípio de trabalho contínuo ao longo do ano civil, deverão exigir, contrariamente ao que agora se passa, poder gozar o seu período de férias em qualquer momento do ano, inclusive em período lectivo. Com isto, ficam assegurados os direitos dos docentes e satisfeitos os interesses e conveniências das famílias.
Outro aspecto em que os sindicatos não estão a ver bem a coisa é na exigência do ME de que os professores passem a dar 8 horas lectivas num dia. E por que estranha razão não pode ser? Porque dar aulas é uma tarefa específica, muito pesada? Porque o professor tem que dar sempre o seu máximo, a cada tempo lectivo, com cada turma? Porque o professor não pode fazer como qualquer outro funcionário, isto é, interromper para um café, para ir à casa de banho, para esticar as pernas, dar uns dedos de conversa, ou, simplesmente, tirar umas horitas para ir tratar de um assunto? Trate-se a situação como ela se apresenta - tratado o professor como um outro qualquer funcionário, exija e use dos mesmos direitos de todos os outros. Sanções por isso? Recorra-se para as entidades competentes para a regulação da aplicação de direitos constitucionais e profissionais, e logo se verá o que acontece.
Francamente, os sindicatos têm muito a aprender com esta ministra. Para tutela inflexível, classe docente cumpridora, mas inflexivelmente cumpridora nos estritos limites das suas competências, no pleno uso dos seus direitos. Assim, vamos lá. E o próximo ministro, que virá para "amaciar" os estragos desta, não deixará de apreciar a estratégia!
O resultado para os alunos? Não será, decerto, com medidas destas que se melhora a educação neste país, mas talvez tenha chegado o tempo de demonstrar isso mesmo.
ADENDA: Afinal, o ME não pretende acabar com as pausas do Natal, Carnaval e Páscoa, houve um abuso interpretativo dos sindicatos, a partir da última versão do ECD, que receberam do governo e em que os artigos os artigos 91º, 92º e 93º do ECD apareciam revogados. "Redundância", foi a justificação dada pela tutela para a retirada desses artigos. Cá para mim tenho que foi (mais uma) casca de banana aos sindicatos, e estes cairam como uns patinhos.

Fama de casal

Insurge-se Pacheco Pereira contra o facto de o jornal Expresso ter feito uma notícia sensacionalista sobre a adesão do "casal" Sócrates à campanha do sim, na questão do aborto. Subscrevo toda a argumentação de Pacheco Pereira, o que não me impede de me interrogar se a notícia não terá sido induzida, para aparecer nos exactos termos em que apareceu. A leitura que JPP faz, sendo justa na sua indignação, parece esquecer uma possibilidade - a de que a qualquer dos elementos do "casal" Sócrates lhes pode interessar aparecer à opinião pública como isso mesmo, um casal. O preço que teriam de pagar por isso, em termos de exposição e intromissão mediática, não seria, nesse caso, demasiado elevado. Direi, até, que a incomodidade seria vista com gratificante tranquilidade.

Falta de graça?

Como diz Pedro Magalhães, uma sondagem é uma sondagem. Mas, se com duas semanas de contestação nas ruas, com uma comunicação social, que começa agora a sacudir o torpor em que tem estado mergulhada, e com o maior partido da oposição a definhar sob a batuta displicente de Marques Mendes, Sócrates cai 16 pontos, parece evidenciado que as coisas começam a não correr nada bem para o autoritário primeiro-ministro. Que talvez recupere da queda, mas só por falta de comparência dos seus opositores mais directos.

