É fácil (e, em certos casos, justo, porque corresponde à verdade), recriminar a comunicação social pela errada direcção que tomam as nossas preocupações, no que concerne ao próximo acto eleitoral.
Efectivamente, a nossa comunicação social (tão ávida como outra qualquer, mas ainda pouco sábia nestas lides) tem sido pródiga em «informar», ao detalhe (com mão pesada, será mais próximo da verdade), o que de bom, e de mau, fazem, ou deixam de fazer, os candidatos, os partidos, as respectivas falanges de apoio, os críticos, os senadores da república, o povo analfabeto, a vizinha da tia do primo do presidente da junta...
No mesmo saco informativo, anatomizam-se programas de governo, teoriza-se sobre a motivação oculta para a cor da gravata, achega-se o boato rasteiro, repudia-se o mesmo, mostra-se e dá-se a receita do almoço e do jantar de campanha, perora-se, infinitamente, sobre as grandes questões, que qualquer encartado no café do bairro entende hoje que não podem ficar de fora do debate político; executam-se, com «oportunidade», um infindável número de actos paroxísticos, que correspondem, mais coisa, menos coisa, ao share a atingir no momento em que a peça irá para o ar.
Até os oásis de informação para pensar, que também existem, vão frequentemente atrás da informação descartável, amplificando-a, mesmo quando o objectivo é desmitificá-la.
Vem tudo isto a propósito das imagens, terríveis, dos dois comícios de Castelo Branco, nos quais os candidatos a primeiro-ministro de um país europeu se menosprezaram ao ponto de tornarem públicas as suas mais aviltantes preocupações: ser capaz de falar melhor, por mais popularucho, mais televisivo; reunir mais gente, das redondezas, porque a que se arrebanhou longe representa falta de ética; ter o «colo» das figuras do passado que melhor representação têm no imaginário popular; demonstrarem a posse de: mais bandeiras, a banda sonora mais eficaz, mais jovens efervescentes, mais velhinhos dormentes; finalmente, fazerem as contas e saberem qual passou melhor nas televisões, de que forma a parafernália do carnaval comicieiro foi qualificada por cada um dos canais de serviço, que parafusos as equipas de marketing devem «aparafusar» para o sucesso do próximo evento.
Mas será que temos, mesmo, de nos resignar ao show mediático da política?
A resposta é negativa, obviamente. Podemos analisar, comparativamente, os programas dos partidos, por muito árida que seja essa tarefa; podemos, sobretudo devemos, fazer um esforço de memória para recordar actuações passadas daqueles que se perfilam para as cadeiras do poder; temos, se bem a procurarmos, informação pertinente sobre restrições/imposições externas, que nos permitirão identificar falsas promessas, logros eleitorais, erros dos candidatos e incoerências programáticas e ideológicas dos partidos. Com esforço e com método, se conseguirmos limpar o nosso «ficheiro» pessoal do lixo que a publicidade política nele deposita, cada um de nós é capaz de saber o que é essencial para que este país enverede pelo trilho do efectivo desenvolvimento, e, com motivação e ânimo, seremos capazes de encontrar o meio eficaz para exigir que esse trilho seja seguido.
Ter cada um de nós esta certeza, no momento presente, parece-me fundamental para o nosso sistema político e para o nosso destino colectivo, porque, tal como a situação se apresenta, em qualquer dos dois candidatos à chefia do governo nada existe, para além da vozearia e da pose sob os holofotes, e se um terá de governar, o outro terá de saber exigir-lhe que governe, e nenhum deles está preparado para qualquer uma dessas tarefas.
* Bertrand Russell
No mesmo saco informativo, anatomizam-se programas de governo, teoriza-se sobre a motivação oculta para a cor da gravata, achega-se o boato rasteiro, repudia-se o mesmo, mostra-se e dá-se a receita do almoço e do jantar de campanha, perora-se, infinitamente, sobre as grandes questões, que qualquer encartado no café do bairro entende hoje que não podem ficar de fora do debate político; executam-se, com «oportunidade», um infindável número de actos paroxísticos, que correspondem, mais coisa, menos coisa, ao share a atingir no momento em que a peça irá para o ar.
Até os oásis de informação para pensar, que também existem, vão frequentemente atrás da informação descartável, amplificando-a, mesmo quando o objectivo é desmitificá-la.
Vem tudo isto a propósito das imagens, terríveis, dos dois comícios de Castelo Branco, nos quais os candidatos a primeiro-ministro de um país europeu se menosprezaram ao ponto de tornarem públicas as suas mais aviltantes preocupações: ser capaz de falar melhor, por mais popularucho, mais televisivo; reunir mais gente, das redondezas, porque a que se arrebanhou longe representa falta de ética; ter o «colo» das figuras do passado que melhor representação têm no imaginário popular; demonstrarem a posse de: mais bandeiras, a banda sonora mais eficaz, mais jovens efervescentes, mais velhinhos dormentes; finalmente, fazerem as contas e saberem qual passou melhor nas televisões, de que forma a parafernália do carnaval comicieiro foi qualificada por cada um dos canais de serviço, que parafusos as equipas de marketing devem «aparafusar» para o sucesso do próximo evento.
Mas será que temos, mesmo, de nos resignar ao show mediático da política?
A resposta é negativa, obviamente. Podemos analisar, comparativamente, os programas dos partidos, por muito árida que seja essa tarefa; podemos, sobretudo devemos, fazer um esforço de memória para recordar actuações passadas daqueles que se perfilam para as cadeiras do poder; temos, se bem a procurarmos, informação pertinente sobre restrições/imposições externas, que nos permitirão identificar falsas promessas, logros eleitorais, erros dos candidatos e incoerências programáticas e ideológicas dos partidos. Com esforço e com método, se conseguirmos limpar o nosso «ficheiro» pessoal do lixo que a publicidade política nele deposita, cada um de nós é capaz de saber o que é essencial para que este país enverede pelo trilho do efectivo desenvolvimento, e, com motivação e ânimo, seremos capazes de encontrar o meio eficaz para exigir que esse trilho seja seguido.
Ter cada um de nós esta certeza, no momento presente, parece-me fundamental para o nosso sistema político e para o nosso destino colectivo, porque, tal como a situação se apresenta, em qualquer dos dois candidatos à chefia do governo nada existe, para além da vozearia e da pose sob os holofotes, e se um terá de governar, o outro terá de saber exigir-lhe que governe, e nenhum deles está preparado para qualquer uma dessas tarefas.
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