A «notícia» sobre uma alegada referência de Cavaco Silva a uma maioria absoluta do PS já esgotou análises, comentários e reacções, para que a ela se deva voltar, a não ser como (mais um) bom ponto de partida para a reflexão, que tarda, sobre a urgência de uma educação crítica para os media. Estará, por exemplo, David Justino disponível para, na esteira de um Popper, um Bourdieu ou um Putnam, agarrar esse desafio e tratá-lo à dimensão da nossa realidade?
Deixando, por ultrapassado, este vergonhoso episódio, escalpelizado que foi o «fait-divers» e exauridas as interrogações sobre os beneficiários do mesmo, subsiste a questão da maioria absoluta do PS, enquanto estratégia de revitalização do PSD.
Quando, em 3 de Fevereiro, concordei, a contragosto, com a conclusão do Pula Pula sobre a utilidade do voto no PS, como o processo mais eficaz para varrer, rapidamente, Santana e seus acólitos da estrutura operacional do PSD, parti do pressuposto de que restaria ao presuntivo herdeiro de Sá Carneiro (outro delírio de Santana, já desmontado pela família do notável defunto) um resquício de sanidade. Erro meu, imperdoável, porque já o sabia louco, mas admito que o cuidava, ainda, numa fase menos avançada da sua insanidade.
Santana já confidenciou em privado, e já assumiu em público, que não retirará consequências de uma derrota nas urnas. Perante estas afirmações, somos levados a pensar o razoável: que Santana sabe que uma derrota sua se jogará na «linha de Aquiles», isto é, que o PSD ficará relativamente perto do resultado do PS (e não é descartável, este cenário), ou que terá como adquirido um resultado equivalente, ou mesmo superior, ao do PS, contando com o somatório dos votos no seu partido e no, ainda e talvez futuro, parceiro de coligação. Este raciocínio está, contudo, viciado à partida, pela razoabilidade do observador externo, mas esta sensatez não se encontra hoje em Santana Lopes, ultrapassada que foi, há muito, uma saudável percepção do que é, nele, a realidade.
Partindo, portanto, do pressuposto deste patológico afastamento do real em Santana Lopes, a que não podemos deixar de acrescentar o deserto que constitui a sua vida profissional fora da arena política, não será descabido assumir que ele sente que poderá, e deverá, permanecer à frente do PSD, em qualquer circunstância. Os interesses do aparelho laranja, uma eventual, e pontual, conveniência da geometria política, a falta de liderança no seio do PSD não PPD, estão a ajaezar este cenário. Ora, sendo assim, façamos de novo a pergunta: o que temos a ganhar com uma maioria absoluta do PS? Melhor governo? Já vimos, ainda sofremos e recordamos bem o que um governo socialista, como seria este liderado por José Sócrates mas de inspiração guterrista, pode fazer por Portugal, sem maioria absoluta; podemos imaginar o pesadelo que será com essa maioria. Depois, uma maioria absoluta do PS desmobilizará, durante um tempo razoável, a emergência de uma liderança forte no PSD, que aposte no afastamento de Santana e na refundação do partido (e, no estado de fractura em que Santana tem já hoje o PSD, de refundação da social-democracia tem de se falar, quando se aborda a questão do futuro do partido laranja). Quanto às consequências dessa maioria para o cenário das presidenciais, nem vale a pena rascunhar uma teoria, elas são mais do que previsíveis.
No que possa ser, portanto, a utilidade do voto, o crescimento dos pequenos partidos dos extremos não sendo, totalmente, uma carta fora do baralho, não oferece a possibilidade de corresponder à necessidade que se identifica, pelo que começo a acreditar que, só no contexto de um resultado não penalizador para o PSD, é que este será forçado a encontrar a estratégia mais eficaz para erradicar Santana Lopes e as ervas daninhas que este alimentou no partido. Não tanto porque de sobrevivência se trata, mas porque neste cenário se mantém, desejável e tangível, a teia de poder que a solução Santana ameaça, desde já.
*provérbio
Deixando, por ultrapassado, este vergonhoso episódio, escalpelizado que foi o «fait-divers» e exauridas as interrogações sobre os beneficiários do mesmo, subsiste a questão da maioria absoluta do PS, enquanto estratégia de revitalização do PSD.
Quando, em 3 de Fevereiro, concordei, a contragosto, com a conclusão do Pula Pula sobre a utilidade do voto no PS, como o processo mais eficaz para varrer, rapidamente, Santana e seus acólitos da estrutura operacional do PSD, parti do pressuposto de que restaria ao presuntivo herdeiro de Sá Carneiro (outro delírio de Santana, já desmontado pela família do notável defunto) um resquício de sanidade. Erro meu, imperdoável, porque já o sabia louco, mas admito que o cuidava, ainda, numa fase menos avançada da sua insanidade.
Santana já confidenciou em privado, e já assumiu em público, que não retirará consequências de uma derrota nas urnas. Perante estas afirmações, somos levados a pensar o razoável: que Santana sabe que uma derrota sua se jogará na «linha de Aquiles», isto é, que o PSD ficará relativamente perto do resultado do PS (e não é descartável, este cenário), ou que terá como adquirido um resultado equivalente, ou mesmo superior, ao do PS, contando com o somatório dos votos no seu partido e no, ainda e talvez futuro, parceiro de coligação. Este raciocínio está, contudo, viciado à partida, pela razoabilidade do observador externo, mas esta sensatez não se encontra hoje em Santana Lopes, ultrapassada que foi, há muito, uma saudável percepção do que é, nele, a realidade.
Partindo, portanto, do pressuposto deste patológico afastamento do real em Santana Lopes, a que não podemos deixar de acrescentar o deserto que constitui a sua vida profissional fora da arena política, não será descabido assumir que ele sente que poderá, e deverá, permanecer à frente do PSD, em qualquer circunstância. Os interesses do aparelho laranja, uma eventual, e pontual, conveniência da geometria política, a falta de liderança no seio do PSD não PPD, estão a ajaezar este cenário. Ora, sendo assim, façamos de novo a pergunta: o que temos a ganhar com uma maioria absoluta do PS? Melhor governo? Já vimos, ainda sofremos e recordamos bem o que um governo socialista, como seria este liderado por José Sócrates mas de inspiração guterrista, pode fazer por Portugal, sem maioria absoluta; podemos imaginar o pesadelo que será com essa maioria. Depois, uma maioria absoluta do PS desmobilizará, durante um tempo razoável, a emergência de uma liderança forte no PSD, que aposte no afastamento de Santana e na refundação do partido (e, no estado de fractura em que Santana tem já hoje o PSD, de refundação da social-democracia tem de se falar, quando se aborda a questão do futuro do partido laranja). Quanto às consequências dessa maioria para o cenário das presidenciais, nem vale a pena rascunhar uma teoria, elas são mais do que previsíveis.
No que possa ser, portanto, a utilidade do voto, o crescimento dos pequenos partidos dos extremos não sendo, totalmente, uma carta fora do baralho, não oferece a possibilidade de corresponder à necessidade que se identifica, pelo que começo a acreditar que, só no contexto de um resultado não penalizador para o PSD, é que este será forçado a encontrar a estratégia mais eficaz para erradicar Santana Lopes e as ervas daninhas que este alimentou no partido. Não tanto porque de sobrevivência se trata, mas porque neste cenário se mantém, desejável e tangível, a teia de poder que a solução Santana ameaça, desde já.
*provérbio
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