Tuesday, October 24, 2006

Santana Castilho - verdades duras

No blog de Luís Carvalho - Instante Fatal - publica-se uma carta aberta ao engenheiro Sócrates, da autoria de Santana Castilho. A carta, duríssima, é uma extraordinária síntese das etapas de desertificação política e social, que está a ser conscientemente posta em prática por este governo.
Desta notável peça crítica, cuja leitura integral vivamente se recomenda, destacam-se estas perguntas dirigidas a Sócrates:
«...fala em austeridade de cátedra, e é apologista juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, da implosão de uma torre ( Prédio Coutinho ) onde vivem mais de 300 pessoas. Quanto vão custar essas indemnizações, mais a indemnização milionária que pede o arquitecto que a construiu, além do derrube em si? Por que não defende V. Exa a mesma implosão de uma outra torre, na Covilhã ( ver ' Correio da Manhã ' de 17/10/2005 ) , em tempos defendida pela Câmara, e que agora já não vai abaixo? Será porque o autor do projecto é o Arquitecto Fernando Pinto de Sousa, por acaso pai do Senhor Engenheiro, Primeiro Ministro deste país?Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social ?Por que não pôs em prática um plano para fazer a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais Tributários e que somam 20 mil milhões de Euros ?Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais que em 2004 significaram 1.000 milhões de Euros ?Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos , que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos ?Por que não renovou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento que permitiu à PT não pagar impostos pelos prejuízos que teve no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de Euros de receita perdida

Outubro Negro

Decididamente, este não está a ser um mês fácil para o governo. Não tivesse Sócrates o perfil autoritário que tem; não estivesse a comunicação social ainda subjugada à voz do dono, e já a opinião publicada se adjectivava de trapalhadas ministeriais, se proclamavam como tiros no pé os constantes disparates de muitos governantes, se encostava o primeiro-ministro às tábuas da incapacidade de coordenar e segurar os seus ajudantes. Mas a tormenta vai tão grande, que nem as regiamente pagas agências de comunicação, que o governo tem ao seu serviço, conseguem estancar a inundação de notícias que nos dão conta do desgoverno que, efectivamente, tem sido, e continua a ser, o executivo de Sócrates.
Deixe-se de lado, por náusea, a trapalhice de Correia de Campos; ignore-se, por patusco, o ministro da economia; não percamos muito tempo com a prussiana ministra da educação, cuja decisão sobre a repetição do exame de química os tribunais acabam de chumbar; centremo-nos na jóia da coroa, o incorruptível, determinado e muito louvado ministro das finanças, responsável por essa "pérola" que é o OE para 2007: pelo que analisam alguns especialistas, o dito documento, que, alegadamente, é um decidido passo para nos salvar das garras da ineficiência e da ineficácia financeira, tem mais buracos do que um queijo, para não dizer que enferma de alguns erros de principiante. Eu, que não sou de intrigas, e muito menos pesco nada de finanças, fico-me pelo que, a medo, vai transpirando na comunicação social. Desde a possível inconstitucionalidade, a buracos como este, que o próprio João Cravinho assinala, vale tudo, no que está expresso, e no que está camuflado.
Neste Outubro, em que a devastação socialista começa a tornar-se evidente, surpreendemo-nos (ainda?!) com o perdão à banca e com a notícia (esperada) de que Portugal teve o pior desempenho orçamental da UE em 2005, com a quebra das promessas eleitorais sobre as Scuts, ao mesmo tempo que se tornam públicos os "donativos injustificados" rebebidos pelo PS após a maioria absoluta. Se a tudo isto somarmos o conflito com as autarquias, o crescimento do desemprego, o assumido atraso da reforma da administração pública, a conflitualidade social, poderíamos dizer que só faltava bater no ceguinho, mas até isso o governo de Sócrates já fez.

Monday, October 23, 2006

"CHINA'S BOOMING ENERGY RELATIONS WITH AFRICA "*

Cresce o investimento da China em Angola. Um casamento de interesses, a acompanhar, atentamente.
* A ler, de Wenran Jiang

Santana está de volta

Agora, atacando directamente o governo, ao considerar que Correia de Campos não tem condições para continuar. Esta investida de Santana Lopes é do melhor que podia acontecer a Sócrates e a um executivo, que começa a acusar fragilidades. Enquanto o povo se distrai com o Pedro, a contestação ao governo adquire uma tonalidade de fait-divers.

