O ministro Santos Silva acaba de referir, no Prós e Contras, os "resultados" que o governo já atingiu na educação. Se esquecermos que, dos "sucessos" que o governo contabiliza, a maioria é pura ficção propagandística, cujas consequências, no médio (quando não no curto) prazo darão razão aos críticos de hoje, ficam os números, essas celebradas estatísticas, em que a ministra é especialista.
Diz o ministro Santos Silva no Prós e Contras, como se ao governo coubesse todo o mérito do facto, que aumentou o número de alunos, em todos os níveis de ensino, especialmente à conta do ensino profissional, esse grande obreiro do travão ao abandono escolar. Diz o ministro no Prós e Contras e está escrito no site oficial do ME, na "informação" (auto-elogio?) referente ao Recenseamento Escolar 2006/07, produzido pelo GIASE, agora sob a batuta desse antigo e dedicado colaborador da ministra, João Trocado da Mata.
Bem, números são números, e falam por si, dizemos nós. Mas, sobre estes números, há uns pequenos nadas, que arranham a nossa predisposição para o contentamento, que este maior número de alunos nas escolas nos daria.
Se compararmos o recenseamento de 2006/07 com o de 2005/06, ficamos com a ligeira impressão que quem escreveu o texto para o site do ME, ou se enganou em algumas contas, ou usou um upgrade de algum dos referidos documentos, que não estará disponível para o cidadão comum.
Escreve o ME que: «o número de alunos matriculados no ano lectivo 2006/07 aumentou em 21192, passando para 1669470, em relação a 2005/06, graças ao combate ao insucesso e ao abandono escolares.» Ora, confrontando os quadros referentes aos alunos matriculados, segundo a natureza do estabelecimento - Distribuição percentual por nível e modalidade de ensino, para o continente, nos dois recenseamentos, verificamos que em 2005/06 havia um total de 1649138 alunos matriculados, o que, para os 1669470 de 2006/07 dá um crescimento de 20332 alunos e não os 21192 mencionados. A diferença de 860 alunos nas contas do ME poderá parecer irrelevante, mas números são números, não é verdade?
Continuando, o tal texto "informativo" do ME diz que: «o aumento da população estudantil foi geral, do pré-escolar ao secundário, mas particularmente acentuado no 3º ciclo do ensino básico (7º ao 9º anos) e no ensino secundário (10º ao 12º anos)». Ora, continuando a olhar para os mesmos quadros, que o próprio ME produz, note-se, verificamos que, em 2005/06, os alunos matriculados no 3º ciclo representavam 22,4% e no secundário 19,8% do total de alunos matriculados nesse ano, e que essas percentagens, para 2006/07 foram, respectivamente, de 22,5% e 20,2% do total de alunos matriculados no presente ano lectivo. Crescimento acentuado? Bem, o optimismo é uma saudável atitude...
Entusiasmados com este conceito de crescimento acentuado, e indo aos outros níveis de ensino, vemos que, percentualmente ao total de alunos matriculados, não houve crescimento no pré-escolar, no 1º ciclo e no 2º ciclo do ensino básico: respectivamente, em 2005/06 - 14,9%, 28,3% e 14,6%, contra, em 2006/07 - 14,8%, 28,1% e 14,4%. Se formos coerentes no raciocínio, ficamos tentados a considerar que terá havido um decréscimo quase acentuado...! E quanto mais olhamos para os números, menos entusiasmados ficamos, com as boas novas!!!(continua)
ADENDA (texto corrigido): Porque nos dois últimos parágrafos do texto escrito inicialmente não estava expresso que as percentagens apresentadas se reportavam (com excepção do pré-escolar e do ensino secundário) ao total de alunos matriculados, nesse ano, no respectivo ciclo de estudos, foram uniformizados os valores apresentados, passando a reportar todas as percentagens agora apresentadas ao total de alunos matriculados, em todos os níveis de educação e de ensino. A leitura dos números mantém-se a mesma.
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