A propósito do modelo político do cavaquismo, que Soares tanto se esforça em recordar-nos, o *Luciano Amaral vem lembrar-nos que: «Hoje em dia, pouca gente se lembra do ambiente político português antes da sua primeira maioria absoluta, obtida em 1987. E se pouca gente se lembra, deve-se isso sobretudo a Cavaco. De facto, já nos esquecemos do extraordinário descrédito do sistema político entre 1976 e 1987. Governos que duravam entre dois anos e alguns meses, coligações espúrias e frágeis, conflitos permanentes entre os diversos órgãos de soberania eram o nosso pão quotidiano. Já poucos se recordam da sensação de crise perpétua, senão mesmo de inviabilidade, que então se tinha da nossa democracia. Foram as duas maiorias absolutas de Cavaco que acabaram com essa sensação.»
E *Luciano Amaral prossegue, explicando as razões que levam, hoje como ontem, Soares a este desespero vingativo: «...se Soares saiu das suas presidências com a imagem de Pai da Pátria, por todos aclamado, deve-o às maiorias de Cavaco. Estas maiorias serviram para disciplinar os seus piores instintos manobristas e arbitrários. Soares preparou-se para ir para a Presidência para pôr e dispor. Mas aconteceram então as duas maiorias absolutas, que ninguém previu e que o tolheram. As maiorias absolutas de Cavaco viabilizaram a nossa democracia quando muita gente começava a duvidar da sua governabilidade. Elas devolveram ao exercício dos poderes legislativo e executivo uma dignidade que sempre andou extraviada desde a fundação do regime. Tal como a conhecemos hoje, a democracia portuguesa é, portanto, em grande medida a democracia de Cavaco.»
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