Trambolhão tecnológico

«Portugal caiu, entre Junho de 2006 e Junho de 2005, para a 21ª posição de 20º no ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para a banda larga», apesar de ter crescido de 9.9 para 12.9 subscritores por 100 habitantes, no mesmo período. Tenhamos esperança, que devagar se vai ao longe...

Sunday, October 22, 2006

Ele anda por aí...

Santana Lopes sentiu chegada a sua hora para cobrar de Marques Mendes uma liderança frágil e auto-defensiva, traduzida numa oposição errática e nada marcante, por deixar sem réplica os erros, omissões e inverdades do governo. A saída do velho leão das discotecas e bares de moda não será alheia a este Outubro, que vai negro para o governo, porque o faro (ou as estrelas) de Santana não falham na leitura da conjuntura política, sempre que esta lhe parece a mais favorável ao seu estilo e ambição. Infelizmente para este país, em que este governo, autista e autoritário, não tem oposição à altura da sua demagogia e propaganda, a memória das trapalhadas santanistas ainda está tão fresca, que, apesar de Mendes, até podemos ser levados a uma atitude compreensiva para com as trapalhadas deste governo. Arranjem-lhe umas loiras, inaugurem uns locais nocturnos, mas calem o homem!

Friday, October 20, 2006

Meter água

O ministro Correia de Campos corta verbas e, em vez de lavar as mãos, como Pilatos, manda-as lavar aos médicos e pessoal de saúde, como forma de evitar a propagação das infecções hospitalares. Tão folclórica decisão não nos surpreende, vinda de onde vem, mas será possível prolongar-se, por muito mais tempo, esta governação de incompetência técnica, como acontece na saúde, na educação e na economia?

Thursday, October 19, 2006

«cada um deve permanecer no caminho que encetou e não se deixar submeter, limitar ou seduzir pela autoridade»*

Depois da extremamente participada manifestação de professores, e a seguir a dois dias de greve, cuja aderência o ministério se esforçou por minimizar, o ME não poderia gerir a negociação com os sindicatos de professores na base da ameaça de interrupção negocial, caso a contestação da classe se mantenha. Para além de anti-democrático, é pouco inteligente.
* Johann von Goethe

Wednesday, October 18, 2006

Quando de ti em mim já não distingo princípio e fim.

...
Tão inseparáveis as nossas fomes

Tão emaranhadas as nossas veias
Tão indestrutíveis os nossos sonhos
...
Rosa Lobato de Faria

Dia de Catá

No amor que sinto por ti consigo encontrar a eternidade.

Greve dos professores

A já gasta guerra dos números, que se esperava, teve uma inesperada nota de humor - os números fornecidos pelo ministério foram tão incrivelmente baixos, face ao que se sentiu no terreno, e as televisões mostraram, que nem a classe, ou os seus representantes, sentiram necessidade de enfatizar o disparate. Cabeça perdida na 5 de Outubro? Talvez, ou muita inoperacionalidade das DRE's, na recolha dos dados.

Um luxuoso e caro adorno!...

Magnífico título este, que Pinho Cardão deu a um imperdível post dedicado à inutilidade do Orçamento, que, como escreve, «nunca é cumprido, pelo que é um mero exercício teórico e uma perda de tempo. Nada cria e mesmo o sub-produto que lhe é atribuído, o défice, acaba por ser filho tão bastardo que nem ele nem o progenitor em tal situação se reconhecem, face às manipulações de que a sua concepção e gestação foram alvo

Saturday, October 14, 2006



Quando as recordações deixam de doer, assalta-me o medo, insano, do esquecimento, mas antes este, do que tudo não ter passado de uma ilusão.

