Com a imensa "lata" que o conforto de um blog como este dá, digo que poderia ter escrito quase tudo o que JPP escreveu no Público, e que hoje dá à estampa no seu Abrupto sobre as eleições presidenciais. Poderia, obviamente, no sentido da concordância com o que vejo escrito, que pô-lo em texto, com a subtil clarividência e o talento com que JPP o faz, não teria estado ao alcance de um crackdown. Se bem que já aqui se escrevinhou, quer sobre o esvaziamento da candidatura do poeta, quer sobre a convicção de que a eleição de Cavaco não é um dado tão adquirido como alguns voluntaristas querem fazer crer, quer sobre as manobras que os soaristas iriam usar, para desgastar o seu adversário.
Sobre isto, no Abrupto, pode ler-se que: «Todos estão convictos, a partir das sondagens, que Cavaco ganha quer na primeira volta, quer na segunda. Pode ser que sim, mas eu não estaria tão certo disso. Se Cavaco não ganhar na primeira volta, vários efeitos, difíceis de retratar hoje nas sondagens, poderão verificar-se e mudar muito o panorama das eleições presidenciais», e deixa-se uma claríssima antecipação do que está a ser preparado ao milímetro pelos estrategas de Soares: «O QUE É QUE PODE MUDAR OS DADOS QUE ESTÃO NO AR? Escândalos, reais ou inventados, acusações graves, incidentes ou inconveniências graves dos candidatos diante das câmaras de televisão. Só isso.»
Vejo, sem grande surpresa, que JPP está tão céptico relativamente a uma vitória de Cavaco quanto o crackdown, ou não diria que: «não custa perceber que se houver segunda volta, ela será entre Soares e Cavaco. Ora, uma passagem de Soares à segunda volta coloca-o à partida na exacta posição contrária à que tem agora: hoje, é o perdedor, face a Cavaco, o ganhador. Se conseguir, contra todas as expectativas, passar à segunda volta, entrará nas eleições como vencedor. Terá consigo um ambiente de grande mobilização, que arrastará votos de todos os outros candidatos à esquerda, contrastando com as dúvidas e a quebra de mobilização na candidatura de Cavaco, onde há um convencimento generalizado de que a vitória será já na primeira volta. A imprevisibilidade aumentará e com ela a credibilidade da candidatura Soares.»
Uma (pretensiosa) ressalva: o final do artigo de JPP, ao preconizar que Soares sairá mal deste confronto eleitoral, tal como está escrito é um( in)compreensível exercício de equilibrismo, que, quanto a mim, só faria sentido se, explicitamente, levado às últimas consequências, como o faria um crackdown - «esta campanha eleitoral é o fim da carreira política de Mário Soares com uma dimensão de inevitabilidade que nenhum sonoro (e falso) "basta" teria capacidade para dar», sobretudo se for eleito como PR. E, nesse caso, nem o «o seu perfil de político compulsivo, de "animal político"» o fará ganhar « uma luz mais humana, mais apaziguada e compreensiva», que lhe permita grangear um perfil mais digno para passar à história.
Mas, o crackdown não é o Abrupto, felizmente para nós, Abruptos Anónimos.
2 comments:
E JPP parte de um pressuposto que pode não verificar-se... A colocação de Soares como o segundo candidato a receber mais votos. Continuam a existir sondagens que dão a Alegre essa posição, e o descontentamento dos eleitores frente ao estado do Estado, à partidocracia é tão extenso que bem pode optar por castigar o sistema e votar no candidato que mais asistémico é: Alegre.
Caro Rui
Sabendo-o um apoiante de Alegre, compreendo a sua aposta no descontentamento dos eleitores com a política dos partidos, mas não esqueça que o poeta só não representa aqui o PS porque o partido o cuspiu do seu cenário.Se fosse a si, não estaria tão esperançoso, apesar da absurda sondagem da católica, que é, em minha opinião, a maior machadada em qualquer remota possibilidade de Alegre igualar, ou ficar muito perto, da velha máquina Soares.
Post a Comment