Thursday, June 08, 2006

TPC

Compreendo a ideia de Maria de Lurdes Rodrigues ao querer acabar com o TPC, porque mata, assim, vários coelhos de uma cajadada só (estratégia em que o governo é exímio e que ela muito cultiva, dada que é à manipulação estatística).
Efectivamente, o fim do TPC agrada aos pais, que se livram de uma incómoda tarefa a realizar com os filhos, tantas vezes motivo de zangas, crises e castigos, que lhes deixam a descoberto a falta de autoridade, lhes minam o desejável repouso no final de um dia de trabalho e lhes estragam a harmonia familiar, conseguida com um televisor bem colocado no quarto dos infantes. Estes, por sua vez, rejubilam, porque, apesar de terem que realizar as tarefas na escola, podem reivindicar, com maior “autoridade”, o direito à inércia ou à actividade lúdica, sem que os pais tenham argumentos “legítimos” para contrapor. Quanto à opinião pública, aceita, com aliviada tranquilidade, os argumentos avançados pela generosa governante – dar igualdade de oportunidades no reforço de aprendizagens que os TPC podem configurar, assegurar a todos um apoio especializado para a realização dos mesmos, deixar às famílias mais tempo para o convívio, a conversa e a brincadeira…
Compreendo, pois, como, em termos de belo efeito, a decisão é favorável ao governo, que, mais uma vez, faz de conta que faz o que importa fazer, quando mais não faz do que “nivelar por baixo”, ou, dito de outra forma, aplica de forma generalizada soluções de muito duvidosa bondade, que deveriam ser apenas aplicáveis a casos especiais e marginais. Efectivamente, como há famílias que não têm tempo, apetência, ou meios para acompanharem as suas crianças na realização de trabalhos de casa, opta-se pelo mais fácil – retira-se a todas as famílias essa tarefa, em vez de se motivar a maioria dos pais para realizarem com os filhos pequenos trabalhos escolares, que ajudam a demonstrar aos jovens como se valoriza, na família, o esforço por aprender, e como esses momentos de responsabilidade individual do aluno podem ser partilhados pela família, com gosto, sentido da responsabilidade e da autoridade. Facilitismo e desresponsabilização, é o que esta solução milagrosa tem na sua génese. Para alguns, pode parecer exagero dizer-se que o fim do TPC irá afastar cada vez mais as famílias do centro da responsabilidade com a vida escolar das suas crianças, e contribuirá para tornar a célula familiar cada vez menos empenhada na formação intelectual e cultural dos seus membros mais jovens, mas daqui por uns anos será possível ver onde nos levou esta sedutora cedência à negligência com que algumas famílias vêm tratando os seus filhos. Pode dizer-se que a decisão agora tomada não impede as famílias que assim o queiram de continuar a trabalhar conteúdos escolares com os seus jovens, mas sabemos como esse discurso é uma falácia.
Curiosamente, é esta mesma governante que quer pôr os pais a avaliarem os professores dos filhos. Com o crescente afastamento da escola e da vida escolar, que uma medida como esta ajuda a promover, presume-se que essa avaliação se fundamente, cada vez mais, na cor dos olhos, no modelo de vestuário, no sorriso, no perfume... sei lá!
Qualidade, diz ela. Disparate, digo eu. O país é que paga.

3 comments:

João Melo said...

e a manigancia ( era assim que antes diziam , não era? ) de eliminar o elemento penalizador na escolha multipla de matemática?os resultados vão subir de grande!subidas administrativas!

Finding Essex said...

Podemos acusar os membros deste governo de muita coisa mas nunca de falta de criatividade.

Anonymous said...

A ideia que tenho é que os professores pecam por 8 ou por 80 mas como ensinar os professores custava tempo e dinheiro resolve-se a questão na secretaria. Tá bem visto.