Antologia

Vénus au ciel

Une averse a lavé le ciel. Il se fait tard.
Le creux de la vallée est couvert de brouillard ;
Mais sur les coteaux clairs luit au loin la feuillée,
Et le firmament mêle à la forêt mouillée
Des palpitations de clarté pâle. Amis,
L'heure est propice : allons, par les bois endormis,
Dans les champs, au-dessus de la prairie humide,
Voir Vénus qui se lève à l'horizon limpide !

Émile Blémont

Privilégios dos professores

Desde que esta ministra da educação se acantonou na 5 de Outubro, o discurso oficial sobre os professores não tem cessado de enumerar os muitos privilégios de que goza esta classe profissional. Tão "escandalosos" são tais privilégios, na boca do governo, que o edifício legislativo que o ministério está a preparar para regular a carreira docente é anunciado à população como "moralizador", destinado a evitar os abusos em que os professores são useiros e vezeiros. E o cidadão comum aplaude tamanha coragem contra uma cáfila de preguiçosos e mentirosos, esses professores que se queixam, regiamente pagos, sem nada oferecerem à sociedade!
Recém-chegado ao mercado, vem daí o jornal Sol desta semana contribuir para a identificação de um dos privilégios dos professores, tão pouco comum, que não é, de facto, partilhado pela generalidade dos trabalhadores. E de que privilégio se trata, afinal? Simplesmente, descobre-se que os malandros dos docentes têm o privilégio de exercerem as suas funções rodeados de alunos armados até aos dentes. Os que não sabiam (ou não queriam saber?) ficam agora a saber que, desde os inocentes canivetes, às nada inocentes navalhas, dos defensivos sprays, às ofensivas pistolas, passando pelas matracas, lâminas e toda uma parafernália de gadgets "persuasivos" do "bom" relacionamento interpessoal, tudo faz parte do "vestuário" dos alunos. Ficamos ainda a saber que, numa escola da Amadora, há docentes que têm o supremo privilégio de terem dentro das aulas alunos com pulseira electrónica (também não são muitos, só 7!), adereço comprovativo do seu exemplar comportamento e do perfil de aluno respeitador e aplicado!
E ainda se queixam, os malandros dos professores, baldistas que fingem doenças do foro psicológico, eles que exercem o seu trabalho em tão apelativo, e tranquilizador, ambiente!
Tem a ministra razão, há que acabar com estes privilégios, JÁ!

Friday, October 13, 2006

The fool on the hill - 5

Então a crise acabou e estes não sabem?

The fool on the hill - 4


Olha, olha, acabou a crise!

Wednesday, October 11, 2006

Projecto MIT

Muita pompa e circunstância. Entre o que se disse que seria, e o que acabou sendo, vai a distância que há entre a (nossa)realidade e o MIT(o).

Acidente



De imprescindível leitura

Tuesday, October 10, 2006

Cartão de Crédito Ecológico


Terra em saldo negativo, desde ontem.

«A autodestruição da justiça chama-se graça e é privilégio dos mais poderosos, dos que estão para além da justiça.»*

Enquanto que, do "barulho da luzes" da mediática tomada de posse do novo PGR, sobressai a muito repetida intenção de combate à corrupção, a Pinto Monteiro o Presidente Cavaco Silva recomenda "discrição na acção e visibilidade nos resultados". Sabendo-se como, com o pacto PSD/PS para a justiça, ficam de fora da prisão preventiva os crimes do colarinho branco, percebe-se o que pretendem os ilustres protagonistas - o conforto do secretismo, para o que é incómodo, o mediatismo propagandístico, para o que convém!
Começo a desconfiar que o tempo dirá bem de Souto Moura.
* Friedrich Nietzsche

Eles comem tudo...

