Em alguns jornais deste fim-de-semana, semanários incluídos, houve uma curiosa sintonia: chamava-se a atenção, quer para o "azar", quer para a dureza de tratamento a que têm estado sujeitos Santana Lopes e alguns membros do seu governo.
Aos incautos, esses artigos de opinião quase fazem passar esta mensagem: a de um eterno e prometedor (quase messiânico) candidato a líder do PSD que, quando finalmente chega à cadeira do poder, é sacrificado pela cáfila de invejosos e despeitados, a quem a sua poderosa personalidade inspira os mais ultrajantes vexames e as mais vergonhosas traições; invocam-se circunstâncias funestas não imputáveis ao governo e, muito menos, ao político finalmente ao leme, e eis que assim justificam que está a ser criada a conjuntura propícia à eliminação definitiva do Pedro e do Santanismo da vida política nacional.
Claro que nem todos os artigos procuram, genuinamente, passar esta imagem; lidos com atenção, constata-se que, na sua ironia, alguns procuram até o efeito oposto e a evidência do ridículo que é pressupor tal conjuntura. O facto é que, com ironia ou sem ela, a imagem de um Santana qual São Sebastião crivado de setas instala-se, subrepticiamente, e colhe alguma aceitação, tantas e tão frequentes são as situações duvidosas, as trapalhadas absurdas, as contradições ridículas e os abusos impensáveis, de que a comunicação social se teve de fazer eco nestes curtos meses.
E no entanto...
Não vale a pena repetir o exercício de confirmar a existência dos "casos", mesmo só dos conhecidos, um a um, para determinar do azar da personagem. Os "casos" existem, são demasiados aqueles que, infelizmente, lhes sentiram na pele os efeitos. Muito menos se justificaria iniciar uma tese com a análise do tratamento dispensado pela imprensa a Santana, neste seu papel de chefe do executivo.Tem sido branda, ou desatenta, tanto se ficou por escalpelizar e divulgar nos media, como sabe qualquer um medianamente informado.
O que é grave é que se a realidade supera, em muito, o que tem sido divulgado, fica muito aquém da nossa mais vertiginosa imaginação. Há que ter consciência de que temos apenas conhecimento da ponta do iceberg, daquilo que, após muita filtragem, muita peneira, muita pressão indevida, acaba por sair para a opinião pública sobre as actividades dos gabinetes, dos responsáveis governamentais e dos políticos que os acolitam. Sabermos que é assim dá-nos a medida do desastre a que se chegou, entregues que estamos a quem sofre de algo pior do que o amadorismo: uma incompetência total, aliada a uma absoluta ausência de inteligência e a uma despudorada falta de escrúpulos. É por isto que, nem a brincar, se deve admitir a lavagem da acção governativa de Santana Lopes, como parece estar já a ser tentada.
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