Cá por "casa" sempre se contou às crianças a historieta da esperteza do saloio que, aflito para dar a um amigo a notícia da morte do tio, começa por lhe comunicar, abruptamente, a morte de toda a família e, quando o outro se descabela de dor, lhe diz que, afinal, apenas tinha sido o tio a morrer. Embalado com tão boa notícia, o pacóvio amigo do espertalhaço suspira de alívio, enxuga as lágrimas e acabam a celebrar na taberna da aldeia.
Tenho recordado esta historieta a propósito do modus operandi deste governo, que anuncia medidas de rigor e dureza cegos, para depois recuar, aparentemente com magnânima humildade e tolerante candura. Os pacóvios, que somos nós, agradecem, e tão anestesiados ficamos com o alívio, que nem notamos que, pelo caminho, lá foram vingando umas medidazitas avulsas e muito discretas, mas que nos tramam bem tramados.
Só nas últimas horas, tivemos o anúncio de recuo em pontos sensíveis da futura lei do tabaco e da taxa social única em função do número de filhos, mas, lidas com atenção as notas do governo, lá percebemos que, quando a cortina de fumo se dissipar, ficou exactamente o que o governo pretendia que ficasse.
Chamem-lhe jogos de espelhos, efeitos de luz e de sombra, gestão da informação, talento político, o que quiserem, mas não se esqueça, porém, que, para além de mera esperteza saloia, este procedimento denota um profundo desrespeito pelos governados. Que talvez gostem deste tratamento, tamanha é a passividade com que aceitam as repetições do jogo e se regozijam com os "sucessos" obtidos na "negociação" com o governo.
País pequenino, este nosso.
1 comment:
história deliciosa crack.poderá tambêm acrescentar a esse rol a lei da mobilidade , em que os funcionários publicos acabam por manter o vinculo.nesse aspecto a ler o editorial de paulo ferreira no publico de domingo
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