Não é difícil reconhecer que esta notícia do Público está "atravessada" por um mal digerido parti pris contra os que podem, que mandam, que têm benesses. A autora, Leonete Botelho, conta como o Parlamento decidiu comemorar a adesão ao Conselho da Europa com um buffet de luxo, pago a 150 euros por pessoa. Na notícia estão os ingredientes todos, para acirrar as raivinhas do povão - o chef é um velho "amigo" de Jaime Gama, o serviço foi ajustado directamente, apesar do elevado preço, o acontecimento é restrito a um grupo de menos de 50 convidados, já que apesar de terem sido enviadas centenas de convites, as entidades oficiais não se deixaram seduzir pelas habilidades culinárias do nosso mais premiado chef, e muito menos pela importância e prestígio do ofertante, Jaime Gama. Pelo meio deixa cair que o evento é quase clandestino - só consta da informação oficial na agenda do presidente da AR - e não deixa de referir que a empresa de catering que habitualmente serve os banquetes na Assembleia, por um terço do preço, foi preterida, sem fundamento bastante.
Como digo, a prosa de Leonete tresanda a preconceito, mas que o presidente da AR se pôs a jeito, lá isso pôs! Fica à vista de todos que contenção é só para o povão. Como dizia o Zeca, eles comem tudo, e não deixam nada.

Monday, October 09, 2006

De um mau ninho...

Porque por aqui não se diz mal, por dizer, também se dá relevo às boas medidas do ME. Segundo o Público, está o ministério a passar para as escolas algumas das competências que, até aqui, entupiam as Direcções Regionais de Educação. Decisões impopulares, procedimentos complicados e um custo elevado, em termos de opinião pública, transitam para a decisão dos conselhos executivos, que, agradecidos, se regozijam com este reforço de autonomia e responsabilização. Esfregam as mãos de contentes os governantes e os Directores Regionais, com o alívio que a saída desta carga representa para a Administração Educativa. Esperam-se ganhos, notáveis, em eficácia e eficiência. Já não era sem tempo! Agora, só falta instituir os procedimentos de acompanhamento e de controle.

The fool on the hill - 3

No Expresso descreve-se, com algum pormenor, o estado de saúde do Plano de Acção para a Matemática.
Não pode dizer-se que morreu à nascença, mas sofre de inacção profunda.

The fool on the hill - 2

Leio no Sol que acedem a cursos universitários alunos que nem o 9º ano completaram. Surpresa? Nenhuma. Convém não esquecer que, apesar da conversa da treta sobre a qualificação dos portugueses, no ministério da educação está uma especialista em manipulação de dados estatísticos, com audição suficiente no governo para vender esta "lebre".

Friday, October 06, 2006

Aborto

No fervor do debate pré-referendário, quiseram alguns estranhar as declarações do cardeal patriarca, que se prestaram a interpretações a gosto, tanto pelos militantes do sim, como pelos do não. Maria José Nogueira Pinto explica, no DN, as razões pelas quais considera "naturais" essas declarações, uma vez que esta é uma «questão de sociedade e de Estado». Ficando por aqui na leitura do artigo, não discordo de MJNP. Ora, assim sendo, se o debate me parece desnecessário, o referendo parece-mo ainda mais. Porquê? Percebam-se os sinais dos tempos - a vida humana tem cada vez menor valor, por muito que o discurso mundial, "oficial", diga o contrário; os costumes, comodamente suportados pela evaporação dos princípios, deslizam, gradualmente, da liberdade para a libertinagem, sem que o nosso padrão de "normalidade" se esteja a aperceber da diferença; a posição do Estado, neste caso o nosso, e nesta questão, em particular, pode resumir-se ao que, sobre o aborto, preocupava, há uns dias, o ministro da saúde, Correia de Campos: «o milhar de abortos feito por ano no Serviço Nacional Saúde "é muito pouco", por culpa "da relutância dos médicos, enfermeiros e administrativos", pelo que há que "naturalmente, incentivar o sector público a fazê-lo"».
Posto isto, acabe-se com o argumentário da hipocrisia, poupem-nos ao referendo e tenha o governo a coragem de impor a liberalização do aborto. O que se segue, ficará na esfera da decisão pessoal de cada um (a).

