A semana vai fértil, em notícias da educação. Entendeu a central de propaganda do governo ser este o momento de entreter o país com uma tômbola de novidades, para "almofadar" algumas peripécias menos simpáticas com a publicação da lista de colocação de professores e com o despacho dos destacamentos de professores doentes (que Valter Lemos dizia não ter feito e que, afinal, parece que sempre tinha produzido, provavelmente em plena crise de sonambulismo, já que não se admite que possa ser um mentiroso compulsivo - apesar dos antecedentes de autarca, nos tempos do Politécnico, cala-te boca) e ainda para absorver as esperadas ondas de choque que o final do ano lectivo e os resultados dos exames sempre provocam.
Numa exímia demonstração do domínio das técnicas de propaganda, a catadupa de notícias divide-se em muito boas, assim-assim e até uma dramática, mas o efeito desta não será grave, pois a catalogação do "desastre" vem da própria ministra, e logo devidamente acompanhada das miraculosas soluções-maravilha, que transformarão o drama em commedia dell 'arte!
O muito bom, para o governo, não deixa de ser uma janela de oportunidade para as escolas e para os profissionais da educação, que a quiserem agarrar bem - a criação do conselho coordenador das escolas públicas. Sem uma real autonomia das escolas e sem a profissionalização da gestão escolar, este conselho nasce prematuramente, mas ponha-se a criatura na incubadora das boas-vontades, e pode ser que seja algo mais do que um nado-morto.
O dramático, no dizer da ministra, é o estado do ensino secundário, com taxas de abandono e reprovação que nos deixam de rastos nas estatísticas e estragam a imagem deste governo feliz, sem lágrimas. O desastre é, efectivamente, muito grande, mas as soluções encontradas não passam da panaceia do costume, se bem que repetidas com entusismo e convicção, tanta que quase acreditamos na ingenuidade das intenções. Os resultados, decerto, não passarão do que tem sido habitual, e dentro de uns anos andaremos, ainda, às voltas com estatísticas aterradoras. É a vida, dirá Guterres, bem colocado para apoiar os portugueses que acordem e decidam fugir deste colapso permanente, em que transformaram Portugal.
No assim-assim, passamos pelas novas orientações que são dadas às cantinas escolares, para o fornecimento de refeições mais saudáveis (sai barato e entusiasma os potenciais candidatos a modelos); pelo investimento de dois milhões e meio de euros a "lavar a cara" às escolas que vão receber os alunos cujas escolas encerraram (os alunos levantam-se ao cantar do galo, deitam-se com as galinhas, mas ganham o direito a vivenciar a experiência de terem que batalhar pela sobrevivência em bandos de colegas hostis); e pelos incentivos a um 1º ciclo de mais qualidade (de onde sairão sem saberem escrever e contar, mas a dançarem em inglês e a representarem ao melhor estilo morangos com açúcar).
Não querendo ser pessimista, que a situação é desesperada, e grave, antecipo mais um ano lectivo sem as necessárias, e profundas, mexidas de que o sistema educativo precisa, e merece.
O futuro, entretanto, qual erva daninha, vai abrindo caminho a custo, mas em passos irreversíveis, apesar do governo, da ministra e de tutti quanti. O Projecto Escola Interactiva é um dos seus intrumentos e está no terreno, com propostas suficientemente apelativas para nos fazerem acreditar que uma escola nova é uma inevitabilidade. Será a reboque, mas lá chegaremos.
2 comments:
Contaram-me que, os conselhos executivos sairam das reuniões da ministra com os cabelos em pé mas, ninguém levantou a voz.As notícias de hoje parecem confirmar o que ouvi, os professores vão passar a andar a toque de chicote e muito caladinhos ou, comem pela medida grossa.
Caro Luís
Má língua, meu amigo, só má língua. Viu alguma reacção nos media? Leu comunicados dos sindicatos? Soube de marcação de greves? Não houve nada, pois não? Então, está tudo no melhor dos mundos.
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