O serviço público de televisão debateu ontem a educação, no contexto ( e por falar em contexto, vale a pena ler) de uma semana de grandes (apenas no tempo) debates, com os quais, com pompa e circunstância, entendeu fazer, neste período pré-eleitoral, o diagnóstico do estado da nação.
Em época de saldos, a RTP não resistiu. Resultado: déjà vu e démodé.
Se, quanto ao painel de convidados, somos levados a duvidar da sanidade mental de quem convidou, quanto ao painel de responsáveis dos partidos, ficamos com a certeza de que tudo vai continuar na mesma, isto é, vamos estar cada vez pior.
O ex-ministro do PS, apesar da sua incomparável qualidade face aos restantes comparsas de “mesa”, viu-se aflito para nos fazer crer que algo de novo podemos esperar relativamente ao que o ministério produziu quando por lá passou. Ele não acredita, nós também não. Ficamos por isso mesmo.
A deputada do PCP mostrou o que valem anos de tarimba na assembleia e nas comissões de educação, esteve igual a si mesma (e, nesta matéria, está sempre muito bem, por bem informada, por acutilante, por incómoda) e brindou-nos com mais material para pensar do que os restantes todos juntos. Infelizmente, e porque as coisas são como são, grande parte dele será desperdiçado.
O representante do BE brindou-nos com a sua presença e, com isso, trouxe-nos algo valioso: ficámos com a certeza que, despido o diáfano manto da demagogia, o bloco nada tem a dizer sobre educação. O senhor teve os seus minutos de fama, passa a pasta ao folclore na assembleia, tudo como dantes.
Os representantes do PSD e do PP estavam, à partida, numa situação “ingrata”: sendo os actuais secretários de estado, poderiam ser confrontados com a obra feita, ou com a ausência desta, e quaisquer propostas para o futuro ficariam desde logo diminuídas, por estarem a ser assumidas por governantes desgastados pela desastrada acção governativa desta trapalhona equipa da educação. Impunha-se, portanto, inverter a lógica e reverter a situação a favor dos respectivos partidos e seus programas.
O representante do PSD acusou o peso da situação em todas as suas infelizes intervenções, o que foi visível até na postura tensa, na voz vacilante e incerta, no olhar doentio. Sabiamo-lo fraco, lamenta-se que seja tanto. Para além do vazio do seu discurso, o seu partido fica a dever duas pérolas a este doutorado em psicologia: em directo, completamente perdido e submisso, diluiu o programa do governo do seu partido para a educação nas poucas linhas de actuação alinhavadas pelo seu oponente do PS e demonstrou que, para este PSD, o XV governo é um sapo mais difícil de engolir do que os governos do Engº Guterres. Como tiro no pé, melhor era impossível.
Sobrou o representante do CDS/PP, ele também secretário de estado em funções e que era, quando tomaram posse, o elo mais fraco, ou o peixe fora de água, na equipa da educação. Conseguiu ser sério, ao mostrar que leu, que se informou, que PENSOU. É certo que mostrou pouca obra feita, ou iniciada, mas é preciso que se saiba que, no imobilismo que caracterizou o ministério de Mª do Carmo Seabra, foi o único que conseguiu dar continuidade ao que estava em curso, redefinindo estratégias e encontrando percursos. Percebeu-se que será o único que, no seu ministério, pode invocar ter visto o seu trabalho interrompido. Não é pouco, e o mérito é todo seu.
Fátima Campos Ferreira esteve particularmente infeliz, permitindo que corressem à solta as banalidades e cerceando as raríssimas intervenções em que se adivinhava poder haver um maior fôlego.
Em conclusão: no sentido que David Justino lhe dá, no silêncio todos foram iguais, neste debate.
«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Wednesday, January 26, 2005
No silêncio todos somos iguais (III)
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