Thursday, October 05, 2006

Tomar partido

O tratamento dado pelas televisões à manifestação de professores, que teve lugar hoje, em Lisboa, é exemplificativo da influência (pressão?) que o governo exerce sobre os media. Segundo parece, terá sido a maior manifestação de uma classe profissional realizada depois do 25 de Abril, mas foi relegada para posições secundárias nos alinhamentos dos telejornais. A SIC Notíciais foi ainda mais longe, convidando o secretário de estado, Jorge Pedreira, para "comentar" a manifestação e vir apresentar os seus argumentos. Fantástico!
ADENDA 1: até ao colocar Jorge Pedreira na primeira linha de resposta do ME às reivindicações dos professores, o governo manifesta a pouca importância que dá a esta contestação.
ADENDA 2: o Abrupto faz-se eco de uma carta de um leitor, sobre a forma como a RTP tratou a reportagem da manifestação.

Dia Mundial do Professor

É sintomático que 14 organizações representativas da classe se tenham posto de acordo e que, num dia feriado, propício a uma "ponte" para aproveitar um verão serôdio, tantos milhares de docentes tenham vindo para a rua contestar uma alteração do ECD, feita sem outro critério que não seja o de impor, unilateralmente, um conjunto de medidas atentatórias da dignidade profissional e dos direitos dos docentes, tendo por únicos fundamentos o desprezo deste governo pela classe docente e poderosas razões economicistas, que, em circunstância alguma, terão qualquer eficácia na melhoria do nosso panorama educativo.
A hipocrisia da ministra da educação não conseguirá, por muito mais tempo, enganar todos sobre a real dimensão e eficácia das medidas que apregoa. A barafunda que reina nas escolas, a desmotivação que impera na classe docente, a inoperância da administração educativa e a melhoria zero da sua descabelada acção à frente do ministério da educação começam a ser percebidos pela população, apesar da exploração que a ministra faz dos pontos de clivagem dos vários actores do processo educativo. Esperemos, apenas, que o dia da prestação de contas não seja demasiado tarde, porque vai demorar muito tempo a reconduzir as escolas à paz educativa necessária às alterações que, efectivamente, se impõem efectuar no sistema. Mas destas, esta ministra não tem qualquer ideia, nem nunca ouviu falar.

Wednesday, October 04, 2006

O Programa da Pequena Oposição

Sobre o Programa de Apoio às PME apresentado por Marques Mendes, Paulo Gorjão (e não, não está a ser demasiado exigente) já sintetizou o essencial, mas há um ponto que, como não poderia deixar de ser, me chamou, particularmente, a atenção. Trata-se da décima-quarta medida, com que se pretende fomentar o ensino do empreendedorismo nas escolas e nas universidades e cujo «objectivo é promover junto das universidades a criação de uma disciplina de empreendedorismo em todos os cursos superiores e em todos os cursos técnicos, no sentido de preparar e motivar para projectos empresariais quem entra na vida activa. Pretende-se, ainda, fomentar a criação de uma disciplina de estímulo ao empreendedorismo nas vias de ensino e profissionalizantes do secundário.» Será que Marques Mendes tem a noção do que está a propor? Contrariamente ao Paulo Gorjão, propostas destas nem um sorriso paternalista, e muito menos condescendente, me merecem.

«Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay ...»


A imagem é do jacto da Embraer que, alegadamente, terá estado na origem da queda do avião brasileiro, de que resultaram 155 mortos. Muito oportunamente, JCS, no seu excelente Lóbi do Chá, chama a atenção para a coincidência de seguir a bordo um jornalista do New York Times, que publicou o seu testemunho sobre o acidente. Escreve este, a dado passo: «Without warning, I felt a terrific jolt and heard a loud bang, followed by an eerie silence, save for the hum of the engines. And then the three words I will never forget. “We’ve been hit,” said Henry Yandle, a fellow passenger standing in the aisle near the cockpit of the Embraer Legacy 600 jet. “Hit? By what?” I wondered. I lifted the shade. The sky was clear; the sun low in the sky. The rainforest went on forever. But there, at the end of the wing, was a jagged ridge, perhaps a foot high, where the five-foot-tall winglet was supposed to be. »
Do relato, ficamos ainda a saber um conjunto de factos, que podem não passar de casualidades, ou circunstâncias banais, que não introduzam suspeitas de que o acidente fosse mais do que isso mesmo, mas é interessante saber que a bordo do jacto que sobreviveu ao acidente seguiam executivos da Embraer e o novo proprietário do avião, que dirigiu o convite ao jornalista, e que a aterragem se tentou num aeroporto militar escondido na floresta («a military base hidden deep in the Amazon»).
Para além da terrífica experiência vivida, ao jornalista Joe Sharkey parece restar a opinião dos peritos para justificar o que, efectivamente, se terá passado: «Investigators are still trying to sort out what happened, and how — our smaller jet managed to stay aloft while a 737 that is longer, wider and more than three times as heavy, fell from the sky nose first.». O certo é que o Boeing comercial se despenhou, e não ficou ninguém para dar o seu testemunho.

Tuesday, October 03, 2006

De volta às catacumbas

O ciclo da vitória do terror islâmico sobre o Ocidente continua. Depois do episódio do cancelamento de Idomeneo (ler, a propósito, o que escreve João Pinto e Castro em defesa da directora da Ópera de Berlim), duas aldeias espanholas introduziram alterações a festejos populares tradicionais, por temerem as reacções da comunidade islâmica. Há alguma evidência de que, no mundo islâmico, se evitem comportamentos que possam ferir a susceptibilidade cristã? Ao que me parece, é bem ao contrário que as coisas se passam, perante a nossa passividade e complacente compreensão. Se alguém ainda tem dúvidas sobre aonde esta nossa atitude nos levará...

Hipocrisia

Segundo o Público, «em algumas escolas do 1.º ciclo não há aulas de Educação Moral e Religiosa (EMR) católica ou evangélica Ao que parece, depois de elaborados os mapas-horários não terá sobrado uma hora para esta disciplina, curricular mas não obrigatória, inviabilizando o direito à sua frequência, aos alunos que assim o desejavam.
As entidades responsáveis da Igreja Católica e da Aliança Evangélica Portuguesa denunciam a situação, mas são cautelosos na apreciação das causas, pelo menos enquanto não reunirem com a ministra da educação. Esta, por seu turno, já mandou um assessor dizer que "não tem conhecimento da existência de problemas", mas que "se há escolas onde dar essas aulas constitui uma dificuldade, as entidades, em conjunto com as escolas e as câmaras devem encontrar uma solução". Comentários para quê? A artista é portuguesa, e já nos habituou ao estilo!

Monday, October 02, 2006

The fool on the hill - 1

Situação: 20 pessoas, entre os 42 e os 61 anos, gestores de topo e chefias intermédias. Constatação: a utilização intensiva e permanente do computador tem tido consequências na escrita manual, com notória evidência nas alterações, mais ou menos graves, da caligrafia.
Preocupação: se este cenário se verifica em pessoas que só muito tardiamente deixaram de escrever, regularmente, à mão, como será no futuro, sabendo-se como os jovens já iniciam a introdução à escrita com recurso paralelo (quando não prévio), e sistemático, ao computador?

Agência de informação electrónica

Mais de um ano e meio depois de ter limitado o acesso apenas a assinantes, o Público reabre o acesso gratuito à edição impressa, com vários serviços novos e outros melhorados. Com a imprensa papel a perder, velozmente, para conteúdos online, a opção pela internet não é uma escolha, é uma questão de sobrevivência.

Crimen Sollicitationis

Não sei o que mais surpreende - se o espanto quanto à oportunidade da revelação do "segredo", se a "novidade" que o mesmo parece constituir para tantos.