Wednesday, January 26, 2005

No silêncio todos somos iguais (III)

O serviço público de televisão debateu ontem a educação, no contexto ( e por falar em contexto, vale a pena ler) de uma semana de grandes (apenas no tempo) debates, com os quais, com pompa e circunstância, entendeu fazer, neste período pré-eleitoral, o diagnóstico do estado da nação.
Em época de saldos, a RTP não resistiu. Resultado: déjà vu e démodé.
Se, quanto ao painel de convidados, somos levados a duvidar da sanidade mental de quem convidou, quanto ao painel de responsáveis dos partidos, ficamos com a certeza de que tudo vai continuar na mesma, isto é, vamos estar cada vez pior.
O ex-ministro do PS, apesar da sua incomparável qualidade face aos restantes comparsas de “mesa”, viu-se aflito para nos fazer crer que algo de novo podemos esperar relativamente ao que o ministério produziu quando por lá passou. Ele não acredita, nós também não. Ficamos por isso mesmo.
A deputada do PCP mostrou o que valem anos de tarimba na assembleia e nas comissões de educação, esteve igual a si mesma (e, nesta matéria, está sempre muito bem, por bem informada, por acutilante, por incómoda) e brindou-nos com mais material para pensar do que os restantes todos juntos. Infelizmente, e porque as coisas são como são, grande parte dele será desperdiçado.
O representante do BE brindou-nos com a sua presença e, com isso, trouxe-nos algo valioso: ficámos com a certeza que, despido o diáfano manto da demagogia, o bloco nada tem a dizer sobre educação. O senhor teve os seus minutos de fama, passa a pasta ao folclore na assembleia, tudo como dantes.
Os representantes do PSD e do PP estavam, à partida, numa situação “ingrata”: sendo os actuais secretários de estado, poderiam ser confrontados com a obra feita, ou com a ausência desta, e quaisquer propostas para o futuro ficariam desde logo diminuídas, por estarem a ser assumidas por governantes desgastados pela desastrada acção governativa desta trapalhona equipa da educação. Impunha-se, portanto, inverter a lógica e reverter a situação a favor dos respectivos partidos e seus programas.
O representante do PSD acusou o peso da situação em todas as suas infelizes intervenções, o que foi visível até na postura tensa, na voz vacilante e incerta, no olhar doentio. Sabiamo-lo fraco, lamenta-se que seja tanto. Para além do vazio do seu discurso, o seu partido fica a dever duas pérolas a este doutorado em psicologia: em directo, completamente perdido e submisso, diluiu o programa do governo do seu partido para a educação nas poucas linhas de actuação alinhavadas pelo seu oponente do PS e demonstrou que, para este PSD, o XV governo é um sapo mais difícil de engolir do que os governos do Engº Guterres. Como tiro no pé, melhor era impossível.
Sobrou o representante do CDS/PP, ele também secretário de estado em funções e que era, quando tomaram posse, o elo mais fraco, ou o peixe fora de água, na equipa da educação. Conseguiu ser sério, ao mostrar que leu, que se informou, que PENSOU. É certo que mostrou pouca obra feita, ou iniciada, mas é preciso que se saiba que, no imobilismo que caracterizou o ministério de Mª do Carmo Seabra, foi o único que conseguiu dar continuidade ao que estava em curso, redefinindo estratégias e encontrando percursos. Percebeu-se que será o único que, no seu ministério, pode invocar ter visto o seu trabalho interrompido. Não é pouco, e o mérito é todo seu.
Fátima Campos Ferreira esteve particularmente infeliz, permitindo que corressem à solta as banalidades e cerceando as raríssimas intervenções em que se adivinhava poder haver um maior fôlego.
Em conclusão: no sentido que David Justino lhe dá, no silêncio todos foram iguais, neste debate.

No comments: