Monday, January 02, 2006

Ano negro na educação

No seu estilo peculiar, Santana Castilho faz hoje, no Público, o balanço da actuação do governo em matéria de educação, no que considera ter sido o ano mais negro que tem "na memória recente", recheado de episódios em que ficaram patentes «a ausência de estratégia, as frequentes incoerências, a falta de clarividência política e até de simples senso comum».
Diz ele, e já aqui se chamou, também, a atenção para o mesmo, que «O que seria relevante está parado, melhor dizendo, nunca mexeu. Nada vai além de uma medíocre gestão corrente e de uma overdose bruta de alterações, bem diferentes dos desejáveis desenvolvimento e progresso».
Em sete pontos demolidores, pela sua crua objectividade, Santana Castilho passa em revista os erros, confusões, recuos e omissões a que o governo deu origem no âmbito de aspectos tão cruciais para o bom funcionamento das escolas como são a colocação de professores, os prolongamentos de horário, as faltas dos docentes, os manuais escolares, os exames, passando pela desastrada proibição dos crucifixos e pela controversa educação sexual, para concluir com uma evidência, com a qual é quase impossível não estar de acordo: «Esta equipa não entendeu que nada se institui de moca em riste. As mudanças só valem a pena quando gerarem melhorias e quando conquistarem quem tem que as executar. A ideia de que os despachos mudam os comportamentos é uma ideia arrogante de quem não sabe como se gerem pessoas.»
Parece que se surpreende a senhora ME por saber estarem os textos de Santana Castilho pespegados, bem em evidência, em quase todas as salas de professores. Claro que lhes pode fazer como fez com os crucifixos, mas talvez chegue aquela conversinha mole dos seus assessores a alguns responsáveis pelas escolas, para os ditos textos desaparecerem, como por encanto.

8 comments:

Miguel Pinto said...

“mas talvez chegue aquela conversinha mole dos seus assessores a alguns responsáveis pelas escolas, para os ditos textos desaparecerem, como por encanto.”
Hummm…. já estou a imaginar um cardápio actualizado com técnicas de sedução…

Rui Martins said...

Depois da fugaz e transitória "paixão pela Educação" de Guterres chegou a obsessão do deficit que reduziu tudo e todos a números contabilísticos. Sacrificou-se o Investimento em prol da contenção financeira. E o Investimento restante foi malbararado em erros de gestão e numa máquina demasiado pesada e inflexível e em ensaios de reformas sucessivas e sempre falhadas e substituídas por outras. Sobretudo, ignorou-se os sucessos irlandeses e nórdicos, e apostou-se numa economia de serviços, em autoestradas e bancos e seguradoras... E depois admiram-se de estarmos onde estamos... Admira-me é se conseguirmos sair daquI!

«« said...

o que mais me faz cofusão, é que se a perspectiva da educação é economicista e se todos os que entendem de economia dizem que a melhor forma de rentabilizar o ambiente ao nível dos recursos humanos. Este ministério faz ao contrario...tenta rentabilizar os recursos humanos, através da humilhação

Anonymous said...

Ao não ter pedido a reforma que já podia ter pedido com os direitos todos, eu só pretendia continuar a trabalhar como sempre (ou sempre ainda mais dado que esta geração de miúdos não tem hábitos de trabalho), porque gosto muito de ensinar e ainda estou bem activa. Mas como esta ministra não respeita quem trabalha de verdade e me está a impôr violências, creio que hoje a última gota fez tranbordar o copo, pelo que me resta a sorte de me poder pôr a andar.

crack said...

Caro Miguel Pinto, não há melhor remédio do que ter um excelente sentido de humor, como o seu. Desejo-lhe, portanto, um cardápio variado...

crack said...

Caro Rui Martins, não estou bem de acordo consigo. O investimento tem sido grande em educação e a inexistência de resultados deve-se a muitos factores, alguns dos quais aponta. A traço muito grosso, eu relevaria, dessa miríade de razões para o insucesso, o permanente faz e desfaz, à conta das mudanças de governos e ao serviço dos mais interesseiros objectivos dos aparelhos partidários, somado à irresponsabilidade das famílias e da sociedade.

crack said...

Caro Miguel Sousa, aponta um aspecto fulcral nesta questão - a humilhação dos professores, permanente, consciente e determinadamente levada à prática por esta ministra e sua equipa. É suicidária, esta atitude, e indigna de qualquer governo de uma democracia europeia.

crack said...

Cara Isabel
Em termos pessoais, ainda bem para si que vai poder resolver uma situação que lhe está a ser tão penosa. Muitos colegas, excelentes profissionais, estão a fazer o mesmo, privando o sistema do seu valioso contributo.
Outros, que não o podem fazer, estão a tentar sobreviver o melhor que podem, mas como diz Santana Castilho, a política da moca em riste nunca levou ninguém a lado nenhum. A ME é completamente autista, prepotente e não consegue demonstrar que tem uma linha de rumo coerente para a educação. Até como gestora é pouco eficiente, como já deu para perceber.