Na noite das legislativas de 2005, Portugal recebeu uma lição de dignidade, de hombridade, de coerência e de respeito pelo valor da palavra dada, como há muito tempo não se via na vida política nacional.
Essa lição foi dada por alguém que tem sido acusado, exactamente, de ser capaz de tudo para atingir os seus fins pessoais, até de criar um partido, para seu palco exclusivo – Paulo Portas.
Ninguém como ele foi acusado, achincalhado, vilipendiado, na história da nossa democracia de trinta anos. Ninguém, como ele, suscitou tantos ódios, tanta invejosa perversidade, tanto incontido preconceito. Desde o escrutínio a que esteve sujeita a sua vida pessoal, até às acusações de traição política, tudo lhe foi assacado, tudo foi dito, de forma mais, ou menos, pública. E, no entanto, os «crimes» de que o acusaram eram, sucessivamente, perdoados a uns, apontados como qualidades políticas a outros, sem que, na tranquilidade da nossa indiferença, tivessemos tido tempo, e sagacidade, para nos preocuparmos com a justiça dos juízos feitos. Denegrir Portas, até pelo talento de que dava provas, tornou-se um hábito para todos, até para aqueles que lhe deviam a lealdade partidária.
Não, não é meu objectivo santificar Paulo Portas, post mortem. Nem estou a lamber as feridas por qualquer derrota, que nenhuma lhe fico a dever. Não sou militante, nem simpatizante, do CDS. Também não estou a fazer acto de contrição, por desatenção e desrespeito passados. Estou, simplesmente, a constatar que, na noite de ontem, ficou evidente, para cada um dos portugueses que o viu e ouviu, aquilo que apenas o preconceito e o despeito podem impedir de ver – um Político, acreditando nas suas ideias, definiu objectivos e uma estratégia para o seu partido, tornou-os públicos, lutou por eles, sem hesitações, e submeteu-se à vontade popular. Na hora da derrota, veio olhar-nos nos olhos, enunciar, um por um, esses objectivos e, assumindo pessoalmente o fracasso por cada um deles, anunciar que é tempo de outros protagonistas, de outros objectivos, de outros sonhos.
Num país em que estamos habituados a dizer uma coisa e a fazer o oposto, em que o «desenrascanço» é qualidade, o improviso excelência, e a «arte da fuga para a frente» o mais apreciado engenho político, atitudes como esta chocam-nos, por inesperadas.
Paulo Portas não é um santo, nem um génio, nem o oposto. É, tão só, um Homem e um Político. Um Bom Político, com o que de bom, e de mau, essa circunstância se reveste. Procedeu como tal, com maestria. A vontade popular avaliou-o, ele soube curvar-se perante ela, respeitosamente. Tenhamos, agora, os «seus» e os outros, a dignidade de estar à altura do seu gesto: não nos prendamos ao acessório, num momento em que o essencial é que conta; não comparemos a sua atitude à de outros, porque seria diminuí-la, essa comparação; sobretudo, não lhe peçam que volte atrás - há momentos únicos na vida das pessoas, como dos povos, que devem permanecer imutáveis. Só assim honramos quem os protagoniza.
Essa lição foi dada por alguém que tem sido acusado, exactamente, de ser capaz de tudo para atingir os seus fins pessoais, até de criar um partido, para seu palco exclusivo – Paulo Portas.
Ninguém como ele foi acusado, achincalhado, vilipendiado, na história da nossa democracia de trinta anos. Ninguém, como ele, suscitou tantos ódios, tanta invejosa perversidade, tanto incontido preconceito. Desde o escrutínio a que esteve sujeita a sua vida pessoal, até às acusações de traição política, tudo lhe foi assacado, tudo foi dito, de forma mais, ou menos, pública. E, no entanto, os «crimes» de que o acusaram eram, sucessivamente, perdoados a uns, apontados como qualidades políticas a outros, sem que, na tranquilidade da nossa indiferença, tivessemos tido tempo, e sagacidade, para nos preocuparmos com a justiça dos juízos feitos. Denegrir Portas, até pelo talento de que dava provas, tornou-se um hábito para todos, até para aqueles que lhe deviam a lealdade partidária.
Não, não é meu objectivo santificar Paulo Portas, post mortem. Nem estou a lamber as feridas por qualquer derrota, que nenhuma lhe fico a dever. Não sou militante, nem simpatizante, do CDS. Também não estou a fazer acto de contrição, por desatenção e desrespeito passados. Estou, simplesmente, a constatar que, na noite de ontem, ficou evidente, para cada um dos portugueses que o viu e ouviu, aquilo que apenas o preconceito e o despeito podem impedir de ver – um Político, acreditando nas suas ideias, definiu objectivos e uma estratégia para o seu partido, tornou-os públicos, lutou por eles, sem hesitações, e submeteu-se à vontade popular. Na hora da derrota, veio olhar-nos nos olhos, enunciar, um por um, esses objectivos e, assumindo pessoalmente o fracasso por cada um deles, anunciar que é tempo de outros protagonistas, de outros objectivos, de outros sonhos.
Num país em que estamos habituados a dizer uma coisa e a fazer o oposto, em que o «desenrascanço» é qualidade, o improviso excelência, e a «arte da fuga para a frente» o mais apreciado engenho político, atitudes como esta chocam-nos, por inesperadas.
Paulo Portas não é um santo, nem um génio, nem o oposto. É, tão só, um Homem e um Político. Um Bom Político, com o que de bom, e de mau, essa circunstância se reveste. Procedeu como tal, com maestria. A vontade popular avaliou-o, ele soube curvar-se perante ela, respeitosamente. Tenhamos, agora, os «seus» e os outros, a dignidade de estar à altura do seu gesto: não nos prendamos ao acessório, num momento em que o essencial é que conta; não comparemos a sua atitude à de outros, porque seria diminuí-la, essa comparação; sobretudo, não lhe peçam que volte atrás - há momentos únicos na vida das pessoas, como dos povos, que devem permanecer imutáveis. Só assim honramos quem os protagoniza.
* Rudyard Kippling
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