Tuesday, March 01, 2005

O padrão recorrente


Escreve FCG, ontem, no Insurgente que: « a mais importante via de solução para o problema da perda de qualidade do ensino público» é a privatização. Vai-se mais longe, e diz-se que a situação mencionada num artigo do Público – um aluno que se recusa a responder a um professor, porque não lhe apetece fazê-lo – não ocorreria numa escola privada. Ora, ambas as conclusões são falsas e precipitadas, por simplistas, e inscrevem-se nas práticas de desconstrução do discurso educativo, que têm sido firmemente prosseguidas no quadro do movimento de pressão conduzido pelo lobby poderosíssimo dos «colégios», que tem conseguido impor-se perante a passividade, quando não a conivência, de responsáveis políticos de todos os quadrantes, iludindo as famílias e a população em geral sobre o mérito e a excelência do ensino privado.
Impõe-se, efectivamente, discutir a Escola, as razões dos seus sucessos e dos seus fracassos, o que pode, e deve, ser preservado e aquilo que urge mudar, radical e rapidamente. Neste debate, a questão da escola privada versus escola pública será apenas um dos itens, e não é, decerto, o essencial. Deixar que o «julgamento» da escola pública do insucesso se faça como contraponto à escola privada da qualidade, serve apenas para salvaguardar interesses dos empresários do ensino privado e nada acrescenta à melhoria do nosso ensino. Muito pelo contrário.


3 comments:

crack said...

Obrigado, Jorge, pela deferência do link no seu magnífico blog.
Este blog não tem links, mas consta já da minha lista de favoritos. Passei a cliente fidelizado.

crack said...

Obrigado LS.
Vindo de quem tem um blog como o seu, o cumprimento é mais do que honroso, é um estímulo.

Anthrax said...

Amigo Crack!!!! O seu blog está com uma nova imagem esplêndida! (Eu também ando a ver ´quando é que vou acrescentar imagens ao meu).

Tirando isso e a propósito deste seu texto, eu só posso dizer que quem apresenta uma solução daquelas só pode ser uma de três coisas:

- ou é limitado intelectualmente;
- ou não conhece a realidade das escolas públicas;
- ou não conhece a realidade das escolas privadas;

1º um aluno que se recusa a responder a um professor porque não lhe apetece, fá-lo quer esteja numa escola privada, quer esteja numa escola pública. A falta de educação inerente a este tipo de atitude não tem a sua origem na escola, mas em casa. Por isso, este tipo de conclusão que tem tanto de simplista como tem de simplória, inscreve-se de facto em práticas de de desconstrução do discurso educativo.

Mais, desenganem-se aqueles que pensam que o ensino numa escola privada tem uma qualidade superior ao de uma escola pública, porque em primeiro lugar têm de definir o que é que entendem por 'Qualidade na Educação'. De seguida têm de definir muito bem o que é que é público e o que é que é privado (porque lá está, ser privado a receber subsídios do Estado é no mínimo hipócrita). Então, quando pelo menos tiverem estes dois pontos bem esclarecidos, já podemos comparar a qualidade no ensino privado e a qualidade no ensino público. Até lá incorrer em afirmações de excelência ou mérito do ensino privado face ao público, é no mínimo imbecil.

Concordo em absoluto com o que diz o Crack, a questão a discutir é a "Escola" e não se esta é uma instituição privada ou pública.