Por achar o exercício completamente inútil, não escrevi sobre o anúncio do padre franciscano, que apenas referi ontem, pelo menos não mais do que pequenas picardias em comentários de alguns blogues. Acontece que essas picardias estimularam acesas discussões verbais no innercircle juvenil, e também muitos desafios, pelo que aqui vai a «minha profissão de fé» contada às «crianças», para encerrar, definitivamente, uma conversa que me parece esgotada.
Entendo que houve um erro estratégico do padre franciscano, que tanto pode ter resultado de uma «ingenuidade» genuína, mal servida por um temperamento colérico e por uma atitude impulsiva, como pode ter tido por objectivo o sobressalto e a agitação na Igreja portuguesa, num momento delicado, mas que alguns consideram ser a altura para endurecer posições e reforçar a ortodoxia, numa estratégia de antecipação para os combates que antevêem.
Com o seu anúncio, o padre conseguiu o que qualquer ser medianamente lúcido poderia prever: a hierarquia da Igreja veio demarcar-se, fragilizando-se; a discussão subiu de tom entre os católicos pró e contra, deixando exposto à evidência que a sua unidade anda, há muito, pelas ruas da amargura; «plantaram-se» algumas armas de arremesso, que vão ser muito incómodas nos tais combates que se adivinham.
Resultado prático? Nenhum, que não seja mau para «qualquer dos catolicismos». Porque, como sempre, ficará tudo como dantes, na substância e na hipocrisia. Pelo menos, durante um tempo, que se podemos ter esperança na mudança, não podemos esperar que esta ocorra a não ser no longo prazo.
Quanto às apaixonadas discussões que por aí vão, na blogosfera, é apenas a falta de outro assunto, e a religião sempre cativou «audiências». Não aprofundando o argumentário utilizado, podemos dar alguma razão àqueles que dizem que o padre nada mais fez do que agir no âmbito dos preceitos que qualquer católico conhece, e a que está obrigado. Sabemos, no entanto, como há, na comunidade católica, vivências religiosas mais progressistas, e nem por isso menos respeitáveis, sendo certo que todos os que, abraçando a religião católica, contestam algumas das suas práticas e imposições, por desadequadas aos tempos e aos modos de vida, lamentam ter que pagar essa contestação com o sobressalto da sua consciência religiosa. Para a maioria, é esse um assunto do seu foro íntimo; para um número crescente de católicos é, também, o combate de uma vida, em convicta espiritualidade e fé.
Aqueles que defendem que o catolicismo, ao permanecer imutável, surdo e cego às necessidades emergentes dos novos tempos, está a manter-se fiel à sua matriz e é para ser cumprido como uma pena, ou de todo renegado, estão, na aparência, a defender a essência da fé católica, mas o que fazem, realmente, é esvaziá-la de sentido.
Por o saber, é sempre tão cautelosa em tomadas de posição a hierarquia eclesiástica. Como se viu, também neste caso.
Entendo que houve um erro estratégico do padre franciscano, que tanto pode ter resultado de uma «ingenuidade» genuína, mal servida por um temperamento colérico e por uma atitude impulsiva, como pode ter tido por objectivo o sobressalto e a agitação na Igreja portuguesa, num momento delicado, mas que alguns consideram ser a altura para endurecer posições e reforçar a ortodoxia, numa estratégia de antecipação para os combates que antevêem.
Com o seu anúncio, o padre conseguiu o que qualquer ser medianamente lúcido poderia prever: a hierarquia da Igreja veio demarcar-se, fragilizando-se; a discussão subiu de tom entre os católicos pró e contra, deixando exposto à evidência que a sua unidade anda, há muito, pelas ruas da amargura; «plantaram-se» algumas armas de arremesso, que vão ser muito incómodas nos tais combates que se adivinham.
Resultado prático? Nenhum, que não seja mau para «qualquer dos catolicismos». Porque, como sempre, ficará tudo como dantes, na substância e na hipocrisia. Pelo menos, durante um tempo, que se podemos ter esperança na mudança, não podemos esperar que esta ocorra a não ser no longo prazo.
Quanto às apaixonadas discussões que por aí vão, na blogosfera, é apenas a falta de outro assunto, e a religião sempre cativou «audiências». Não aprofundando o argumentário utilizado, podemos dar alguma razão àqueles que dizem que o padre nada mais fez do que agir no âmbito dos preceitos que qualquer católico conhece, e a que está obrigado. Sabemos, no entanto, como há, na comunidade católica, vivências religiosas mais progressistas, e nem por isso menos respeitáveis, sendo certo que todos os que, abraçando a religião católica, contestam algumas das suas práticas e imposições, por desadequadas aos tempos e aos modos de vida, lamentam ter que pagar essa contestação com o sobressalto da sua consciência religiosa. Para a maioria, é esse um assunto do seu foro íntimo; para um número crescente de católicos é, também, o combate de uma vida, em convicta espiritualidade e fé.
Aqueles que defendem que o catolicismo, ao permanecer imutável, surdo e cego às necessidades emergentes dos novos tempos, está a manter-se fiel à sua matriz e é para ser cumprido como uma pena, ou de todo renegado, estão, na aparência, a defender a essência da fé católica, mas o que fazem, realmente, é esvaziá-la de sentido.
Por o saber, é sempre tão cautelosa em tomadas de posição a hierarquia eclesiástica. Como se viu, também neste caso.
*André Maurois
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