Tuesday, March 22, 2005

«E dizermos que o povo podia ensinar-nos muita coisa, quanto mais não fosse a maneira de o instruirmos.»*

1 - Depois de ler o Programa do Governo para a educação fico «confortável», pela ausência do stress da novidade, uma vez que encontro o que o PS anda a dizer que faz, e nunca fez, há muito tempo. Por aqui, nada de novo, é só retomar os argumentos, tropeçar nas mesmas barreiras, parar perante os mesmos obstáculos, ficar refém dos mesmos grupos de interesses, enfim, mudar para ficar tudo na mesma. Passou-se ao lado, portanto.
2 - António Barreto veio, sobre a educação, alinhar um conjunto de evidências, inquestionáveis. Apesar da concordância, forçada, importa não esquecer que o pior não é fazer o diagnóstico, é aplicar a terapia. O remédio é amargo e os «doentes» rebeldes. Precisamos de «médicos» corajosos e de «enfermeiros» robustos, só que quem manda na «enfermaria» são os paramédicos. Resultado: a doença pode ser mortal, mas a «vacina», embora disponível, não chegará a ser desalfandegada! Barreto passou ao lado das «barreiras alfandegárias», como sociólogo que é.
3 - No blog, A Memória Flutuante, abordam-se estas questões, com objectividade e conhecimento de causa. No entanto, uma vez mais a gestão dita democrática divide o campo entre o passado e o futuro, mantendo o autor a opção por este presente de terra de ninguém, que, já se viu, não nos levará a lado algum. Por que estranha razão será que, quando se fala em acabar com um modelo que está esgotado, se agita a figura do gestor profissional (imaginado como um ET descido à escola, vindo de uma qualquer galáxia mal afamada)? Queremos liderança, responsabilidade, inovação e capacidade gestionária nas direcções das escolas, mas não estamos disponíveis para pensar um modelo de gestão profissional que o concretize. Também aqui passamos ao lado, ficando tudo cada vez mais na mesma.
4 - No Programa do Governo diz-se textualmente: «Estabelecido um quadro comum a todas as escolas e agrupamentos – colegialidade na direcção estratégica, participação da comunidade local, gestão executiva a cargo de profissionais da educação – serão admitidas e estimuladas diferentes formas de organização e gestão.»
Uma das vantagens de este amontoado de palavras poder não ser mais do que isso mesmo, é que pode enquadrar soluções diferenciadas para as diferentes situações, como se impõe encontrar. Tenhamos esperança que a pressão «do terreno» não imponha a manutenção do status quo, como tem sido habitual em todos os governos. Ou, mais uma vez, passaremos ao lado da resolução do problema.
* Fiodor Dostoievski, in 'Diário de um Escritor'

1 comment:

«« said...

Antes de mais parabéns pelo excelente blogue que tem... concordo com o seu escrito, colocava só um pequeno "se", venham os gestores profissionais, mas com pos-graduação na coisa da educação...porque se é para vir um profissionalsó com formação numa das vertentes da gestão escolar, então é melhor que sejam os professores, pois podem gerir mal a escola, mas estarão sempre mais bem posicionados para tomarem decisões pedagógicas.