Ainda há dias, a comentar um excelente post do meu amigo Anthrax, dizia eu que as declarações do Papa, que tanta celeuma levantaram no mundo islâmico, não seriam um acto isolado, que não tivesse um muito elaborado objectivo, para propiciar a Bento XVI a oportunidade de enviar ao mundo não islâmico um sinal oculto sobre o caminho de coragem, porque de sofrimento também, que o futuro nos reserva. Parecia-me, então, que o "erro" do Papa mais não seria do que uma sua determinada opção de procedimento, cujas consequências demonstrariam ao mundo que está unilateralmente declarada, e iniciada, a guerra religiosa, que determinará o regresso dos cristãos às catacumbas.
O episódio do cancelamento da ópera Idomeneo, infelizmente, parece dar-me razão. Se já nos sentimos obrigados a condicionarmos as nossas manifestações artísticas e culturais ao temor de ferir as susceptibilidades do Islão, não estaremos muito longe da clandestinidade, como a que os primeiros seguidores de Cristo viveram. Pelo que conhecemos da história, e porque faz parte da natureza do fenómeno religioso uma dimensão de fanatismo e de intolerância, que os contextos adversos e as ameaças externas justificam e legitimam, este recuo dos cristãos ao medo e ao papel de vítimas da perseguição e do terror, poderá não ser o fim, mas a melhor das oportunidades para um novo fulgor da religiosidade cristã. Ninguém poderá acreditar que Bento XVI não tenha percebido que, sendo esta uma guerra desigual, nunca a poderemos ganhar, "desarmados" como estamos por uma religiosidade amorfa e uma esquizofrénica, e cínica, cultura da paz. Como líder do mundo cristão, Bento XVI fez o que lhe compete:escolheu a melhor estratégia para o combate que lhe é imposto.
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